Prezado Dr. Mario Ottoni
Congregados hoje para homenagear-vós pelo transcurso de vossa data natalicia é-me grato saudar-vos em nome de vossos assistentes; colaboradores e no meu próprio, procurando desta forma e de viva voz expressar-vos os sentimentos de estima que todos, vos devotamos.
Bem os mereceis. Todos os que, quotidianamente, têm a ventura de sentir o influxo de vossa personalidade de escól não podem, sem pécha de ingratidão ou indiferença, deixar de nutrir por vós a acendrada admiração que as vossas atitudes inspiram.
Com efeito, a simplicidade no trato, a franqueza, por vezes rude mas sempre sincera, o desejo constante de bem orientar, a tolerância pelas frequentes e nem sempre voluntarias quebras de disciplina, tudo isso faz com que a vossa personalidade de chefe e amigo, muito mais amigo do que chefe, avulte aos nossos olhos. Um traço, todavia, domina o vosso perfil psíquico: uma imensa e generosa compreensão. Compreensão que se origina do exato conhecimento de todas as contingências de nossa profissão. Compreensão que se exteriorisa por arrebatamentos de chefe rigoroso nos quais se entrevê apenas o coração do amigo tolerante. Compreensão, em suma, daqueles que, falando e agindo pelo coração, só veem nos defeitos alheios a triste contingência humana, à qual nenhum de nós escapa. Dela decorre porisso a ironia risonha com que profligais a nossa aparente desidia. Bem sabeis que um atrazo no comparecimento aos nossos encargos neste Serviço bem poderá ser explicado pela ardua "strugle for life", numa época em que a clínica liberal se dilue dia a dia na socialisação progressiva dos serviços médicos.
Essa compreensão que vos permite transigir com os tacteios e incertezas dos que se iniciam na especialidade e para os quais sempre tivestes palavras de estimulo e de incitamento.
Longe de vós porisso mesmo a idéia, ainda que remota, de qualquer recriminação à nossa, por vezes, incorrigível ignorância.
Essa atitude concorre portanto para que destemerosos de criticas acrimoniosas, sintamos desde logo aquela ampla liberdade de movimentos que géra em nós, a pouco e pouco, a indispensável autoconfiança, essencial a quem quer que pretenda devotar-se a uma especialidade cirúrgica.
Eis aí, Dr. Mario Ottoni, o perfil moral quê, em palavras desataviadas, procurei traçar-vos.
Outras facetas certamente terão escapado à minha observação. Delas poderão dar testemunho os vossos íntimos e aqueles a quem é dado ó prazer de privar convosco, no recesso do vosso lar ou na sociedade paulista, de que sois destacada e benquista figura.
De mim me satisfaço com ter procurado destacar os traços mais evidentes da vossa figura de médico e de chefe. Ergo a minha taça pela vossa felicidade pessoal, num voto, que considero unânime, de que continuemos, por longo tempo ainda, a privar convosco nesta jornada de sacrifícios e de caridade que de há longos meses vimos trilhando, todos juntos como uma só família. A vossa felicidade.
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