ISSN 1806-9312  
Segunda, 22 de Julho de 2024
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653 - Vol. 9 / Edição 4 / Período: Julho - Agosto de 1941
Seção: Revista de Livros Páginas: 307 a 310
CIRURGIA DO CANCER INTRINSICO DO LARINGE
Autor(es):
R. B.

CIRURGIA DO CANCER INTRINSICO DO LARINGE - Dr. Gabriel Porto - 1939 - Campinas - S. Paulo - Brasil. Tése apresentada à Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, em 12 de setembro de 1939, para a prova de livre-docencia de clinica oto-rino-laringologica.

A tese defendida por Gabriel Porto, atualisando o problema do tratamento cirurgico do cancer intrínsico do laringe e demonstrando os resultados obtidos, pelo mesmo, em regular numero de operados, comporta um detalhado estudo sobre o histórico, indicações, técnica das laringectomias, resultados, observações pessoais e termina por extensa e completa bibliografia, computada de 1930 para cá, de 282 trabalhos. O assunto encontra-se bem distribuido, orientado e ilustrado com 42 clichés demonstrativos de técnica operatória, peças anatomicas e cortes microscopicos.

A autoridade reconhecida do Dr. Porto no que diz respeito à cirurgia do cancer do laringe ficou patenteada, mais uma vez, nessa bela tese arrematada por detalhadas e honestas observações de seus casos clinico. O A. tem o mérito inconteste de ter sido, entre os especialistas bandeirantes, o pioneiro dessa arrojada intervenção, e, portanto, sua tese tem como que o valor de um repositório quasi que completo sobre as atividades, nesse setor, dos especialistas paulistas até ha poucos anos. Ultimamente, entretanto, como que alentados pelos resultados iniciais, esparsos, de alguns cirurgiões gerais e pelos de Porto, outros especialistas e cirurgiões gerais têm se dedicado, na medicina bandeirante, ao tratamento cirurgico do cancer do laringe e já se vislumbra, mesmo, alguma estatistica numerosa.

Praticando sua primeira intervenção em fins de 1931, o A. reune em nove o total de casos operados: 7 laringectomias totais de baixo a cima pela técnica de Périer e 2 tireotomias, segundo Saint-Clair-Thonsom, com resecção da corda vocal. Cinco casos apresentaram longa sobrevivência post-operatória, dois faleceram - um de pneumonia post-operatória, outro, dois meses após alta, por miíase da traqueia, mas longe das vistas do cirurgião - e dois casos apresentaram recidivas.

O capítulo inicial, da documentação historia, é interessante e completo, não faltando ao mesmo as diferentes etapas da história da cirurgia do cancer do laringe no Brasil.

No segundo capítulo, das indicações do melhor processo de tratamento, o A. aborda o assunto sob três angulos de vista e que representam, de fato, as verdadeiras bases para se aquilatar do tratamento de escolha a seguir em cada caso, isto é: a) sede e extensão dos tumores; b) estrutura histologica e c) as condições gerais do doente. Ainda mais, esses três elementos são considerados em relação aos quatro tipos topograficos de cancer do laringe, como querem os A.A. franceses: 1) cancer da corda vocal; 2) cancer vestibular (ao nivel da faixa ventricular e face posterior da metade inferior da epiglote); 3) cancer do ventriculo e 4) cancer dasub-glote.

No câncer localisado nas cordas vocais, sem duvida alguma cânceres essencialmente cirurgicos,
o A. dá preferencia ao processo economico, elegante e não mutilante da tireotomia seguida da resecção sub-pericondral da corda de acordo com Saint-Clair-Thonsom. Nos casos em que teve ocasião de empregar tal processo garantiu ao A. um sucesso absoluto. Discute, em seguida, o valor da curieterapia e radioterapia nesses tumores localisados nas cordas, não escondendo suas simpatias pelo que deduziu da literatura e observou na Alemanha, em 1938, pelo processo curieterapico de Seiffert, com o qual Vogel tem obtido resultados identivos aos da tireotomia. Nos casos em que a neoplasia invade o angulo anterior das cordas, a operação de Chevalier Jackson encontra-se indicada, e, quando da invasão da sub-glote ou faixa ventricular ainda é possivel recorrer-se, com sucesso, à hemi-laringectomia.

Com especial carinho trata, o A., da questão do valor da estrutura histologica desses tumores na avaliação da sua maior ou menor malignidade. De outro lado, cambem, salienta os dados que o exame hiato-patologico desses tumores oferece aos radioterapeutas afim de aquilatarem da sua radio-resistencia ou radio-sensibilidade. Nesse capítulo o A. discute, amplamente, a classificação de Broders aplicada aos canceres do laringe, isto é, a classificação da maior ou menor malignidade dos mesmos de acordo com o gráu e tipo de diferenciação celular. Termina esse capítulo considerando as condições gerais dos doentes na indicação do tratamento, bem como abordando a questão da idade e sexo.

No capítulo dedicado à técnica das laringectomias o A. considera, separadamente, as parciais e as totais. Todas elas são descritas e ilustradas com todos detalhes necessários.

Nas laringectomias parciais descreve: a tireotomia com resecção subperieondral interna ou externa (metodo de
Saint-Clair-Thonsom), a tireotomia com descolamento do pericondrio no angulo das cartilagens tireoides (operação de Chevalier Jackson), a hemi-laringectomia classica e a hemi-laringectomia anterior de Hautant.

Na laringectomia total, após breve estudo critico dos diferentes processos, descreve a técnica empregada em seus casos, isto é, a laringectomia de baixo para cima segundo Périer.

No capítulo seguinte fornece um estudo comparativo, interessantissimo, sobre os resultados do tratamento cirurgico do cancer do laringe, tanto nas tireotomias, quanto nas laringectomias, abordando, finalmente, a adatação vocal desses pacientes.

Ao cumprimentarmos o competente, esforçado e simpatico Dr. Gabriel Porto por sua tése bem discutida e melhor documentada, desejamos deixar impresso, aqui, o seu conselho que está como que a indicar, a todos nós, especialistas, a trilha a seguir: E' preciso estimular o ânimo dos laringologistas para que a extirpação total do laringe seja praticada sempre que as condições clinicas o exigirem. Intervenção contra cancer que dá 80% de longa sobrevivência, e que permite aos operados levarem existência feliz merece ampla divulgação".

R. B.

RADIO-SEMIOLOGIA DO OSSO TEMPORAL - Prof. Dr. Paulo Mangabeira Albernaz. - Editora Escolas Profissionais Salesianas. São Paulo - Brasil - 1939.

Trata-se de uma interessante monografia, com 94 paginas de texto, ilustrada com mais de 30 clichés radiograficos, com a qual o Autor, possuidor de reconhecidas qualidades de profundo conhecedor e pesquizador dos problemas anatomo-clinicos do osso temporal, acaba de presentear a biblioteca medica nacional.

Colocando-se em uma posição previlegiada, ao mesmo tempo de anatomista, com seus estudos sobre a pneumatisação do osso temporal, de radiologista, pelo estudo comparativo das diferentes posições radiodiagnosticas do osso temporal, e, sobretudo, de clinico criterioso e meticuloso, pelo estudo interpretativo e comparativo entre os elementos anatomoradiograficos e os sintomas clinicos, Mangabeira-Albernaz, valendo-se, ainda, de sua qualidade de expositor acabado, elegante, aborda, com uma critica que todos sabem necessaria, o complexo problema do valor clinico do radio-diagnostico do osso temporal. É preciso que se frize, nesse seu estudo não cria doutrinas, mas estuda de um modo claro as diferentes hipoteses, teorias e processos de inumeros autores, terminando, sempre, por sobresair o que existe de util e que deve ser conhecido pelos especialistas.

O trabalho está dividido em 5 partes principais, a saber: 1) considerações sobre a estrutura do osso temporal; 2) a questão das posições; 3) as incidencias; 4) semiologia radiologica e 5) valor real da radiologia clinica.

Na primeira parte de seu trabalho, estuda, com certo detalhe, a complicada e variada estrutura do osso temporal, estudo esse baseado não só em pesquizas morfologicas em 214 peças secas, como, tambem, nos clichés radiograficos desses mesmos elementos: Depois de tecer considerações sobre os tipos estruturais do tecido osseo humano - osso compacto e osso esponjoso com suas particularidades nos ossos do craneo - dedica-se ao estudo do osso temporal propriamente dito. Os tipos e as incidencias de pneumatisação são considerados sobremaneira. Estuda, separadamente, a pneumatisação peculiar a cada segmento do osso temporal, desde a classica pneumatisação mastoidéa, a do zigoma, da escama, e a pneumatisação especial, extra-territorial (Eagleton) do rochedo. O mais importante, desse capítulo inicial é, sem duvida, a conclusão que no osso temporal, quando examinado aos raios X, podemos distinguir, nitidamente, somente três tipos de espaços claros: a) celulas pneumaticas, b) cavidades ocupadas por gordura (na ponta do rochedo) e c) espaços aerolares, isto é, diploe de malhas largas ocupado por medula ossea. Como afirma o A. a radio do temporal não permite fazer distinções muito delicadas. E' praticamente impossível distinguir um tecido diplóico de um pneumatico de celulas pequenas. Em suma, nesse, primeiro capítulo, o A. prepara o espírito do leitor, com dados anatomo-radiologicos, para os capítulos seguintes, isto é, a aplicação clinica.

No segundo capítulo - a questão das posições - o A. faz um estudo dos pontos de vista do radiologista e do otologista, salientando o que ha de comum e de divergente entre ambos quanto a escolha das diferentes posições e seus valores. Aqui o A. defende a necessidade de uma incidencia de orientação geral, isto é, uma incidencia bilateral comparativa, para, posteriormente, si necessaria, uma ou mais posições especiais.

No terceiro capítulo o A. faz um apanhado geral sobre as incidencias, tanto as de orientação geral quanto as especiais. Não resta duvida que o mesmo deixa transparecer suas simpatias, nas incidencias de orientação geral, para a ocipital posterior ou de Worms-Bretton-Altschul, que, quando bem orientada, fornece-nos até 16 dados estruturais do osso temporal.

No quarto capítulo estuda, com requintes de detalhe, a semiologia radiologica do osso pneumatisado e do osso não pneumatisado. Eis aqui uma parte de suma importancia ao especialista, pois da interpretação desses verdadeiros "sintomas radiologicos" depende, muitas vezes, a indicação cirurgica ou contemporisação nos processos inflamatorios do ossa temporal. Estuda a veladura e a fusão dos septos intercelulares na semiologia do osso pneumatisado, e enumera a pobreza de sinais no osso não pneumatisado, devido à propria estrutura do osso - diploico ou compacto - e descreve a destruição ossea como o sinal radiologico mais caracteristico, indicando sempre uma fase adeantada do processo. Dedica-se nessa parte ao diagnostico radiologico do colesteatoma.

No quinto e ultimo capítulo o A. balancea o valor real da radiologia na clinica otologica. Com muito acerto divide esse capítulo em duas partes: a) demonstração dos dados anatomicos do osso temporal (estrutura ossea, vasos venosos, apofise estiloide, anomalias de desenvolvimento, etc.) e b) demonstração dos dados patologicos (otite externa, otite média aguda, mastoidite, petrite e labirintite) .

A não ser a ilustração do trabalho, que deixa um pouco a desejar, pois os clichés radiograficos não representam, com nitidez, as boas radiografias apresentadas, detalhe esse devido às nossas impossibilidades graficas técnicas , atuais, o trabalho de Mangabeira-Albernaz, bem sistematizado. e discutido com a clareza peculiar ao A., ocupa, sem duvida alguma, um lugar de destaque na literatura muito atualisada do valor da radio-semiologia do osso temporal.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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