ISSN 1806-9312  
Sexta, 19 de Abril de 2024
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988 - Vol. 37 / Edição 2 / Período: Maio - Agosto de 1971
Seção: - Páginas: 126 a 131
Sonomanometria e Obstrução da Trompa de Eustáquio*
Autor(es):
Zenshi Heshiki

1. Introdução

Todos nós sabemos a importância da trompa de Eustáquio e o estudo da fisiologia dêste órgão assumiu uma posição prioritária em todos os centros otológicos e entre os otorrinolaringologistas que se ocupam de aviadores, aeronautas, astronautas, mergulhadores e pessoal com exercício em submarinos navais. Isto obrigou o aprimoramento dos métodos de exploração funcional do órgão. Segundo Riu e col.21 a fase de exploração fundamental deve-se a Van Dishoeck23,e Zollner31. O primeiro descreveu o seu pneumofone. Baseado nos princípios de Gellé que a audição é máxima quando a membrana timpânica está na posição de equilíbrio, construiu um aparelho simples que serviu de base para muitos trabalhos, contribuindo assim ao estudo da fisiologia da trompa15, 18, 21, 29, 30. Zollner em 1942 publica o seu livro onde relata as suas experiências no exame das trompas dos jovens pilotos da Fôrça Aérea Alemã.

Os métodos de exploração funcional da tropa de Estáquio podem ser divididos em qualitativos e quantitativos. Devemos considerar ainda a função da trompa divididas em 3 partes: a função de equilíbrio das pressões, a função de drenagem e a função auditiva.

No presente trabalho estudaremos apenas a função de equilíbrio das pressões e os métodos quantitativos de sua exploração.

Os métodos quantitativos da função de equilíbrio das pressões da trompa de Eustáquio podem ser:

INDIRETOS:
Pneumofone de Van Dishoeck
Métodos da impedância acústica

DIRÉTOS:
Sonometria
Manometria
Sonomanornetria

Já citamos o pneumofone de Voga Dishoeck descrito em 1937. O aparelho consiste em procurar o nível da coluna liquida (cm/H20) em que o paciente responda estar com o máximo de audição. A desvantagem do aparelho é que pode ser empregada sòmente em ouvidos portadores de membrana timpânica integras. O próprio Van Dishoeck encontrou o "índice pneumofônico" em pacientes normais de + 2 e - 2 cm/H20.

Metz16 baseado nos princípios físicos da impedância acústica, foi o primeiro a empregar em clinica. Foi aperfeiçoado por Thonsen25, mas o método não entrou na rotina clínica dos especialistas. Tem também a desvantagem de ser necessária a integridade da membrana timpânica para a sua aplicação.

Sonometria: - o emprego da sonometria para avaliar a permeabilidade da trompa de Eustáquio é muito antigo. Assim Laennec em 1819, preconizou o emprêgo do estetoscópio; Toynbee introduziu o seu otoscópio, muito utilizado por Politzer. Já Von Gyergyay, conseguiu obter o registro do som ao nível do ouvido externo com a fonte sonóra colocada ao nível da rinofaringe.

Mais tarde Perlman18 introduziu o receptor microfônico para captar o som ao nível do conduto auditivo externo, embora não tenha sido capaz de empregálo em clinica. Foi Elpern e co1.4 que em 1964 conseguiu obter o registro gráfico do som nas condições preconizadas por Perlman.

Manometria: - também é de longa data a utilização do método manométrico . para o estudo da trompa de Eustáquio. Temos assim Politzer, Woyastschek, Terkildsen, Von Gyergyay, Oltersdorf, Kottmeyer, Juganova, Hartmanvn. Coube entretanto aos autores suecos Ingelstedt, Ortegren, e Flisberg5, 14 o mérito de introduzir aperfeiçoamentos ao método manométrico. possível de utilizar em clinica. Nos anos seguintes outros autores descreveram métodos que se baseiam nos mesmos princípios do processo descrito pelos suecos. Temos assim Müller17, Bortnick2, Sidentop24, Bloockler e Pulec33, Sharp23, Von Dishoeck34, Rundscratz22, Hotmquist11.

Sonomanometria: - baseado nos princípios da sonometria e da manometria, os autores franceses Guillerm e col.1° apresentaram um novo método de exploração funcional da trompa de Eustáquio por êles denominado de SONOMANOMETRIA. Segundo êsses autores o método "Permite objetivar de maneira irrefutável a abertura expontânea da trompa de Eustáquio". Heshiki e Cazaux32 apresentaram, pela primeira vez no Brasil, durante o XIX Congresso Brasileiro de ORL em 1970, os primeiros resultados obtidos em pacientes patológicos, da Clínica do Prof. Michel Portmann. O presente trabalho é a continuação dos estudos de um dos autores.

2 - Material e Métodos

O presente trabalho é constituído de 70 ouvidos examinados na Clínica Otorrinolaringológica da Faculdade de Medicina de Bordeaux (França). Os ouvidos examinados foram distribuidos em dois grupos:
Grupo N - ouvidos clinicamente normais
Grupo OT - ouvidos clinicamente com obstrução da trompa de Eustáquio.

Métodos: os pacientes, após exame otorrinolaringologico, foram submetidos: aos testes de exploração da trompa de Eustáquio pelo método sonomanométrico.

Este foi sistematizado da seguinte forma:
- exame sonométrico
- exploração sonomanométrica, com hiperpressão ao nível da faringe de 10, 15, 20, 25 e 30 milibares (cm/água) - teste com man. Valsalva

As trompas foram classificadas de acôrdo com os resultados do ex. sonomanométrico em cinco grupos:

Grupo S - permeável ao exame sonométrico
Grupo S=P - permeável ao exame sonomanométrico com hiperpressão variável de 10 a 30 milibares
Grupo P - variação do nível de pressão no conduto auditivo externo com hiperpressão ao nível da faringe variável de 10 a 30 milibares, sem a passagem do som.
Grupo E - dispermeável ao som e à pressão
Grupo VV - permeável à pressão sòmente à manobra de Valsalva.

Os resultados podem ser -resumidos na tabela abaixo (I)

TABELA I
Resultados do exame sonomanométrico segundo o diagnóstico clínico dos ouvidos examinados.



Legenda ver material e métodos.



4. Discussão

Segundo autores que tem estudado a fisiologia da trompa com o método mano métrico2, s. 7, 11, 17 citam como parametros mais importantes a pressão residual e a pressão de abertura da trompa de Eustáquio. Utilizando o método sonomanométrico Riu .e co1.21 afirmam que sòmente o método sonométrico não permite detectar a totalidade das trompas clinicamente normais. Utilizando o método sonomanométrico encontraram os seguintes resultados:

- trompas permeáveis: permeável ao exame sonométrico - 33.44%
- trompas com permeabilidade média - abertura com O a - 15 cm/H20 38.63%
- trompas dispermeáveis - abertura de 15 a 30 cm/H20 - 22.73%
- trompas estenosadas abertura acima de 30 cm/H20 - 5.2%

Baseados nos resultados do exame sonomanométrico, Heshiki e Cazaux32 obtiveram resultados equivalentes aos de Riu e co1.21, tanto em trompas para ouvidos com membrana timpânica integras como para perfuradas.

No presente trabalho, apresentamos os resultados em dois grupos de pacientes (clinicamente normais e clinicamente com obstrução da trompa) e estudaremos de acôrdo com os resultados obtidos com exame sonomanométrico. Verifica-se pela tabela I que no grupo N tivemos permeáveis ao ex. sonométrico (S) e 65.20%. Isto quer dizer que o diagnóstico clínico não coincide com o diagnóstico sonométrico. Fazendo-se entretanto o exame sonomanométrico completamos diagnóstico de permeabilidade em 100% dos casos.

Para as trompas clinicamente obstruidas temos alguns dados interessantes. Encontramos nesse grupo 2.13% de trompas permeáveis ao exame sonométrico. O exame sonomanométrico permite detectar 42.55% para o grupo S=P e 36.17%, para o grupo P. Finalmente temos 14.90 de trompas obstruídas ao exame sonomanométrico e 4.25% que deram permeáveis à pressão sòmente à manobra de Valsalva.

Os resultados aqui obtidos, não podem ser comparados a de outros trabalhos, portanto o autor utiliza de resultados classificados segundo critério próprio e que são mais fáceis de utilização clínica do sonomanometro, evitando-se calculos, o que dificultaria o seu uso rotineiro.

5. Conclusões

O exame de 70 ouvidos sendo 23 clinicamente normais e 47 clinicamente com obstrução de trompa foram submetidos ao exame sonomanométrico. Os resultados destes exames permitiram o autor classificar as trompas em cinco grupos utilizando critérios pessoais para facilitar o uso clínico do sonomanometro. Comparando os resultados do exame sonomanométrico com o diagnóstico clínico conclui;

5.1 - O exame sonométrico permute detectar 65.2% de trompas permeáveis, totalizando 100% pelo exame sonomanométrico.

5.2 - As trompas clinicamente patológicas apresentam os seguintes resultados:
trompas permeáveis - 2.13%
pouco permeáveis - 42.55%
permeáveis a pressão - 36.17%
não permeáveis - 14.90%
permeável a Valsalva - 4.25%

Resumo

O autor após breve revisão bibliográfica, visando principalmente os métodos de exploração fundamental da função equipressiva da trompa de Eustáquio estuda 70 ouvidos submetidos aos exames clínico e sono manométrico. Clinicamente 23 eram normais e 47 com obstrução da trompa. Ao exame sonomanométrico classificam as trompas em cinco tipos de acôrdo com critérios proprios e as analisam estes confrontando com os grupos classificados clinicamente. Obteve 65.2%; de trompas permeáveis com ex. sonométrico para o grupo clinicamente normal, totalizando 100% com exame sonomanométrico Para o grupo de trompas obtidas ao exame clínico, obteve 2.13% de permeáveis ao ex. sonométrico e 14.90% de não permeáveis ao ex. sonomanométrico.

Resume

L'auteur a fait une révision de la bibliographie, surtout pour le méthodes d,exploration fonctionelle de la fonction equipressive de da trompe d' Eustache. Il y a etudié 70 oreilles avec le méthode sonomanometrique. Aux examen clinique 23 sont normale et 47 avec obstrution de la trompe. Avec. les résultats de Pexamen sonomanométrique, il y a classifié Ia trompe em cinq types delon un critére lui-meme personel et a fait une étude comparant avec les résultats cliniques. YI y a obtenu 65.2% de trompes perméables avec la sonometrie et 100% avec la sonomanometrie dour le group normal. Pour le group pathologique il y a obtenu 2.13% de permeables a la sonométrie, 42.55% de pérméabilite moyenne, 36.17% de perméabilité a la préssion, 14.90%, de dispérméabilite et 4.25%, de perméabilité seulement a la maneuvre de Valsalva.

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* Trabalho realizado na Clínica de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Bordeaux - França - Diretor Prof. Dr. Michel Portmann.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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