ISSN 1806-9312  
Terça, 30 de Abril de 2024
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685 - Vol. 13 / Edição 2 / Período: Março - Abril de 1945
Seção: Associações Científicas Páginas: 167 a 184
ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS
Autor(es):
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Secção de Oto-rino-laringologia e Cirurgia Plástica da Associação Paulista de Medicina

REUNIÃO DE 18 DE JULHO DE 1944

Presidida pelo Dr. d. E. de Paula Assis e secretariada pelos Drs. Fairbanks Barbosa e Gustavo Reis, realizou-se, no dia 18 de julho de 1944, uma reunião ordinária da Secção de Oto-rino-laringologia e Cirurgia Plástica da Associação Paulista de Medicina.

Nada havendo que tratar rio expediente, passou-se à ordem do dia, da qual constaram os seguintes trabalhos:

FRATURAS DO NARIZ
Dr. Antonio Duarte Cardoso

(Publicado na "Revista Brasileira de O. R. L.", XII: 284-296, 1944.)

O autor estuda sete casos de fratura do nariz: quatro em que a direção da força foi lateral, dois antero-posterior e um de baixo para cima. Depois de estudar as deformações causadas em cada um dêsses tipos de fratura, passa ao tratamento, onde focaliza a anestesia, o instrumental, as manobras para a redução e o sistema de imobilização.

Em todos os sete casos foi empregada para a redução o especulo de Kilian, auxiliado em alguns casos por um descolador de lâmina forte. Em quatro dos casos o tamponamento foi feito com gaze iodoformada, em dois adicionou-se à gaze iodoformada cristais de sulfanilamida e em outro foi usado o tampão de Simpson. O tamponamento de gaze iodoformada com cristais de sulfanilamida parece melhor porque a par de permitir um perfeito controle no grau de tamponamento, torna possível uma permanência mais prolongada dos tampões, uma vez que a fermentação é retardada pela sulfanilamida. Em todos os sete casos o gesso foi o material empregado para o aparelho externo de imobilização.

DAS REAÇÕES DETERMINADAS PELA SEMENTE DO CAFEEIRO NAS VIAS AÉREAS INFERIORES
Dr. Gabriel Pôrto

(Publicado na "Revista Brasileira de O. R. L.", XIII, Jan.-Fev., 1945.)

O A. apresentou um interessante estudo, documentado com diversos casos, que teve ocasião de observar, sôbre as reações especiais provocadas pela semente do cafeeiro, quando esta se localize, nas vias aéreas inferiores. Terminou concluindo que o café é um dos corpos estranhos melhor tolerados pelas vias aéreas inferiores e que tem a propriedade de aderir mais à mucosa brônquica, do que qualquer outro corpo estranho.

COMENTÁRIOS: - Dr. Plínio de Matos Barreto - O Dr. Pôrto acaba de focalizar um assunto que nós, brasileiros, temos realmente obrigação de estudar com carinho. Podemos e devemos estudar melhor as reações provocadas por esta classe de corpos estranhos, porque estamos no país do café e porque aqui é onde podemos encontrar as observações mais numerosas e com todos os tipos dêste corpo estranho: café maduro, café sêco, café moca, bourbon etc.

Sabedores de que íamos assistir a tão curiosa comunicação, fizemos uma rápida revisão nos arquivos do Serviço de Oto-rino-laringologia da Faculdade e nos do Serviço de Endoscopia Peroral da Santa Casa de Misericórdia, que dirigimos, e em nosso arquivo particular. Pudemos reunir 15 casos, dos quais 12 tratados por nós mesmos.

Estudando as nossas observações, pensamos que poderemos concluir exatamente como o Dr. Porto e afirmar que o café é um dos corpos estranhos vegetais melhor tolerados pela árvore brônquica. O Dr. Porto fez estudos muito curiosos, para determinar o grau de dilatação que pode atingir o café e compará-lo com aquele de outros corpos estranhos vegetais.

Quanto às reações provocadas pelo café na mucosa da árvore tráqueobrônquica, esta requer estudos muito cuidadosos, porque elas estão na dependência de fatores muito importantes. Todos nós sabemos que as reações provocadas pelos corpos estranhos, estão na razão inversa da idade dos pacientes e que outro fator que pode condicionar a gravidade das reações e das complicações é o tempo de permanencia. Em nossas estatísticas temos casos entre as idades de 7 meses e 6 anos e com um tempo de permanência oscilando entre uma hora e cinco meses. Em relação ao que êle diz, a respeito da maior ou menor possibilidade de produzir obstrução, e, quanto à sua explicação de que o café oferece uma superfície que deve aderir com mais facilidade à mucosa traqueobrônquica, e, uma forma que não produz mais do que uma parcial obstrução, nós diríamos que isto, realmente, pode ser assim, mas que temos encontrado grãos de café soltos na traquéia e grãos de café encravados nos brônquios. O café móca é redondinho e pode descer no brônquio axial ou penetrar em ramificações brônquicas menores e produzir enfisema obstrutivo e mais tarde atelectasia. Os grãos de café maiores não chegam a penetrar no brônquio axial, ficam na traquéia; os menores descem mais e se encravam, produzindo obstruções em áreas limitadas. Não é fácil, clinicamente, e nem mesmo radiogràficamente, demonstrar enfisemas obstrutivos nestas áreas limitadas. É coisa sabida que, para demonstrar o enfisema ou atelectasia, devemos fazer duas radiografias, uma em inspiração e outra em expiração.

Temos em nossa coleção, casos onde o enfisema obstrutivo e outros em que a atelectasia ficaram bem documentados.

Naturalmente, quando pudermos lêr as observações dos casos do Dr. Pôrto, veremos que estes pormenores não foram esquecidos. Compreendemos que êle não poderia, neste magnífico resumo, entrar em maiores especificações.

Nas 15 observações que citamos agora, há apenas um óbito: criança com sete meses de idade, corpo estranho com seis dias de permanência. Foi removido por um dos assistentes da clínica do Professor Faula Santos. Apesar da intervenção ter sido realizada com precisão e presteza, a criança faleceu de broncopneumonia, dois dias depois. Exatamente o mais jovem de todos os nossos doentinhos e com um tempo de permanência bastante prolongado para um corpo estranho vegetal.

Espero publicar, num futuro próximo, as nossas observações para juntá-las com as do Dr. Pôrto e ampliar assim a estatística brasileira.

Aproveitamos para felicitar ao Dr. Pôrto, pela iniciativa de abordar tão curioso problema.

Dr. J. E. Paula Assis - Quero agradecer ao Prof. Gabriel Pôrto pela sua excelente contribuição. Isto não é de admirar em se tratando do conferencista, pois é êle um especialista antigo e experimentado: eu acho mesmo que foi um dos primeiros que fêz broncoscopia em São Paulo com habilidade. Agradeço, particularmente às palavras amáveis com que se referiu ao convite que lhe fiz; e, se no caso houve honra nós é que a recebemos em sua visita.

Dr. Gabriel Pôrto - Estou convencido das palavras do Dr. Matos Barreto e confuso com as palavras elogiosas que recebí. Vou voltar ao assunto. Quero frisar que a questão da permanência do corpo estranho é importante: tenho caso de 28 dias e caso de 2 ou 3 meses. Quanto à idade o grosso dos doentes é de 3 anos de idade: tenho crianças com 9 meses e até com 5 anos de idade e todos evoluíram de uma forma padrão. A evolução depende muito da resistência individual. A questão da fragmentação também é importante, sendo que os fragmentos evolvem atìpicamente não se sabendo se o doente fica bom, mesmo durante um tempo muito apreciável. Assim é que por exemplo, o caso que evolveu aparentemente bem, quando, após 6 meses, a criança entrou em meu consultório em asfixia, morrendo. Entretanto pode-se dizer em conclusão geral que o café é muito benigno. Fico satisfeito em saber das observações do Dr. Barreto, que vêm em cotejo das minhas.

Dr. J. E. Paula Assis - Antes de encerrar a reunião quero apelar, mais uma vez, para que os colegas adiram em número o mais elevado possível, principalmente a fim de aumentar a contribuição de São Paulo ao Congresso Sul-Americano. As adesões são feitas aqui, na Secção, e depois são entregues ao Dr. Matos Barreto que as encaminhará.

Nada mais tendo a tratar, foi encerrada a reunião.

REUNIÃO DE 3 DE AGOSTO DE 1944

Presidida pelo Dr. J. E. Paula Assis, e secretariada pelos Drs. Jorge Fairbanks Barbosa e Gustavo Reis, realizou-se no dia 3 de agôsto de 1944, uma reunião extraordinária da Secção de Oto-rino-laringologia e Cirurgia Plástica da Associação Paulista de Medicina.

Nada constando do expediente, passou-se à ordem do dia, na qual foi apresentado o seguinte trabalho:

O PROBLEMA DAS AMIGDALITES EM PATOLOGIA GERAL
Dr. J. A. de Mesquita Sampaio

(O trabalho se acha publicado na íntegra. Veja "Revista Paulista de Medicina", vol. XXVI, págs. 1-16, janeiro, 1945.)

COMENTÁRIOS: - Dr. J. de Matos Barreto - Permita-me, Sr. Presidente, que a respeito de pontos visados em comentário do Dr. Mário Otoni, eu colabore com algumas palavras realçando, de início, que a prova de Viggo Schmidt sôbre ser uma documentação precisa e fundamentada ao rigor histopatológico, tem a sua indicação restrita, mas muitas vêzes imprescindível. Prova tão complexa. dispendiosa no sentido tempo e econômico, como acaba de ser referido, evidentemente não se destina a figurar como uma documentação propedêutica a mais a lado do longo e banal cortejo sintomático de uma amigdalite crônica. Mesmo na questão de amigdalite infectante e não infectante a indicação subsiste apenas na circunstância de mais de um foco, sobretudo quando vizinho (dentário, sinusiano). É imprescindível, todavia, diante de um caso de infecção focal, cujo ponto de partida amigdaliano, admissível mas incerto, apresente sintomatologia escassa, quase nula ou mesmo nula. A documentação é, então, precisa e farta; muito convincente a quem, por obstinada convicção ou espírito de magister dixi, de ante-mão recuse a hipótese de um foco, baseando-se, às vêzes, em um unico hemograma "pouco significativo"... É de maior interesse, quando se encaram os fenômenos de anacoresis; focos reacionários aparentemente estéreis ou latentes, como granulomas dentários ou amigdalites simples, que, em dado momento, ao se ter removido um foco primário, em virtude da dispersão bacteriana, venha se reativar, impedindo, assim, a cura do estado mórbido. De modo idêntico em referência aos estados de hiperergia e anergia.

Como se vê, pois, o interesse não paira apenas sobre as amígdalas. Nesta mesma feição de pesquisa pela hemossedimentação, tem-se procurado determinar a exacerbação ou atividade de um granuloma dentário pela excitação diatérmica. Breve aparecerão, de certo, provas idênticas para os seios da face.

Outrossim, permita-me dizer, que ainda hoje se vê, a cada passo, muito descurada ou ignorada a questão da infecção focal, ou seja da relação de causa e efeito entre focos e tão numerosas afecções. Fôsse visto por muito clínico um quadro de Paessler! ...

Dr. Francisco de Paula Pinto Hartung - Ouvimos muitas palmas quando terminou o Dr. Mesquita Sampaio, a sua luminosa preleção. Palmas que todos nós sabemos que o Dr. Mesquita tem todo o direito a elas. Não só pelo magnífico trabalho apresentado, como também pelas qualidades que todos lhe reconhecemos. Não é de hoje que conheço Mesquita Sampaio. Já de longa data sei do seu entusiasmo pela medicina, do caráter iminentemente científico que imprime às suas atividades e da sua honestidade científica no exercício de nossa profissão. Por isso vimos trazer o nosso abraço sincero e amigo não só pela dissertação de hoje como pelo brilhantismo com que a equipe científica compareceu ao Rio, disputando e conquistando o prêmio Alvarenga, equipe essa onde culmina a figura de Mesquita Sampaio, ao lado de outros colegas não menos distintos e de valor, os Drs. Azevede, Paula Silva e Matos Barreto.

Infecção focal. Amígdalas. Eis um assunto no qual a nossa responsabilidade é tremenda.

Mesquita disse Billings. Por causa dêle lembrei-me de Eagleton. Todos nós conhecemos esse vulto admirável da nossa especialidade. Lembrei-me de uma vez, por ocasião de um congresso, que aqui apareceram muitos colegas americanos. Foi então que conheci Eagleton, pessoalmente, no serviço do Instituto de Radium, na Santa Casa. Impressionei-me com êle e arrisquei-me a interpelá-lo. Indaguei dêle mais alguma coisa sôbre a intimidade da apófise mastóide e o esfenóide, porque me recordara de artigos dêle, que eu havia lido. Indaguei também de possibilidades de infecção focal. O grande nome americano olhou-me alguns segundos pausadamente, e depois perguntou-me, em cheio: "But at last what is focal infection?" Deixei no original inglês primeiro para não sacrificar o gênio da língua. Dizia êle com ênfase: "Mas afinal o que é infecção focal?" É evidente que Eagleton não queria significar cepticismo. É sabido ser um dos mais convencidos da infecção focal como uma concepção de patologia definitivamente consagrada. Mas se Eagleton, na sua reputação, na sua capacidade, na sua experiência, na sua idade, no caráter filosófico, que imprime aos seus estudos, vivendo num país do recurso dos Estados Unidos, que se imagine quais são as dificuldades com que lutamos em um país das possibilidades economicas do nosso povo.

Eis porque eu disse que Mesquita Sampaio merece todo o nosso aplauso bem como os colegas, que se entregaram a tal estudo, porque, de fato o problema da amígdala como infecção focal é tremendo. Todos nós, creio que não haverá contestação, apesar cio prestígio e da popularidade da operação de amigdalectomia, com certa freqüência assistimos a doentes portadores de amígdalas definitivamente condenadas negarem-se à operação. Temos a obrigação de defender êste patrimonio científico, porque os reumáticos, os nefríticos e cardiópatas estão a clamar e a pedir que não deixemos cair em descrédito essa cirurgia tão benéfica e proveitosa. Mas não é só. Não é só o interêsse isolado do cliente que está em jogo. Todos percebemos o que se está formando para o mundo "post-belum". A medicina social e as grandes profilaxias sociais. Ainda agora acabo de receber documentos neste sentido. É conhecido o conselho de profilaxia da cegueira, nos Estados Unidos, do qual é representante aqui, o Dr. Moacir Alvaro. E ele agora mandou-me um programa relativo a um trabalho análogo, que já começou com fins de profilaxia social da surdez. Ora, para quem conhece a importância das amigdalites e adenoidites na patologia satélite do ouvido médio, julgará da necessidade de defender as bases científicas do estudo dêstes capítulos de patologia. Ainda agora sabemos que será êste o tema do relato argentino, confiado ao Prof. Segura, para o próximo congresso de Montevideo. Será tratando a criança, e a operando, que mais tarde não teremos de lutar por profilaxia, em casos de otites graves com osteites ou com catarros e otites adesivas de prognóstico irremediàvelmente mau e insolúvel. Eis porque felicitei Mesquita Sampaio, e ainda vou lhe levar o meu abraço de parabens pessoalmente, ao findar a reunião.

REUNIÃO DE 17 DE AGOSTO DE 1944

Presidida pelo Dr. J. E. Paula Assis, e secretariada pelos Drs. J. Fairbanks Barbosa e Gustavo Reis, realizou-se, no dia 17 de agosto de 1944, uma reunião ordinária da Secção de Oto-rino-laringologia e Cirurgia Plástica da Associação Paulista de Medicina.

Aberta a sessão, o Sr. Presidente comunicou que a convite da Sociedade de Oftalmologia de São Paulo, deverá ser realizada no mês de novembro de 1944, uma reunião conjunta para serem tratados assuntos de interesse de ambas as especialidades. O tema escolhido foi o de "infecções focais oto-rino-laringológicas e suas relações com o aparelho visual".

Por sugestão do Sr. Presidente, e por aclamação unânime da Casa, foi escolhido para relator do referido tema o Dr. Mário Ottoni Rezende.

A seguir, pediu a palavra o Dr. Jorge Fairbanks Barboza, que fez a apresentação à Casa do Dr. Quinones Cabral, oto-rino-laringologista paraguaio, que se encontra atualmente entre nós, em viagem de estudos.

O Sr. Presidente o convidou para tomar parte à mesa, como convidado de honra.

O Dr. Quinones Cabral agradeceu a gentileza.
Pediu ainda a palavra o Dr. Plinio Matos Barreto, que relatou as últimas providências que foram tomadas com referência à ida da representação brasileira ao próximo Congresso Sul-Americano de Otorino-laringologia, a reunir-se no Uruguai no próximo mês.

Nada mais havendo a tratar no expediente, passou-se à ordem do dia, da qual constaram os seguintes trabalhos:

O ENXÊRTO PRÉVIO DE MUCOSA BUCAL NO FECHAMENTO DAS GRANDES PERFURAÇõES DO PALATO DURO - APRESENTAÇÃO DO DOENTE

Dr. J. Rebelo Neto

O A. descreve com pormenores uma técnica destinada a dar maior solidez aos tecidos disponíveis ao lado das perdas de substância de grande porte existentes na abóbada palatina e que vão servir para obliterá-las. Consiste em descolar esses tecidos laterais numa operação preliminar, forrando-os com o tecido mucoso totalmente destacado da face interna das bochechas. Ao executa o segundo tempo, de fechamento definitivo, tem-se à disposição um espêsso retalho epitelizado pelos dois lados. Divulga um artifício de técnica destinado a facilitar a retenção dêsses retalhos sôbre o palato duro, exibindo o aparelhamento criado para tal fim. Um doente operado por esse processo compareceu à reunião e foi examinado pelos presentes.

ABCESSO DA LíNGUA

Dr. Mauro Cândido de Sousa Dias

O A. apresentou um caso de abcesso crônico, central do corpo da língua, localizado no espaço inter-genioglosso. Analisa rapidamente a literatura nacional acentuando o nome de Mangabeira Albernaz. Chama a atenção para a localização particula da coleção purulenta citando um único caso semelhante ao seu encontrado na literatura compulsada. Termina citando a via de acesso atípica que usou para a cura cirúrgica do seu caso.

COMENTÁRIOS: - Dr. Plínio de Matos Barretto - Aqueles que, com mais frequência, atendem a casos de corpos estranhos das vias aéreas e digestivas superiores, devem ter, em suas estatísticas, pelo menos alguns casos de abcessos da língua. Corpos estranhos, por manobras intempestivas, podem mergulhar e desaparecer na língua e aí provocar abcesso. Se, desde o início, observamos as vítimas de acidentes como êste, é frequente notar no ponto onde penetrou o corpo estranho, uma maior reação dolorosa e congestiva, que pode aparecer no segundo dia e acentuar-se depois. Uma compressão aí feita, entre os dois ramos de uma pinça aberta, algumas vêzes consegue fazer aflorar o corpo estranho e permitir a sua remoção. Quando estes cuidados não são tomados de início, o caso pode evoluir para abcesso e ,então, o que devemos fazer é abrir para dar ampla drenagem à coleção purulenta e, com frequência, assistir à expulsão do corpo estranho, junto com pús e tecido necrosado.

Em nossos serviços, temos três casos em que os doentes chegaram com volumosos abcessos, todos tratados desta maneira e que evoluíram muito bem.

ASSOCIAÇÃO MOTORA REFLEXA ENTRE O NERVO FACIAL E A INERVAÇÃO DOS MÚSCULOS DO PÉ HOMOLATERAL

Dr. Frederico Muller

(O trabalho se acha publicado na íntegra na "Revista Paulista de Medicina", vol. XXVI, págs. 164-166, Março de 1945.)

REUNIÃO DE 25 DE SETEMBRO DE 1944

Presidida pelo Dr. J. Paula Assis e secretariada pelos Drs. Jorge Fairbanks Barbosa, realizou-se, no dia 25 de setembro de 1944, uma reunião ordinária da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.

No expediente, foi escolhido o nome do Dr. J. Rebêlo Neto para representar a Secção no próximo Congresso de Cirurgia Plástica, a realizar-se na América do Norte.

O Dr. J. Rezende Barbosa prestou alguns esclarecimentos relativos ao "Prêmio del Rio", já discutido em reunião anterior.
Nada mais havendo a tratar no expediente, passou-se à ordem do dia, da qual constaram os seguintes trabalhos:

PARALISIA DO FACIAL; CASO ATÍPICO

Dr. Francisco Hartung

(Publicado na "Revista Brasileira de O. R. L.", XII: 427, 1944.)

O caso interessa pelo inesperado da sua evolução. Uma senhora apresenta uma otite média particularmente violenta. Dores fortíssimas no ouvido, febre muito alta e paralisia do facial. A paracentese é feita incontinenti. A otite evolui bem, tendo a paralisia, que não era muito completa, desaparecido em, 48 horas. Dentro de 9 dias nada mais havia da otite, quando, inesperadamente de novo reaparece a paralisia. Desta vez, porém, não haviam nem congestão do tímpano, nem febre. Por isso,
não foi renovada a paracentese. Apesar desta atitude conservadora. apenas com tratamento medicamentoso e galvânico, regrediram, embora lentamente os fenomenos paralíticos, que acabaram por desaparecer de todo em 12 dias aproximadamente. Ficou assim demonstrado que houve uma coincidência. Enquanto a primeira paralisia era realmente de causa otogênica, e por isso regrediu muito depressa com a descompressão da caixa, a segunda, ao contrário, era de natureza diferente, naturalmente de tipo a frigore.

COMENTÁRIOS: - Dr. Rubens V. de Brito - Diz que o trabalho do Dr. F. Hartung revela o seu reconhecido bom senso e sua grande experiência clínica. Refere-se à possibilidade de confusão, nos primeiros instantes, com herpes zoster - que, aliás, outros sinais confirmariam ou não. O fato mais interessante da comunicação é o de ter sido o nervo facial atingido por 2 vezes - sendo também de opinião que a 1.ª vez foi de causa infecciosa e a 2.ª "a frigore".

Dr. F. Prudente de Aquino - O presente caso é muito interessante. As paralisias "a frigore", geralmente cedem com o tratamento, adequado, como foi o que aconteceu no presente caso.

Dr. Rezende Barbosa - Se a primeira paralisia não houvesse desaparecido dentro de 48 horas, talvez a necessidade de se intervir sôbre a mastoide fosse inadiável. Quanto à 2.a paralisia, já apareceu num terreno pré-disposto. Devemos insistir aquí sobre a questão do vaso-espasmo, principalmente sôbre o que se refere à irrigação do facial, que pode explicar estes casos de paralisia "a frigore".

Dr. Roberto Oliva - Desde que se suspeite da origem otítica da paralisia do facial, deve-se intervir e isto é capital. Já tivemos ocasião de tratar 2 casos de paralisia do facial que tiveram origem em uma otite média supurada, e ambos os casos tiveram cura completa.

O Sr. Presidente agradeceu o trabalho.

POLIPO DA AMÍGDALA PALATINA

Dr. Jorge Fairbanks Barbosa

(Publicado na "Revista Brasileira de O. R. L.", XIII, 1945.)

O A. apresentou 2 casos de volumosos polipos com inserção, nas amígdalas palatinas. Ambos eram constituidos por massa globosa do tamanho ou pouco maior que um ovo de pomba, de consistência fibrosa, brilho nacarado, prêsa por fino pedículo fibroso, muito resistente.

Fez um rápido estudo da bibliografia, mostrando a grande raridade dêstes casos.

Em seguida foi encerrada a reunião.

REUNIÃO DE 17 DE OUTUBRO DE 1944

Presidida pelo Dr. José E. Paula Assis e secretariada pelos Drs. Jorge Fairbanks Barbosa e Gustavo Reis, realizou-se no dia 17 de outubro de 1944, uma reunião ordinaria da Secção de Oto-rino-laringologia e Cirurgia Plástica da Associação Paulista de Medicina.

No expediente fez uso da palavra o Dr. Francisco de Paula Pinte Hartung, que disse o seguinte:

Sr. Presidente.

Devo começar pedindo aos colegas que me desculpem se lhes tomo algum tempo de atenção. Mas eu preciso falar no expediente. Trata-se de um assunto que apesar de não ser própriamente médico, contudo diz respeito à medicina. Suponho que os colegas se recordam que, em 1939, fui relator brasileiro, Em Buenos Aires, do tema de "Leishmaníase das mucosas". O abjeto de agora diz respeito a êle, não obstante os anos que já se passaram. Pois apesar dêsse tempo, vim a saber agora que fui vitima de algumas censuras, por parte do Dr. Andres Cornejo, um colega de Salta, censuras essas que não devem passar um reparo. Não é minha intenção, de modo algum, provocar polêmicas ou desassocego, mas estou na obrigação moral de explicar aos colegas alguma coisa, à guisa de depoimento, uma vez que fui acusado.

A minha ida a Buenos Aires, para o Congresso da Soc. Rio Platense, como relator, foi resultado de um convite do Dr. Tato, no Rio de Janeiro, em 1938, por ocasião do primeiro congresso brasileiro da especialidade. O assunto foi por êle mesmo proposto, alegando que eu devia conhecê-lo. Respondi a Tato que, embora honrado, ia pensar um pouco, porque não tinha certeza de pôr-me em dia com a parte histórica da matéria, parece essa que aliás pertence mais à dermatologia do que a nós. Como porém depois Tato gentilmente insistisse, resolvi seguir. Na premência do tempo, ampliei a minha tese de formatura, que também tinha o mesmo objeto, mas não tive probabilidade de pôr em dia a literatura, fato pelo qual o próprio Tato não se interessava, porque era combinação dar um aspecto eminentemente clínico ao trabalho. Nada citei assim a não ser o que tinha à mão, na minha tese de 1920. Apenas Mário Ottoni e Barreto, aos quais eu havia assistido em sessão. Nem a reação de Montenegro eu desenvolvi, sendo que o amigo Oliva aqui me objetou, e com razão. Qual não foi pois o meu espanto, quando vim a saber das acusações do Dr. Cornejo, no sentido de que eu, de caso pensado, omitira a contribuição dos argentinos, porque me convinha por motivos inconfessáveis. Nada mais lamentável.

Como aparecer a literatura platina, quando segundo o proprio Cornejo, as primeiras publicações datam de 26 ou 27? Devo acrescentar que Cornejo não diz se o trabalho é bom ou se é mau. Aliás não tenho nisso o menor interêsse, e como disse, não quero abrir uma polêmica. Mas devo dizer alguma coisa em protesto, porque o Dr. Cornejo, nas suas críticas, não atacou só a mim. Agrediu também nomes notáveis em nosso meio. Infelizmente. Agrediu Evandro Chagas, herdeiro do nome glorioso, acatadíssimo do seu pai, e o Dr. Sousa Araújo, que todo o mundo sabe ser uma das maiores autoridades brasileiras em relação à lepra. E o mais triste: Evandro Chagas é morto há mais de dois anos. Não pode protestar!

Depois de muito mau humor, inclusive com alguns dos seus patrícios, o Dr. Cornejo chega no caso Neiva Barbará. Aqui se complica a situação, porque sou eu que ataco. Conheço bem o caso. Ele me acusa e repete de não ler bibliografia, que tenho a lealdade, no próprio trabalho, de confessar. Não li bibliografia. É bem verdade. Não citei o histórico. Displicência ou negligência, se não aceitar as razões apontadas, mas houve sinceridade. E a êle falta solidez histórica. A expressão não é minha, mas de Romain Roland. O caso de Neiva, que êle concretiza. De fato, quando Neiva, de Manguinhos, foi à Argentina, a convite, e verificou um caso de leishmaníase, já o outro, o Dr. Patterson, demonstrara, o parasito em outro doente. É o próprio Neiva que o cita na sua lealdade. Houve apenas uma diferença. Enquanto Neiva, de volta a Buenos Aires, vira, em Salto, o caso, fez uma conferência e publicou o assunto, o Dr. Patterson não o fez. Não publicou. Dãí a minha asserção de ser primeira a de Neiva. E de fato é.

Creio ser o suficiente. Não ataquei. Defendi-me e dou por encerrado incidente tão desagradável. Tenho muitos e bons amigos, em Buenos Aires, os quais estimo e considero, e que nada têm a vêr com as atitudes dos colegas do interior.

A seguir passou-se à ordem do dia, da qual constaram os seguintes trabalhos:

PNEUMATOCELE POR TRAUMATISMO DA REGIÃO FRONTAL

Prof. Paulino Longo, Drs. Aloísio de Matos Pimenta e Prudente de Aquino

Os autores apresentam um caso de traumatismo da região frontal (coice de cavalo) que determinou graves consequências, tais como afundamento e luxação dos ossos próprios do nariz e região do seio frontal. Supuração e fistulização da região interna da órbita direita e hemorragia nasal intensa.

O paciente permaneceu no interior com curativos locais, até que, no 8.° dia, apareceu-lhe secreção aquosa nasal e fortes dores de cabeça. Assim permaneceu sem apetite, com alternativas de cefaléia e temperatura elevada, até que no 20.° dia do traumatismo começou a falar em coisas desconexas (viagens), porém conhecia as pessoas. Veio à Capital onde consultou o Prof. Paulino Longo que encontrou: desorientação tempo-espacial. Memória para os fatos recentes diminuida; memória pregressa conservada. Inversão do ritmo do som. Onirismo; irritabilidade, completando pois o sindromo confusional pós-traumático.

Exame neurológico: normal.

Foi solicitado um exame de liquor que demonstrou predominância linfocitária, cloretos, aumento de células (24,4xmm3) reações de Pandy, Nonne, Appelt, Weichbrodt - opalescentes, reações de Benjoin e Ouro para irritação meningéia.

O exame especializado revelou: fistula supurada na região orbitária direita, com afundamento dessa região e ossos próprios do nariz. Secreção nasal aquosa com laivos de sangue.

Foi solicitada uma chapa radiográfica, pois suspeitava-se que o paciente já apresentasse um foco de osteomielite, pois já eram decorridos mais de 30 dias do traumatismo.

Relatório do radiologista:

"São Paulo, 18 de fevereiro de 1944.
F. J. F. - Exame: Cabeça: Frente e perfil. - Mentonariz e Rhese bi-lateral.

Indicação: Dr. Francisco Prudente de Aquino. Examinando-se as radiografias nas várias posições, observa-se uma imagem de pneumocrânio traumático na zona frontoparietal direita.

Nota-se que houve introdução de grande quantidade de ar na zona acima descrita em consequência de fratura cominutiva da borda posterior do seio frontal, do rebordo superior da órbita e do etmóide no lado direito.

Assim, a lesão assume o aspecto radiológico da chamada pneumatocele do tipo intra-craniano, tendo o ar se colecionado profundamente no espaço sub-dural da região fronto-parietal direita.

O aspecto ovalar da pneumatocele exclui a existência concomitante de líquido.

Na radiografia mento-nariz-chapa nota-se que a fratura é estrelada, cominutiva, havendo várias formações de esquírulas osseas atingindo a parede posterior do seio frontal e o rebordo superior da órbita direita.

Na posição de Rhese direita, os vários traços de fratura são visíveis na face posterior do seio frontal direito e do etmóide.

(a) Dr. Carmo Mazzilli."

"São Paulo, 30 de março de 1944.

F. J. F. - Exame: Cabeça: Frente, perfil e mento-nariz-chapa (após intervenção cirúrgica).

Indicação: Dr. Francisco Prudente de Aquino.

Observa-se que houve grande diminuição do pneumocrânio, sendo que o ar colecionado quase não mais existe.

(a.) Dr. Carmo Mazzilli."

Foi solicitado igualmente exame de urina, tempo de sangria e coagulação, que nada revelou de anormal. Pelo resultado da chapa e como não tinhamos certeza que sòmente existisse ar na formação descrita radiologicamente, solicitamos exame do fundo de olho.

Exame feito pelo Dr. Paulo Braga Magalhães:

Nada foi encontrado de anormal no fundo do olho. Estavamos pois habilitados a indicar o tipo de intervenção que foi realizado no Sanatório Esperança, juntamente com o Dr. Aloísio Matos Pimenta.

Descrição pré-operatória e pós-operatória:

Pré-operatório: Botropase mais coaguleno (20 cc.) e nembutal -em cápsulas na véspera e ½ hora antes da intervenção (2 cápsulas).

Anestesia geral pelo tio-nembutal (Pentotol-sódico) ½ grania em 10 cc. de agua destilada.

Operação do Sr. L. F. J. F.
Após cuidadosa desinfeção da região dos super-cílios, procedemos à incisão que se estendeu, desde o rebordo externo da orbita direita até a raiz do dorso do nariz, a altura da região ande havia afundamento de parte dos ossos próprios do nariz. Prolongamos a incisão por essa região e estendemos por tôda a região do super-cílio esquerdo até ao rebordo externo.

Como não encontrassemos o periósteo, aprofundamos a incisão até à luz dos seios frontais. Imediatamente saiu secreção purulenta em regular quantidade. A táboa externa do seio frontal estava destruida, numa altura de 2 cms. desde a porção média do seio direito, até ao seio frontal do lado esquerdo. Os ossos próprios estavam igualmente fraturados e afundados.

Descolamos o periósteo nas bordas fraturadas e alargamos e, incisão amplamente. Isolamos pois um retalho para cima e outro para baixo, o que facilitou ampla exposição de ferida operatória. Curetamos cuidadosamente os seios direito e esquerdo que se apresentavam cheios de uma massa purulenta, composta de restos ósseos da táboa externa, tecido de néo-formação fibrosa e mucosa dos seios.

Retirada tôda essa massa, observamos que a táboa interna se apresentava fraturada e com soluções grandes de continuidade.

Retiramos cuidadosamente essa parede e expusemos a duramater.

Felizmente ela se apresentava íntegra e de coloração normal numa extensão de 4 centímetros mais ou menos, à excepção de uma pequena superfície na porção média onde a coloração era diferente das demais porções.

Após desinfeção com tintura de mertiolato da superfície exposta da dura, com agulha grossa fizemos uma punção na superfície que nos pareceu ser o ponto, onde antes sofrera uma solução de continuidade.

A agulha foi aprofundada numa distancia de 3 a 4 centímetros na direção do lobo frontal direito: aspiramos cuidadosamente e apenas veio à seringa ar do pneumatocele em pequena quantidade (5 cc., mais ou menos).

Mudamos a agulha ligeiramente, para tres ou quatro direções diferentes e nada mais obtivemos que pouco ar, a aspiração da seringa.

Fizemos ampla drenagem pelo canal naso-frontal direito e colocamos um dreno de borracha (n.° 16). Espalhamos por toda a ferida operatória urna empola de prontosil rubrum. Após cuidadosa revisão e acêrto das bordas osseas e cutâneas, procedemos ao fechamento da ferida operatória com fios de seda. Curativo local com ligeira compressão.

Pós- operatório:

Sóro glicosado hipertônico na veia (20 cc. a 50 %) mais Botropase.

Após três horas acordou calmo e pouco a pouco voltou a si. pelo dreno nasal saia secreção sanguinolenta pouca que foi aumentando. até ao 4.° dia, quando se tornou sero-sanguinolenta.
Essa secreção saiu durante 8 dias mais ou menos. Curativos locais, que consistiam em lavagens pelo dreno com sôro fisiológico e Dakin e instilação de prontosil rubrum (em solução) pele dreno em dias alternados.

Os fios de seda após 8 dias foram retirados e a cicatrização deu-se por 1.° intenção de toda a ferida operatória, conforme pode-se verificar pela fotografia do paciente.

Pela destruição de parte da parede anterior do seio frontal, permaneceu ligeiro afundamento dessa região. O dreno foi retirado 8 dias após e substituido por outro até o 12.º dia, quando foi definitivamente retirada com a cessação da secreção sero-sanguinolenta nasal.

Não mais sentiu dores de -cabeça, ou qualquer outro incomodo.

Alimentava-se perfeitamente bem e já começava a andar no seu quarto. Não teve temperatura ou outro sintoma que nos preocupasse, a não ser a cuidadosa observação da sua evolução e regressão dos sintomas.

36 dias após tirou a segunda radiografia que verificamos apresentar completo desaparecimento da pneumatocele. Por se achar bem, autorizamos o paciente a regressar à sua terra natal, com recomendações e tratamentos vitaminicos e reconstituinte geral.

Foram feitos comentarios a respeito dos seus principais sintomas: rinorréia, pneumatocele, perturbações psíquicas. A rinorréia mostrava que as meninges foram, por ação do traumatismo, atingidas e decorridos quase um mês do acidente ainda permanecia com solução de continuidade, não tendo a rinorréia cessado expontâneamente, prejudicando, pois, que medidas quer de ordem clínica, quer cirúrgica se faziam necessárias.

A ligeira anosmia que o nosso paciente sentia indicava que a fratura se estendia desde a região frontal, até à etmoidal anterior, respeitando a lâmina crivada do etmóide.

Após considerações de casuística e tratamentos cirúrgicos, os autores insistem na cuidadosa desinfecção nasal que nestes casos é primordial, para evitar infecções ascendentes. A pneumatocele estendia-se, radiologicamente ao lobo frontal e parietal direito. Classificam-se segundo Pancoast: em extra e intra cerebrais. Extra-cerebrais assemelham-se a enfizemas cutâneos e são localizados entre o periósteo e paredes ósseas. Os intracerebrais, conforme a sua localização, podem ser: a) subdurais; b) sub-arachnoideos; c) cerebrais; d) ventriculares.

Radiologicamente encontramos coleções unilaterais de ar nos tipos sub-durais e cerebrais, nos tipos sub-arachnoideos e ventriculares, imagens bilaterais, devido à livre comunicação dos espaços.

No nosso caso, se bem que o aspecto radiológico seja de um sub-dural, não podemos deixar de pensar no sub-arachnóideo, pois a rinorréia demonstrava claramente que êste espaço também foi atingido. As perturbações de ordem psíquica que o nosso paciente apresentou entre o 20.° e 25.° dia, do tipo do síndromo confusional pós-traumático demonstrava claramente que o traumatismo intenso tinha irritado de uma maneira evidente o lobo frontal. Felizmente a orientação conservadora e enérgica do nosso caso, a par do desaparecimento de todos os seus sintomas, nos permitiu que no 36.° dia o paciente voltasse à sua terra natal, completamente bom, apresentando apenas ligeiro afundamento da táboa externa da região frontal. As informações que termos tido, nos revelam que êle continua em ótimas condições.

DA CLASSIFICAÇÃO DAS INFLAMAÇÕES DA GARGANTA

Prof. Dr. P. Mangabeira-Albernaz

Publicado na "Revista Brasileira de O. R. L.", XII: 401-426, 1944.)

A confusão existente entre as várias afecções inflamatórias da garganta decorre não só de imprecisão na terminologia, momo de orientação restrita no critério em geral adotado pelos que se têm ocupado do assunto. Por êsse motivo, diferem as classificações de autor para autor, quando não são omitidas eu evitadas, como se observa na maioria dos tratados da especialidade.

A palavra angina, têrmo médico antigo, anterior a Galeno, não é hoje usada na acepção em que o foi na época do grande médico. Para êle, angina era "a constrição da garganta, com perturbações da deglutição e da respiração, acompanhada de sintomas decorrentes da inflamação, falsa ou verdadeira, da garganta e da laringe".

Vários autores opinam que é puramente teórica a inflamação isolada das amígdalas palatinas, ou dêsse ou daquele setor da faringe. Da angina participariam sempre tôdas as partes do anel linfático de Waldeyer. Isto, porém, não é exato. Sabemos que, como também acontece nas fossas nasais e no aparelho auditivo, os processos inflamatórios são difusos, mas predominam em determinadas zonas: não há sinusite sem rinite, nem mastoidite, sem otite, ainda quando ninguém se preocupe com a inflamação menos intensa que é, no primeiro caso, a rinite, no segundo, a otite. O processo em verdade, atingindo toda a região, torna-se mais acentuado numa parte dela. A não ser assim, como admitirmos, num órgão de estrutura tão complexa e ao mesmo tempo de tamanho tão reduzido, como é o olho, restringir-se a inflamação a um de seus componentes, ora a esclera, ora a íris, ora a retina, ora a coróide etc.?

A amígdala é um órgão anatômico, histológico e talvez fisiologicamente independente; sua inflamação só pode ser chamada amigdalite. A faringe, por sua vez, tem autonomia anatômica e histológica; a inflamação dessa parte da garganta só poderia ser faringite. De acôrdo com a definição concisa e precisa de Galeno, angina é o processo inflamatório global de todo o istmo. Temos, pois, logicamente:

amigdalite + faringite = angina.

Partindo dêste postulado, que torna precisa a terminologia, temos que classificar as afecções inflamatórias da garganta de acôrdo com as três espécies de processo.

As amigdalites podem ser agudas e crônicas. As agudas compreendem sete tipos: 1) as eritêmato-catarrais ou simples, englobando a eritematosa, a catarral, a mucosa, a serosa etc., tipos todos puramente teóricos; 2) as pultáceas (às vêzes erractamente chamadas foliculares) ; 3) as crípticas ou lacunares; 4) as fibrino-purulentas ou pseudo-membranosas (a - diftérica; b - fuso-espiroquética, tipo difteróide, c - por piogênicos - estreptococo, estafilococo, pneumococo etc.) ; 5) ulcerosas; 6) úlcero-necróticas; 7) abcedantes. As crônicas são apenas três: 1) as crípticas (purulentas, caseosas, calculosas e córneas, designando êstes o que erradamente se chama micose da amígdala ou amigdalomicose) ; 2) as hipertrófico-hiperplásticas, em que se enfeixam a hipertrofia vulgar e as hiperplasias das leucemias, da linfogranulomatose, dos granulomas; as ulcerosas (sífilis, tuberculose, actinomicose etc.)

As faringites agudas cindem-se em: 1) eritêmato-catarrais; 2) foliculares; 3) ulcerosas; 4) hemorrágicas (apoplexia do véu) ; e 4) flegmonosas. As crônicas compreendem: 1) as eritematosas; 2) as ulcerosas; 3) as hiperplásticas (difusa, lateral, granulosa) ; 4) as atróficas ou hipoplásticas (diabete, ozena).

Mais complexo é o quadro das anginas. Das agudas fazem parte: 1) as eritêmato-pultáceas, das doenças infecciosas agudas (sarampo, escarlatina, gripe etc.); 2) as vesiculosas (flictenulares - herpes; pustulosas - angina pustulosa primitiva de Marfan); 3) as edematosas, alérgicas; 4) as fibrino-purulentas (diftérica, fuso-espiroquética na forma difteróide, por piogênicos e por cogumelos) ; 5) as ulcerosas; 6) as úlceronecróticas; 7) as flegmonosas. As úlcero-necróticas são representadas pela angina fuso-espiroquética (de que há quatro tipos: a vulgar, a das hemopatias, a das intoxicações medicamentosas e a das hipovitaminoses) e pela angina de Henoch.
Formam as crônicas: 1) as eritematosas puras (tabágica, iódica, diabética, urêmica, sifilítica - eritema vermelhão etc.); 2) as crípticas, de que a córnea é o tipo único; 3) as ulcerosas, e 4) as infiltrantes, constituídas pelas formas esclerematosas da tuberculose e da sífilis.

Todos os casos são discutidos e apresentadas várias subdivisões.

Claro que uma classificação destas, além, de precisar ser de quando em vez remodelada, posta em dia, faz ainda jus à crítica construtora de todos os especialistas, sendo, como é, indispensável, mormente do ponto de vista didático.

Em seguida foi encerrada a reunião.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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