ISSN 1806-9312  
Quinta, 18 de Abril de 2024
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813 - Vol. 10 / Edição 1 / Período: Janeiro - Fevereiro de 1942
Seção: Trabalhos Originais Páginas: 37 a 47
Ozena (Rinite Atrófica Fétida) - TEORIA CANINA
Autor(es):
Dr. Ernesto Moreira

TEORIA CANINA

A questão da teoria canina, a meu ver, não passa de lenda, pois, durante todo o tempo de convívio com os meus doentes, jamais ouvi qualquer referência de contágio entre o homem e o cão. Para confirmar essa maneira de pensar, pratiquei sistematicamente os exames indispensaveis em indivíduos que vivem em contato constante com cães, chegando às seguintes conclusões

OBS. 1 - S. B. 37 anos, solteiro. Há três mezes trabalha no Depósito Municipal de Cães. Exame nasal : forte desvio do septo para a direita com crista à esquerda. Nenhum sinal de ozena.

OBS. 2 - B. L. 35 anos. Há oito anos que trabalha no Depósito Municipal. Sua tarefa é apreender animais grandes.

Uma vez por mez faz plantão, estando então em contato com os cachorros. Exame nasal: ligeiro desvio do septo para a esquerda. Nenhum sinal de ozena.

OBS. 3 - P. B. 33 anos. Trabalha há 12 anos no Depósito como laçador de cachorros, vivendo, portanto em contato permanente com esses animais. Exame nasal: normal.

OBS. 4 - A. T. 29 anos. Tratador de animais grandes. Exame nasal: hipertrofia das conchas inferiores.

OBS. 5 - A. F. 47 anos, Tem contato com os cães, pois às vezes trabalha na apreensão de animais grandes. Exame nasal: normal.

OBS. 6 - L. G. 25 anos. Convivência constante ao lado dos cães. Exame nasal: desvio do septo para a esquerda.

OBS. 7,- 2:. M. 28 anos. E' marceneiro. Trabalha em frente ao canil há 1 ano. Exame nasal: desvio do septo para a esquerda.

OBS. 8 - P. R. 35 anos. Sua ocupação é laçar cachorros, há 13 anos. Exame nasal: ligeiro desvio do septo para a direita.

OBS. 9 - J. G. 30 anos. Caçador de cães. Exame nasal: desvio do septo para a esquerda.

OBS. 10 - H. V. 25 anos. Apreensão de animais grandes. Exame nasal normal.

OBS. 11 - F. C. 25 anos. Há 5 anos que é laçador de cães. Exame nasal: normal.

OBS. 12 - A. C. 25 anos. Sua obrigação é apreender animais grandes, fazendo plantão uma vez por semana no canil. Exame nasal: normal.

OBS. 13 - L. B. 22 anos. Há 5 anos que se ocupa em laçar cães. Exame nasal: normal.

OBS. 14 - A. A. 35 anos. Sua tarefa é apreender animais grandes, trabalhando nisto há 6 anos. Exame nasal: normal.

OBS. 15 - V. R. 42 anos. Há 21 anos que trabalha na apreensão de cães. Exame nasal: normal.

OBS. 16 - E. Z,, 24 anos. Trabalha há 8 anos como caçador de cachorros Exame nasal: normal.

OBS. 17 - J. R. 37 anos. Há já 12 anos que sua ocupação é laçar cachorros. Exame nasal. normal.

OBS. 18 - B. C. 29 anos. Laça cachorros há 10 anos. Exame nasal : normal.

OBS. 19 - M. P. 28 anos. Há 1 ano que trabalha como laçador de cães. Exame nasal: normal.

OBS. 20 - J. G. 28 anos. Motorista do carro de apreensão de cães. Exame
nasal: normal.

OBS. 21 - A. C. 44 anos. Há 4 anos que trabalha na gaiola dos cães o que quer dizer, que está em contato contínuo com esses animais. Exame nasal: normal.

OBS. 22 - J. L. 28 anos. Trabalha na apreensão de cães, durante 10 anos
presentemente trata de outros animais. Exame nasal : normal.

OBS. 23 - F. O. 38 anos. Desde 1934 trabalha na apreensão de animais grandes. Uma vez por semana faz plantão no canil. Exame nasal: normal. Efetuamos estas 23 OBServações no Depósito da Prefeitura Municipal.

OBS. 24 - A. B. 39 anos. E' enfermeiro de cães na Escola Veterinária há 4 anos. Exame nasal: normal.

OBS. 25 - G. A. 40 anos. Como o precedente, é tambem enfermeiro e trabalha há 5 anos. Exame nasal: normal.

OBS. 26 - 0. S. 30 anos. E' servente há 3 anos, vivendo em contato íntimo com os cães. Exame nasal: normal.

OBS. 27 - M. S. 31 anos. Está nas mesmas condições que o precedente. Exame nasal: normal.

OBS. 28 - R. M. 45 anos. Trabalha na limpeza do canil há 5 anos. Exame nasal: normal.

OBS. 29 - N. O. 28 anos. Trabalha há 3 anos no canil, tendo, portanto, contato diário com os cães. Exame nasal : normal.

OBS. 30 - P. D. 35 anos. Há já 9 anos que trabalha, sendo que 5 em contato com os cachorros. Exame nasal: normal.

OBS. 31 - B. M. 34 anos. Trabalha há 11 anos no Laboratório de Parasitologia. Exame nasal: normal.

OBS. 32 - L. R. 38 anos. Trabalha tambem no Laboratório de Parasitologia há 4 anos. Está diariamente em contato com cães. Exame nasal : normal.

OBS. 33 - A. T. 23 anos. Há 4 anos que trabalha, sendo que no Laboratório há 1 ano. Exame nasal : Ozena, porem, já há 6 anos que sofre desta moléstia.

OBS. 34 - D. F. 35 anos. Assistente há 3 anos. Exame nasal: normal.

OBS. 35 - 0. F. 29 anos. Solteiro. Tem contato com cachorros há já 1 ano. Exame nasal: normal.

OBS. 36 - C. L. 20 anos. Trabalha há apenas 1 mez. Exame nasal : normal. OBS. 37 - D. A. 20 anos. Trabalha no Laboratório de Parasitologia há 11 mezes. Exame nasal: normal.

OBS. 38 - J. C. 31 anos. Há 7 mezes que trabalha no Laboratório, tendo portanto contato com os cachorros. Exame nasal: desvio do septo para a esquerda.

OBS. 39 - C. B. 26 anos. Como o precedente, trabalha há 1 ano no Laboratório de Parasitologia.Exame nasal: desvio do septo para a esquerda.

OBS. 40 - V. S. E' primeiro assistente. Exame nasal: normal.

OBS. 41 - J. C. 42 anos. Há 22 anos que trabalha junto aos cães. Exame nasal: normal.

OBS. 42 - J. V. 26 anos. Trabalha há 9 anos. Exame nasal: normal.

OBS. 43 - L. T. 51 anos. Seu serviço o põe diariamente em contato com os cachorros. Exame nasal: normal.

OBS. 44 - J. C. 60 anos. Há 10 anos que trabalha, tendo constantemente contato com os cães. Exame nasal: normal.
OBS. 45 - L. S. 41 anos. Trabalha há 9 anos. Exame nasal : normal.

OBS. 46 - J. 0. 39 anos. Há 1 ano que trabalha no Laboratório de Fisiologia. Exame nasal: normal.
OBS. 47 - L. S. 33 anos. Há já 10 anos que trabalha nesse Laboratório. Exame nasal: normal.

OBS. 48 - S. C. 48 anos. E' funcionário da Escola há 25 anos. Exame nasal: normal.

OBS. 49 - S. L. 42 anos. Como o precedente é funcionário da Escola há 10 anos. Exame nasal: normal.

OBS. 50 - W. M. 30 anos. Trabalha há 2 anos. Exame nasal: normal. OBS. 51 - A. L. 29 anos. Trabalha na Escola há 3 anos. Exame nasal normal.

OBS. 52 - C. W. D. 44 anos. E' empregado da Escola há 8 anos. Exame nasal: desvio do septo para a esquerda.

OBS. 53 - A. P. 54 anos. Desde 1925 que trabalha na Escola. Exame nasal: normal.

OBS. 54 - F. G. 39 anos. Há 12 anos que é funcionário, trabalhando no Laboratório de Fisiologia. Exame nasal: normal.

OBS. 55 - G. N. 26 anos. Desde 1934 que trabalha no Laboratório de Fisiologia. Exame nasal: normal.

OBS. 56 - B. C. 31 anos. Trabalha há 9 anos. Exame nasal: normal. OBS. 57 - P. C.. 36 anos. Há 5 mezes que trabalha em contato com cães. Exame nasal: normal.

OBS. 58 - A. T. 33 anos. Trabalha há 3 anos, já tendo tido contato com cães. Exame nasal: normal.

OBS. 59 - A. M. 30 anos. Está em contato com cães há 7 mezes. Exame nasal: rinite vaso motora bilateral.

OBS. 60 - J. F. 30 anos. Trabalha ao lado de cães há 1 ano e 8 mezes. Exame nasal: normal.

OBS. 61 - P. D. 27 anos. Há 1 ano que lida com cachorros. Exame nasal normal.

OBS. 62 - A. 0. 19 anos. Há 6 mezes está ao lado de cães. Exame nasal normal.

OBS. 63 - F. B. 35 anos. Há 3 anos faz autópsias em cães. Exame nasal: normal.

OBS. 64 - A. B. 23 anos. Há 6 meses que trabalha junto de cães. Exame nasal: normal.

OBS. 65 - J. B. 36 anos. Lida com cães há 2 anos. Exame nasal : normal. OBS. 66 - A. B. 54 anos. Está em contato com cachorros há 18 anos. Exame nasal: normal.

OBS. 67 - B. P. 57 anos. Há 7 anos trabalha com cães. Exame nasal: normal.

OBS. 68 - M. V. 40 anos. Tem contato com cães há 17 anos. Exame nasal: normal.

OBS. 69 - J. P. 50 anos. Trabalha em contato com cães há 28 anosExame nasal: normal.

OBS. 70 - J. C. 40 anos. Há 18 anos, trabalha como escriturário. Exame nasal: rinite atrófica fétida (Ozena). E portador da moléstia desde tenra idade.

OBS. 71 - A. B. 32 anos. Trabalha junto de cães há 9 anos. Exame nasal normal.

OBS. 72 - E. M. 25 anos. E' chefe do Hospital de Cães há 4 anos, estando, por isso, em contato diário com cachorros. Exame nasal: normal.

OBS. 73 - C. 0. 17 anos. Trabalha há 2 anos no Hospital de Cães. Exame nasal: normal.

OBS. 74 - S. M. 29 anos. Presta serviços como enfermeiro há 3 anos. Exame nasal: normal.

OBS. 75 - 0. L. 30 anos. Há 3 anos que serve no Hospital de Cães. Exame nasal: normal.

OBS. 76 - B. D. 32 anos. Como o precedente, trabalha no Hospital há 2 anos e meio. Exame nasal: normal.

OBS. 77 - R. M. 36 anos. Há 13 anos que lida com cachorros. Exame nasal: normal.

OBS. 78 - G. T. 30 anos. E' veterinário do Hospital de Cães há 4 anos. Exame nasal: normal.

OBS. 79 - B. M. 18 anos. Enfermeira do Hospital. Exame nasal: normal.

OBS. 80 - B. S. 21 anos. Desde 1937 que trabalha no Hospital de Cães. Exame nasal: normal.

Estes exames foram efetuados no Depósito Municipal de Cães da Prefeitura, Faculdade de Medicina, Instituto Biológico, Instituto Pasteur, e em vários Hospitais de Cães. Das 80 pessoas examinadas, apenas duas portadoras de R. A. F., mas que já eram doentes quando entraram para o serviço, e mesmo seu contato com cães dava-se raramente. Dentre estes funcionários, alguns há que já teem mais de 25 anos de exercício e que sempre estiveram em Intima convivência com os animais e jamais apresentaram quaisquer perturbações para o lado do nariz. Das conversações que mantive, com esses empregados, durante o periodo dos exames, consegui, informações curiosas com relação ao mau cheiro que exalam os animais portadores da moléstia nasal. E' ele mais intenso nas cadelas em certas ocasiões, e o cão repele sua companheira portadora da doença. Como se vê, é entre os próprios animais, a ozena uma moléstia repugnante. Quanto à questão da contagiosidade, creio, dispensavel qualquer apreciação, em vista dos resultados dos exames acima.

Não há, portanto, essa caluniosa responsabilidade dos cães, que devem, naturalmente ser evitados pela repugnancia do mal, mas não pela transmissibilidade da doença. Restabeleçamos a sociabilidade do melhor e maior amigo do homem; tratá-los quando doentes e conservá-los com muito carinho é o nosso dever.

Hereditariedade. - Hereditariedade é um conjunto de caracteres e de propriedades da massa viva inicial, que é o ponto de partida de um novo ser. Chamam-se caracteres congênitos os que são devidos somente à hereditariedade, e caracteres adquiridos os que são devidos apenas à educação.

Os biologistas dão o nome de educação ao conjunto de condições em que se faz o desenvolvimento do novo ser ; os caracteres do ser dependem da sua educação, isto é, duas massas, inicialmente idênticas, educadas em condições diferentes, produzem seres diferentes. Estas definições são incompletas, pois que qualquer carater de um indíviduo resulta ao mesmo tempo da hereditariedade e da educação. . Assim poderiamos dizer que as propriedades são o substratum hereditário e os caracteres, as manifestações destas propriedades sob a influência da educação. Todos os caracteres são pois, caracteres adquiridos ; há propriedades congênitas mas não caracteres congênitos. Pode a educação modificar as propriedades congênitas, pode a educação criar propriedades novas ? WEISSMANN e os neodarwinistas não admitem a hereditariedade dos caracteres adquiridos, ainda que isto esteja provado para a escola neolamarckiana.

Na reprodução sexuada, os fenômenos são complicados ; a massa inicial que dá origem ao novo indivíduo é um ovo resultante da fusão de dois elementos provenientes de dois indivíduos diferentes : um, o óvulo proveniente do indivíduo fêmea; outro, o espermatozoide propriedade do indivíduo masculino ; no ponto de vista da hereditariedade estes dois elementos são equivalentes, isto é, si cada um deles pudesse se desenvolver só, daria origem a um indivíduo idêntico àquele de que proviesse ; por outras palavras, cada um contém todas as propriedades do progenitor, mas no ato da fecundação há fusão dos dois elementos em um só, chamado ovo. Este deveria pois, conter, ao mesmo tempo, todas as propriedades da mãe e do pai, mas, propriedades antagônicas não se podem manifestar simultaneamente ; a propriedade de ser louro, não se pode manifestar com a propriedade de ser moreno. Neste caso, ou uma propriedade prevalece sobre a outra ou se produz uma intermediária; por exemplo, o filho de um louro e de uma morena, pode ser castanho. Na geração sexuada não há forçosamente transmissão aos filhos dos caracteres dos pais, mas somente possibilidade de transmissão. O produto pede ser intermediario entre os pais, mas pode tambem haver hereditariedade unilateral. entretanto, se uma propriedade for commum ao pai e à mãe, é transmitida, aquí está o perigo da união consanguínias ; transmissão de taras familiares. Os caracteres transmitidos hereditariamente pelos paes aos filhos podem ser de natureza física ou de natureza mental ; dá-se a denominação de taras hereditárias aos caracteres desfavoraveis, suscetíveis de serem transmitidos por hereditariedade.

A hereditariedade é chamada colateral, quando não se manifesta na linha de descendência direta, pode, em todo o caso, haver semelhança entre dois seres que, separadamente, tenham um carater comum de um antepassado. Diz-se muitas vezes que a hereditariedade salta geração - geração alternada. No caso de cruzamento entre espécies diferentes ou raças diferentes de uma mesma espécie, produzem-se fenômenos especiais, chamados de mestiçagem ou de hibridação. A hereditariedade pode ser encarada sob dois aspetos : diz-se que uma moléstia é hereditária quando ela é transmitida integralmente sobre todos os aspetos. Quando, entretanto, o indivíduo adquire ao nascer um certo número de causas de inferioridade de seus antepassados, que favoreçam a uma predisposição, constitui esse fato, uma outra forma de hereditariedade. Neste caso o indivíduo não transmite a própria moléstia familiar, mas, a tendência, para o que constitui a heredo predisposição. Não há, portanto, a ozena hereditária, porém, a heredo predisposição. E' comum acreditar-se que a T. B. C. e a sífilis constituem uma qualidade heredo predisponente para a ozena. Não temos, por enquanto, entre nós, trabalhos nesse sentido e teremos que acatar as opiniões alheias.

Altitude. - A influência da altitude seria manifesta; assim é que a doença é mais encontradiça nas regiões montanhosas do que nas planícies. Porém o curioso é que entre os indígenas que vivem nos planaltos, ao ar livre, não em grandes agrupamentos, a moléstia é quasi desconhecida. E' fato tambem que nos grandes centros é ela mais comum do que no campo. Há, segundo os cientistas, uma zona de preferência para a ozena. Onde existe o bócio (papo) é a rinite atrófica fétida sua companheira inseparavel. Seria interessante, entre nós, em certas zonas onde o papo é comum fazer-se um estudo sobre o assunto. O parentesco entre estas duas afecções já foi assinalada por DELACOUR.

Influência do mar. - A raridade da ozena nos marítimos é manifesta. MONSCOURT, deduz que a ozena é uma moléstia causada péla carência de iodo. E certo, então, que a ação do mar pode se exercer por várias maneiras ou por diversos elementos : temperatura, umidade, luz, vento, intensidade dos raios químicos, pureza do ar, riqueza do ar em oxigênio, abundância de ozone, cloreto de sódio, iodo e sais magnesianos, portanto uma ação tônica e antisséptica. Parece evidente esse fato, pois, nas estatísticas verificam-se a pouca frequência na zona do litoral.

Classes sociais. - A situação social não constitue um fator de exclusividade da rinite atrófica fétida, entretanto, é ela bem mais observada nas classes baixas, se bem que certos autores, contrariem esse conceito e afirmem que a ozena é encontrada em todas as condições sociais. Entre nós, essa asserção é justificada, pois, na clínica hospitalar a proporção é consideravelmente desigual à da clínica privada. As causas provaveis dessa desigualdade são explicaveis pela falta de higiene, deficiência alimentar, espaço exíguo das habitações, exames médicos raros, etc.
Índice craneano, característicos. - A antropologia divide os indivíduos, com relação ao eixo oval da face em: braquiprosopos (curtos) e leptoprosopos (alongados). Segundo a saliência da pirâmide nasal em platirrínios (largos), mesorínios (médios) e leptorrínios (estreitos).

A ozena se desenvolve com mais frequência nos braquiprosopos, platirrínios, caracteres da raça amarela e não se desenvolve na raça preta - platirrínios, porém leptoprosopos. Na raça branca os autores não são acordes sobre as relações existentes entre a platirrinia e a ozena. E' a ozena que determina a platirrinia ou a platirrinia que favorece o desenvolvimento da ozena ?

Contágio. - Outro fato curioso é o pavor que o doente tem de si mesmo, e dos outros com quem convive. Evita o contato, receioso da transmissibilidade da moléstia. E' um capítulo que merece ser esclarecido. Constatei, pela anamnese, de todos os meus doentes, e que o leitor poderá comprovar, que não se pôde de maneira alguma confirmar a contagiosidade do mal.

Há familias de vários filhos que sempre conviveram na mais completa intimidade, principalmente na infáncia, e não houve contágio. Famílias há que contam 6 a 8 filhos, sendo o segundo e o quinto portadores da moléstia e os outros indenes. É fato interessante tambem, notar-se que em famílias de vários filhos, o 3.° é ozenoso e outros não. Casos há em que os dois primeiros filhos são doentes e os irmãos restantes nada apresentam.

Ora, portanto, nessas condições, que elementos nos restam para, categoricamente, confirmarmos a transmissibilidade do mal ?

Em comprovação do que escrevemos vejamos o que nos diz sobre a transmissibilidade da ozena de homem a homem. A. CONSTINIU e ST. POPIAN - Bucarest.

Neste interessante artigo, os AA. relatam os resultados de suas últimas pesquizas sobre a discutida questão de transmissibilidade da ozena.

Em uma comunicação apresentada no Congresso Rumeno de O. R. L., de 1932 eles mostraram que apesar de inúmeras pesquisas feitas durante dois anos, no Laboratório do Prof. CANTACUZINO, não conseguiram transmitir ou reproduzir a ozena de homem aos animais. Deante desses resultados pensaram na possibilidade de reproduzir a doença de homem a homem, por via experimental. Na literatura, eles encontraram alguns ensaios nesse sentido, feitos por BLANC e PANGALGS de Atenas, mas com resultados negativos.

"Para tais experiências", dizem os autores", era necessário encontrar pessoas de muito boa vontade que se deixassem submeter às pesquisas necessárias".

Encontraram 12 abnegados, dez mulheres e dois homens, e começaram as pesquisas em 4 de Novembro de 1931, que acompanharam de perto, até 20 de Outubro de 1932.

Vamos transcrever textualmente a técnica empregada por CONSTINIU e POPIAN:

1.°) No primeiro grupo esfregamos a mucosa nasal com crostas retiradas de doentes. O tempo gasto entre a retirada das crostas do doente e sua introdução no nariz do indivíduo são, era de 2 - 3 minutos (2 casos).

2.°) O segundo grupo, isto é, aquele nos quais introduzimos tampões embebidos com triturações de crostas ozenosos em soro fisiológico, foi dividida em dois

a) Introduzimos o tampão em uma só fossa nasal, após leve irritação da mucosa, sem sangrar (2 casos).

b) Introduzimos o tampão sobre a mucosa normal duma fossa nasal.

3.°) No terceiro grupo inoculamos debaixo da mucosa do corneto inferior 1 a 1 cm. da trituração das crostas de ozenosos em saro fisiológico (2 casos).

4.°) Injetamos culturas de micróbios ozenosos emulsionados em soro fisiológico, debaixo da mucosa do corneto inferior (2 casos).

As triturações e emulsões foram feitas no soro fisiológico a uma temperatura de 37°, para que os micróbios ozenosos nada perdessem de sua virulência.

Cada caso foi controlada desde o dia seguinte ao da experiência até 20 de Outubro de 1932.

Fizemos isolamentos e identificações, tanto das crostas e triturações introduzidas na mucosa normal, como da secreção nasal, proveniente dos pontos inoculados, para verificar se os micróbios injetados, correspondiam aos achados na secreção.

Passemos agora às observações resumidas dos AA.

OBS. 1 - M. F. mulher, 24 anos. Examinada em 4-11-31 : cornetos normais, mucosa nasal normal, quanto à coloração ; as amígdalas levemente atrofiadas. A mucosa dos cornetos inferiores atritada com crostas retiradas do doente N. C. 26 anos, com ozena do 3.° grau das duas fossas nasais. Destas crostas, por semeadura e isolamento foi identificada: um mucoso encapsulado do bacilo Loevenberg-Hoffmann, estafilococos e piociânico. 8-11-31 a verificação, leve secreção das duas fossas nasais. 20-11-31, - Hiperemia pronunciada da mucosa dos cornetos inferiores, como na coriza aguda. Sem febre. Com um tampão esteril, retirada de secreções para serem semeadas. Nas identificações feitas, foram encontrados: estafilococos, mucosos encapsulados, pneumococos, piociânico e bac. de Hoffmann. 11-12-31 : o estado dos cornetos voltou ao normal. 18-12-31, 8-1-32, 9-5-32: tudo se apresenta normal.

OBs. 2 - A. G. mulher 19 anos. Examinada em 4-11-31: desvio do septo para a direita. Cornetos e mucosa das fossas nasais normais. Com crostas retiradas do doente I. R., 22 anos, ozenoso bilateral do 3.1 grau, fizeram-se leves atritos nas fossas nasais, da mulher A. G. Por isolamento foi encontrado como flora microbiana : estreptococos, estafilococos, Friedlander e Perez.

Em 11-11-31 : secreção abundante, semi líquida, sobretudo da fossa nasal esquerda. 20-11-31, mesma secreção. A mucosa dos cornetos parece levemente retraida, de cor normal. Dessa secreção foram isolados : estreptococos, estafilococos, PEREZ, e pneumococos. Sem febre. 23-11-31 um pouco de febre, 37.0 4, que permanece durante nove dias. Durante o periodo febril, a doente teve dores de cabeça, e na fossa nasal esquerda uma secreção abundante, mas clara. Fossa nasal direita, normal. 8-1-32, secreção diminuida, e pouco odorante. Cornetos normais. Desde essa época até 16-10-32, não se observou nada de anormal.

OBs. 3 - T. T. homem, 17 anos. Exame feito em 11-11-31 : Provavelmente héredo sifilítico, com o nariz achatado ; perfuração anterior do septo, nada na faringe e nas amígdalas. Otite catarral dupla.

Esfregou-se a mucosa dos cornetos com as crostas retiradas do doente A. D. 20 anos, ozenosa do 3.o grau. A flora das crostas semeadas e isoladas, deu : LOEWENBERG, ABEL,estafilococos, estreptococos e FRIEDLANDER. Em 18-11 e 22-12-31 nenhuma alteração. Depois desse tempo o paciente não mais voltou.

OBS. 4 - Homem, 40 anos. Examinado em 25-11-31, apresenta: uma leve hipertorfia dos cornetos inferiores. Amígdalas normais, mucosa da faringe um pouco seca. Trituração de crostas da doente Z. B. 25 anos, ozenosa do 3.o grau; introdução de tampões embebidos deste líquido nas duas fossas nasais, sem massagem. A flora microbiana é representada por: HOFFMANN, LOEWENBERG, estafilococos, piocianico e proteus. Em 26-11-31, temperatura 38o 9. O doente está apático, debilitado, com inapetência. Este estado dura 4 dias e a 30-11-31, temperatura normal. Em 4-12-31, não se observa secreção alguma. A mucosa dos cornetos é normal. Daí até 10-10-32 nada de anormal.

OBs. 5 - S. P. mulher, 36 anos. Examinada em 22-1-32: ligeira hipertrofia dos cornetos inferiores. Nada na faringe e ouvidos. Introdução de um tampão de algodão embebido em trituração de crostas da doente V. C., 22 anos, na fossa nasal esquerda que aí é deixada 24 horas. Em 25-1-32 : temperatura 40, Dores de cabeça, com calafrios. A febre persiste entre 370, 8 até 27-1-32. Desta data em deante desapareceram completamente as dores de cabeça e calafrios. 29-1-32 : cornetos permanecem hiperemiados. Entre o septo e o corneto esquerdo, observa-se uma ligeira secreção muco-purulenta. 5-5-32 : os cornetos estão quasi normais. Desaparecimento das secreções e a doente se queixa de dores nos ossos próprios do nariz, porem, estas não são permanentes. 10-5-32 : as dores desapareceram. De 1-6 a 16-10-32 nada de anormal.

OBS. 6 - H. P. mulher, 42 anos. Examinada em 22-1-32: desvio do septo para a direita, ligeira hipertrofia do corneto médio esquerdo. Nada na faringe. Um tampão de algodão embebido em trituração proveniente da doente V. C. 22 anos, com ozena do 2º grau na fossa nasal esquerda, e 3.o grau na direita, é colocado na fossa nasal esquerda, previamente irritada sem sair sangue, da mulher H.P. O tampão é deixado in loco, 24 horas, nos dias 23, 24 e 25-1-32 a temperatura variou entre 380,2 e 390,9 acompanhada de dores de cabeça e vómitos. Em 27-1-32 : temperatura 370, as dores de cabeça e vomitos desapareceram. Não foi observada nenhuma alteração nas fossas nasais, nem secreção nem pás. Desta data até 20-9-32 o estado normal se manteve. Nestas duas últimas experiências não foi feito exame bactereológico, nem na seguinte.

OBs. 7 -E. B. mulher 24 anos. Examinada em 2-5-32 : ligeira hipertrofia dos dois cornetos inferiores. Após leve irritação da mucosa nasal esquerda, introdução de um tampão embebido em trituração de crostas retiradas da doente M. A. 27 anos, ozenosa do terceiro grau. Permanência do tampão: 6 horas. A não ser leve calafrio aparecido no dia seguinte, nada de anormal. Nenhuma secreção nos dias subsequentes. O estado normal persiste até 10-10-32,

OBs. 8 - M. M. mulher 20 anos. Examinada em 20-11-31. Fossas nasais e amígdalas normais. A doente I. D. 21 anos, ozenosa do 2.0 grau da fossa nasal esquerda e do 3 ° grau na direita, forneceu as crostas retiradas das duas fossas nasais, com as quais se fez uma trituração em soro fisiológico. A flora microbiana revelou: estafilococos, mucosos encapsulados, HOFFMANN e PEREZ. Essa trituração é injetada f cm. em baixo da mucosa do corneto inferior esquerdo, em 11-10-31. Em 18-11-31 : secreção semilíquida e hipertrofia do corneto inferior esquerdo, que quasi toca o septo. Fossa nasal direita normal. Nenhuma dor por pressão sobre o seio. A respiração nasal é dificil, como acontece na rinite hipertrófica. No dia seguinte ao da injeção, a temperatura chega a 39o,7, para cair à normal, 3 dias depois. Instilações de sol. de protargol a 1% adrenalinado. 25-11-31, da fossa nasal esquerda, no ponto injetado sai uma pequena quantidade de secreção purulenta. Por pressão sobre o corneto recolhem-se algumas gotas de líquido amarelo-sujo, que semeado e isolado dá, estafilococos, estreptococos, HOFFMANN e mucosos encapsulados. A fossa nasal direita está normal. 28-11-31 fenômenos de depressão nervosa, sem febre, inapetência que desapareceram depois de 4 dias. 4-12-31 : o corneto inferior esquerdo voltou quasi ao normal. Ausência de secreção. Corneto direito, normal. Em 18-12-31 : fossa nasal esquerda normal. 19-1-32: a mucosa do corneto inferior esquerdo está um pouco pálida, sem secreção. 25-2-32 : ligeira atrofia da mucosa desse corneto ; à direita nada de anormal. 13-5-32 : a mucosa do corneto inferior esquerdo voltou ao normal. Dessa data até 20-10-32 tudo normal.

OBs. 9 - R. Z, mulher 19 anos. Examinada em 18-11-31 : nada de anormal sob o ponto de vista otorrinolaringológico. Nessa data foi-lhe feito debaixo da mucosa da fossa nasal esquerda uma injeção de ½ cm. de trituração de crostas retiradas da doente I. R. 29 anos, ozenosa do 3.0 grau, bilateral. Como flora microbiana foi encontrado : Loewenberg, Hoffmann, estafilococos e mucosos encapsulados. De 19 a 21-11-31 : temperatura 380,6, com dores de cabeça e vómitos, que desapareceram no aia 22. Em 25-11-31 : fossa nasal esquerda com secreção acinzentada fluida. Fossa nasal direita : normal. A partir desta data tudo entra em ordem e não foi notada modificação até 13-5-32.

OBs. 10 - A. B. mulher, 26 anos. Examinada em 18-11-31 : leve atrofia dos cornetos inferiores, hipertrofia pronunciada do corneto médio esquerdo. Amígdalas e faringe normais. Praticou-se uma injeção na mucosa do corneto inferior esquerdo com 1 cm. de trituração de crostas retiradas do doente M. 0. 24 anos, ozenoso do 3.o grau. Flora microbiana isolada : LOEWENBERG, HOFFMANN, FRIEDLANDER, pneumococos, estafilococos. Em 19-11-31, temperatura 37.°,8, no dia seguinte não tem febre, mas, cefaléias na região frontal, vómitos 2 a 3 vezes ao dia. Inapetência. Este estado, com modificações para melhor, sempre sem febre, persiste até 4-12-31 ; os vómitos desapareceram e o apetite voltou. 0 corneto inferior esquerdo, que estava um pouco inflamado no primeiro dia, voltou ao normal. Em 22-12-31 ; observa-se na fossa nasal direita, que serve de prova, uma leve secreção aquosa ; na fossa nasal esquerda, uma secreção muco-purulenta, levemente aderente na extremidade posterior do corneto inferior, com tendência a se propagar sobre o corneto médio. Leve atrofia dos cornetos inferiores. Em 19-2-32 : a atrofia dos cornetos inferiores progrediu, a secreção muco-purulenta da mucosa do corneto inferior esquerdo é aderente.

O lumen das fossas nasais é mais largo que no começo da experiência. 25-3-32 a atrofia do corneto inferior persiste com secreções, sobretudo no soalho das fossas nasais. O corneto inferior direito apresenta uma atrofia insignificante, com pouca secreção. Na secreção retirada, foram identificados : FRIEDLANDER, LOEWENBERG estafilococos e mucosos encapsulados- portanto uma flora quais idêntica á que foi inoculada. Em 13-5-32, a secreção nasal é quasi normal; nota-se pequena hipertrofia do corneto inferior esquerdo ; o direito voltou ao normal. Desta data até 15-10-32, tudo em ordem, nada de anormal.

Os AA. frisam que nesta experiência estavam quasi certos de terem conseguido a reprodução da doença, mas a duração não foi longa e o estado normal se restabeleceu, não ficando nenhum traço da moléstia.

OBs. 11 - Z. R. mulher, 24 anos. Examinada em 7-11-31 : nada sob o ponto de vista O. R. L. Foi feita a injeção de 1 cm. de cultura, em soro fisiológico, de bacilos ozenosos (HOFFMANN, FRIEDLANDER, LOEWENBERG-ABEL retirados da doente O. P. 28 anos, ozenosa do 3° grau).

A injeção foi feita debaixo da mucosa do corneta inferior esquerdo; o direito fica para prova.

Em 8-I1-31 ; temperatura 38°, leves dores de cabeça. Dia 9-11-31 ; temperatura 39°,2 cefaléias, calafrios, vómitos, leve hipertrofia do corneto inferior esquerdo. Este estado persiste de 10 até 17 de novembro ; a temperatura baixou a 370,6 e as cefaléias diminuiram, os vómitos cessaram. O corneto esquerdo está hipertrofiado e congestionado. No ponto da inoculação, por pressão, sai uma leve secreção purulenta, que semeada e identificada reproduziu os germens inoculados e mais estafilococos. Em 20-11-31: temperatura normal. O corneto esquerdo apresenta-se quasi normal. Leve congestão no ponto de inoculação. De 25 de Novembro até 20 de Outubro o estado normal persiste, isto é durante quasi um ano.

OBS. 12 - N. D. mulher, 27 anos. Examinada em 9-11-31 : apenas um pequeno desvio do septo para a direita. Com uma emulsão de culturas, de 24 horas, de micróbios ozenosos (PEREZ, 213 113, de LOEWENBERG-ABEL, HOFFMANN, FRIEDLANDER e mucosos encapsulados, retirados do doente P. 'A. 24 anos, com ozena do 3.o grau. Inoculou-se 1 cm. sob a mucosa do corneto inferior esquerdo da mulher NT. D., ficando o corneto direito para prova. 10-11-31 : a temperatura 39.0,4, dores atrozes na metade esquerda da face, sobretudo sobre a região dos seios maxilar e frontal. A mucosa do corneto inferior inflamou-se tanto, a ponto de obstruir a fossa nasal. O toque com um tampão de algodão é muito doloroso. Em 11-11-31 : o mesmo estado, temperatura 39.o. 12-11-31 : a região dos seios maxilar e frontal é menos dolorosa. O corneto inferior diminuiu de volume, deixando passar um estilete. Por pressão, vê-se sair do ponto de inoculação uma ligeira secreção de cor amarelada. Desta secreção foi feita uma semeadura da qual resultou: os mesmos germens, inoculados e mais estafilococos e piociânico. Em 13-12-31 : o corneto diminuiu bastante de volume. As dores frontal e maxilar desapareceram ; a mucosa do corneto está muito congesta : por pressão sai uma pequena quantidade de pús, Temperatura 37°,4. I6-12-31 : corneto normal, sua mucosa ainda um pouco congesta ao redor do ponto de inoculação. Ausência de dores e pus. Depois de 20-12-31 tudo voltou ao normal ; nenhuma perturbação objetiva até 9-10-32.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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