RELAÇÕES INTERNACIONAIS EM OTO-RINO-LARINGOLOGIA

Relatorio apresentado por CHEVALIER L. JACKSON à Sociedade Americana de Laringologia em 7- 8 de Junho de 1944. - Annals of Otology. Rhinology and Laryngology 53: 544-551, set. 1944. (Traduzido e lido por J. E. DE REZENDE BARBOSA na Sessão de 17 de Janeiro de 1945 da Secção de Otorrinolaringologia da Associação Paulista de Medicina).

Nestes ultimos anos, muitas de nossas sociedades médicas iniciaram uma campanha afim de promover melhores relações e mutua compreensão entre os médicos e cirurgiões deste Paiz e os de outras Republicas americanas. Isto decorre da politica de bôa vizinhança de nosso governo, realizada atravez do Departamento de Estado e do Escritorio do Coordenador de negocios Inter-americanos. Mesmo sem essas influencias contudo, tal movimento é uma consequencia natural da quebra de relações anteriormente existentes entre a Europa e todas as Americas.

Tomarei a liberdade, nesta comunicação, de citar e parafrasear passagens de um relatorio preparado para a Academia de Oftalmologia e Oto-rino-laringologia. Nesse relatorio deliniei brevemente a historia das relações internacionais em otolaringologia de acordo com a sucessão dos Congressos Internacionais em otolaringologia que se processaram desde o Primeiro Congresso Internacional de Otologia, realizado nos E.U.A., ha 70 anos, sob a presidencia do Dr. John Roosa. O Congresso seguinte reuniu-se em Milão, e os subsequentes em Bâle, Bruxelas, Florença, Londres, Bordeaux e Budapest: o nono, o ultimo antes da abertura da 1.a Grande Guerra, realisou-se em Boston, em 1912, com Clarence Blake na presidencia.

A guerra produziu um hiatus de 10- anos, mas o 10.º Congresso Internacional de Otologia realisou-se em Paris, em 1922, sob a presidencia do Prof. Sébileau. Esse Congresso não foi, realmente, "internacional", porque as representações alemã e austriaca não foram convidadas. Seis anos mais tarde realizou-se um Congresso em Copenhagen sob a presidencia do Prof. Schmiegelow, que foi denominado de Primeiro Congresso Internacional de Otorrinolaringologia em vez de 11.º Congresso Internacional de Otologia. Esse Congresso foi um sucessor de 10 Congressos de Otologia e de três Congressos "Laringo-rinologicos". Parece ter ficado estabelecido, definitivamente, que os congressos internacionais deveriam ser reiniciados. Em 1932, em Madrid, sob a presidencia do Prof. Tapia, realizou-se um esplendido Congresso (o segundo Internacional). O Terceiro Internacional reuniu-se em Berlim, em 1936, sob a presidencia do Prof. Carl Von Eicken. Esse redundou em grande sucesso, tendo comparecido equilibradas representações de otorrinolaringologistas de muitas nações do mundo. As delegações britanica, franceza e belga eram especialmente numerosas, o que parecia um sinal de desenvolvimento de uma real camaradagem e colaboração. Em Berlim, por votação, foi indicada Amsterdam para sede do 4.º Congresso Internacional de Otorrinolaringologia, a realizar-se em 1940, sob a presidencia do Prof. Burger. Os planos para a reunião desse Congresso encontravam-se bastante adiantados até o inicio da atual segunda grande guerra que obrigou o seu cancelamento.

Traçaremos, brevemente, alguns aspétos da historia da otolaringologia no continente sulamericano. De acordo com o Dr. Aristides Moll, secretario do Bureau Sanitario Pan-Americano, a otolaringologia encontra-se "entre as primeiras das especialidades a emanciparem-se, caminhando comumente logo atraz de sua irmã mais velha, a oftalmologia"! O Dr. Carlos Desverine, de Havana, foi um dos primeiros latino-americanos a dedicar-se à especialidade (1887), e o Dr. Conde Flores da Venezuela, foi outro pioneiro (1895). Instituições para o surdo foram creadas em 1856 no Rio, em 1857 em Buenos Aires, em 1869 no Mexico e em 1925 em Havana.

Em 1936, realizou-se uma historica reunião em S. Paulo, Brasil, sob a presidencia do Dr. Mario Ottoni de Rezende, a qual denominou-se Semana Paulista de Otorrinolaringologia. Nessa reunião decidiu-se a realização de um Primeiro Congresso Brasileiro de O. R. L. após um intervalo de 2 anos. O 1.º Congresso Brasileiro de O. R. L. reuniu-se em 1938 no Rio de Janeiro, sob a presidencia do Prof. João Marinho, e, no seu encerramento decidiu-se promover a união com colegas de outras nações sulamericanas em um 1.º, Congresso Sulamericano de O. R. L. Esse Congresso realizou-se em Buenos-Aires, em 1940, sob a presidencia do decano dos otolaringologistas latino-americanos, Prof. Eliseoc Segura, e, -no seu, encerramento, resolveu-se reunir o Primeiro Congresso Latino-americano em S. Paulo, em 1943, sob a presidencia do Prof. Paula- Santos. Comtudo, desde que foi julgado impraticavel a reunião de um Congresso em S. Paulo, nessa ocasião, decidiu-se realizar, em vez do mesmo, um 2.º Congresso Sulamericano de O. R. L., em Montevidéo, sob a presidencia do Prof. Justo Alonso. Esse Congresso terá lugar em novembro deste ano. Em vista desse retrospecto historico, não pode quasi haver duvida da necessidade de promovermos a organização de um Congresso Pan-Americano de Otorrinolaringologia.

Até aqui, as unicas ocasiões nas quais os otolaringologistas dos Estados Unidos encontraram-se em sessões cientificas com aqueles de outras republicas americanas, foram durante os Congressos da Associação Medica Pan-americana. No 4.º Congresso dessa Associação, reunido em Dallas, Texas, em 1933, o Dr. Chevalier Jackson foi o presidente da Sessão de Otolaringologia; o mesmo foi novamente presidente no ano seguinte, para o 5.º Congresso, o qual foi um congresso "flutuante", parando em Havana, Panamá; Caracas e San Juan; o 6.º Congresso realizou-se no Rio, em 1935, e a secção foi presidida pelo Dr. Lee Hurd. Finalmente, o 7.º Congresso da Associação Medica Pan-americana realizou-se em Havana, em 1938, presidido pelo Dr. William E. Sauer. O Autor teve a honra de ser uma especie de secretario "perpetuo" da Secção em todos esses Congressos.

Em 19 de Janeiro de 1942, o Dr. Wherry escreveu-me que o Comité de Programa da Academia apontou-me como presidente de um Comité para elaborar planos para um Congresso Pan-Americano de Otolaringologia. Devido ao aumento das dificuldades nas comunicações e transportes, resultado de nossa participação progressivamente mais completa no esforço de guerra, nada foi feito durante os mezes seguintes exceto escrever informativamente à alguns de nossos correspondentes latino-americanos a respeito do projeto de um Congresso Pan-Americano. Durante os mezes da primavera de 1943, o Dr. Babbitt, então presidente da Academia, enviou cartas a um certo numero de otolaringologistas de projeção em varias outras republicas americanas, informando-os da reunião da Academia, em Chicago, em outubro de 1943, e convidando-os a participarem da mesma. Apesar das grandes dificuldades em comunicações e transportes devido às condições caóticas internacionais impostas pela guerra, uma resposta muito satisfatoria premiou nossos esforços. Um certo numero de distintos otolaringologistas latino-americanos viajou para Chicago, e outros aceitaram o convite para assistir, mas não puderam alcançar Chicago por circunstancias alheias às suas vontades. A maioria daqueles que não aceitaram escreveu-nos exprimindo sua apreciação ao convite e sua decidida simpatia com a idéia de estabelecer uma especie de organização Pan-americana de otolaringologia.

Toda reunião da Academia foi embuida com espirito de camaradagem e cooperação interamericana. O mesmo foi apropriadamente acentuado pelo magnifico discurso do hospede de honra, Dr. Ralph Fenton, sobre "A unidade da ciencia medica nas Americas", na tarde do domingo. No jantar Inter-americano, na noite de 4.a feira, o presidente Babbitt saudou os convidados latino-americanos em espanhol, e os mesmos foram apresentados individualmente. Os discursos da tarde foram feitos pelo Snr. William L. Schurz da divisão das relações culturais do Departamento de Estado, e Coronel Albert Dreisbach, do escritorio do Coordenador de Negocios Inter-americanos.

Nosso Comité de relações Inter-ámericanas reuniu-se, pela primeira vez, ao café da manhã de domingo, outubro 10. Nessa reunião o Dr. Oradle foi solicitado para expor sobre um projeto de um Congresso Pan-Americano de Otolaringologia, devido sua grande experiencia em relação com a reunião de um Congresso Pan-Americano de Oftalmologia. O mesmo resumiu a historia da organização oftalmológica e fez numerosas sugestões a respeito do Congresso Oto-laringologico proposto. Varios membros do Comité e colegas latino-americanos presentes discutiram o projeto de um Congresso Pan-Americano de Otolaringologia. Diversos membros de nosso Comité exprimiram a opinião de que existem muitas vantagens em realisar-se o 1.º Congresso Pan-Americano em conjunto com ou imediatamente após uma reunião anual da Academia Americana, tal como aconteceu com o 1.º Congresso Pan-americano de Oftalmologia. Os congressos subsequentes poderão reunir-se em outras republicas americanas, talvez em conjunto com a reunião de uma ou outra Sociedade Latino-americana.

Na conclusão da reunião foi proposto pelo Dr. Fenton que a Academia fosse requerida a patrocinar a reunião de um Congresso Pan-Americano de Otolaringologia e de financiar sua reunião inicial, reunião essa a realizar-se em conjunto com a reunião da Academia. Essa proposta foi secundada pelo Dr. Theobald e aprovada. Duas reuniões adicionais do Comité realizaram-se antes do encerramento das sessões da Academia, e o Comité foi informado que o Conselho da Academia concordou em patrocinar um Congresso Pan-Americano de Otolaringologia a realizar-se em conjunto com a reunião anual da Academia em 1945.

O Comité da Academia continua como Comité das relações interamericanas em Otolaringologia e como Comité do Congresso Pan-Americano de Otolaringologia. Os nomes seguintes constituem uma lista completa, atual, dos membros do Comité: Comité Executivo: Chevalier L. Jackson, presidente; James A. Babbitt, Ralph Fenton, Juan Font, Arthur Proetz, Frank Spencer, Gordon B. New. Membros: Victor Alfaro, Howard C. Ballenger, Wesley Bowers, Mackenzie Brown, Thomas Carmody, Georges M. Coates, William Gill, Perry Goldsmith, Paul Holinger, Charles J. Imperatori, Francis Lejeune, James M. Robb, William E. Sauer, LeRoy Schall, Marshall Taylor, Walter Theobald. Consultantes: Harris P. Mosher, Moacyr Alvaro, Conrad Berens, Harry Gradle, Forrest J. Pinkerton. Ex-Officio: Lawrence T. Post, presidente. William L. Benedict, secretario executivo.

Durante o corrente ano esse Comité entrou em contato com todos colegas latino-americanos com os quais já havia estabelecido correspondencia" bem como com outros colegas. Estão sendo expedidas cartas às varias Sociedades de Oto-laringologia nas outras republicas americanas, informando-as com a intenção da Academia de patrocinar um Congresso Pan-Americano em 1945, e convidando-as a unirem-se à Academia na organização do mesmo. A Sociedade Mexicana de Oftalmologia e Otolaringologia já nos assegurou sua cooperação completa. A Sociedade Cubana hipotecou sua solidariedade atravez de seu presidente Dr. Pedro Hernandez Gonzalo. A adesão da Sociedade Colombiana de Oftalmologia e Otolaringologia foi hipotecada. pelo seu presidente, Dr. Jorge Suarez-Hoyos.

O Prof. Justo Alonso, presidente do 2.º Congresso Sulamericano de O. R. L. foi informado da decisão da Academia Americana de patrocinar a realização de um Congresso Pan-Americano de O. R. L. e financiar sua reunião inicial a realizar-se em conjunto com a reunião anual da Academia, em 1945. O Prof. Alonso aprovou a idéia da organização e exprimia sua bôa vontade em receber como delegados para o 2.º Congresso Sulamericano de O. R, L. membros da Academia Americana cujos nomes enviamos ao mesmo. Já foram enviados os nomes dos membros de nosso Comité e teriamos prazer em enviar os nomes de outros laringologistas que estejam interessados.

Os passos preliminares estão sendo dados para fazer progredir, a sugestão do Dr. Paul Holinger de que devemos nos esforçar para promover a troca de estudantes post-graduados e internos otolaringologistas entre os Estados Unidos e as outras republicas americanas". Uma circular está sendo preparada afim de ser enviada a todas instituições que oferecem residencias aprovadas em otolaringologia, perguntando às mesmas quais as oportunidades oferecidas aos estudantes post-graduados latino-americanos e residentes internos. O Dr. Victorino Marquez, da Venezuela, já foi contemplado com um internato no Manhattan Eye and Ear Hospital atravez dos esforços de nosso Comité.

Em conclusão, queremos dizer que organizando o Congresso Pan-Americano de Otolaringologia para 1945, o Comité da Academia procurará o apoio moral e sabio conselho da Associação Americana de Laringologia. Não é preciso dizer, a Associação estará informada durante todo o tempo dos planos para o Congresso Pan-Americano, visto que seu secretario e seu presidente atual são membros do Comité da Academia. Eu espero que nosso novo presidente consentirá em tornar-se também um membro desse Comité. Finalmente, tomo a liberdade de sugerir que alguns otolaringologistas latino-americanos de projeção sejam feitos socios honorarios ou correspondentes desta Associação. Tivemos no passado, dois distintos otolaringologistas cubanos como socios correspondentes, Dr. Carlos Maria Desverine e Dr. Henrique Fernandez Soto, mas presentemente não contamos com nenhum membro latino-americano.