CASOS DE AMIGDALECTOMIA ACIDENTADA
Dr. Rubens Brito
O resumo deste trabalho não foi entregue ao Serviço de Atas.
COMENTÁRIOS:
Dr. Rafael da Nova - Em relação às infecções para-faríngeas consequente a infecções tonsilares lembro a observação de um doente seu, no qual após a abertura de um abcesso periamigdaliano, desenvolveu-se uma infecção progressiva dos tecidos moles intersticiais do pescoço.
No princípio havia empastamento da região sob angulo maxilar direita e mais tarde sensibilidade dolorosa ao longo da jugular. Propôs ao cabo de dois dias a mediastinotomia colar, que só foi praticada depois de vencida a oposição inicial dos clínicos que acompanhavam o doente e quando a infiltração e crepitação já haviam atingido a furcula do esterno e o estado geral do doente bastante agravado.
Com surpresa nesse caso não foi encontrada coleção de pus.
Mais tarde desenvolveu-se necrose nítida das paredes da jugular e tecidos vizinhos, com invasão para o mediastino. Um exame retrospectivo nos mostrou que se tratava de uma trombose septica dos vasos e que a única coisa que poderia ter dado resultado teria sido a ligadura baixa da jugular e veias satélites com o fim de evitar que a trombose progredisse para o mediastino, como aliás aconteceu.
Em relação ao caso do dr. Rubens, compreende-se que êle tivesse protelado a princípio com a operação, sabido como é que as complicações da parede na amigdalectomia ou mesmo às coleções parafaríngeas pôde evoluir de maneira favorável e serem esvasiadas por via endofaríngea.
Infelizmente tratava-se de um caso de caráter invasivo e de germens hipervirulentos em que tal conduta não tinha razão de ser.
Dr. José Eugênio de Paula Assis - Felicito o presado colega pela honestidade com que relatou-nos esse caso mão de sua clínica que nos trouxe incontestavelmente ensinamentos grandes e precisos. O eu gesto revelou honestidade e desprendimento. Depois dos comentários que foram feitos, eu acho desnecessário falar mais. Estou de pleno acordo com o dr. Mario Ottoni de Rezende. Acho que se deve fazer a abertura o mais depressa possível. É a única solução que pode oferecer um caminho seguro de cura.
Em seguida foi encerrada a reunião.
Reunião de 17 de Janeiro de 1945
Presidida inicialmente pelo Dr. J. E. Paula Assis, secretariada pelos Drs. Jorge Fairbanks Barbosa e Gustavo dos Reis, realizou-se, no. dia 17 de janeiro de 1945, uma reunião da Secção de Otorrinolaringologia e Cirurgia Plástica da Associação Paulista.
Na hora do expediente o Dr. J. E. Paula Assis leu o seguinte relatório, referente às atividades da Secção durante o ano de 1944, sob a sua, presidência:
No corrente ano, realizaram-se 10 sessões ordinárias de nossa especialidade, cujas datas e relações de trabalho são as que se seguem:
18 DE JANEIRO DE 1944 - Posse da nova diretoria - Dr. Francisco Hartung: O septo e sua cirurgia. Sucessos e fracassos.
17 DE FEVEREIRO - Prof. Mangabeira Albernaz: O nódulo doloroso do pavilhão. Dr. José Eugênio Rezende Barbosa: Otite média e aguda complicada de mastoidite, mascarada pela sulfanilamidoterapia.
17 DE MARÇO DE 1944 - Dr. Frederico Müller: Sôbre a percepção das sensações acústicas. Dr. José Eugênio Rezende Barbosa: Novos rumos no tests da audição.
18 DE ABRIL DE 1944 - Dr. Frederico Müller: Amiloidose da Laringe.
17 DE MAIO DE 1944 - Dr. Antônio Corrêa: Vitaminoterapia no noma (Estomatite gangrenosa): a propósito de um caso. Dr. Sílvio Marone: Sôbre três casos clínicos interessantes.
17 DE JULHO DE 1944 - Dr. Duarte Cardoso: Fraturas do nariz. Dr. Jorge Fairbanks Barbosa: A propósito de alguns casos clínicos. Dr. Gabriel Pôrto: Das reações determinadas pela semente do cafeeiro nas vias aéreas superiores.
17 DE AGOSTO DE 1944 - Dr. Mauro Cândido de Souza: Abcesso da língua. Dr. Frederico Müller: Associação motora entre o nervo facial e os nervos motores homolaterais do pé. Dr. Rebelo Neto: Enxerto Prévio de Tiersch no fechamento das grandes perfurações palatina. Apresentação do doente.
25 DE SETEMBRO DE 1944 - Dr. Francisco Hartung: Paralisia do facial; caso atípico. Dr. Jorge Fairbanks Barbosa: Polipas da amígdala, palatina. 1
17 DE OUTUBRO DE 1944 - Dr. Francisco Prudente de Aquino: Pneumatocele por traumatismo na região frontal. Prof. Mangabeira Albernaz: Classificação das doenças da garganta.
18 DE DEZEMBRO DE 1944 - Eleição da nova diretoria. Dr. Rubens Vuono de Brito: Decurso anormal no após-operatório de amigdalectomia. Dr. Arruda Botelho: Casos de corpos estranhos atendidos na Assistência Policial.
Além dessa, houve ainda uma sessão extraordinária em 1 de agosto de 1944, em que o Dr. J. A. de Mesquita Sampaio focalizou o problema das amigdalites em patologia geral.
Houve também uma sessão conjunta de otorrinolaringologia e oftalmologia. Nesta, como relator dos oftalmologistas, falou o Dr. Armando Galo sôbre a correlação dos focos infecciosos otorrinolaringológicos com as doenças dos olhos. Dr. Mário Otoni de Rezende, falando pelos otorrinolaringológistas comentou a palestra do Dr. Armando Galo sob o ponto de vista otorrinolaringológico. Isto em 29 de novembro de 1944.
Nesta mesma sessão o Dr. Gustavo Reis apresentou dois casos clinicos ilustrando as palestras dos conferencistas.
Ainda no decorrer do ano que se findou realizou-se, em Montevidéu, o "Segundo Congresso Sul-Americano de Otorrinolaringologia". Representando a nossa Associação foi organizada uma caravana assim constituida: Drs. Mário Otoni de Rezende, José Eugênio de Paula Assis, Plínio de Matos Barreto, Homero Cordeiro, Gabriel Pôrto, Ernesto Moreira, Antônio Corrêa, Francisco Prudente de Aquino, Fábio Barreto Mateus, Roberto Dias de Oliva, Vicente de Azevedo e Jorge Fairbanks Barbosa.
A delegação paulista contribuiu para o brilhantismo do Congresso com a apresentação de vários trabalhos e de comentários aos temas em discussão. Plínio Matos Barreto, relator oficial brasileiro nesse Congresso foi, indiscutivelmente uma das personalidades de maior realce naquele certamente científico. Seu trabalho, digno dos maiores elogios, impressionou muito a todos que tiveram a fortuna de ouví-lo.
A caravana foi custeada pela Reitoria da Universidade de São Paulo e pelo sr. Interventor Federal. Aproveitamos o ensejo para deixar àquela e a êste os nossos, mais sinceros agradecimentos.
Em seguida foi dada posse à diretoria eleita para o ano de 1945, assim constituida: presidente: Dr. J. Matos Barreto: 1.º secretário: Dr. J. E. Rezende Barbosa; 2.º secretário: Dr. Fábio Barreto Mateus.
Empossada a nova diretoria o Dr. J. Matos Barreto agradeceu a sua eleição e esboçou o plano de atividade para o ano de 1945. Foram as seguintes as palavras do Dr. J. Matos Barreto:
"Prezados Colegas.
Por fôrça de circunstancias acabo de aceitar a determinação de vosso generoso sufrágio. Bem ciente estou, não foi isso senão honroso incentivo a determinado grupo, o do Serviço da Faculdade de Medicina, a cargo do Professor Paula Santos. Este ano mais se espera de sua contribuição, pois melhores possibilidades lhe acena o Hospital das Clínicas.
A vossa bondade, entretanto, culminou em me proporcionar companheiros que por si constituem garantia segura, a que a mesa desempenhe seus mistéres e não vos embarace as atividades. José Rezende, prezado amigo cujos agigantados passos de formação os tenho podido sempre assistir, e com sincera admiração, é bem o lídimo representante da magnífica escola de Mário Otoni. O Dr. Mateus, estimado colega cuja solicitude já me faz agradecido, vem trazer valiosa cooperação de um outro Serviço, recente que é, mas já modelar de organização - o do Hospital N. S. da Aparecida, sob a chefia competente e experimentada do Dr. Paula Assis.
Incapaz para á arma do discurso, mais me seduzem devaneios da ação... E, assim, apresso-me em submeter à vossa apreciação um programa para as sessões dêste ano. Dar às nossas reuniões um feitio tal que se possa fazer uma revisão coordenada aos capítulos essenciais da O. R. L., sendo aproveitado em esforço simultâneo, o contingente de cada participante.
O assunto será posto em ordem do dia por um relator, que o apresentará condensado e já digerido, em súmula de ficha, e não em forma de conferência prolixa ou de simposium de trabalhos publicados, próprios para as revistas. A esta exposição, de 3/4 de hora, seguirão os Chefes de Serviço ou seus representantes, com 10 minutos cada um, para seus pareceres e dados estatísticos. Em seguida cada consócio terá 5 minutos, para seus argumentos, observações e pedidos de esclarecimento.
Conforme o assunto, serão convidados clínicos ou especialistas afins (radiologistas, analistas, hematologistas, etc.) , cuja dissertação será sempre ao mesmo feitio, em 5 ou 10 minutos. Finalmente apresentação de pacientes, e, ao desejo dos consócios, se proporcionará demonstração objetiva de técnica, em lugar, dia e hora marcados.
E, pois, o sistema da mesa redonda, afastando um pouco a casuística esporádica ou as comunicações inopinadas.
Os temos, já de início, serão distribuídos para todo o ano; e cada Chefe de Serviço, diante do programa afixado, poderá orientar e dispor que observações sejam feitas, reunidas e oportunamente comentadas.
Com isso, todavia, não significa que se pretenda fechar a porta a quem, deseje apresentar um trabalho fora dos assuntos designados.
Seria, ao juizo dos consócios prolongada a ordem do dia, ou convocada uma reunião extraordinária.
Para relatores serão convidados os simpatizantes de cada assunto; compreendo nisto também os dignos colegas de Campinas, Santos e do Rio de Janeiro."
Passou em seguida a expor o programa:
AMIGDALITES - Patologia e diagnóstico (17 de fevereiro) ; tratamento clinico e cirúrgico; complicações (17 de março).
SINUSITES - Patologia e diagnóstico; tratamento conservativo (17 de abril). Tratamento cirúrgico (17 de maio). Complicações (17 de julho).
OUVIDOS - Otites médias e suas complicações. Diagnóstico. Tratamento (17 de agôsto). - Otoesclerose e seu tratamento. Clínico e cirúrgico (17 de setembro). Surdez - 1.º infância (17 de outubro). Escolar (estatística e profilaxia). Adulto (17 de novembro).
FARINGE - LARINGE - TRAQUEIA - BRONQUIOS - Patologia e diagnóstico (17 de dezembro). Tratamento e complicações.
Mário Otoni de Rezende - Pede para inserir em ata um voto de louvor à Diretoria de 1944. Em seguida aplaude a idéia do sr. Presidente pela nova orientação, que o mesmo pretende imprimir às reuniões, achando porém que os temas devem ser mais amplos e relatados em menos tempo.
Plínio Matos Barreto - Os relatores deveriam mostrar o material que achassem interessante nos respectivos serviços.
Guilherme Witacker - Apoia a idéia do Dr. Plínio Matos Barreto.
Rezende Barbosa - Acha que a título de experiência deve ser marcado o tema amigdalites (Patologia e diagnóstico) para a próxima sessão e indica o nome do Dr. J. Matos Barreto para relator.
A seguir foram eleitos 2 membros para a comissão julgadora do prêmio "Honório Libero", de 1944.
J. E. Paula Assis - Pede para que conste em ata a sua extranheza por não ter tido ciência durante a sua presidência da época de início e encerramento das inscrições do Prêmio "Honório Libero", pois que se esse assunto fosse debatido em plenário talvez muitos associados se candidatassem ao mesmo.
Em seguida o sr. Presidente convida os srs. Drs. Homero Cordeiro e Alvaro Alves para fiscalizarem as eleições para a escolha dos 2 membros da comissão julgadora. O resultado foi o seguinte: Mário Otoni de Rezende, 17 votos; Rafael da Nova, 15 votos; Roberto Oliva, 9 votos; J. E. Paula Assis, 4 votos; Francisco Hartung, 4 votos; Homero Cordeiro, 4 votos; J. Matos Barreto, 3 votos; Paulo Saes, 2 votos; Rezende Barbosa, 1 voto; e Angelo Mazza, 1 voto.
Assim foram eleitos os Drs. Mário Otoni de Rezende e Rafael da Nova.
Em seguida passou-se à ordem do dia, da qual constaram os seguintes trabalhos:
ESTADO ATUAL DAS RELAÇÕES OTORRINOLARINGOLÓGICAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS
J. E. de Rezende Barbosa
O fim de nossa comunicação é tratar da questão social, nacional e internacional de nossa especialidade, inclusive o estado atual e futuro de nossas relações interamericanas. Aventuramos a tanto movidos por duas razões: primeiro, para divulgar o conteúdo da comunicação do Prof. Chevalier Lawrence Jackson à, Associação Americana de Laringologia, em Junho de 1944, comunicação essa para a qual o Dr. Arthur Proetz, D. D. Diretor do Annals of Otology, Rhinology and Laryngology, de St. Louis, Mo., oficiou-nos pedindo maior divulgação, e, segundo, para relembrar o papel saliente que os especialistas brasileiros desempenharam até há pouco nessa verdadeira corrente de reuniões sociais e científicas entre os otorrinolarigologistas das Américas.
Assistimos atualmente, pelo menos entre os povos que se compreendem, como que em uma auto-defesa coletiva da civilização, um verdadeiro esforço de conhecimento mutuo, de trocas de idéias e hábitos, de verdadeira assimilação internacional. No restrito campo de nossa especialidade observa-se, também, a necessidade de maior conhecimento e intercâmbio internacional.
Poucos dentre nós guardarão, talvez, bem vivo que, na história das relações interamericanas da otorrinolaringologia, se não constitue o marco zero pelo menos daqui, dessa nossa querida capital bandeirante, nasceu uma iniciativa que vingou, cresceu, frutificou.
Ao lermos a comunicação de Chevalier L. Jackson, sentimo-nos cheios de orgulho por vermos ali assinalado um esforço sobre humano dos especialistas brasileiros e paulistas, em 1936, sem nunca o termos pensado, como um verdadeiro marco inicial dessa cadeia ininterrupta de reuniões sulamericanas de otorrinolaringologia, e, aguçou-nos a vontade de avivarmos entre nós a boa folha de serviços até aqui prestada pelos colegas bandeirantes e demonstrarmos a necessidade de mantermos sempre a iniciativa de nossas relações sociais e científicas inter americanas.
Como veremos, a comunicação de Chevalier L. Jackson à Sociedade Americana de Laringologia, diz respeito à realização do 1.º Congresso Panamericano de Otorrinolaringologia nos Estados Unidos, em ocasião próxima ou contemporanea à Reunião anual da Academia Americana. Afim de justificar perante a Academia, a necessidade da reunião do 1.º Congresso Panamericano, o Prof. Jackson faz um rápido apanhado histórico do desenvolvimento da Otorrinolaringologia sulamericana, principalmente da realização de suas reuniões científicas, destacando, como ponto de partida de todos os congressos da especialidade realizados nesta parte das Américas, a Semana Paulista de Otorrinolaringologia, reunida em 1936, em S. Paulo, sob a presidência do Dr. Mario Ottoni de Rezende. De fato, foi êsse um esforço conjugado, uma verdadeira. demonstração de força da união e maioridade científica dos especialistas brasileiros, mas o Mestre de Filadelfia desconhecia, provàvelmente, que dez anos antes se reunira, sob a liderança de Mario Ottoni de Rezende, a l.º Semana Paulista de Otorrinolaringologia, ambas patrocinadas pela Sociedade de Medicina e Cirurgia de S. Paulo.
Não precisamos insistir, todos nós o sabemos, o maior fruto colhido por essas Semanas Paulistas, foi a necessidade da reunião de Congressos Brasileiros de Otorrinolaringologia, o primeiro já realizado em 1938 no Rio de Janeiro, patrocinado pela Sociedade de Otorrinolaringologia do Rio de Janeiro, o segundo adiado pelas contingências atuais, frutificados como consequência inevitável nos 1.º e 2.º Congressos Sulamericanos de Otorrinolagringologia, reunidos em 1940, em Buenos Aires, em 1944 em Montevidéo, e indicado o Chile para patrocinar o 3.º em 1947.
Como consequência disso tudo surge lá nos Estados Unidos a idéia, já em vias de realização, da reunião de todos os especialistas americanos em um conclave: o Congresso Panamericano de Otorrinolaringologia.
Sem menosprezarmos os esforços isolados de inúmeros especialistas, anteriores ou contemporaneos ao início das Semanas Paulistas, em manter e promover maior entendimento sulamericano entre os otorrinolaringologistas, queremos assegurar que o nucleo gerador dessa intensa atividade cientifica e social teve por séde S. Paulo, ideado, realizado e orientado por Mario Ottoni de Rezende, e para cuja consecução contribuímos todos nós, agora. aqui reunidos em uma verdadeira Sociedade de Otorrinolaringologia, patrocinada pela Associação Paulista de Medicina.
Entretanto, colhidos os louros, não poderemos dormir sobre a vitória. Talvez nossas responsabilidades futuras sejam bem maiores.
Diz Lawrence Jackson que os Congressos Panamericanos subsequentes "poderão reunir-se em outras repúblicas americanas, talvez em conjunto com a reunião de uma ou outra Sociedade Latino-Americana".
É bem claro, iniciado o ciclo dos futuros Congressos Panamericanos, mais cedo ou mais tarde seremos encarregados da responsabilidade de uma dessas reuniões internacionais. E, podemos assegurar, um número incontável dos mais distintos e competentes especialistas das Américas afluirá para o nosso Brasil. Por uma razão toda especial, além do intercâmbio e difusão científica, eles aqui virão ser seduzidos pela beleza inegualável de nossa terra e decantada hospitalidade de nossa gente.
Portanto, colegas, urge desde já a necessidade de um esboço de programa de ação, a longa distância, de uma futura Comissão Nacional de Relações Otorrinolaringológicas que sirva de órgão coordenador, informador e de difusão de nossas atividades.
Existem atualmente no Brasil algumas agremiações de especialistas de otorrinolaringologia, algumas delas associadas aos oftalmologistas, todas elas trabalhando por conta própria, a maioria sem difusão de suas atividades. A nossa secção, verdadeira Sociedade, a Sociedade de Otorrinolaringologia do Rio de janeiro, a Sociedade de Otorrinolaringologia e Oftalmologia do Rio Grande do Sul, a Sociedade de Otorrinolaringologia e Oftalmologia da Bahia, entre outras, trabalhando isoladamente, não possuem um elo que as coordene a não ser as duas principais, que publicam suas atas de sessões nas páginas da Revista Brasileira de Otorrinolaringologia.
Ora, prevendo os nossos futuros compromissos internacionais, bem como a necessidade evidente, atual, de um órgão coordenador das atividades otorrinolaringológicas nacionais, que reuna a força isolada de nossas Sociedades, que faça difusão de nossas atividades científicas e sociais, que sirva de órgão informativo nacional e internacional, em suma, que seja um órgão centralizador dotado de força moral e material, igual à soma do poderio de nossas atuais Sociedades, achamos estar bem indicada a criação de uma Federação Brasileira das Sociedades de Otorrinolaringologia.
Propomos, por conseguinte, Sr. Presidente, que a Secção de Otorrinolaringologia da Associação Paulista de Medicina promova os estudos preliminares para a reunião das diferentes Sociedades de Otorrinolaringologia em uma Federação Brasileira, órgão esse com o fim exclusivo de centralizar nossas atividades sob um ponto de vista de difusão e informação, bem como, futuramente, ser o órgão responsável pela reunião de nossos Congressos nacionais e internacionais, podendo destarte, com muito maior força moral e facilidades, indicar o local de reunião, delegar poderes às diferentes Sociedades, arrecadar ou requerer às autoridades competentes os fundos necessários.
Inicialmente, entretanto, a Federação trataria de levantar uma estatística de nossas Sociedades especializadas e a lista nominativa e endereço de todos os especialistas brasileiros e manteria correspondência informativa com as diferentes Sociedades de outros países.
É claro, Sr. Presidente, que inicialmente competiria a esta Secção, patrocinadora da idéia, oficiar às outras diferentes Sociedades, Catedras de Otorrinolaringologia das diferentes Faculdades e Escolas de Medicina, Clínicas de Otorrinolaringologia, auscultando-as sobre a oportunidade ou não da mesma e pedindo sugestões a respeito. Dessas respostas dependerá o exito.
Qualquer que seja o rumo futuro, entretanto, a Secção de Otorrinolaringologia da Associação Paulista de Medicina, que congrega a maioria absoluta dos especialistas bandeirantes, guardará lembrança de que propugnou por uma etapa na evolução do congraçamento da família otorrinolaringológica nacional.
COMENTÁRIOS:
Mário Otoni de Rezende - Propôs que, em vez de Federação, fôsse dado o nome de Associação Brasileira de O. R. L.
Francisco Hartung - Acha que o termo de Federação fica melhor.
Mário Otoni Rezende - Propôs que se oficiem às diversas sociedades de O. R. L. perguntando:
1.º) Se estão de acôrdo com a criação da Federação.
2.º) Qual a sede.
3.º) Quais os membros.
4.º) Qual o presidente.
Plínio Matos Barreto - Acha que se deve começar a angariar um patrimônio para a Federação.
DIAGNOSTICO E TRATAMENTO DOS CORPOS ESTRANHOS DAS VIAS AÉREAS E DIGESTIVAS SUPERIORES E DAS COMPLICAÇÕES POR ELES PROVOCADAS (*)
Dr. Plínio de Matos Barreto
O Dr. Barreto iniciou a sua palestra, dizendo da satisfação que sentia em poder apresentar na primeira reunião presidida pelo Dr. José de Matos Barreto pelo menos uma parte da documentação do seu trabalho a respeito de corpos estranhos. Isto porque considerava o atual presidente da Secção de O. R. I,. como o principal responsável pela sua especialização. Êste trabalho será publicado, na íntegra, pela Revista Brasileira de O. R. L. Êle representa o resultado de vários anos de observações e foi apresentado como uma homenagem, também ao Dr. Mário Otoni de Rezende, ao lado de quem Dr. Barreto diz ter tido o privilégio de trabalhar desde 1938, e ter recebido sempre o melhor estímulo e apôio para as suas atividades profissionais. O autor procurou na sua coleção de corpos estranhos, que já reune mais de seiscentos casos aqueles aspectos mais sugestivos e de maior utilidade prática pára o meio médico nacional.
Verificou que uma questão ressaltava em importância sôbre todas as demais, e era constituída pelas "dificuldades no diagnóstico dos C. E. e no diagnóstico das complicações por êles provocadas".
Fêz ressaltar a importância destas dificuldades, mostrando com uma longa série de exemplos, que a falta de diagnóstico, era a principal causa da longa permanência dos C. E., que, como é sabido, constitui sempre a maior causa das complicações.
Citou os trabalhos de Chevalier Jackson e C. L. Jackson que analizaram as principais causas da falha no diagnóstico, e para apoiar a doutrina de seus professores, apresentou exemplos muito sugestivos tirados de suas observações.
O Dr. Barreto acha que uma das principais causas da dificuldade de diagnóstico está na multiplicidade dos sintomas e na falta de um sintoma de valor diagnóstico absoluto. Para orientar aqueles, que se iniciam no estudo dos problemas dos C. E. organizou um quadro sinótico, no qual fez ressaltar a importância da crise inicial de tosse, sufocação e engasgamento, e do intervalo assintomático, que a ela geralmente se segue. Fazendo referência às interessantes observações, passou em revista as principais complicações provocadas por C. E. e terminou referindo uma série de preceitos por êle geralmente seguidos, para resolver os casos de C. E. e suas complicações. O trabalho do DIr. Barreto evidencia a importância de um Departamento bem equipado para resolver todos os casos de C. E. Ele citou vários exemplos de fracassos e desastres que se acumularam devido a um equipamento inadequado, a instrumentos, improvisados e inseguros, ou a imitações grosseiras de instrumental indiscutivelmente bom.
Diz o Dr. Barreto que tantas são as dificuldades que podem surgir durante a remoção de C. E. que estas intervenções, são sempre perigosas quando praticadas por pessoas de pouca experiência. Demonstrou que a grande maioria dos casos de C. E. apenas na aparência necessita de intervenção urgente. Com simples medidas terapêuticas ou mesmo sem elas, geralmente, a violência da crise de tosse de sufocação e engasgamento, que, quase sempre aparece logo após a penetração do C. E. cede e é seguido por um período de acalmia. Nesse período a vítima pode e deve ser transportada para um centro devidamente aparelhado. Lá ele será resolvido, depois de convenientemente preparado o doente, depois que o caso foi estudado com toda a minúcia, o problema de extração teoricamente resolvido, pelos estudos radiográficos, pela escolha do material adequado e pela experimentação com uma duplicata do C. E. O difícil está justamente em saber, e poder avaliar, quais são os casos que admitem uma espera, e aqueles, sem dúvida em muito menor número que requerem intervenção imediata. Depois vem a questão também difícil, de saber qual a intervenção a que qualquer médico, ou especialista pode e, em alguma ocasião, imperiosamente deve fazer para salvar a vida de seu cliente, considerando as dificuldades de aparelhagem e instalações, que por infelicidade devamos enfrentar. Infelizmente, são sempre as pessoas de menor prática e experiência as que encontram, com maior frequência, casos para serem rotulados como de emergência.
Seguindo a excelente orientação da escola Jackson, o Dr. Barreto conseguiu alcançar a alta percentagem de mais de 98% de resultados satisfatórios, incluidos nestas estatísticas mesmo os casos já complicados por intervenções intempestivas, realizadas fora de seus serviços ou complicados pela longa permanência, quase sempre devida à falha de diagnósticos. Êle reconhece que também falharia se não dispusesse de melhor aparelhagem e não contasse com o concurso de bons auxiliares, e boas instalações para exames radiológicos, e não tivesse podido hospitalizar os casos que necessitaram de cuidados e estudos maiores.
No seu trabalho o autor refere-se com frequência às vantagens do emprêgo das sulfas e a drenagem endoscópicas das coleções purulentas da faringe ou esôfago.
COMENTÁRIOS:
Dr. J. Matos Barreto - Agradeço ao Dr. Plínio pelas suas primeiras palavras, que não comportam comentários, pelo que encerram de afetivo. Cabe-nos felicitá-lo pelo brilhante trabalho. Embora, pela premência do tempo, tenha sido exposto em resumo, ficou em nítido relêvo, quão importante é, a sintomatologia cardinal dos corpos estranhos nos diferentes segmentos das vias superiores aéreas e digestivas. Vimos que não raro, ou mesmo frequentemente, dela se descuidam - com desastrosas consequências - não só clínicos e pediatras como os próprios otorrinolaringologistas.
Em uma reunião de endoscopistas, cada um dos casos citados mereceria uma comunicação, interessando em seus pormenores de sintomas imediatos e tardios, de sua patogenia e da iniciativa individual ao resolvê-lo.
Tão útil, pois, foi esta apresentação aqui, como o seria em secção de clínica médica ou de pediatria.
Em seguida foi encerrada a sessão.
(*) Trabalho publicado na Revista Brasileira de O. R. L. n.º 4-5, 1944.
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