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Artigo publicado no Caderno de Debates da RBORL:

Vol.69 ed.3 de Maio-Junho em 2003 (da página 09 à 13)

Autor: ABEL LAERTE PACKER

Artigo

 Um passeio pelo SciELO

Modelo de biblioteca virtual torna-se referência para a comunidade científica Latino-Americana

Com vasta experiência em armazenamento de dados e indexações, a BIREME lidera o desenvolvimento da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), que disponibiliza on line o acesso à informação científica em saúde, e se firma como a principal fonte de consulta para comunidade médica em toda a América Latina.

Como parte da BVS, um sistema para publicação de periódicos científicos na Internet tem se mostrado uma solução eficiente para assegurar o acesso universal à literatura médica. O SciELO, Biblioteca Científica Eletrônica em Linha, conta com pesquisas, teses e artigos publicados em diversos países da América Latina e do Caribe, e é uma das armas que estão sendo utilizadas para a conquista da empatia internacional.

Seus idealizadores; a BIREME - Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde - e a FAPESP, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, desenvolveram rigorosos critérios de seleção, com o objetivo de garantir status e credibilidade aos textos publicados. A comprovação da eficácia da biblioteca SciELO, que opera desde 1998, pode ser medida através do número de acessos. Segundo dados da BIREME, de janeiro a abril deste ano, foram computadas quase 7 milhões de visitas às diferentes páginas do modelo.

O caminho percorrido até a implementação da base de dados foi longo e as recompensas, progressivas. "A BIREME foi crescendo e modernizando-se, baseada nos modelos utilizados pela National Library of Medicine, dos Estados Unidos, mas sempre voltada para as necessidades dos países da América Latina e Caribe", relata o diretor da BIREME e -coordenador operacional do SciELO, Abel Packer, fazendo referência a mais importante base de dados científica internacional.

Espelhar-se de certa maneira, no trajeto da National Library of Medicine (NLM), mas focalizar a produção de bases de dados com literatura latino-americana e do Caribe, foi uma das vertentes que impulsionaram o projeto de publicações eletrônicas. Mas outros processos são responsáveis pela força do SciELO: um criterioso método de avaliação dos textos, uma interface avançada de recuperação de artigos e um sistema de pontuação que qualifica tudo o que é publicado.

No caso das revistas, por exemplo, a peridiocidade é um dos primeiros requisitos e exige que a publicação seja, no mínimo, trimestral. Além disso, a revista deve ter pelo menos quatros edições já publicadas e um número razoável de artigos. Revisão por pares, ou seja, a leitura e aprovação do material por especialistas da área correspondente, que não seus autores, também é fundamental. Estes primeiros itens já são considerados excludentes.

Uma vez obedecidos os critérios básicos, os textos passam pela análise de conteúdo editorial, etapa decisiva e mais rigorosa. Uma banca examinadora, composta por dois profissionais com ampla experiência, faz um es tudo detalhado das revistas apresentadas e, caso não haja unanimidade na decisão de incluir ou não a revista na biblioteca virtual, um terceiro especialista intervirá.

Ainda no âmbito da avaliação, o modelo conta com procedimentos integrados para medir o uso e o impacto dos periódicos através de uma pontuação. Isso tem dado tão certo, que agências de financiamento de pesquisas adotaram o modelo como base de dados na procura por novos desafios. "Estar no SciELO significa pertencer à elite da literatura científica", confidencia Packer, dando margem para que a Revista Brasileira de Otorrinolaringologia se orgulhe de seu trabalho, já que é a única da especialidade a fazer parte do sistema. No total, 30 revistas de diferentes áreas da saúde estão indexadas pelo SciELO no Brasil.

Todas as suas características fizeram do modelo SciELO uma referência para médicos, estudantes de Medicina e pesquisadores latino-americanos.

Mercado internacional

Apesar dos inúmeros esforços da BIREME para garantir a credibilidade do SciELO e, por sua vez, das pesquisas em Ciências na América Latina e no Caribe, ainda há dificuldades para introduzir os materiais brasileiros e da região no mercado internacional. Muitos cientistas, de países desenvolvidos, só consideram importantes as publicações incluídas no ISI - Instituto de Informação Científica (EUA), ou em suas ramificações como o Web of Science e o Journal Citation Reports. "É uma pena, mas o preconceito existe. A comunidade internacional pensa que, por vivermos em países em desenvolvimento, nossos trabalhos não têm a mesma força", explica Packer.

O idioma é outra barreira a ser derrubada, segundo o coordenador. Título original e resumos em inglês e espanhol são normas que também devem ser seguidas antes do ingresso no SciELO. "Nem todos os profissionais da ciência são capazes de desenvolver textos complexos em inglês. Isso dificulta a publicação e indexação de seus trabalhos em bases de dados internacionais, independentemente de sua qualidade", diz Packer, consciente de que, mesmo que as teorias fossem inseridas em português, não atingiriam o objetivo de ampliar o mercado de aceitação das pesquisas latino-americanas, já que poucas pessoas poderiam entender o idioma.

A esperança fica por conta da força do SciELO, unida aos avanços das pesquisas científicas no Brasil, que vêm mostrando projetos respeitáveis como o Genoma, e o estudo de controle e combate à AIDS, entre outros. Abel acredita que as opiniões estão mudando, mesmo que lentamente.

Pioneiro na América Latina e no Caribe, o SCIELO ainda não foi implementado em todos os países da região. Apesar de qualquer pessoa, de qualquer lugar, ter acesso ao conteúdo, apenas Brasil, Chile e Cuba possuem seus próprios sistemas. A Espanha, mesmo pertencendo a outro continente, também faz parte do grupo, a Venezuela e o México ingressarão até o final de 2003. Já Argentina e Costa Rica terão suas solicitações analisadas nos próximos meses.

O fato de os demais países da América Latina e do Caribe não terem o modelo, não significa que não possam aportar com seus conhecimentos. Artigos dos mais diversos centros são publicados, sempre que aprovados no processo de seleção.

As estatísticas mostram a força do Brasil no desenvolvimento da pesquisa científica, que lidera com 48% da produção dos textos sobre ciências da saúde que fazem parte do SciELO, seguidos pelo Chile, que tem 20% da produção literária, Cuba, com 18% e Espanha, com 14%. "É importante dizer, que não só artigos de ciências da saúde fazem parte do SciELO", avisa Packer. "Ciências agrárias, ciências sociais, engenharia, psicologia e química são assuntos que também podem ser pesquisados", acrescenta.

Longa trajetória

Os 36 anos de atuação da BIREME foram marcados por um processo lento e progressivo, que visou incorporar em seu mecanismo de trabalho o avanço da tecnologia das últimas décadas, para suprir a demanda pela busca de informações científicas atualizadas.

Aprovada pela OPAS - Organização Pan-Americana da Saúde - desde sua criação, a BIREME utilizou-se de ferramentas disponíveis antes da chegada da Internet, para produzir e acessar bases de dados bibliográficos como a LILACS e MEDLINE... "Nos primeiros anos, contávamos apenas com um computador localizado no Instituto de Energia Atômica de São Paulo. Tínhamos uma ou duas horas por semana para pesquisar no MEDLINE e atender pedidos de bibliografias de todos os países da América Latina", conta Packer referindo-se à base de dados fornecida pela NLM e operada pioneiramente no Brasil.

O processo era demorado. As solicitações eram feitas através de Centros Coordenadores Nacionais de diferentes países, que recolhiam os pedidos e os mandavam à BIREME por correio, mesmo meio utilizado para o envio das respostas. Aos poucos, as armas usadas foram modernizando-se e tornando-se cada vez mais ágeis. Durante a trajetória, o aparelho de fax, ainda que lento, também teve sua utilidade.

Com sua estrutura física montada dentro do campus da Universidade Federal de São Paulo (antiga Escola Paulista de Medicina), no bairro da Vila Clementino, a BIREME investiu forte em recursos humanos e capacitação. O aprendizado do processo de indexação e de outras formas de trabalho foi disseminado pelos países latino-americanos e do Caribe, garantindo o sucesso de sua empreitada e a criação da LILACS e do SCIELO.

As metas não terminam, apenas vão sendo renovadas à medida que são atingidas. Por isso, a conquista cada vez maior da atenção do mercado internacional é apenas um dos objetivos da BIREME para o futuro. Além disso, a intenção é fazer que, com o tempo, o público em geral conheça a BVS e o SciELO e o veja como uma ferramenta indispensável. "Pretendemos, por exemplo, que qualquer pessoa com uma doença específica use as informações para conhecer o mal que as acomete, os motivos de sua existência e seus respectivos tratamentos. Assim, ela será capaz de ter uma conversa franca com seu médico. E, por que não, participar nas decisões", finaliza Abel Packer.

ABEL LAERTE PACKER É, DESDE 1999, DIRETOR DA BIREME, ONDE ESTEVE A CARGO DO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO HÁ MAIS DE 13 ANOS. PARTICIPOU, ATIVAMENTE, DA CRIAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS PRINCIPAIS PROJETOS DA BIREME, INCLUSIVE DO SGIELO, DO QUAL É COORDENADOR OPERACIONAL. PACIGER É LICENCIADO EM CIÊNCIAS COM MESTRADO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO.

 

 

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