ISSN 1806-9312  
Domingo, 28 de Abril de 2024
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778 - Vol. 6 / Edição 5 / Período: Setembro - Outubro de 1938
Seção: Congresso Páginas: 412 a 434
PRIMEIRO CONGRESSO BRASILIENSE DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA - parte 2
Autor(es):
-

PROFESSOR ELISEU SEGURA

O ilustre Professor Eliseu Segura, catedratico da Faculdade de Medicina de Buenos Aires, chegado pelo "Oceania", compareceu aos trabalhos dá Congresso, sendo saudado pelo Professor Eduardo de Moraes, que presidia a sessão, nestes termos:

"Meus senhores - Culminam, neste momento, as minhas honras na presidencia da memoravel sessão de hoje, com a gratissima satisfação, que impõem as circunstancias mesmas de me encontrar na presidencia desta sessão, de ser dos congressistas aquele a quem cabe a honra elevada e o grande prazer de saudar, no momento em que penetra no recinto da nossa sessão, a figura eminente e inconfundivel do grande homem, do notavel especialista, do eminente argentino que temos ao nosso lado e que efusivamente acabamos de saudar numa demonstração inequivoca e unanime do nosso muito apreço. (Palmas prolongadas).

Agradecendo as palavras do Presidente, o Professor Eliseu Segura disse:

"Srs. Congressistas. - Sr. Presidente. - Os senhores podem imaginar perfeitamente qual seja o estado de meu animo neste momento.. E' de uma grande emoção por esta demonstração de simpatia, que recebo como se fôra feita ao meu paiz, porque sómente para mim seria demasiadamente grande.

Vim a este Congresso, embora pensasse que não poderia vir. Mas ha certas circunstancias, na vida, em que se realiza até o impossivel: E' este o caso.

O nosso eminente colega, meu amigo, Professor João Marinho, sabe muito bem que eu não podia vir embora muito o sentisse. Mas ele teve a imprudencia de escrever-me uma carta, que começava desta maneira: "Você vem. "Você virá".
Ante isso, nada havia a fazer. Era uma ordem imperativa. Deixei tudo, abandonei tudo e aqui estou.

Antes havia trabalhado o meu espirito para decidir que não podia vir, porque tinha compromissos sagrados. Mas, desde esse momento, desapareceu o espirito e só ficou o coração. E aqui está com os senhores o meu coração." (Palmas prolongadas).

4) ALMOÇO NO "GAVEA GOLF CLUB" OFERECIDO PELO MINISTRO DAS RELAÇOES EXTERIORES POR IN~ TERMEDIO DO SEU INSTITUTO DE APROXIMAÇÃO INTELECTUAL

Com a presença do Sr. Dr. Julio A. Roca, Embaixador da Argentina, e grande numero de Congressistas, realizou-se a 6 do corrente mez, no "Gavea Golf Club", o almoço oferecido pelo Sr. Oswaldo Aranha, Ministro das Relações Exteriores, aos delegados do Primeiro Congresso Brasileiro de Oto-Rino-Laringologia. A' direita do Sr. Ministro Oswaldo Aranha, sentou-se o Sr. Embaixador Julio Roca e á esquerda o Sr. Professor João Marinho, Presidente do Congresso.

Após o almoço, o Sr. Ministro Oswaldo Aranha proferio as seguintes palavras:

DISCURSO DO SR. MINISTRO DAS RELAÇõES EXTERIORES

"Minhas Senhoras. Meus Senhores.

Eu sabia que o oferecimento deste almoço constituiria uma honra para mim e agora quero acrescentar que, a esta honra, se junta uma profunda e intima alegria, pelo convívio e pelo prazer que me proporcionou esta oportunidade de uma aproximação com os médicos que se reunem neste Congresso.

No momento, estas reuniões são, por certo, esperanças, em meio de um mundo profundamente conturbado e quasi desesperançoso de seus destinos.

A reunião de médicos, americanos e brasileiros - americanos de todos os paizes do nosso continente e brasileiros de todos os recantos da imensidade do nosso paiz - constitue uma afirmação do que o espirito ainda não foi vencido, de que a confiança nas conquistas da cultura ainda não baqueou e de que os homens de boa vontade, aqueles que querem trabalhar pela sua melhoria ou pela melhoria de todos, bem como pelo desenvolvimento daqueles dons, que recebemos e que formam a nossa individualidade os quais ninguem tem o direito de arrancar ao proprio indivíduo, continuam na sua peregrinação, certos de que, por fim, acabarão por vencer.

E' para nós quasi um refugio uma reunião como esta. Quando saímos do contáto dos homens que dirigem os destinos dos povos e vemos que eles, de transigencia em transigencia, vão, aos poucos, abdicando das conquistas humanas, verificamos que é em reuniões, como esta, de homens de boa vontade, em esforço incessante por melhorar o bem estar humano, que residem as poucas esperanças daqueles que ainda acreditam que a humanidade caminha para o bem e que o homem voe se tornando melhor.

Tenho a honra de dar a palavra ao Presidente deste Congresso, um eminente brasileiro e um distinto amigo meu, que, de facto era quem deveria dirigir esta saudação aos Senhores Congressistas, - o Prof. João Marinho".

A' saudação, de improviso, respondeu tambem de improviso, o Prof. João Marinho:

"Exmo. Sr. Ministro das Relações Exteriores. - Exmo. Sr. Embaixador da Republica Argentina. - Meu nobre e eminente colega Professor Segura. - Minhas Senhoras. - Meus colegas:

Tem razão Vossa Excelencia, Senhor Ministro. Nesta hora, em que o mundo parece estalar por todas as frestas mal ajustadas da civilisação tão penosamente. adquirida, a reunião de medicos, a que assistis com vossa autoridade, e dignificais com a vossa presença, simboliza a marcha continua da Humanidade para a concordia universal. No fundo das ameaças guerreiras da atualidade, existe a confirmação do entendimento crescente entre os homens. Ainda os que se armam até os dentes, anseiam pela paz. O,paradoxo entre as aparencias do momento e a realidade no futuro, é apenas passageiro. O Bem acabará vencendo o Mal. "Viver para Outrem" acabará pro substituir o Viver para si.

Esta reunião dá-nos bem a prova da possibilidade de concordia unanime entre os homens. Aqui, neste salão, reunem-se magnificamente os tres atributos da simpatia da alma humana. Vêde o apego ou simpatia de igual para igual entre mais de cem medicos, chegados de todas as partes do Brasil, e mais de um, dentre os mais eminentes dos nossos amigos do Prata de onde nos chegará de Montevidéo hoje á tarde, de avião o Professor Justo M. Alonso. Atraídos para se aperfeiçoarem no cruzamento de idéas dirigentes de atividade profissional, trouxe-os mais o coração apertado da solidariedade, que o espirito vido de saber. Aqui reunem-se, para citar apenas expoentes oficiais, os professores catedraticos das Faculdade de Pernambuco, da Baía e de Minas Gerais. Veio um professor do Rio Grande, em preito de fraternidade mas infelizmente não pôde ficar. Premido por deveres inadiaveis tornou deixando-nos o coração e já se foi, voando, como veio., O professor de São Paulo fez-se acompanhar de um dos seus dois dignos assistentes, deixando o outro na direcção da clinica. No entanto esse mesmo não nos falta, pois, foi licenciado, excepcionalmente, pelo severo director da Faculdade, em que mais pôde a solidariedade que as secas intransigencias do regimento. O celebre Instituto Penido Burnier, de Campinas, esvasiou-se por nosso bem. O Director, ó sub-Director e todos os seus Assistentes acham-se aqui, e como ele, temos tambem entre nós o director de outro importante instituto daquela cidade. Campinas ficou por dias, ao desamparo de oto-rino-laringologia.

A par do apego aqui sentimos a veneração, sentimento mais dificil, de baixo para cima, de governados para governantes. Para vós, Senhor Ministro, não precisariamos dizer o que sentimos e todos vem; para a Academia de Medicina, aqui representada e venerada, na pessoa de seu digno presidente, ela e ele, nossos hospedeiros generosos, logo mais, no seu salão; a Sociedade de Medicina e Cirurgia, de pórta e braços abertos ás nossas reuniões; a Cruz Vermelha Brasileira, por seu prestimoso presidente, General Tourinho, acolhedora, desde o inicio, da Sociedade de Oto-rino-laringologia do Rio de Janeiro da que ele tambem foi acatado presidente e conosco trabalha neste Congresso, finalmente, mas não menos viva a veneração de nossa parte ao enternecedor oferecimento expontaneo, isto é, não pedido, descido por graça, da Secretaria de Saude e Assistencia da Municipalidade e não sei se acabarei comigo sem dizer o nome do Secretario, que dispondo de aurifero palacio conduz-nos a sua grande sala, outróra das sessões dos edis, e onde agora nos reunimos, sem bulha nem matinada, facto para notar-se em reuniões de congressistas, maximé se são eles medicos.

A veneração presupõe, a Bondade, ou simpatia de cima para baixo. A vossa, Senhor Ministro, a vossa, Senhor Embaixador da Argentina. Data venia, Sua Excelencia acaba de permitir-me contar-vos pequena historia, mas de grande bondade. Hontem á noitinha, chovia. Abriu-se a grade do jardim da Embaixada e logo um cartão de visita foi apresentado a Sua Excelencia, com o pedido de desculpas de bater-se-lhe a porta a des horas.

Não houve espera. Sua Excelencia mal ouviu o visitante, logo acudiu, declarando-se "encantado" do poder vir ao "almoço dos congressistas". Não digo que outra Bondade introduziu-me. Os senhores não tardarão a descobril-a. O apego, a bondade, solidaria dentro de um só coração, fazem impossiveis. O amor vence tudo. O Professor Segura, gloria da nossa especialidade no mundo, orgulho, do nosso continente sempre o primeiro onde está, sem diminuir antes engrandecendo a qualquer não podia comparecer ao Congresso. Compromissos de toda a especie, "sagrados", como escrevera, prendiam-no a Buenos-Aires. Ao demais daqui a alguns dias, deveria relatar como relatara 'tema de importancia noutro Congresso em Cordova. Seria impossivel vir. Pois veio. Bastaram-lhe as duas primeiras linhas de uma carta

"Eminente Amigo. "Você vem. "Você virá."

E bastou. A imprudencia, saída do coração siderou outro coração. Ele o disse, ainda hontem, em uma das nossas reuniões. Recebida a carta ás 14 horas no mesmo dia, ás 20, embarcava no "Oceania". Aí está ele. Esse Homem esse coração. Segura, meu querido amigo, nosso grande amigo do Brasil".

Palmas prolongadas sancionaram os dizeres do orador.

o seu trabalho sobre "Identidade de natureza do croup e da angina difterica, em que salienta a diversidade da sua localização.

Como culto á otologia, era em 1864, aceito unanimemente como Membro Correspondente da Imperial Academia de Medicina, o grande cientista autriaco Adam Politzer, ainda com trinta annos incompletos, e cuja notabilidade não tenho necessidade de proclamar. Em 1872, o academico Dr. Nicolao Joaquim Moreira apresenta um relatorio sobre as epidemias de angina escarlatinica e de croup, no Rio de Janeiro desde 1837 a 1870, apontando surtos epidemicos de laringite difterica de 1858, 1863, 1868, 1869 e 1870.

Pereira Rego Junior, analisando este trabalho, fala de uma epidemia de croup que houve no Rio de Janeiro em 1820, que parece ter sido funestissima.

Em 1885, canditata-se a Membro Titular da A. N. de Medicina o Dr. Frederico Augusto dos Santos Xavier, com a monografia sobre "Indicações e contra-indicações da traqueotomia no croup", a qual mereceu parecer favoravel do relator Dr. Costa Lobo.

Dez anos mais tarde, em 1895, é o Dr. Ignacio Bueno de Miranda admitido como membro titular da A, N. de M. mediante a sua memoria atinente á "Influencia das lesões naso-faringeanas sobre o organismo em geral", e na qual estuda a anatomia e a fisiologia do naso-faringe, descreve a sintomatologia de suas lesões e expõe o tratamento delas, além de juntar muitas observações pessoais. E' trabalho de merecimento, que teve do Dr. Ismael da Rocha, como relator, o acolhimento que merecia.

De então para cá, o que tem sido a oto-rino-laringologia no seio da Academia Nacional de Medicina confunde-se com a historia desta especialidade na época moderna, em nosso meio medico.

Hilario de Gouvéa e Guedes de Mello, e mais tarde José Chardinal, de que tanto se ufana a A. N. de Medicina, de os haver possuido como seus melhoers membros, cultivaram simultaneamente a oftalmologia e a oto-rino-laringologia.

No principio deste seculo é que, no meio medico brasileiro se dá a completa emancipação da oto-rino-laringologia, a qual passa a constituir uma especialidade, cujos cultores honram sobremodo a ciencia nacional.

Na Academia Nacional de Medicina brilhante pleiade de oto-rinolaringologistas faz parte de seu quadro social e da sua eficiente actuação e de sua comprovada competencia e cultura ha sobejos motivos para que lhe seja prestada sincera e atenciosa homenagem.

Assim, obedecendo á ordem de prioridade de ingresso, contam-se Francisco Fernandes Eiras, João Marinho de Azevedo, Renato Machado, Raul David de Sanson, como membros titulares; Alvaro Tourinho e Antonio Leão Velloso, como membros honorarios nacionais; Paulo Mangabeira Albernaz e Belfort Mattos, como membros correspondentes nacionais. São ainda nossos membros honorarios estrangeiros os grandes nomes, de reputação mundial, do Prof. Eliseo Segura, da Argentina, e Chevalier Jackson, dos Estados Unidos.

Sra. Membros do 1.° Congresso Brasileiro de Oto-rino-laringologia. A Academia Nacional de Medicina congratula-se efusivamente comvosco pela realização deste Congresso, cuja importancia e brilhantismo excederam á melhor expectativa, pelo que sois merecedores dos mais calorosos parabens.

Ao digníssimo presidente deste 1.° Congresso Brasileiro de Oto-rinolaringologia, Sr. Prof. João Marinho, cujo dinamismo e força de vontade não é demais que se exaltem neste momento, desejo que receba desta Academia, bem como de mim proprio, os votos que ao Altissimo formulo para que traduza em suas melhores mercês o esforço extraordinario que vem dispensando em prol do desenvolvimento e do realce da oto-rinolaringologia no Brasil."

Em seguida, o Sr. Presidente deu a palavra ao Dr. Mario Ottoni de Rezende, de São Paulo, que apresentou o relatorio do tema oficial "Contribuição da O. R. L. ao diagnostico das afecções bulbo-protuberanciaes".

6) SESSÃO DE ENCERRAMENTO

Realisou-se no dia 9 de Outubro a sessão solene de encerramento do l .° Congresso de Oto-Rino-Laringologia Brasiliense, perante o Sr. Dr. Gustavo Capanema, Ministro da Educação, além de numerosas pessoas de representação.

Foram proferidos varios discursos, que adiante. publicamos.

DISCURSO DO PROFESSOR JOÃO MARINHO

Exmo. Sr. Ministro.

Estamos ao fim da tarefa que nos cumpriu realizar, em obediencia á resolução tomada ha um ano, pela Sociedade de Oto-Rino-laringologia do Rio de janeiro, qual a de organizar o 1.° Congresso Brasiliense da especialidade.

Por breve que me proponha a tomar o tempo de V. Ex., generosamente dispensado hoje ao nosso certame, não devo silenciar os agradecimentos da Sociedade, sob cujos auspiciou realizou-se este certame, já agora tornado memoravel, dada a colaboração inteligente, culta e perseverante de 118 membros, sob animação continua do Governo.

Tão bem e unanimes nos entendemos na moção que previamente tive a honra de sugerir aos meus dignos companheiros a sujeitar-se agora ao plenario, recebida asseguro a V. Ex. com emoção transbordante nosso patriotismo, que, para não tomar tempo a V.Ex. historiando-a passo logo a conclusão: "Proponho que o II.° Congresso de Oto-Rino-Laringologia brasiliense ascenda a I.° Congresso Sul-Americano, em Buenos Aires, sob a presidencia do Professor Eliseu V. Segura (Muito bem? Muito bem? Palmas prolongadas).

O Sr. Presidente (Ministro Gustavo Capanema) - A aclamação que a proposta do Professor João Marinho acaba de receber, dispensa a formalidade da votação.

Tenho a honra de declarar que o proximo Congresso de Oto-RinoLaringologia passará de brasiliense a sul americano, a realisar-se em Buenos Aires, sob a presidencia do Professor Eliseu Segura, que nos dá a honra de sua presença. (Palmas prolongadas).

DISCURSO DO PROFESSOR ELISEU SEGURA

Exmo. Snr. Ministro, Sr. Presidente do 1.° Congresso Brasileiro de Oto-Rino-Laringologia, Sr. Director da Saúde Publica, Srs. Professores, Srs. Medicos, Senhores

Foi com verdadeira emoção que escutei as palavras do Presidente deste Congresso, confirmadas pela alta autoridade do Sr. Ministro' da Educação e Saúde Publica.

A designação feita pela assembléa, não pôde deixar de ser recebida com a manifestação sincera do nosso agradecimento, pela honra que se nos confia.

Ao mesmo tempo, quero deixar consignada desde logo, a importancia transcendental deste 1.° Congresso, que marca um verdadeiro rurrlo cientifico. De tal maneira estamos todos convencidos, eu e todos os que participaram deste certame, da verdadeira importancia que teve, que unanimemente foi aceita a idéa do Professor João Marinho de mudar-lhe a categoria, subindo em classificação, de maneira que este congresso local ou nacional, passe a ser um Congresso Sul Americano.

Se seu nascimento foi vigoroso, sua vida está assegurada. E eu posso afirmar que essa modificação, que englobará todos os paizes sul americanos, se deverá a este grande nucleo brasileiro, que tanto impulso proporcionou ao certame, e, ainda, que a idéa será recebida com o aplauso unanime dos sul americanos.

No momento, posso externar, desde já, a opinião do nosso embaixador. VV. Excias. conhecem as circunstancias que cercaram a minha partida de Buenos Aires. Recebida uma carta ás 14 horas, no mesmo dia, ás 20, embarcava. De tal modo que não estou autorizado a falar em nome do meu Governo, sómente podendo interpretar sua opinião. Mas, conversando com o nosso embaixador a esse respeito e reflectindo a insinuação do Professor João Marinho, o Dr. Julio Rocca me disse:

- O Sr. póde declarar á Mesa directora desse Congresso, que se essa resolução for tomada, poderá contar, desde o primeiro momento, com a minha mais decisiva cooperação, porque estou convencido de que esse Congresso de Oto-Rino-Laringologia será mais um motivo para estreitar os vinculos, cada vez mais vigorosos, mais intimos e mais eficazes entre os sul americanos. E pôde o Sr. antecipar - disse-me ainda - que hei de dirigir-me ao nosso Governo, mandando-lhe os informes mais detalhados que signifiquem o valor deste Congresso, para que aprecie em seu justo valor a nova designação.

crescendo no Rio da Prata, na Argentina, e no Uruguai, no meio destas palestras cientificas que unem os povos da America.

Em nome de meu paiz e em nome da Sociedade Uruguaia, de OtoRino-Laringologia, cuja representação tenho a honra de trazer, agradeço que se tenham lembrado de nós, para participarmos desta reunião cientifica, considerando-nos capazes de contribuir para a elevação do grau de cultura desta terra.

Creio que, no convite a mim dirigido sairam um pouco fóra da realidade. Mas, se algo puder fazer com a minha presença, eu me felicito por ter saido de minha terra para encontrar-me entre os meus velhos amigos do Brasil.

(Muito bem! Muito bem! Palmas prolongadas).

DISCURSO DO SR. MINISTRO GUSTAVO CAPANEMA

Cabe-me a honra de declarar encerrado este Congresso.

Antes de fazê-lo, devo manifestar o grande aplauso do Governo á Sociedade de Oto-Rino-Laringologia do Rio de janeiro, por tê-lo promovido e o não menor aplauso á ação energica do Professor João Marinho, que, em sua direção, se revelou tão solicito, tão capaz e, mesmo, tão entusiasmado com a causa da ciencia.

Não posso, tambem, calar as expressões mais vivas de contentamento pelo exito desta reunião. De facto, o I.° Congresso Brasileiro de Oto-RinoLaringologia, foi uma demonstração de valor da nossa ciencia. Aqui se reuniram representantes desse ramo da ciencia medica vindos de todo o paiz, os quais, não sómente tiveram oportunidade de travar relações maiores e mais cordiais entre si, como verificaram o grande progresso da ciencia medica brasileira e os grandes rumos que devem ser seguidos daqui por diante.

O Congresso Brasiliense, teve, ainda, o grande resultado de se transformar em um Congresso Sul Americano.
A presença, aqui, de dois ilustres professores sul americanos, o Professor Alonso, de Montevideo, e o Professor Segura de Buenos Aires, trouxe ao Congresso um brilho excecional. E foi justamente porque eles aqui vieram, revelando o interesse de outros paizes pelo desenvolvimento deste ramo da ciencia medica, que correu a ideia de se transformar este Congresso brasiliense em sul americano, á qual dou o meu sincero aplauso.

Desta maneira, quero acentuar que se todas as manifestações culturais merecem o inteiro apoio do Governo, se o desenvolvimento da ciencia constitue, para nós tarefa de primeiro plano, á qual damos toda a cooperação que nos é possivel; se o desenvolvimento da ciencia merece todo o nosso entusiasmo e todo o nosso' louvor, este entusiasmo e éste louvor serão ainda maiores quando se associar a estas pugnas cientificas, o trabalho de reunião de pessoas que, por viverem juntas e solidarias, serão o penhor seguro de um destino promissor para os nossos povos.

É-nos profundamente consolador verificar que a ciência brasileira se desenvolve consideravelmente e constitue, não sómente um fundamento da nossa riqueza, da nossa prosperidade e do nosso bem estar comum, como ainda serve aos interesses das nossas relações internacionais, sendo um dos instrumentos com que nos unimos, cada vez mais, com os paizes do continente sul americano. E assim, 'por esses entendimentos intelectuais, mais do que por qualquer outro, a paz seguirá definitiva proporcionando, não sómente a prosperidade do nosso continente, como a felicidade de seus habitantes.

Minhas Senhoras e meus Senhores.

Com estas palavras desataviadas, mas cheias de sincera consagração aos interesses desta reunião, é que declaro encerrado o 1.° Congresso Brasiliense de Oto-Rino-Laringologia.

(Muito bem! Muito bem! Palmas prolongadas).

O Presidente do Congresso acompanha o Sr. Ministro, que se retira, e volta a ultimar com seus colegas, pormenores finais da reunião.

O SR. PRESIDENTE (Prof. João Marinho) - Senhores.

O Sr. Secretário Geral deveria, no final em que estamos do Congresso, proceder à leitura dos trabalhos realizados durante a semana e o foram em sua totalidade conforme constam arroladas no folheto "Comunicações" circulante em nossas mãos há oito dias. ' Para evitar repetição e abreviarmos tempo, proporia à Casa dispensa dessa leitura, confiantes na impressão aos cuidados. da Comissão Organizadora. Com ser, porêm, êsae ponto objeto taxativo do Regimento, não devo passar sobre êle sem sujeitar primeiro aos meus colegas aquiescência ou reprovação ao alvitre da dispensa. Isto p8ato, os Snra.. que aprovam a dispensa, queiram conservar-se sentados. (Pausa). ,

O Sr. Prof. Elizeu Segura - Proponho que se aprove por aclamação.

(Palmas prolongadas)

SR. PRESIDENTE - está aprovada.

Meus nobres colegas. Atentando na vibração cívica contínua do nosso Congresso, peço venia, para, aproveitando feliz oportunidade, apresentar-vos eminente patrício, espoente de moralidade social, que nos honra esta tarde com a sua presença, carácter de raro impulso no recusar estipêndios e honrarias de alto cargo administrativo e, com indicar ao Governo da República pessoa idônea para desempenhá-lo, no momento pouco menos desconhecida, prestou ao Brasil o inestimável serviço de descobrirlhe OSWALDO CRUZ. Refiro-me ao DR. SALLES GUERRA. O nome, levado na fama do seu civismo já cofre todo o nosso país enlevado no edificante exemplo. A mais de um de vós, do extremo Norte ou do extremo

Sul, tenho a grata satisfação de vô-lo apresentar em pessoa, e convido o egrégio brasileiro queira trazer o seu prestígio à Mesa participando dela.

Entre palmas da assistência o Dr. Salles toma assento na Mesa, ido buscar ao plenário pelo Presidente da Mesa e pelo Professor Segura, do conhecimento pessoal e admirador de primeira hora de Oswaldo Cruz.

O SR. PRESIDENTE - Antes de continuar na rotina administrativa do Congresso, deixai-me voa conte do como o nosso glorioso patrício descobriu ao Brasil Oswaldo Cruz.

Clínico de justificado renome, formado em medicina na Universidade de Bruxelas, essa mesma onde se temperou o espírito positivo do Dr. Luís Pereira Barreto, o sábio paulista desassombrádo autor das "Três Filosofias", foi durante largo espaço o Dr. Sales Guerra detentor de larga clientela nos mais altos círculos sociais. Médico da confiança do Ministro J. J. Seabra no governo Rodrigues Alves, o Ministro (êles costumam... ), estendeu a confiança no médico a possibilidade de administrador. Pensa no Dr. Sales Guerra para Diretor Geral da Saúde Pública. O convidado ouve, sorri-se e, já sem dúvidas:

- Meu amigo, se vai por aí, começa mal... Nada entendo do ofício. - Mas, venha cá ...

- Qual... Se me pergunta, dou-lhe nome a talhe de foice. - Quem?

- Oswaldo Cruz.

O Ministro leva o nome ao Presidente da República.

- Oswaldo Cruz? ... Quem é Oswaldo Cruz? Porque Oswaldo Cruz?

Ministro, mais o Chefe do celebre quatriênio, desprezando pormenores para melhor abrangerem o conjunto administrativo, descontaram a personalidade desconhecida na confiança depositada na integridade moral do reputado clínico. Dêsse modo, já agora, três trazem a bem do Brasil e do mundo Oswaldo Cruz. Combatido, inevitável destino denunciador doa apóstolos, por pouco não assassinam o saneador do Rio. Ao sair, entre vociferações.e ápodos, de conferência com o Ministro, da janela do Ministério, vendo 0 Ministro a turbamulta incendida em baixo pela ignorância pampletária, põe-lhe, à despedida, a guarda à disposição. Dispensou-a Oswaldo Cruz. Desceu só. Só, entrou na caleça de seu transporte habitual. A parelha adiante, o cocheiro na bolea, êle dentro, atravessaram a praça. Sós, abrindo o caminho, embaraçado pela licenciosidade de imprensa a falar do que não entendia. Nessa mesma tarde, ao chegar em casa, tira o chapéu, era uma cartola, indefectível ao uso do tempo, coloca-a sôbre uma cadeira. Com o fundo da copa virado para cima, pôde ler-se no fôrro branco grosseira inscrição a lapis, encimada, por cruz simbólica: "Morto a, bem do povo, em 13 de novembro de 1904". Nesse dia estivera com o Ministro e vários jurisconsultos a concertarem sôbre o modo de regulamentar a vacinação contra a varíola na Capital Federal.

Sôbre alguma outra cadeira do Ministério do Interior a leviana ignorância escrevera a sentença.

Escapou. Ficou, graças a intuição de Ministro fiado na palavra do seu médico, mais a do presidente da República confiante no seu Ministro, e na prudência de consultar, em transes técnicos de dúvida, ao seu conterrâneo, Dr. Pereira Barreto, em S. Paulo, o qual invariávelmente lhe respondia: "Quem tem razão é o moço". Essa particularidade, contou me como ouvida de seu amigo íntimo Dr. Barreto, o Professor Arnaldo Vieira de Carvalho, o inolvidável fundador da Escola de Medicina de S. Paulo. Repeti-a ao Dr. Sales Guerra, e já figura no livro, quasi pronto, em que fixa para a história a personalidade de Oswaldo Cruz.

O PROF. SEGURA - Um é o pedestal do outro.

(Muito bem! Muito bem! Palmas prolongadas).

O DR. SALES GUERRA - Minhas Senhoras e meus Senhores.

Nunca senti tanto não ser orador como agora, para agradecer a esta manifestação, à qual não tenho absolutamente direito. Fiz apenas o que qualquer brasileiro que tivesse um pouco de patriotismo teria feito em condições idênticas as em que eu me vi.

Não me sentindo habilitado a ser Diretor da Saúde Pública, creio era de moralidade a mais elementar recusar o cargo para o qual não me sentia com forças bastantes para bem desempenhá-lo. Quando o Ministro, meu cliente e amigo, fez-me o convite, observei-lhe que Diretor da Saúde Pública deveria ser homem ao corrente de todos os pormenores do combate realizado contra a febre amarela em Cuba e que na ocasião se repetia em novo surto réaparecido lá. Era, na verdade, uma vergonha o Brasil continuar vitimado por epidemias de uma doença, que o degradava, que o infamava, quando havia meios já provados para extinguí-la.

Como eu insistisse em recusar o cargo, perguntou-me o Ministro se sabia de algumm em condições de repetir a campanha desenvolvida em Cuba.

- Que, sim, respondi logo, declinando-lhe o nome de Oswaldo Cruz. Chefe do Laboratório de Analises da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, onde eu trabalhava, chefiando a secção de clínica médica, onde diariamente nos avistavamos e êle com sua infalível pasta, cheia de estatísticas e pormenores de execução. punha-me, convicto e demonstrativo, ao correr da teoria havaneza contra o mosquito, segundo a qual os americanos extinguiam rapidamente em Cuba o terrível mal.

O Ministro insistiu: "Pois, eu sabia tudo isso, poderia fazer a mesma coisa aqui. Nem lhe parecia que me faltasse energia para desempenhar-me da empreza".

Retorqui não poder comparar-se a campanha a fazer em nossa terra, de povo indisciplinado e desobediente, que ao menor conselho partido de autoridade logo vem com o seu "não pode", com a ordem draconiana estabelecida pelos americanos em Cuba, onde estabeleceram o estado de guerra a fim de evitar tõda discussão ociosa, embaraçadora do que pretendiam fazer. Política de energia, de que passo a citar alguns exemplos. Havana era uma cidade suja, onde tudo se despejava nas ruas. Era o regime do tous a la rue. Pelo Regulamento imposto pelos americanos, toda pessoa que atirasse imundices á via pública era obrigada a ir apanhá-las e removê-las para a própria casa. A ordem era obedecida até mesmo em relação a pessôas gradas do paiz.

Foi assim que se escolheu Oswaldo Cruz.

Vejo que me vou alongando demasiadamente. Queria apenas agradecer a manifestação da ilustre assembléa e congratular-me com os Srs. membros do I.° Congresso Brasileiro de Oto-Rino-Laringologia, que teve um brilho inteiramente desusado no nosso meio, tudo isso devido á energia, ao tato e ao elevado espírito de médico do Professor João Marinho. Muito agradecido.

(Muito bem! Muito bem! Palmas prolongadas).

MOÇÕES

O SR. PRESIDENTE - Meus Senhores.

Voltando ao lugar comum ao fim dos Congressos, a Mesa receberá moções que os senhores congressistas queiram lhe oferecer para se apreciarem em plenário.

O DR. MARIO OTTONI - Sr. Presidente, inicialmente, antes de qualquer outra moção, proponho esta de agrado e de grande agradecimento da assembléia ao Professor João Marinho, pelo modo brilhante, gentil, sábio e cortês com que dirigiu os nossos trabalhos.

(Muito bem! Muito bem! Palmas prolongadas).

O SR. PRESIDENTE - Foi aprovado. Com benevolência excessiva. Contudo, o plenário é soberano. A Mesa receberá a segunda proposta. O DR. CAIADO DE CASTRO - Sr. Presidente, proponho que seja inserto na ata da sessão de encerramento dos nossos trabalhos um voto de agradecimento aos funcionarios da Secretaria Geral de Saúde Pública e Assistência, tanto do serviço geral de administração, como do Pronto Socorro, como aos desta Casa, chefiados pelo administrador Jorge Cordovil de Oliveira e que seja oficiado ao Sr. Secretario Geral da Assistência pedindo-lhe mande transcrever esse voto nos respectivos prontuários.

Palmas prolongadas.

O SR. PRESIDENTE - Antes de sujeita á Casa a aprovação da moção que acaba de ser sugerida, aliás já aceita pelos aplausos que ouvimos, apenas desejaria lamentar que o estilo das moções seja tão lacônico, tão sêco, porque, na fidalga acolhida que nos proporcionaram, deve salientar-se a cortezia, a eficiência de experiência manifesta nas menores circunstâncias, de todos os zeladores da Casa, velando conosco as noites brancas que passámos aqui.

O SR. PRESIDENTE - Neste caso, muito honrado me sentiria se o meu nobre colega consentisse meu nome junto ao seu.

Palmas prolongadas.

O SR. PRESIDENTE - Haverá quarta moção?

O DR. QUEIROZ MUNIZ - Snr. Presidente, que as minhas palavras, mergulhadas num mixto de saudade e de alegria, constituem, neste momento um hino de louvor a esta pleiade de colegas ilustres que se congregaram de todos os rincões deste Brasil querido e de outras partes da América do Sul, ao que de reunir emanado da ilustre e simpática figura do professor João Marinho, na compreensão exata de um dever de sã brasilidade.

Amanhã, quando nos formos e nos restar somente a saudade e a lembrança destas horas felizes, uma voz, dentro de nós, dirá: - Cumpriste com o teu dever.

Palmas prolongadas.

E a quem devemos a fidalga hospedagem neste palacio. Ouzo, por isso, infringir a praxe e pedir nova salva de palmas ao nosso generoso hospedeiro.

Palmas prolongadas.

O SR. PRESIDENTE - A Meza está no ponto de continuar receber moções.

O DR. ESTEVAM REZENDE - Sr. Presidente, pedi a palavra para solicitar moção á Comissão Organizadora deste certamen, pelo brilho com que se desempenhou.

Palmas prolongadas.

E, ainda, aproveitando o estar na tribuna e para não voltar a ela, apresento mais outra moção. De acordo com o que foi lembrado ontem pelos Drs. Mario Ottoni, lldeu Duarte e *l"ãulo Brandão, proponho que esta assembléa, aprovanda os estudos que o Dr. Aristides Monteiro fez sobre o sinal de hipertensão arterial, pela primeira vez por êle observado e descrito na membrana do timpano, dê-se-lhe o nome de "Sindrome auricular hipertensiva de Aristides Monteiro".

(Muito beml Muito bem! Palmas prolongadas).

O SR. PRESIDENTE - Continuará a Mesa a receber moções.

O DR. ROBERTO OLIVA - Snr. Presidente, recordando o amparo do Itamaratí á idéia do Professor Marinho, para que, dentre os nossos congressistas figurassem as personalidades salientes dos professores Segura e Alonso, parece-me muito justo que se insira em ata um voto de agradecimento á figura eminente do Snr. Ministro Osvaldo Aranha.

Palmas prolongadas.

O SR. PRESIDENTE - Eu pediria licença para acrescentar: e ao Itamaratí, em geral. Porque todos os seus funcionários atentos ao caso foram "congressistas" preciosos.

Palmas.

Continuam as moções.

O DR. FRANCISCO HARTUNG - Penso que devemos inserir .cambem em ata uma moção de aplausos aos professores Eliseu Segura e justo Alonso pelo gesto de alta fidalguia e de alta compreensão da nossa política continental, pondo de lado interesses de toda ordem e dos mais respeitaveis, que os impossibilitavam de abandonar seus paizes, afim de virem abrilhantar, com a sua cultura, o nosso Congresso e isso, como nos disse por uma simples carta recebida do professor Marinho. Quando a ratificação telegráfica do Itamaratí lhes chegou já êles haviam embarcado.

Ao professor Segura, particularmente, devo dizer que, para mim, seu assentimento e sua solidariedade não são novidades, porque, quando estive na Argentina, ha dois anos, tive o maior prazer e a mais cara emoção ao ouvir, de sua parte, palavras altamente elogiosas para com o nosso paiz. Fez mesmo questão de chamar alguns estudantes de medicina que frequentavam o sete curso, afim de lhes manifestar que havia para ele particular interesse na simpatia pelo Brasil. Sempre o grande professor patrocinou os benefícios da maior ligação e compreensão entre brasileiros e argentinos e entre argentinos e brasileiros, certo de que a mutua compreensão da mentalidade e da cultura argentina e brasileira seria o meio mais eficiente de consolidar a paz na America do Sul.

De modo que o gesto do professor Segura e, em seguida, do professor Alonso demonstram quanta sinceridade ha de sua parte.

Penso que se deve lançar em ata um voto de muito aplauso ás personalidades do professor Segura e do professor Alonso.

(Muito bem! Muito bem! Palmas prolongadas).

O DR. PINTO FERNANDES - Snr. Presidente, dois grandes professores sul-americanos estiveram aqui presentes, dando-nos essa honra e esse grande prazer. Acabamos de ouvir a proposta de uma moção de agradecimentos a essas duas ilustres figuras. Um outro grande professor da Europa, o professor Portman, não podendo estar presente, enviou-nos, como grande amigo do Brasil, excelente contribuição, um muito interessante trabalho. Foi um gesto de amizade e de deferencia para com este nosso certamen. Por isso proponho que se oficie ao professor Portman, de Bordeaux, transmitindo-lhe moção de agradecimento por essa atenção ao nosso congresso.
Palmas prolongadas.

O SR. PRESIDENTE - Meus Senhores.

Antes que algum dos nossos colegas apanhe no ar o sentimento geral, apresso-me em propor figure no quadro de membros honorarios da Sociedade de O. R. L. do Rio de Janeiro, os professores Segura e Afonso e o professor Portman.

(Muito bem! Muito bem! Palmas prolongadas).

O DR. MARIO OTTONI - Snr. Presidente, eu pediria a V. Ex. geie acrescentasse o Dr. Juán Tato entre os membros honorarios.

(Muito bem! Muito bem! Palmas prolongadas).

O SR. PRESIDENTE - Continua a Mesa atenta a novas moções.

O DR. ERMIRO LIMA - Snr. Presidente pretendo propor a inclusão, na lista dos nossos membros honorarios, e ficarão perfeitamente á vontade junto a essa pleiade admiravel de cientistas já propostos, os nomes dos mestres de oto-rino-laringologia do nosso Brasil, Paula Santos, Mangabeira Albernaz, Arthur Sã, Mário Ottoni.

Palmas prolongadas.

O SR. PRESIDENTE - E não lhe esqueceu, pois ,,apenas faltou ao nosso colega tornar explicito os nomes do Prof. Ivo Crrêa Meyer, do Prof. Ildeu Duarte, do Prof. Eduardo de Moraes. Outrosim, o do Dr. Afonso Ferreira, chefe do Instituto Oto-rino-laringológico, de Campinas.

Palmas.

Continúa a .lesa a receber moções. (Pausa).

Não havendo mais quem apresente moções, tenho a honra e a satisfação de, no convite que vou fazer para nos encerrar com chave de ouro esta sessão de encerramento, oferecer a apresentação da casa proposta de mais um membro honorario, o nosso eminente e querido confrade, o professor Clementino Fraga.

(Palmas calorosas).

DISCURSO DO PROFESSOR CLEMENTINO FRAGA

Minhas senhoras e meus senhores.

O ilustre Presidente acaba de dizer, que o capitulo das moções está encerrado; mas deu lugar a que começasse um outro, o da emoçãó, porque é com verdadeira emoção que vos falo neste momento, para agradecer esta manifestação que considero toda sentimental, com que acabais de premiar com as vossas palmas, as palavras de Aristides Monteiro, secundadas pelas de João Marinho.

Em verdade, quem ocupa, quem detém, por um instante siquer, uma parcela de poder público, deve ter sempre a noção de esquecer-se a ai mesmo, pensando com solicitude nos outros, pensando, sobretudo, no esforço coletivo. E quando o Presidente e o Secretário Geral, ambos á vez, me procuraram para comunicar a proxima eventualidade deste Congresso, de mim tiveram, com palavras de aplauso, hipotecado, ao mesmo tempo, o pouco que podia fazer o eventual, transitório e praza a Deus que muito efemero Secretário de Saúde e Assistência do Rio de Janeiro.

Não fiz senão o que disse a Marinho: - determine o que quer e a Secretaria de Assistência o fará.

Sabia eu que, para adeantar esta afirmação, contava com o apoio de um homem de inteligência folgada, de ampla cultura universitária, que é o médico e prefeito atual, o Professor Henrique Dodsworth. E foi obedecendo á palavra do Presidente do Congresso, secundada muitas vezes pelo seu Secretário Geral; foi cumprindo a determinação do Prefeito, que púz á disposição do Congresso esta Casa e recebi os senhores congressistas em dia predeterminado. Em verdade, nada fez o Secretário Geral de Saúde e Assistência e ainda menos fez Clementino Fraga. Seja como fôr, é uma honra para mim -1 homenagem.

- Penso que não é menos grata a função de encerrar que aquela de abrir uma reunião profissional. Tive a oportunidade de abrir este Congresso.. E agora, por acaso, a de encerra-lo neste momento. A's mais das vezes acontece assim, porque, como no caso concreto do 1.° Congresso Brasileiro de Oto-Rino-Laringologia, podemos nos gabar de ter assistido a um certame integro - no brilho, na ordem, sempre em crescendo, na solicitude daqueles que o organizaram, como na colaboração daqueles que aqui vieram ter.

Assim sendo, meu cara e ilustre Presidente, meu eminente colega e companheiro da gloriosa Faculdade a que ambos pertencemos, todo êsse trabalho, todo êsse resultado, é seu e de vossos dedicados e excepcionais discipulos, dos especialisados colegas e os companheiros de comissão organizadora. Com todos êles, com êles principalmente e com o seu ilustre chefe, nos devemos congratular pelo êxito completo desta assembléia cientifíca. Este congresso - para terminar - foi uma alvorada. Em verdade, é o primeiro congresso de Oto-Rino-Laringologia que se reúne no Brasil. Alvorada verdadeiramente tropical, porque apenas terminando, passava de Congresso Brasileiro a Congresso Sul-Americano.

E aqui, na presença de duas grandes figuras profissionais americanas, o Professor Alonso e o meu brilhante e querido amigo, Professor Segura, mais sincera do meu cordial apreço e da minha que teve, além disso, um discipulo dileto , de segura , aqui presente, Dr. Juan Tatto.

Por tudo isso é o caso de nos felicitarmos a nós mesmos, a nós, profissionais do Brasil e considerarmos esta alvorada como o prenuncio de um radioso dia de sol para a especialidade, não sómente brasileira, mas sul-americana.

Recordo-me de uma cena mim de grande emoção. E me falar assim num improviso de relembrar aquela cena e pedir a ela que me ajude a terminar esta alocução, A cena a que me refiro foi a da musica genial de Carlos Gomes, no quadro da alvorada do "Squiavo", em que os acórdes e as harmonias que partiam. da noite, suaves, quasi inaudiveis, iam aumentando, a pouco a pouco. enquanto no horizonte além a aurora despontava; e quando os primeiros raios de sol beijavam a superficie da terra, a partitura admiravel crescia, forte e vibrante, graduando nos agudos e graves os acordes que transferiam á musica os ardores do genio artistico de Carlos Gomes.

Aos colegas sul-americanos, aqui presentes, aos meus colegas brasileiros, reitero as minhas homenagens, as homenagens de um homem que tem sido apenas profissional e que, a horas tantas da vida, acima de tudo ama sua profissão.

(Muito bem! Muito bem! Palmas prolongadas).

O SR. JOAO MARINHO - Com as palavras do Sr. Clementino Fraga declaro encerrado em ascensão e em bglssa o 1.° Congresso Brasiliense de Oto-Rino-Laringologia.

(Pálmas Prolongadas).

7) ACADEMIA NACIONAL DE MEDICINA

SESSÃO DE 13-10-38 - REFERENCIA DO PRESIDENTE DA ACADEMIA AO I.° CONGRESSO DE OTO-RINO_LARINGOLOGIA - AGRADECIMENTO DO PROFESSOR JOÃO MARINHO

O Professor Moreira da Fonseca (Presidente da Academia) : - Com a maior solenidade, realizou-se nesta cidade o 1.° Congresso Brasileiro de Oto-Rino-Laringologia. A Academia Nacional de Medicina realizou, tambem, uma sessão em homenagem a esse Congresso, a qual foi, realmente, uma bela reunião. Começou as 9 horas e meia, mais ou menos, prolongando-se até ás 2 horas da madrugada, com uma série de magnificas comunicações, presentes dois luminares da oto-rino-laringologia sul-americana, o professor Segura, de Buenos Aires e o professor Alonso, de Montevidéo. Tivemos ocasião de saudai-os, em nome da Acadeima, agradecendo-lhes terem-a honrado com a sua presença.

AGRADECIMENTO DO PRESIDENTE DO CONGRESSO

Agradecendo a homenagem, o Sr. Professor João Marinho, pronunciou o seguinte discurso:

"Nunca terminou antes de noite velha qualquer sessão; nunca nenhum comentario passou dos cinco; nunca o Presidente, e cada sessão teve o seu, por uma só vez, precisou chamar a atenção de ninguem, nem mesmo para esse tempo, julgado via de regra escasso. Foi que nenhum de nós, por acõrdo prévio perdeu minuto a sumariar o que se disse antes; não aprovou nem reprovou pensamento de ninguem, não deu apartes, O lema aos comentarios era só o de "acrescentar".

Passou o Congresso. Ficou-me o encargo de liquidatario de enorme acervo. De sciencia, que a seu tempo se tirará a limpo pelos magnificos taquigrafos, auxiliares preciosos, palavra por palavra; acervo sobretudo de

gratidão pelo sentimento geral de simpatia a envolver-nos de toda parte. Tão grande a nossa divida .a esse respeito que o liquidatario só a poderá pagar a prestações. Venho esta noite trazer, por conta, minima quota a Academia de Medicina. Em agradecimento ao conforto material posto a disposição do 1.° Congresso de Oto-Rino-Laringologia Brasileiro na sala nobre de sessões, na qual menos se sente a comodidade fisica, que a ambiencia de dignidade cada vez maior, herdada na continuidade das gerações que por aqui teem passado. Agradecimento, ainda, pelo conforto moral, estimulo do nobre Presidente da Academia Nacional de Medicina, que, em pessõa, se dignou presidir uma das sessões do Congresso, essa mesma referida por ele e prolongada até ás duas da madrugada; conforto por motivos, de certa força maior simultanea, os tres membros da Academia designados para represental-a não puderam participar de nossos trabalhos. Substituindo- os, em pessõa, o Presidente desta Casa, deu. nos a segurança da Academia de Medicina directamente, e altamente, solidaria com o Congresso.

A verdadeira eloquencia zomba da eloquencia. Não costuma falar muito. Demais, começamos, os desse certame, pagar dividas de gratidão. Queira a Academia, por seu digno Presidente, receber a insignificante parcela que hoje lhe podemos trazer".

O Sr. Presidente disse as seguintes palavras:

"A Academia Nacional de Medicina agradece as vossas palavras, professor João Marinho, e declara que não faz mais do que o seu dever, estimulando e cooperando com a Sociedade de Oto-Rino-Laringologia, que mais pareceu um Congresso Sul-Americano de Oto-Rino-Laringologia que tão sómente brasileiro".

8) OS CONGRESSISTAS

Compuzeram o 1.° Congresso de Oto-Rino-Laringologia os seguintes especialistas:

Prof. João Marinho (Rio); Prof. Eliseu Segura (Buenos Aires); Prof. Justo Alonso (Montevidéo) ; Dr. J. M. Tato (Buenos Aires) ; Prof. Arthur Sã (Recife); Prof. Eduardo de Moraes (Baía); Prof. Paula Santos (São Paulo) ; Prof. lldeu Duarte (Bello Horizonte) ; Prof. Maurillo de Mello (E. do Rio) ; Prof. lvo Correia Meyer (R. G. Sul) ; Prof. Ermiro de Lima (Rio) ; Prof. Mangabeira Albernaz (Campinas - S. Paulo) ; Dr. Roberto Marinho Filho (Rio) ; Dr. Milton de Carvalho (Rio) ; Dr. Estevam de Rezende (Rio) ; Dr. Aristides Monteiro (Rio) ; Dr. Paulo Brandão (Rio) ; Dr. Theophilo Falcão (Santos) ; Dr. Pedro Falcão (Ribeirão Preto) ; Dr. Archimedes Peçanha (Rio) ; Dr. Cassiano Nobrega (João Pessoa) ; Dr. Olivé Leite (Sta. Maria, R. G. Sul) ; Dr. Procopio Teixeira (Juiz de Fóra) ; Dr. Arthur Moura (Recife) ; Dr. Raphael da Nova (São Paulo) ; Dr. Queiroz Muniz (R. G. Norte); Dr. Rubens Brito (S. Paulo); Dr. Edgard Falcão (Santos); Dr. Ruy de Toledo (Araraquara); Dr. J. J. Cansansão (S. Paulo) ; Dr. Lauro Sodré Filho(Belém - Pará); Dr. Armando Pinto Fernandes (Rio) ; Dr. Alberto Ision Ponte (Rio) ; Dr. Mauro Penna (Rio) ; Dr. Arminio Tavares (Florianopolis) ; Dr. Luiz Brandão Filho (Araraquara) ; Dr. Manoel Paiva Sobrinho (Pernambuco) ; Dr. Helio Lemos Lopes (Lins, S. Paulo); Dr. Celso Ferreira (Curityba); Dr. Rubem Ama~ rante (Rio) ; Dr. Carlos Rohr (Rio) ; Dr. Julio Vieira (Rio) ; Dr. Augusto Linhares (Rio); Dr. Olavo Pires Rebello (Rio); Dr. Paulo Miranda (Rio); Dr. Helio Hungria (Rio); Dr. Donato Valle (Varginha, Minas); Dr. Homero Cordeiro (São Paulo) ; Dr. Duarte Moreira (Rio) ; Dr. Laurindo Quaresma (Rio) ; Dr. Luiz Gonzaga Pereira Fonseca Netto (Rio) ; Dr. Gabriel Porto (Campinas) ; Dr. Guedes de Mello Filho (Campinas) ; Dr. AIvaro Cordovil da Silveira (Rio); Dr. Walter Muller dos Reis (Rio); Dr. Nelson Azevedo Alves (Rio); Dr. Caiado de Castro (Rio); Dr. Georges da Silva (Rio) ; Dr. Alcir Antonio Basílio (Rio); General Dr. Alvaro Tourinho (Rio) ; Dr. Ernani Werneck dos Passos (Rio) ; Dr. Nicolino Nazioti (Rio); Dr. José Victor Rosa (Rio) ; Dr. Homero Carriço (Rio) ; Dr. Carlos Costa Pereira (Rio) ; Dr. Capistrano Pereira (Rio) ; Dr. David Adler (Rio) ; Dra. Gladys Browne (Rio) ; Dr. Affonso Ferreira (Campinas) ; Prof. Francisco Eiras (Rio); Dr. Mario Ottoni de Rezende (S. Paulo); Dr. Rezende Barbosa (S. Paulo);_Dr. Francisco Hartung (S. Paulo); Dr. J. E. de Paula Assis (S. Paulo) ; Prof. Dr. Belou (Buenos Aires) ; Prof. Dr. Podestá (Buenos Aires) ; Prof. Dr. Santiago Araus (Buenos Aires) ; Dr. F. Games (Buenos Aires); Dr. Von Soubiron (Buenos Aires); Dr. G. L. Monserat (Buenos Aires) ; Prof. Dr. Edmundo Vasconcellos (S. Paulo) ; Dr. Plinio Mattos Barreto (S. Paulo) ; Dr. Roberto Oliva (S. Paulo) ; Dr. Angelo Mazza (S. Paulo); Dr. Vital Fontenelle (Rio); Dr. Guilherme Lacorte (Rio) ; Dr. Mario Santos (Rio) ; Dr. Horacio Paula Santos (S. Paulo) ; Dr. Castro Lima (Baía) ; Dr. Carlos Moraes (Baía) ; Dr. José Cós (Rio) ; Prof. Moreira da Fonseca (Rio); Prof. Clementino Fraga (Rio); Dr. Mauricio Muniz Aragão (Rio); Dr. Amadeu Fialho (Rio); Dr. Carlos Bruno (Rio); Dr. R. Bemfica de Menezes (Rio); Dr. Silvio Caldas (Recife); Dr. J. Mattos Barreto (São Paulo) ; Dr. Waldemir Salem (Rio) ; Dr. Castão Behring (B. Horizonte); Dr. Lima Netto (Bello Horizonte); Dr. Paulo Alvim (B. Horizonte) ; Dra. Lily Lages (Rio) ; Dr. Nicoláo Nascimento (Rio); Dr. Carlos Rohr Filho (Rio); Dr.. Cicero Jones (S. Paulo); Dr. J. Ferreira de Souza (Rio); Dr. Pedro Bloch (Rio); Dr. Hugo Ribeiro de Almeida (S. Paulo); Dr. Jurandir Bandeira (B. Horizonte) ; Dr. Paula Freitas Coelho (Rio); Dr. Vicente Ferreira Amaro (Rio); Dr. Getulio José da Silva (Rio); Dr. José Bresser (São Paulo); Dr. Ivo Netto (Jahú - S. Paulo) ; Dr. Renato Noronha (S. João da Bôa Vista - São Paulo) ; Dr. J. Carneiro de Sousa (Rio); Dr. lgnacio Verissimo (Rio); Dr. Adalcindo Amorin (Araguary - Minas Gerais); Dr. Barbosa Rodrigues (Belem - Parã); Dr. Sylvio Melo (E. do Rio) ; Dr. Ewaldo Campos (Rio) ; Dr. João Prado (Rio); Dr. Franco do Prado (Sergipe); Dr. Saul Chaves (Curitiba - Paraná) ; Dr. Wandregiselo Dias (João Pessôa - Paraiba) ; Dr. Raul Fernandes (Rio Grande do Norte) ; Dr. Fernandes Tavora (Fortaleza - Ceará) ; Dr. Euclides Delxaux (Rio) ; Dr. Octavio do Amaral (Rio) ; Dr. Berbet Amorin (S. Paulo).
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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