ISSN 1806-9312  
Quarta, 30 de Outubro de 2024
Listagem dos arquivos selecionados para impressão:
Imprimir:
985 - Vol. 37 / Edição 2 / Período: Maio - Agosto de 1971
Seção: - Páginas: 120 a 122
Tratamento de Ozena por Peça Nasal Obstrutiva Móvel
Autor(es):
Antonio Cyrillo Gomes

Apoiado no conceito de que a terapêutica da ozena se divide em médica e cirúrgica, e que ambas são de natureza sintomática já que se continua no terreno de hipóteses e especulações quanto à etiologia, procuramos, dentro destas conjecturas, estudar o binômio sintomático crosta e fetidez. A fetidez constitui sem dúvida o sintoma mais desagradável da ozena, provocando sentimento de revolta e complexos por parte dos pacientes. O fato de encontrarmos sempre fetidez aliada à presença da crosta, despertou-nos o raciocínio de que caso conseguíssemos evitar sua formação, na certa atenuaríamos o odor nauseante. Mas, como consegui-lo, uma vez que a crosta amarelo-esverdeada típica se forma as expensas do exsudato purulento que se solidifica pelo excessivo arejamento da fossa nasal? Só duas medidas tornariam possível êste desideratum; abolição do exsudato ou redução do arejamento. A primeira hipótese torna-se impossível, uma vez que dentro do quadro atrófico da doença, parece a atividade mucosa glandular cuja eliminação teria, por outro lado, o risco de provocar redução funcional da pituitária, além de ser de nosso desconhecimento que tal medida fôsse capaz de alcançar o objetivo almejado. A segunda hipótese parece-nos a mais acertada. Para êste fim, procuramos recorrer à obstrução mecânica da fossa ou fossas nasais. A gaze, inicialmente escolhida, não oferece as vantagens desejáveis, pois absorvem o exsudato e permitem a desidratação, o que facilita processos fermentativos. Todos conhecermos o desagradável odor das gazes de tamponamento nas fossas nasais além de setenta e duas horas. O melhor seria obstrução por substância com baixo índice de absorção para líquido ou semi-líquido. Tal substância teria que ser impermeável ao máximo, e, além disso, incapaz de provocar fenômenos de hipersensibilidade na mucosa. A mais indicada pareceu-nos o acrílico, por conhecermos sua tolerância por parte das mucosas oral e nasal, através de próteses dentárias e inclusão sub-mucosa na cirurgia da ozena. Nossa preferência recaiu sôbre o acrílico auto-polimerisável incolor. A peça deve ficar bem ajustada às paredes externa e interna da fossa, bem como ocupar todo o diâmetro do vestíbulo. E confeccionada sôbre negativo obtido por moldagem direta. Para êste fim temos utilizado o Alginato S. S. White, substância amplamente empregada em próteses. Achamos que a peça obstrutiva deve ocupar o máximo possível de área crido-nasal (permitido pela elasticidade do material de moldagem) e ajustar-se bem à mucosa, a fim de provocar hiperemia estimulante da vitalidade mucosa.

Inicialmente, temos colocado a prótese em apenas uma fossa. Posteriormente, com a experiência adquirida, passamos a obstruir ambas as fossas. Os fenômenos de mal-estar geral se apresentam apenas no início do tratamento. Não tivemos problemas quanto ao hipo-arejamento de ouvido médio, embora constantemente façamos contrôle otoscópico em nossos pacientes. A obstrução duradoura parece realmente impedir formação de crosta. O odor tem diminuído sensivelmente. Paralelamente, temos empregado a vitamina A (Arovit) durante o tratamento e usado a prótese envolvida em Furacin geléia, a fim de facilitar sua colocação. O que mais nos terra animado é verificar que pacientes que formam e eliminam crosta fétida diàriamente, através anos seguidos, apresentam melhoras acentuadas logo nos primeiros dias, a ponto de dispensarem limpeza da fossa nasal. Nossa casuística é ainda pequena mas os pacientes tem sido intensamente observados, acompanhados e controlados.

Material e Métodos

A peça obturadora é confeccionada com resina acrílica, ativada quimicamente. Damos prefercncia ao Simplex, embora admitamos que a peça passa ser confeccionada com outras substâncias como o silicone ou ainda em misturas acrílico silicone, etc. Começamos o tratamento com a obturação de apenas uma narina, e posteriormente obturamos a narina oposta.

Durante certo tempo mantemos as narinas tampadas por doze horas diárias, induzindo êste horário posteriormente até encontrar o tempo de obstrução necessário a não formação de crosta.

Casuística

Para evitar descrições prolixas, referimos apenas a data de início do tratamento, o método usado e o resultado atual.

CASO N.° 1
M. A. S. - brasileira, 52 anos de idade, parda, casada, residente na Guanabara. Portadora de ozena nasal há cêrca de 30 anos. Examinamos a paciente pela primeira vez em 1969, época em que comprovamos presença de rinite atrófica ozenosa bilateral Grau III. Início do tratamento obstrutivo com peça de acrílico em 24-4-1969.

Atualmente, encontra-se usando a peça obturadora apenas durante três horas por dia, apresentando melhoras locais e ausência de crosta e fetidez.

CASO N.° 2
V. R. - brasileira, 18 anos de idade, parda, solteira, residente na Guanabara. Portadora de Rinite Atrófica Ozenosa desde os 9 anos de idade. Mat. HC-FCM N.° 153. 593. Examinada a primeira vez em.13-4-1969, quando foi diagnosticado Rinite Atrófica Ozenosa Grau III. Iniciado o tratamento obstrutivo em 20-4-1969. - Atualmente, usa a peça obturadora quatro horas por dia. As crostas desapareceram durante o tratamento. As fossas nasais apresentam-se úmidas.

CASO N.º 3
N. J. - brasileira, 7 anos de idade, branca, estudante primário. Residente no Estado da Guanabara, Mat. HC-FCM n.° 163.839. Há cinco anos é portadora de crosta amarelo-esverdeada em ambas as fossas nasais, com odor fétido. Nunca fez tratamento especializado, Examinamos a paciente a primeira vez em 23-9-1969, comprovando presença de crosta amarelo-esverdeada em ambas as fossas nasais e ausência de vibrissas. Classificado o caso como Rinite Atrófica Grau II. - Iniciado o tratamento obstrutivo em 9-10.1969. Atualmente, apresenta mucosas úmidas. Ausência de fetidez e crosta. Continua usando a peça obturadora seis horas por dia.

CASO N.° 4
L. L. C. - brasileira, 21 anos de idade, branca, casada, natural do Espírito Santo, residente em Muriqui (Estado do Rio de janeiro), doméstica, analfabeta. Portadora de Rinite Atrófica Ozenosa desde os oito anos de idade, tendo abandonado a Escola por apresentar excessiva fetidez nasal. Examinada em 1-1-1970, quando classificamos o caso como Rinite Atrófica Ozenosa Grau III. Iniciado o tratamento obstrutivo em 22-1-1970, Usando, atualmente, a peça obturadora oito horas por dia. Melhoras acentuadas.

CASO N.º 5
E. F. T. - brasileira, 12 anos de idade. branca, estudante primária, natural da Guanabara, residente em Parada de Lucas (G. B.), matrícula HC-FCM n.° 168.084. - Há cinco anos elimina crosta amarelo-esverdeada com odor fétido, através manobra esternutatória. Examinada a primeira vez em 22-1-1970, quando foi o caso diagnosticado como Rinite Atrófica Grau II. Iniciado o tratamento obstrutivo em 29-1-1970. A paciente apresentava melhoras acentuadas até 26-4-1970, época em que perdemos o contato com a paciente, quando usava a peça doze horas diárias.

CASO N.º 6
C. C. R. - brasileira, 19 anos de idade, branca, solteira, natural do Estado da Guanabara, matrícula HC-FCM n.° 164.388. Desde cinco anos ele idade é portadora de Rinite Atrófica Ozenosa, Submeteu-se a tratamento cirúrgico com a idade de treze anos. Não tendo melhorado, foi novamente operado (inclusão) aos 18 anos de idade. É portadora de Rinite Atrófica Ozenosa unilateral, lado direito. Examinada por nós pela primeira vez em 2-2-1970, quando verificamos Rinite atrófica ozenosa Direita grau II. Iniciou o tratamento obstrutivo em 19-2-1970. Atualmente, encontra-se usando a peça obturadora seis horas por dia. Mucosa úmida e ausência de crosta.

Resultados

Apesar de pequena casuística, os resultados se revelam bons, pois em prazo relativamente curto observamos aparecimento de umidade da mucosa e diminuição ou desaparecimento da crosta, que equivale dizer: transformação de Rinite Atrófica Ozenosa em Rinite Atrófica Simples.

Resumos

Com uma prótese especial de acrílico que obtura as narinas e atinge o nível da cabeça do corneto inferior, o autor procura evitar desidratação dos exsudatos, decorrentes do excessivo arejamento das fossas nasais na ozena, dificultando, assim, a formação da crosta responsável pelo odor fétido.

Summary:

With an special acrilic prothesis which Gloses the narines anel goes up to the level of the inferior turbinate, the author tries to avoid the dehidration of the secretions following the excesso; ventilation of he narines in ozena, thus avoiding the formation of the crust responsible-for tire fetid odor.

Résumé:

Avec une protese spéciale d'acrylic qui obture les narines et atteinte le niveau de la tête-du cornet inferieur, l'auteur cherche a èvitez la desydration des greffes, provenant de l'aeratión excessive des fosses nasales (ozène) rendat ainsi plus difficile la formation de la crôute qui degage une odeur fetide.

Bibliografia

1. Games, Antonio Cyrillo: Tratamento Clínico da Rinite Atrófica Ozenosa - Peça Nasal Obstrutiva Móvel (Acrílico). Tese apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado da Guanabara, para concorrer à Docência-Livre de Otorrinolaringologia. Guanabara, 1974.
2. Vieira, Dioracy Fontenada: Bases para a aplicação racional dos materiais odontológicos, São Paulo. Atheneu. 1964 p. 166-86.
3. Anderson, John N.: Applied dental materials. 3 ed. Oxford anel Edinburgh, Blackwell Scientific publ. 1959 p. 213.
4. Dijon, C.: Les allergies aux resines acryliques. Cahiers medieaux Lyonnais, 43 (27) : 24-85-86, nov. 1967.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


Imprimir:
Todos os direitos reservados 1933 / 2024 © Revista Brasileira de Otorrinolaringologia