Caderno de Debates (Suplementos)

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Artigo publicado no Caderno de Debates da RBORL:

Vol.69 ed.3 de Maio-Junho em 2003 (da página 14 à 26)

Autor: DR HENRIQUE OLIVAL COSTA

Artigo

 A produção científica de pós-graduação, em temas de interesse otorrinolaringológico, no Brasil

Avaliamos o que ocorre na produção intelectual inerente à Otorrinolaringologia a partir de campos amostrais com banco de dados de produção científica, uma vez que há agencias indexadoras e reprodutoras desta produção. No Brasil, podemos utilizar as agencias de fomento à produção científica e de recursos humanos em pesquisa. Estas agências elegeram como locais de desenvolvimento de pesquisas as Instituições de Ensino Superior de cursos de Pós-Graduação. Partimos desta amostra.

As nossas perguntas foram: Como está constituída a produção científica de pós-graduação nos temas de interesse otorrinolaringológico no Brasil quanto à sua distribuição e características gerais?

Material e Método

O universo que compõe o estudo é a produção científica, em nível de pós graduação realizada no Brasil.

Para estabelecer a amostra a ser estudada consideramos a seguinte sistemática:

Definição de tema otorrinolaringológico

Foram considerados temas otorrinolaringológicos aqueles que preenchessem as seguintes características: estivessem relatados na grade curricular mínima para serviços de residência médica em ORL registrado no Ministério da Educação e Cultura, estivessem relacionados com os capítulos dos seguintes livros Tratado de ORL de Otacílio Lopes Filho & Carlos Alberto Herrerias de Campos, OTORRINOLARINGOLOGIA: CLÍNICA E CIRURGIA de Aroldo Minitti, Ossamu Butugan e Ricardo Ferreira Bento, MANUAL DE OTORRINOLARINGOLOGIA de Hélio Hungria, OTOLOGIA CLÍNICA E CIRÚRGICA de Oswaldo Laércio Mendonça Cruz e Sady Saleiman. E TRATADO DE OTORRINOLARINGOLOGIA da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, tivessem relação anatômica ou funcional com a face e pescoço, e estivessem descritos no Core Education Curriculum da Academia Americana de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço (AAO-HNS).

Definição das IES a serem avaliadas

A partir do levantamento das pós-graduações na área de Saúde relativas à Medicina credenciadas pela CAPES, foram levantadas todas as informações quanto a teses defendidas no Brasil.

Definição do escopo local e temporal do estudo

A definição obedeceu a disponibilização de dados quanto às teses defendidas nos programas de pós-graduação, oferecido on-line pela CAPES. Os dados que encontramos disponíveis correspondiam aos anos de 1998, 1999 e 2000.

Sistemática de coleta de dados

Todos os programas das áreas da Medicina I, II e III foram investigados assim como os programas de Morfologia, Anatomia, Patologia, Biologia Molecular, Biologia celular, Biologia Nuclear, Biologia Estrutural, Genética, Histologia, Microbiologia, Fisiologia, Bioquímica, Física Médica, e Farmacologia das áreas I, II e III das Ciências Biológicas.

O acesso do site do CAPES foi feito através do endereço eletrônico http://www.capes.gov.br/

A produção dos IES foi avaliada quanto às teses defendidas.

Todas as teses do período estudado foram acessadas com os respectivos títulos, autores, bancas examinadoras e financiamento.

A decisão quanto ao tema da tese foi baseada no título e se houvesse dúvida, a linha de pesquisa na qual estava inserida era avaliada.

Somente as teses cujo tema correspondia aos temas ORL previamente definidos foram contadas como teses em ORL.

Descrição da amostra

Foram encontrados 264 programas de pós-graduação em Instituições de Ensino Superior (IES) com as características descritas, sendo 97 na área de ciências biológicas e 167 na Medicina. Dentre as IES na área de ciências biológicas 8 eram de disciplina de Anatomia, Histologia ou Morfologia, 6 de Imunobiologia, 4 de Microbiologia, 13 de Genética, 12 de Fisiologia, 10 de Farmacologia, 21 de Biologia molecular, celular ou nuclear, 10 de Bioquímica, 2 de Biotecnologia, 4 de Biofísica, 3 de Neurociências, 3 de Parasitologia e 1 de Patologia.

Na área médica as disciplinas foram Endocrinologia (5), Cardiologia (9), Anestesia (2), Cirurgia (13), Gastrocirurgia (4), Cirurgia de tórax (2), Urologia (3), Gastroenterologia (5), Hematologia (2), Infectologia (3), Clínica médica (19), Nefrologia (5), Neurologia (6), Reumatologia (2), Medicina de urgência (2), Reabilitação (2), Radiologia (3), Psiquiatria (7), Pneumologia (5), Pediatria (13), Otorrinolaringologia (5), Oftalmologia (5), Nutrição (7) e Oncologia (2).

O total de teses produzidas em temas de interesse da Otorrinolaringologia foi 400, perfazendo 6,4% do total de teses produzidas no período (6171), sendo 2321 na área de ciências biológicas e 3850 na área das ciências médicas.

Análise estatística

Uma vez que o objetivo do trabalho era reconhecer o perfil atual da produção científica nacional com interesse otorrinolaringológico sem partir de premissas teóricas sobre o assunto, uma vez que original, se optou pela análise descritiva dos resultados.

Apresentação dos resultados

Todas as teses em temas considerados ORL foram tabuladas com o respectivo ano, título, IES, autor, financiamento e nível.

A distribuição dos temas foi apresentada através de análise estatística descritiva.

Cada parâmetro estudado foi apresentado graficamente para as IES em Otorrinolaringologia (5) e para as IES em outras Disciplinas (269).

RESULTADOS

A seguir apresentaremos os resultados encontrados para as teses consideradas de interesse ORL.

No gráfico 1 está a distribuição das teses por ano em todas as IES pesquisadas

Nota-se que há um aumento constante do número de teses no decorrer do triênio. De 1998 para 1999 houve um incremento de 3,69% e de 1999 para 2000 o aumento foi de 19,84%.

No gráfico 2 está apresentado o número absoluto de teses produzidas em IES de Otorrinolaringologia, no Brasil, nos anos de 1998 a 2000.

Nota-se um incremento de 10,25%o de 1998 para 1999 e um decréscimo de 4,65% de 1999 para 2000.

A porcentagem das teses produzidas nas IES de Otorrinolaringologia em relação ao total de teses com interesse ORL está apresentada no gráfico 3.

No gráfico 4 está a distribuição das teses com interesse ORL por Instituição de Ensino Superior



Gráfico 1. Distribuição das teses com interesse ORL por ano, 1998-2000.



Gráfico 2. Distribuição do total de teses em ORL, nas IES específicas de ORL, por ano, 1998-2000.



Gráfico 3. Distribuição da porcentagem das teses produzidas nas IES de Otorrinolaringologia em relação ao total de teses com interesse ORL, nos anos 1998-2000.



Gráfico 4. Distribuição das teses com interesse ORL por Instituição de Ensino Superior, 1998-2000.



No gráfico 5 está a distribuição das teses por Instituição de Ensino Superior, destacando se a tese foi desenvolvida na Disciplina de Otorrinolaringologia ou outra Disciplina.

No gráfico 6 está a distribuição das teses por Instituição de Ensino Superior na Disciplina de Otorrinolaringologia.

No gráfico 7 está a distribuição das teses com interesse em ORL, segundo as sub-áreas da Disciplina.

No gráfico 8 está a distribuição das teses com interesse em ORL, segundo as sub-áreas da Disciplina em IES não ORL.



Gráfico 5. Distribuição das teses com interesse ORL segundo Instituição de Ensino Superior em Disciplina de ORL ou não, 1998-2000.



Gráfico 6. Distribuição das teses com interesse ORL, desenvolvida na disciplina de ORL, segundo Instituição de Ensino Superior em ORL, 1998-2000.



Gráfico 7. Distribuição das teses com interesse ORL, desenvolvidas na disciplina de ORL, segundo sub-área da Disciplina, 1998-2000.


No gráfico 9 está a distribuição da porcentagem das diversas subáreas dentro da produção total de teses em ORL.

No gráfico 10 está a distribuição das teses com interesse em ORL, produzidas em todas as IES, segundo sua proximidade com a Disciplina.

No gráfico 11 está a distribuição das teses com interesse em ORL, produzidas em IES não ORL, segundo sua proximidade com a Disciplina.

No gráfico 12 está a distribuição das teses com interesse em ORL, produzidas em IES de Otorrinolaringologia, segundo sua proximidade com a Disciplina.

No gráfico 13 está a distribuição geral das teses com interesse em ORL, de acordo com o nível, Mestrado e Doutorado.

No gráfico 14 está a distribuição das teses com interesse em ORL, produzidas em IES de Otorrinolaringologia, de acordo com o nível de Mestrado e Doutorado.

No gráfico 15 está a distribuição geral das teses com interesse em ORL, de acordo com a existência de financiamento.

No gráfico 16 está a distribuição das teses com interesse em ORL, produzidas em IES de Otorrinolaringologia, de acordo com a existência de financiamento.



Gráfico 8. Distribuição das teses com interesse em ORL, segundo as sub-áreas da Disciplina em IES não ORL.



Gráfico 9. Distribuição da porcentagem das diversas subáreas dentro da produção total de teses em ORL, 1998-2000.



Gráfico 10. Distribuição das teses com interesse ORL em todas as IES segundo proximidade (1A, 1 B, 2 e 3) com a ORL, 1998-2000.



Gráfico 11. Distribuição das teses com interesse em ORL, produzidas em IES de outras Disciplinas, segundo sua proximidade com a Disciplina.


No gráfico 17 está a distribuição geral das teses com interesse em ORL, de acordo com o tipo de bolsa, nas IES de outra disciplina.

No gráfico 18 está a distribuição geral das teses com interesse em ORL, de acordo com o tipo de auxílio, nas IES de outra disciplina.

No gráfico 19 está a distribuição geral das teses com interesse em ORL, de acordo com o pagamento de bolsas e auxílio financeiro.

Nenhuma das teses produzidas em IES de Otorrinolaringologia relatou existência de auxílio financeiro.



Gráfico 12. Distribuição das teses com interesse ORL nas IES de Otorrinolaringologia segundo proximidade com a ORL, 1998-2000.



Gráfico 13. Distribuição das teses com interesse ORL segundo o nível de Mestrado e Doutorado, 1998-2000.



Gráfico 14. Distribuição das teses com interesse ORL, produzidas em IES de ORL segundo o nível 19998-2000.



Gráfico 15. Distribuição das teses com interesse ORL segundo a existência de financiamento, 1998-2000.



Gráfico 16. Distribuição das teses com interesse ORL, produzidas em IES de Otorrinolaringologia, segundo a existência de financiamento, 1998-2000.



Gráfico 17. Distribuição das teses com interesse ORL, segundo o tipo de bolsa, em IES não ORL, 1998-2000.


No gráfico 20 está a distribuição das teses com interesse em ORL, produzidas nas IES de Otorrinolaringologia de acordo com o tipo de bolsa.

No gráfico 21 está a distribuição das teses com interesse em ORL, produzidas nas IES de outras disciplinas, de acordo com o tipo de bolsa.

No gráfico 22 está a distribuição geral das teses com interesse em ORL, de acordo com a grande área (Ciências Biológicas e Médicas).



Gráfico 18. Distribuição das teses com interesse ORL, segundo o tipo de auxílio, em IES não ORL, 1998-2000.



Gráfico 19. Distribuição das teses com interesse ORL, em IES de outras disciplinas, segundo o pagamento de bolsas e auxílio financeiro, 1998-2000.



Gráfico 20. Distribuição das teses com interesse ORL, produzidas em IES de Otorrinolaringologia, segundo o tipo de bolsa, 1998-2000.



Gráfico 21. Distribuição das teses com interesse ORL, produzidas IES de outras áreas, segundo o tipo de bolsa, 1998-2000.



Gráfico 22. Distribuição das teses com interesse ORL, segundo a grande área, 1998-2000.


No gráfico 23 está a distribuição geral das teses com interesse em ORL, de acordo com a grande área em que foi produzida por ano, 1998-2000.

No gráfico 24 está a distribuição do número de programas em que foram apresentadas teses com interesse em Otorrinolaringologia, por grande área e por ano, 1998-2000.

Na tabela 1, são observadas as relações entre as teses com interesse ORL e as demais teses, por ano e sua porcentagem relativa.

Discussão

Após a avaliação dos resultados obtidos pudemos observar que houve uma produção de teses com interesse otorrinolaringológico que obedeceu a seguinte distribuição:

O número total de teses foi bastante semelhante nos 3 anos estudados, sendo que a participação de teses com interesse ORL em relação ao total das teses produzidas na área de Saúde, foi de cerca de 6% nos três anos estudados (9,3% em 1998, 6,3% em 1999 e 4,9% em 2000). Não houve mudança no número de teses defendidas no período. NILSSON et al estudaram a produção de teses em Anestesiologia na Dinamarca e observaram que houve uma queda de cerca de 15% entre o período compreendendo 1992-1993 e o período entre 1997-1998. O número de publicações por anestesiologista caiu 34%, ou seja 6,7% por ano.



Gráfico 23. Distribuição das teses com interesse ORL, segundo a grande área, por ano, 1998-2000.



Gráfico 24. Distribuição de número de programas que apresentaram teses com interesse ORL, segundo a grande área, por ano, 1998-2000.



Tabela 1. Distribuição das teses em ORL e outras Disciplinas nas áreas biológicas e Médica e a porcentagem relativa das de ORL nos anos de 1998-2000.


Considerando que são cerca de 36 especialidades da Saúde e cerca de 100 especialidades Médicas com programas de pós-graduação, percebemos que há uma ocorrência de teses com interesse nesta área específica maior que a que se apresentaria apenas por uma distribuição ao acaso que deveria estar em torno de 1/136, ou seja 0,07%.

Quanto à distribuição dos locais onde as teses são produzidas, observamos que cerca de 30% delas são elaboradas em IES de ORL, ou seja, mais de dois terços do conhecimento da área é gerado em IES não especializadas.

O número total de teses em Otorrinolaringologia nos 3 anos estudados foi de 400, número que representa a quantidade de trabalhos científicos submetidos à Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia para apresentação em cada congresso anual (informação informal colhida junto à secretaria da SBORL). Isto nos faz imaginar que a maior parte da pesquisa produzida no Brasil, na área Otorrinolaringológica não seja proveniente dos estudos formais financiados pelas agências de fomento. Este dado é reforçado pela absoluta falta de financiamento às pesquisas produzidas em IES específicas de ORL e a pequena quantidade de trabalhos com financiamentos nas IES de fora da especialidade. Estas informações podem representar uma distorção grave do sistema, uma vez que, sendo a maior parte das teses de cunho aplicado e clínico, e sabedores que pesquisa sempre tem um custo, o dinheiro para as investigações pode ser proveniente do mesmo financiador do plano assistencial, ou seja o Sistema Único de Saúde.

Quando observamos onde a produção científica pós-graduada é produzida, percebemos um nítido predomínio de universidades públicas (341/400), seja estaduais ou federais. Dentre as públicas as estaduais se sobressaíram com 258 estudos do total de 341. Aqui começa-se notar o grande monopólio de geração de conhecimento estabelecido pelas universidades estaduais do estado de São Paulo, onde LISP, LINIFESP, LISPRP, LINICAMP e LINESP concentram cerca de 59% das pesquisas na área otorrinolaringológica do Brasil. Somando-se a estas universidades IES privadas e federais do estado como a FCMSCSP HHEL, FAP FAMERP e LIFSCAR, temos um total de 3003 teses em 400, o que representa 75,7% do total. Em estudo de NILSSON et al sobre teses de anestesiologia na Dinamarca foram encontrados 906 artigos científicos publicados, sendo que 83% eram de hospitais universitários.

O quadro fica ainda mais sombrio do ponto de vista de distribuição quando observamos que apenas 29 teses tiveram auxílio direto à pesquisa (não contando a bolsa) e que destas, 8 foram financiadas por agências especificamente estaduais paulistas (LINESP e FAPESP). Portanto, se contarmos todos os tipos de auxilio, seja direto (auxilio à pesquisa) ou indireto (desenvolvimento da pesquisa em suas dependências), o estado de São Paulo representa 72,4% do total de 429 auxílios para desenvolvimento de pesquisa encontrados.

Levando-se em conta que o estado do Rio de janeiro tem 36 teses em suas universidades estaduais e federais (UERJ, ÜFRJ e UFF) e recebeu um auxilio da FAPERJ. Somamos mais 37 auxílios que, junto com os de São Paulo perfazem 348, ou seja, 81,1% de todo o Brasil.

Quanto ao quadro de distribuição das bolsas, de todas as bolsas 70% estão no estado de São Paulo e outras 23 estão no estado do Rio de janeiro, o que representa. 80,4% de todo o Brasil.

Este quadro singular de desrespeito à representação federativa, não encontra qualquer respaldo lógico, uma vez que estados com infra-estrutura universitária de ponta, massa crítica habilitada e força econômica não desprezível como Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul receberam uma pífia fatia dos incentivos financeiros para a pesquisa pós-graduada na área. É importante salientar que há estudos mostrando que o financiamento pode causar impacto relevante na produção científica médica. Rottinger et al mostram uma nítida diminuição no número de pesquisas e de elaboração de teses médicas nos últimos anos. Relacionam o problema com a falta de estímulo financeiro para a carreira acadêmica quando comparada com a carreira clínica. Por outro lado, SCIOCIONE et al (1998), em estudo de questionário enviado a alunos de pós-graduação averiguaram que o financiamento ou as condições oferecidas à produção científica tinham menor influência no término de suas teses que a presença de orientadores com experiência e interesse no assunto.

Outro aspecto estudado foi a distribuição das teses segundo o nível de titulação. No total de IES, o Mestrado representou cerca de 71 %. Esta distribuição pode ser considerada esperada, visto que a pós-graduação no país, nas ciências da Saúde inclusive, calcou seus alicerces em uma concepção evolutiva em que o Mestrado seria um patamar anterior ao Doutorado devendo, portanto, ocupar a base mais larga da pirâmide. Por outro lado, quando avaliamos a distribuição nas IES otorrinolaringológicas, percebemos que a proporção diminui, com o Mestrado representando 62% das teses. Talvez isto se explique pela discussão que vem sendo incrementada nos últimos anos de que, na Medicina, a especialização da Residência Médica pudesse substituir o Mestrado como preparativo para o Doutorado, o que levaria algumas IES a aceitar egressos diretamente para o último nível.
Partindo para a discussão dos aspectos de conteúdo teórico das teses, inicialmente nos preocupamos em observar a distribuição por grande área, ciências médicas e ciências biológicas. Houve uma acentuada predominância de teses na área médica, como seria esperado (86%). Além disso percebemos que a relação entre as duas grandes áreas permaneceu bastante constante nos três anos 1998-1999-2000, com a ciência médica atingindo porcentagens de 87,4%, 84,2% e 86,4% respectivamente. O que houve de novidade foi a quantidade de programas onde houve defesas de tese com interesse para a especialidade nos três anos. Enquanto em 1998 (68) e 1999 (65) este número esteve estável, em 2000 (123) houve um aumento significativo de programas, tanto de ciências biológicas como ciências médicas, com teses de interesse ORL.

Este trabalho não apresenta condições de auferir as razões para este aumento, mas podemos sugerir que o trabalho de divulgação da ORL junto às outras especialidades e a participação constante de colegas otorrinolaringologistas em encontro multidisciplinares pode estar favorecendo esta escalada. Outro fato que pode ser relevante é a restrição de vagas de pós-graduação nas IES ORL impossibilitando a entrada de interessados nas mesmas, forçando a procura por IES com maior proximidade.

A seguir avaliamos os temas abordados segundo as supostas áreas de concentração da especialidade. A divisão proposta foi a mais tradicional que aventamos, com os grupamentos sendo divididos em otologia, rinologia, laringologia, cabeça e pescoço, faringoestomatologia e outros (onde foram colocados os temas que não tinham uma melhor definição da área a que correspondia).

A otologia foi a área onde se desenvolveu o maior número de trabalhos (90) seguida pela faringoestomatologia (82), cabeça e pescoço (81), rinologia (57), outros (53) e laringologia (37). O resultado pode ter explicações plausíveis para cada um dos grupamentos. Sendo a otologia a primeira supraespecialidade a se destacar dentro da ORL, tem maior tradição e, principalmente, maior número de professor com experiência e interesse na mesma, o que pode afetar o fluxo de procura e de vagas nas diversas IES, sobretudo nas da especialidade. Foi isto que observamos, pois nas IES de ORL a otologia representou 52,8% das teses. Já em IES não ORL a sua representação caiu para 6,6% . Quanto ao grande número de teses desenvolvidas em cabeça e pescoço e faringoestomatologia, podemos supor que elas representam a concentração de teses com interesse ORL confeccionadas em IES de áreas afins como Cirurgia de cabeça e pescoço, Odontologia e Oncologia. Isto pode ser observado pela distribuição das teses destas áreas pelas IES ORL (cabeça e pescoço, 1,6%; faringoestomatologia, 8,9%) e não ORL (cabeça e pescoço, 20,9%; faringoestomatologia, 18,8%).

A rinologia teve uma distribuição mais equilibrada nas IES não ORL e ORL (8,4% e 20,3%), enquanto que a laringologia obteve a menor quantidade de teses defendidas com um total de 9,2%, sendo que 5,8 nas IES não ORL e 12,1% nas IES ORL. Estas duas supraespecialidades podem ser consideradas mais modernas na escala de evolução da ORL e suas distribuições podem representar o seu momento de interesse e de habilitação do corpo docente.

CONCLUSÕES

A partir da avaliação feita neste estudo pudemos concluir que:

o As teses com interesse em ORL representam em torno de 6% do total de teses produzidas nas grandes áreas de ciências médicas e ciências biológicas;

o A grande maioria das teses é desenvolvida em serviços universitários;

o Há uma grande concentração de teses produzidas no estado de São Paulo e em universidades públicas;

o A grande maioria das teses recebe ajuda de custo para o pesquisador;

o A grande maioria das teses não recebe financiamento ou auxílio das agências de fomento ou das universidades.

o As teses apresentam temática preferencialmente otológica nas pós-graduações de Otorrinolaringologia e temática de cabeça e pescoço e faringoestomatologia nas não otorrinolaringológicas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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WASHBURN, ER. Health care evolution. Or is it? Physician Exec 1997 Mar; 23 (3):14-6

DR HENRIQUE OLIVAL COSTA - PROFESSOR ADJUNTO DO DEPTO. DE OTORRINOLARINGOLOGIA DA SANTA CASA DE SÃO PAULO

 

 

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