| 
                  OBSERVAÇÃO.: Antônio José Rodrigues, brasileiro, solteiro, branco, lavrador. Procedência: Tupã, Matriculado; no Serviço da Clínica Oto-Rino-Laringologica da Santa Casa de Misericordia de S. Paulo em 6-10-43; ficha n.º 28.835.
 Em 30-8-43 estava fazendo derrubada para plantação de algodão em Tupã (Fazenda da Bandeira). Quando foi vítima de um acidente. Relata que a árvore que havia cortado pendera para o lado de um coqueiro e quando tentou desvencilha-la, o tronco deu de encontro á sua cabeça derrubando-o desacordado. Os companheiros socorreram-no. Assim foi levado para sua residência. Declara ter tido hemorragia pela boca, nariz e olho esquerdo, sem grande importância pois que logo cessara. Esteve em repouso, acarreado até ás 16 horas (a queda se dera ás 9 horas da manhã). A tarde foi levado para a cidade (Tupã). Após ligeiro exame médico,foi conduzido, para Marília, onde fizeram uma radiografia da cabeça. Não tendo o resultado radiográfico esclarecido, o caso nada foi feito em beneficio do doente. No dia seguinte começou a sentir uma diferença ao engulir e nevralgia na hemi-face esquerda. Depois do acidente notou que respirava mal pela fossa do mesmo lado. Esses fenômenos desapareceram e o doente passou relativamente bem durante os meses de Agosto e Setembro, percebendo apenas uma sensação estranha ao engulir. Procurou o serviço da Santa Casa, para ser operado de sinusite maxilar esquerda consoante a indicação dos colegas que o examinaram.
 
 Exame especialisado: Observado pela rinoscopia, apenas notei um ligeiro intumescimento da concha inferior da fossa esquerda com abundante secreção no meato inferior. A função respiratória da fossa direita era mais ou menos normal, o que não se observava na fossa esquerda, pela razão acima exposta. Como o doente insistisse que, tinha na garganta (cavum) um corpo estranho, lancei mão de um estilete para verificar a razão de sua queixa. Notei ao introduzir o referido estilete pela fossa esquerda, uma resistência estranhas na porção bem posterior. Não satisfeito com esse resultado, resolvi fazer o toque manual no naso-faringe (cavum) e com grande surpresa  notei a presença de uma grande saliência endurecida obturando a coana. Com uma pinça torta retirei o corpo que aqui apresento, nada mais que volumoso fragmento de madeira.
 
 Ao exame da cavidade bucal nada foi revelado que explicasse a passagem do referido corpo estranho, localizado conforme se verificou, no naso faringe (cavum). A cicatriz que o paciente apresenta no ângulo interno do olho esquerdo, também está em absoluto desacordo com o tamanho da madeira encontrada no já mencionado local.
 
 Como explicar o mecanismo da penetração desse corpo ? - por  mais que raciocinasse sobre o assunto  não encontrei uma explicação plausível  para tal acidente. Trata-se á de um psico-neurotico?
 
 Os exames radiológicos, dos olhos e do sistema nervoso não nos deram esclarecimento justificativos. O doente está curado,  alimenta-se regularmente e está contente.
 
 O corpo estranho foi enviado ao  INSTITUTO  DE PESQUISAS TECNOLOGICAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, afim de ser identificado e classificado.
 
 CERTIFICADO OFICIAL Nª 41.796
 
 Material : fragmento de madeira. Natureza do trabalho : identificação. Interessado :
 Dr. Ernesto Moreira.
 
 RELATÓRIO
 
 I - O interessado entregou ao instituto  de pesquisa Tecnológica um pequeno fragmento de madeira , solicitando a sua identificação botânica.
 
 II - Devido ao adiantado estado de desintegração do fragmento não foi possível empregar-se  a técnica adotada normalmente nos ensaios de identificação de madeiras.
 
 III - Pelos exame micrográfos de seus principais elementos componentes dissociados
 - vasos ,fibras e parênquima  - constatou-se  ser o referido fragmento proveniente de um pequeno galho de arbusto da classe das dicotiledôneas.
 
 EXAME RADIOGRAFICO dos seios da face : Opacidade do seio maxilar esquerdo (hematoma do seio?). Dentro da cavidade orbitária, á esquerda, se projeta umas pequenas imagens possivelmente de corpos estranhos. Possível traço de fratura do occipital , na sua porção inferior, junto da sutura fronto-parietal. Para maior esclarecimento seria conveniente radiografias em outras incidências. Dr. J. M. Cabello Campos.
 
 EXAME NEUROLÓGICO - Considerações neuro - psiquiátricas.
 
 Exame neurológico : Nada de normal a não ser lesões paralíticas oculares em O. E.
 
 
 Exame psiquiátrico: Nada constatamos de anormal no momento do exame.
 Não ha caraterísticos de personalidade psicopática ou neurótica.
 
 
 CONSIDERAÇÕES:
 
 a) Simulação: Pode ser excluída por falta de finalidade prática.
 b) Neurose histérica; pode ser excluída por falta de elementos próprios das personalidades neuróticas (sugestibilidade, impressionabilidade; carater obsedante, sinais neurodistonicos, vida sintonica com o ambiente, etc... ).
 c) Psicoses: (Esquizofrenia) - Podem ser excluídas pela negatividade do exame psíquico.
 
 EXAME DE OLHOS:
 
 Reações pupilares á luz consensual, á acomodação e á convergência normais.
 
 Musculatura externa: OD = normal. OE = paresia do M. reto superior..
 
 Fundos e meios oculares normais.
 
 OE = Retração cicatricial da pálpebra superior.
 
 Visão: OD. = 1/2. OE. = 1/6.
 Campos visuais central: normais.
 Refração - hipermetropia.
 
 
 
 
 (*) Trabalho apresentado na reunião de 17-11-43 da Sessão de O.R.L da Associação Paulista de Medicina.
 |