SECÇÃO DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA
Reunião de 17 de Janeiro de 1938
Presidida pelo dr. Francisco Hartung, secretariada pelos drs, J. Paula Assis e Ribeiro dos Santos, reuniu-se a 17 de Janeiro de 1938, a Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.
No expediente o sr. presidente leu um oficio enviado á Secção pela Sociedade de Oto-rino-laringologia do Rio de Janeiro, com relação ao 1.º Congresso de Oto-rino-laringologia a ser realizado no Brasil, com a presença de outros paizes e sendo de grande interesse, foi lido pelo sr. presidente alguns dos parafos do regulamento desse certamen. O sr. presidente, com o consentimento unanime da Casa, confiou ao dr. Mario O. Rezende o encargo de sugerir qual o tema que deva ser levado por S. Paulo nesse Congresso.
O dr. Mario Ottoni de Rezende agradeceu a deferencia e propoz então que cada um dos colegas estudasse um tema de sua preferencia e na proxima reunião por votação fosse escolhido aquele que S. Paulo deveria defender no Congresso.
Em seguida foi empossada a nova mesa para 1938, tendo antes o dr. Francisco Hartung pronunciado a seguinte oração
"Meus caros amigos e collegas: = Foi um ano fecundo 1937; a-pezarde lamentarmos a ausencia em nossa tribuna de varios vultos de destaque no nosso departamento medico, todavia, é incontestavel que o material cientifico foi instructivo e abundante. Ao todo, foram apresentados 24 trabalhos, distribuidos pelas 12 sessões que houve durante o ano, tendo feito uso da palavra 17 consocios ou convidados da Secção de Oto,-rino-laringologia. Fomos honrados com a visita do prof. João Marinho, catedrático da especialidade na Faculdade de Medicina da Universidade do Brasil.
Para recebel-o condignamente, foi convocada uma sessão extraordinaria que se realizou a 31 de maio. Depois de saudado pela Directoria, teve a palavra o prof. Marinho que, no seu habitual brilhantismo, dissertou sobre Vias de complicações endocraneanas oriundas nas petrosites, alocução baseada em idéas proprias que muito impressionaram.
No sentido de promover intercambio cientifico entre as diversas Secções da Associação Paulista de Medicina, conforme plano delineado, tivemos o prazer de convidar e receber o prof. Edmundo Vasconcellos, da Secção de Cirurgia, que, na sua reconhecida competencia, ótima noite nos proporcionou sobre Técnica de Parotidectomia. Posteriormente, o dr. Vicente Lara em retribuição a uma visita feita por nós, trouxe credenciais da Secção de Pediatria, apresentando magnifico estudo sobre Perda de Folego na Infancia. Tambem foram nossos hospedes os drs. Roxo Nobre e Paulo de Almeida Toledo, que, dissertando, respectivamente sobre Rõntgenterapia dos Tumores na Especialidade e Radiologia do Temporal, imprimiram um cunho profundamente cientifico aos seus trabalhos. Ao dr. Mangabeira-Albernaz foi delegada a incumbencia de nos representar na Secção de Pediatria, papel por ele brilhantemente desempenhado, servindo-lhe de tema a Interdependencia entre a Oto-rino-laringologia e a Pediatria. A todos patenteámos a nossa admiração pelo alto espirito cientifico e externámos os nossos agradecimentos.
Da prata de casa, fina e preciosa, já fizemos todos, no decorrer dos debates, a sua apreciação. No seu balanço final, figuram observações clinicas ou cirurgicas do mais alto valor: Caso de Quisto Congenito da Uvula, do dr. Ribeiro dos Santos; Dois casos de Cirurgia da Laringe, do dr. Gabriel Porto; Ulcera de Contacto da Laringe, do dr. Rezende Barbosa; Correcção de Atresia Nasal, do dr. Rebelo Neto; Grosso Molar Incluso, com Periostite, do dr. Paulo Sáes; um Caso de Paralisia Traumatica do Facial, do dr. Rubens de Britto; Dois: casos de Laringectomia, do dr. Pedro Falcão; Adenoides e Estrabismo, do dr. Mangabeira-Albernaz; Prontosil em Otorino-laringologia, do dr. Homero Cordeiro. Pesa ainda no ativo do balança um outro grupo de trabalhos, tambem de muito valor e separados dos primeiros por serem de caracter mais geral, tais como: Hemogenia, do dr. Guédes de Melo; considerações sobre as petrites, do dr. Mangabeira-Albernaz; tratamento Radioterapico dos tumores da laringe, dos drs. Plinio Barreto e Livramento Barreto; e Contribuição ao estudo das mastoides compactas, do dr. Ribeiro dos Santos, gravitando em torno de estudos sobre anatomia, patologia ou terapeutica da especialidade. Na maior parte, trabalhos de folego, substrato muito bem sedimentado, exaustivos de empreender-se, ora corrigindo numeros que figuram em estatisticas do passado, ora em rebeldia flagrante contra conclusões tidas como ortodoxas.
Frutos, talvez, de evolução do pensamento contemporaneo.
Um dos conceitos mais impressionantes do famoso Carrel, o fisiologista-filosopo da Fundação Rockfeller, encerra um protesto contra a tendencia para a especialização exagerada. Si o proprio Calmette não escapa á sua censura.. . Não ha duvida, diz Carrel, que a especialização é uma necessidade imperiosa, porque, sem a divisão do trabalho cientifico, dado o limite da capacidade mental e resistencia fisica de cada um de nós, seria impossivel o progresso da ciencia e da civilização; mas, o descaso pelo preparo basico geral com a absorção completa pelos assuntos especializados, é um anal que, em qualquer dos ramos dos conhecimentos humanos, já se faz sentir hodiernamente. E, talvez, ainda diz Carrel, si Calmette não fosse bacteriologista tão eminente, em favor de melhores conhecimentos de medicina geral e de higiene, os seus esforços na luta contra a tuberculose seriam ainda mais proveitosos á França e á Humanidade.
Que me perdoem os colegas esta ligeira digressão, reflexo que é do meu entusiasmo pelo espirito de critica elevado, um dos aspectos que mais me interessou, uma das perspectivas que mais me deslumbrou na posição especial a que assisti ás comunicações e debates cientificos no decorrer do ano passado. Ciencia pura, eminentemente especializada, mas, com frequencia, sujeita a uin controle geral, quando não filosofico, cuja falta, nos tempos de hoje, tão bem faz sentir o espirito admiravel de Carrel.
São essas, meus caros colegas, em sintese, as impressões que levo da investidura a que a vossa vontade me guindou na vigencia passada; não ha lugar para analise, pois que, como já disse, foi feita por todos nós.
Só me resta reiterar a todos os meus agradecimentos pela ótima oportunidade de aprender a mim proporcionada, pela posição de honra em presidir-vos, estimulo para o trabalho e para o estudo e que, com tanta nitidez me facultou apreciar -a cultura dos meus co.legas de especialidade, um dos sustentaculos do grande relevo dominado pelos paulistas no cenario medico do Brasil.
Aos meus dignissimos secretarios e amigos drs. Paula Assis e Ribeiro dos Santos, que com sua inteligencia tanto ornamentaram a mesa no periodo que se finda, o meu particular obrigado.
Não se me impõe o elogio do vulto cientifico do presidente a quem tenho a honra de empossar, pois que, todos nós, que temos militado na clinica nestes ultimos 15 anos, nos habituamos a ouvir o nome de Mangabeira-Alhernaz com respeito e admiração. Sabido era que, em Jahú, um jovem especialista iniciava a sua vida profissional. Trabalhando e estudando, talvez melhor o inverso, estudando e trabalhando, coseguira ele, em pouco tempo, ser conhecido e prestigiado nas cidades da Paulista. Embora recalcando as saudades dos longes da Baía, já se radicara, de coração, a Jahú, que tão bem o recebera, mas, em breve, se viu forçado a procurar um outro campo de maior amplitude, que comportasse o crescendo de suas actividades Campinas, que pelas suas tradições, é um nome conhecido e pronunciado com simpatia em qualquer recanto do Brasil, oferecendo outras possibilidades, é por ele lembrada e escolhida para aí ser armada a sua nova tenda de trabalho. Parece que as andorinhas o receberam em alegre revoada, porque, de novo radicado, e agora, trabalhando e estudando, MangabeiraAlbernaz sentiu crescer rapidamente o seu prestigio e acatamento, fruto do seu esforço, de sua tenacidade, de suas publicações cientificas, de sua frequencia nos conclaves medicos, chegando hoje a culminar a sua posição na catedra de Oto-rino-laringologia da Escola Paulista de Medicina.
O seu talento, a sua cultura, o seu brilho de espirito e amor a S. Paulo, ficarão em penhor pelo sucesso do nosso setor de medicina em 1938.
Dizia Miguel Couto que "patriotismo é cada um trabalhar no seu oficio com a maior fé", desde o lavrador para sempre ignorado, até o intelectual helenizado pela sua cultura. Assim tambem a sua fé, sobejamente demonstoada no exercício da profissão, será a melhor garantia oferecida pelo rena me cientifico do Brasil".
Em seguida foi empossada a mesa para 1938, tendo o novo presidente, dr. Mangabeira-Albernaz, dito que considerava uma homenagem o cargo que teria de ocupar, exaltando o brilhantismo que a Secção sempre teve, desde a presidencia de Mario Ottoni até a ultima de Francisco Hartung, e dizendo esperar, com a cooperação de todos os colegas, manter esse mesmo brilho, prevenindo os colegas que o Congresso a se realizar no Rio, poderia prejudicar a sua gestão, diminuindo o numero de trabalhos inscritos, julgando pois que os colegas deveriam atender a duas coisas este ano, ao Congresso e não menos á Secção.
Ainda no expediente fez uso da palavra o dr. Ribeiro dos Santos, que ouvindo o discurso do dr. Francisco Hartung, notou uma falta, aliás muito explicavel, dada a conhecida modestia do dr. Hartung, onde ele não fez referencia alguma ás suas actividades e quem percorrer o livro de atas, constatará o seu intenso labor. No momento, não se podendo lembrar de tudo, referiu-se apenas a alguns fatos, como a iniciativa de permitir as mais amplas discussões dos trabalhos, a promoção de intercambio intelectual com outras Secções da Associação, assim como os seguintes trabalhos: "Mais um caso de agranulocitose", "Hemorragia na operação de septo", "Abcesso parafaringiano, amigdalectomia e cura-. Todos esses trabalhos foram muito apreciados e discutidos e não figuram no relatorio do sr. presidente, motivo porque me abalanço a pedir que conste na ata um voto de louvor pela gestão do sr. presidente assim como pelos trabalhos que apresentou.
O dr. Mangabeira Albernaz dispensou de consultar a Casa sobre essa proposta. Considerou a idéa do intercambio como luminosa e que precisa ser mantida, conservando-nos nas melhores relações com as diferentes Secções, pois só assim nos afastamos do ambiente exclusivo de especialistas.
O dr. Gabriel Porto pediu para constar na ata um voto de louvor pelo trabalho que desenvolveram os secretaries da mesa, o que foi aprovado. Em seguida o sr. presidente passando á ordem do dia, deu a palavra ao dr. Gabriel Porto, folgando imensamente em começar por Campinas os trabalhos deste ano.
CORPOS ESTRANHOS VEGETAIS DAS VIAS AEREAS INFERIORES. ESTUDO CLINICO DE SUAS PRINCIPAIS COMPLICAÇOES - Dr. Gabriel Porto
O trabalho foi dividido em 8 capitulos: No primeiro, que serve de introdução, o A. fez um estudo estatistico dos corpos estranhos das vias aero-digestivas. Acentuou a raridade de 20 anos atraz e sua grande frequencia nas modernas clinicas de oto-rinolaringologia. Referiu-se a Killian, o pioneiro da broncoscopia e as estatisticas de Albrecht (191 1 ). Apreciou a moderna estatistica de Chevalier Jackson (1936). Estudou a evolução da broncos copia no Brasil, citando Castilho Marcondes (1915) como o primeiro que entre nós repetiu o feito de Killian. Apreciou os casos conhecidos no Brasil até 1922 verificando que a mortalidade elevou-se naquela época a 50 %. Fez apreciações sobre as modernas estatisticas de Caiado de Castro (abril 1936) e Ildeu Duarte (julho 1936). Apresentou sua estatistica e fazendo um estudo comparativo com as de Ildeu Duarte e Caiado de Castro, concluiu ser ela a maior estatistica brasileira de corpos estranhos das vias aereas inferiores - 64 casos, dos quais 48 são constituidos por corpos estranhos de natureza vegetal. Explicou esta predominancia pela situação de sua clinica em Campinas que atende a clientela proveniente das grandes fazendas do Estado de S. Paulo. Os corpos estranhos vegetais das vias aereas inferiores, com frequencia apresentam complicações registadas pelo A., em 64,5 To dos casos. O presente trabalho propõe fazer o estudo dessas complicações.
O segundo capitulo apresenta uma classificação original das complicações dos corpos estranhos vegetais das vias aereas inferiores, feita com o fim de metodizar o estudo deste trabalho.
O terceiro capitulo ocupa-se das complicações determinadas por obstrucção das vias aereas pelo proprio corpo estranho, e nele são feitos o estudo da esfixia e do enfisema, e atelectasia pulmonar. São examinadas 3 hipoteses patogenicas para a asfixia: o encravamento do corpo extranho ao nivel da glote, irritação do sistema nervo-periferico (reflexo do pneumogastrico) e o deslocamento do corpo estranho de um bronquio para o outro. São apresentadas 2 observações, uma comprovando a primeira hipotese e outra a 3.a. Registam-se os maleficios da anestesia geral já irrevogavelmente banida da endoscopia com apresentação de 2 observações antigas. O tratamento da dispneia pôde ser feito pela broncoscopia ou pela traqueotomia. Bons resultados com ambos os metodos são apresentados; a escolha de uma ou outra depende das possibilidades técnicas do. cirurgião. No sub-capitulo do enfisema e atelectasia pulmonar estuda o A. as 4 variedade: de obstrucção bronquica vulgarizadas pela escola de Chevalier Jackson apresentando um caso demonstrativo de atelectasi,, monar e refe-se a pesquisas experimentais de Hermann.
0 capitulo IV foi dedicado ás complicações ocasionacionadas - processos inflamatorios das vias aereas ocupando-se da laringotraqueo-bronquite vegetal, edema da sub-glote-pneumonia e bronco-pneumonia. Depois de breve descrição do quadro clinico da laringo-traqueo-bronquite vegetal, o A. ocupou-se da bronquite do amendoin. Descreveu sua patogenia e seu quadro clinico, referindo-se á sua elevada mortalidade. Apresentou 3 observações de bronquite araquidica. Descreveu os processos de bronquite, causados pelo milho, feijão, sementes de laranja, tangerina e lima. As sementes de melancia e os grãos de café mostram-se mais benignos. A longa permanencia agrava o prognostico. A bronquite cronica apresenta sintomatologia identica á tuberculose pulmonar; referiu-se a um caso de sua clinica, de semente de melancia com permanencia de 2 meses no bronquio. Discutiu duas hipoteses que visam explicar a traqueo-bronquite vegetal; alergia e infecção inoculada pelo corpo estranho. No sub-capitulo do edema da subglote estuda a dispneia post-broncoscopica que aparece raramente nas crianças abaixo de 3 anos, mostrando que ela deve ser atribuida mais á submersão nas proprias secreções. Apresentou relatorio minucioso dos casos em que teve de recorrerá traqueotomia e mostra que não existe razão para a pratica da broncoscopia inferior, em crianças, nos casos de corpos estranhos vegetais. Como tratamento para a dispneia post-broncoscopica condena a tubagem indicando a traqueotomia nos casos gerais. Finalizou o capitulo mostrando a raridade da existencia da pneumonia lobar e da broncopneumonia, que apresenta uma observação tipica.
O capitulo V foi destinado ao estudo das complicações determinadas por ferimento da mucosa traqueo-bronquica. O 1.° sub-capitulo, reproduz um estudo feito com a colaboração do dr. Bernardes de Oliveira sobre o enfisema mediastinico e sub-cutaneo em 1933. Neste trabalho mostra-se a eficiencia da cirurgia no tratamento do enfisema mediastinico. Depois do caso publicado pelo A. em 1933, Areski Amorim e Ismael Gusmão comunicaram no Rio de Janeiro 2 casos de enfisema mediastinico tratado com sucesso pela cirurgia. Recentemente Soulas em 1935, estuda o assunto apresentando 2 observações de enfisema mediastinico uma das quais fatal sem se referir ao tratamento cirurgico. As publicações recentes de Buzoian (1935) e Piquet (1937) preconizam o tratamento cirurgico pela incisão supra-esternais. A hemorragia e o pneumotorax constituem complicações rarissimas.
No sexto capitulo descreveu as complicações ocasionadas por processos de supuração na arvore traqueo-bronquica. Falou na raridade da coincidencia do abcesso da laringe e do corpo estranho endo-bronquico. Referiu-se a um caso de Collet e Rebattu e descreveu uma observação original. No sub-capitulo referente ao abcesso do pulmão registrou tambem a sua pouca frequencia, assinalando a diferença de prognostico entre os abcessos de outra etiologia e os determinados pelos -corpos estranhos. Publicou tambem observação original. Referiu-se á gangrena pulmonar como complicação rarissima.
No capitulo setimo foram apreciados os resultados. Dos 48 casos de corpos estranhos, 18 -evoluíram sem complicações. Com os grandes progressos da endoscopia per-oral o prognostico dos corpos estranhos das vias aereas inferiores, tornou-se bom. Abandonados a si mesmos, 2 % dos corpos estranhos eliminam-se expontaneamente, os outros 98 % podem ser extraídos pela via bucal e destes 98% curam-se. Antes da broncoscopia a mortalidade era de 50% . No Brasil em 1922 era de 50% Segundo jackson, baixou a 2% . Na estatística do A. a mortalidade foi tambem de 2 %
COMENTARIOS:
Dr. Francisco Hartung - Já conhecia o trabalho do A. e nele foi referido 98 ele de curas colhidas nas ultimas estatísticas, resultados muito animadores, mas que merecem certos reparos. Confesso que tenho grande admiração pelo colega que manobra perfeitamente o broncoscopio, transpondo todas as dificuldades, mas tenho reservas para aceitar estatísticas tão animadoras. O que estou dizendo é absolutamente sincero. Quando voltei da Europa, nos primeiros que tentei, o emprego do broncoscopio, foram casos que não escaparam da traqueotomia. Recordo-me de urna criança que sujeita ao aparelho entrou em apnéa e mal tempo de se praticar a traqueotomia.
Dr. Marro Ottoni de Rezende - Ao contrario do dr. Hartung, sou entusiasta da traqueo-broncoscopia, e nós já conseguimos extrair muita coisa desde corpos estranhos vegetais até aos metalicos e isso sem maiores prejuizos para os doentes. Se isso aconteceu em nossas mãos, o que não terá acontecido nas mãos dos drs. Gabriel Porto e Plinio Barreto? O dr. Porto acabou de referir um caso de enfisema mediastinico e o seu tratamento pela técnica da abertura do mediastino, mas isso não é novidade, pois em Berlim, após 24 horas, de um enfisema mediastinico febril já se fazia a abertura do mesmo, para evitar uma mediastinite supurada. Quanto aos corpos estranhos migrantes, esses não têm sido citados entre nós e o mais interessante é que eles não produzem pneumotorax, o que causa extranheza, muito embora as explicações dadas não satisfaçam.
Dr. Plínio M. Barreto - Lembrou ao A. que guardasse as suas estatisticas e que deixasse nelas se processar a acção do tempo, e então veria como são ilusorios esses seus primeiros resultados, e tendo já arrolados umas mil observações feitas na Santa Casa, os resultados detidos aproximam-se bastante daqueles de Ch. Jackson, mas o ponto interessante do A. é justamente a questão dos corpos estranhos vegetais e o seu numero é superior ao de qualquer endoscopista. Focalisou muito bem toda a patologia decorrente, onde reside para mim todo o maior interesse da sua exposição. Quanto ao tratamento do enfisema do mediastino lembrou o A. a traqueotomia, o que julga desnecessario praticar uma 2.a operação quando uma apenas, a mediastinotomia resolve a situação. Quanto ás suas dificuldades inerentes de sua propria clinica, todos nós compreendemos e eu tambem, ha questão de um ano, encontrei as maiores dificuldades, mas hoje já estão quasi que sanadas, tudo dependendo pois do tempo e de homens bem treinados e equipados.
Dr. Ribeiro dos Santos - Ficou bem claro que a endoscopia per-oral constitue uma especialidade bem distinta da oto-rino-laringologia, e que até nos programas das Escolas devia figurar, dada a sua importancia na nossa especialidade.
Dr. Mangabeira-Albernaz - Agradeceu imensamente a estréa brilhante de sua gestão. A colaboração do A., comunicação perfeita, didatica, magistral, pôde muito bem ser aquilatada pela discussão que suscitou, pois a discussão é o sal da sessão. Em seguida disse que um caso de uma criança que enguliu um pato de celuliode, e foi enviado a um clinico geral, que por inhabilidade, forçou o patinho de celuloide para a traquea, passando por dentro das cordas vocais. Foi chamado então um especialista ou melhor, um suposto'especialista, que depois de muito matutar resolveu receitar um remedio para dissolver o pato, caso esse unico na literatura e que por isso resolveu comunicai-o. Quanto ao fato do dr. Porto ter uma estatistica diferente da dos outros, se explica muito facilmente. Eu por exemplo que estou sozinho, quando tenho casos de corpos estranhos no istmo do esofago não envio ao dr. Porto, porque consigo extrai-los com certa facilidade, quando tenho casos de vias aereas inferiores, tambem não lhe envio, porque em geral são doentes pobres que não podem pagar e por isso resolvo-os eu mesmo com a traqueotomia, em vez de incomodar o A., que entretanto está muito bem acompanhado e dentro do melhor Hospital da especialidad,, de São Paulo.
Dr. Gabriel Porto - O dr. Hartung duvida dos 98 % dos resultados colhidos pelos AA., mas é facil demonstrar a verdade. Se, em Campinas, tendo conseguido 93 %, quer dizer 7 % apenas de mortalidade, porque Ch. Jackson e outros não podem obter 2 % ? Quanto ás minhas estatistieas elas são pequenas e ilusorias e se não me falha a memoria é a maior no nosso meio. Quanto á traqueotomia não quiz dizer, de uma maneira geral, que ela deve ser praticada em alguns casos com sucesso. Devo tambem referir que tenho ao meu lado um companheiro dedicado, Guedes, de Melo, a quem devo grande parte do nosso sucesso na endoscopia.
Em seguida foi encerrada a reunião.
|