ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
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996 - Vol. 37 / Edição 2 / Período: Maio - Agosto de 1971
Seção: - Páginas: 157 a 163
Corpos Estranhos em Otorrinolaringologia*
Autor(es):
Marco A. BoWino 1,
Anibal A. T. Castro 2,
Carlos L. Gil 2

1 - Introdução:

Um aspecto que chamou a nossa atenção nos doentes com corpo estranho no nariz e nos ouvidos, atendidos no Pronto Socorro de O. R. L. do Hospital das Clínicas,. foi a ocorrência de grande número de pacientes que nos procuraram com traumas físicos e psíquicos. Êstes provàvelmente tinham sigilo produzidos por tentativas inábeis com instrumentos inadequados ou por manobras inseguras, no afã de remover o corpo estranho. Em consequência, o corpo estranho era levado à profundidade, com lesões da mucosa ou da pele e até mesmo rotura da membrana timpânica, dificultando a remoção do mesmo.

Procurando estudar o assunto foi feita uma revisão bibliográfica que revelou escassez de trabalhos na literatura médica, o que julgamos ser mais um motivo para esta apresentação.

II - Material e Método:

O presente estudo foi baseado em doentes atendidos durante o ano de 1970 no Pronto, Socorro de O. R. L. no Hospital das Clínicas da F. M. U. S. P.. O Pronto Socorro de O. R. L. - H. C. atendeu 21.879 doentes, sendo 437 com corpo estranho no conduto auditivo externo c 388 no nariz.

O material está assim distribuido:

A) QUANTO AO SEXO F A RAÇA



B) QUANTO À DISTRIBUIÇÃO ETÁRIA



C) QUANTO À NATUREZA DO CORPO ESTRANHO

Nota: Miíase não está incluída nesta casuística.


D) QUANTO AOS SINAIS E SINTOMAS

Nota A maioria dos doentes com epistaxe, otorréia ou dor tinham sido anteriormente atendidos em outro Serviço, sem êxito.

E) QUANTO AO DIAGNÓSTICO

O diagnóstico foi realizado através da anamnese e do exame O. R. L..

F) TRATAMENTO

Adotou-se a seguinte conduta terapêutica:


I - No Nariz:

a) Imobilização do paciente (criança) colocada no colo da enfermeira ou na mesa cirúrgica.
b) Remoção do corpo estranho com cureta, sonda Itard ou pinça de Hartmann após prévia anestesia tópica e retração da mucosa nasal, seguida quando necessário de operação.
c) Antisséptico tópico e analgésico.
d) Antibiótico sistêmico e antiinflamatório nos casos de lesão da mucosa nasal.

II - No Ouvido:

a) Corpo estranho animado e vivo: o inseto é morto com éter e removido como no caso de corpo estranho inamimado.
b) Corpo estranho inanimado:
    1 - Imobilização do paciente (criança) colocado no colo da enfermeira ou de preferência na mesa cirúrgica.
    2 - Remoção de corpo estranho com lavagem.
    3 - Remoção do corpo estranho com cureta, estilete ou pinça de Hartmann pequena, utilizando-se ou não aspirador de preferência sob visão microscópica.
    4 - Antibiótico tópico e sistêmico nos casos com lesão do conduto auditivo externo e analgésico.

Nove pacientes com corpo estranho no ouvido foram levados a sala de operação, pois, não foi possível removê-los no Ambulatório pelas manobras usuais Estes pacientes tinham sido submetidos em outros Serviços à manobra de remoção sem êxito. Sob anestesia geral e visão microscópica os corpos estranhos foram removidos. Em todos os casos foi constatado lesão da pele do conduto auditivo externo e, em três dêles, lesão da membrana timpânica. Em um caso que havia perfuração total da membrana timpânica foi feita timpanoplastia no mesmo ato cirúrgico.

III - Resultados:

Foram obtidos bons resultados com esta orientação terapêutica. Os três casos com rotura da membrana timpânica evoluíram satisfatòriamente. Um caso ficou com perfuração, outro com neotímpano e o submetido a timpanoplastia teve pega total do enxêrto. O seguimento de um mês nos casos com lesão na mucosa ou pele foi satisfatório, sem ter sido observado sinais de complicação.

IV - Discussão:

Dentre o elevado número de casos que foram atendidos no PS/ORL, haviam muitos em que o doente tinha sido atendido em outro Serviço não especializado e, pelo insucesso no tratamento, era encaminhado ao Hospital das Clínicas.

Estes doentes, geralmente crianças, estavam traumatizados, não colaborando nos exames. Era freqüente encontrar-se lesão da pele, da membrana timpânica, da mucosa nasal, estando o corpo estranho introduzido profundamente.

Nos doentes por nós atendidos observou-se maior incidência de corpo estranho no sexo masculino, tanto no nariz quanto no ouvido.

Quanto às raças, houve predominância da branca -em relação a negra e amarela. Por outro lado, os corpos estranhos são mais freqüentes em crianças. Este fato também foi por nós observado; entre zero e 10 anos tivemos 651 casos, sendo 343 de ouvidos e 308 de nariz. A medida que a idade vai aumentando a ocorrência de casos diminue.

Observamos também que, à medida que a idade aumenta, os corpos estranhos de ouvido continuam predominando sôbre os de nariz pois, acima de 50 anos não tivemos nenhum caso de corpo estranho no nariz e encontramos doze casos de corpo estranho no ouvido.

A natureza do corpo estranho é das mais variadas, nós encontramos feijão tanto no nariz como nos ouvidos em 90% dos casos.

Os principais sinais e sintomas encontrados em nosso material são os referidos pela maioria dos autores. Entretanto, ressaltamos o traumatismo físico e emocional causado na tentativo de remoção do corpo estranho por não especialistas. É por êste motivo que estamos de acôrdo com Danforth, quando sugere a necessidade da remoção de corpos estranhos por especialistas.

O diagnóstico é feito pela anamnese e pelo exame otorrinolaringológico.

Na remoção dos corpos estranhos do nariz e do conduto auditivo externo é necessário adotar-se uma conduta.

Com a orientação terapêutica adotada no PS - ORL, conseguimos remover a maioria dos corpos estranhos, mesmo aquêles que não haviam obtido êxito em tentativas anteriores.

Entretanto, 9 casos de pacientes com feijão no conduto auditivo externo foram levados a sala de operação pois não conseguimos retirá-los com as manobras usuais. Em todos os 9 casos havia lesão da pele e em três deles também lesão da membrana timpânica, com perfuração total e o feijão alojado dentro do ouvido média.

Um dêsses casos após remoção do feijão e limpeza da caixa timpânica foi realizado no mesmo ato cirúrgico timponoplastia com fascia temporal, pois não apresentava sinais aparentes de infecção e por ser o trauma recente.

Os resultados do tratamento adotado na remoção de corpo estranho do nariz e dos ouvidos foram satisfatórios. Feêz-se seguimento de um mês, nos casos de lesão da mucosa ou da pele, com boa evolução sem sinais de complicação.

O doente submetido a timpanoplastia evoluiu bem com pega total do enxêrto. Os outros dois casos com lesão da membrana timpânica, um formou-se neotímpano e no outro a lesão permaneceu.

V - Conclusão

Após o estudo de corpo estranho em 438 doentes no conduto auditivo externo e 388 na nariz, podemos concluir:

1 - Há predominância d.e corpo estranho na raça branca, tanto no nariz como nos ouvidos.
2 - No grupo estário entre zero e 10 anos, ocorreu o maior numero de casos, tanto no nariz como nos ouvidos.
3 - O corpo estranho predominante foi o feijão tanto no nariz como nos ouvidos.
4 - O tratamento adotado foi satisfatório.
5 - Nos casos de corpo estranho com perfuração recente da membrana timpânica, sem sinais de infecção, recomenda-se realizar timpanoplastia no mesmo ato cirúrgico.

A remoção do corpo estranho do nariz ou dos ouvidos deve ser efetuada pelo especialista.

Sumário

Os autores estudaram os corpos estranhos em 438 doentes no conduto auditivo externo e 388 doentes no nariz, atendidos durante o ano de 1970 no PS/ORT, do H. C. da F. M. U. S. P..

Discutem o material sob o ponto de vista do sexo, raça, idade, -natureza e localização do corpo estranho e conduta terapêutica.

Summary:

The authors studied the foreign bodies in 438 patients with external ear diseases and in 388 patients with nose diseases, cared for during the gear of 1970 at ORL First dids Station of Hospital das Clínicas of the F. M. U. S. P..

They discussed the material under the aspects concerning to ser, race, age, and localization of the foreign body as well as therapeutics condutt.

Bibliografia

1. Atcaino, A. - Tratado de Otorrinolaringologia e Otoneurologia. Barcelona, Salvat Editores S. A., 1966.
2. Capistrano, P. - Otorrinolaringologia. Rio de Janeiro, Edit. Guanabara Bogan, 1957, pgs. 822-830; 1085-1088.
3. Danforth, H. B. - Insect foreign bodies of the external ear. Arch. Oto-laryngol. (Chicago) 82:251252, 1965.
4. Hungria, H. - MANUAL de Otorrinolaringologia. Rio de Janeiro, Edit. Guanabara Bogan, pg. 40-41, 1960.
5. Lineback, M. - A new foreign body forcei, for spherieal objecta in the cai and nos, Laringoscope, 19:197-199, 1960.
6. Macmaster, W. C. - Removal of foreign body from the nose. J. A. M. A. 213:190 1970.
7. Portmann, M. - Manual de Otorrinolaringologia. Barcelona, Toray-Masson, S. A. 1970.
8. Tato, Tato, I. M. - Enfermidades del oido Externo. in Alonso, I. M. Tratado de Otorrino-Laringologia y Bronco-esofagologia. Madrid-Editorial. Paz Montalvo, 1964, pg. 263.292.




* Trabalho realizado na Clínica ORL - Hospital das Clínicas da F. 141. U. S. Y.
1 Médico - residente
2 Médico - bolsista
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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