ISSN 1806-9312  
Segunda, 22 de Julho de 2024
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585 - Vol. 5 / Edição 4 / Período: Julho - Agosto de 1937
Seção: Associações Científicas Páginas: 385 a 390
ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS
Autor(es):
-

SECÇÃO DE OTO-RINO-LARINGOLOGIA
DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA

Sessão de 17 de Fevereiro de 1937

Presidida pelo dr. Francisco Hartung, secretariada pelos drs. Paula Assis e Ribeiro dos Santos, realizou-se a 17 de fevereiro de 1937, a reunião mensal ordinaria da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.

No expediente o sr. presidente comunicou á Casa que já entrou em entendimento com os drs. Pedro de Alcantara e Paulino Longo, presidentes respectivamente das Secções de Pediatria
e Neuro-Psiquiatria, no sentido de se efectuar o intercambio cultural com a oto-rino-laringologia, tendo o dr. Paulino Longo sugerido que se levasse a questão para a apreciação da directoria da Associação.

O dr. Livramento Barreto comunicou á Casa a instalação juntamente com o dr. Plinio Barreto de uma aparelhagem completa para a radioterapia profunda, onde se aplicará o processo de Coutard.

O dr. Mario Ottoni de Rezende indagou das possibilidades financeiras de se aplicar o metodo.

Referiu o dr. Livramento Barreto que o processo é muito caro, dado o consumo da ampola, dependendo tambem do estado do tumor, podendo orçar numa media de 4:000$000.

O dr. Plinio Barreto informou que ninguem pode curar cancer pelo processo de Coutard com menos de 6500 R, que o tratamento não pode ser interrompido, sendo que a priori não se pode responder quanto requer um tratamento.

Ainda no expediente o dr. Mangabeira Albernaz comunicou á Casa, que de volta de Montevideu onde realizou a 11.ª reunião da Sociedade Rio Platense de Oto-rino-laringologia, teve a honra de representar a Associação Paulista de Medicina e a Revista Otolaringologica de S. Paulo juntamente com o prof. Marinho, representando o Rio de Janeiro. Com a devida venia passou á leitura do seguinte relatorio:

RELATORIO da XI Reunião da Sociedade Rioplatense de Oto-rino-laryngologia realizada em Montevideu de 4 a 6 de janeiro de 1937. (1).

O dr. Hartung agradeceu a lembrança do A. assim como tambem o felicitou pelo seu sucesso no extrangeiro, divulgando a técnica de Ermiro de Lima.

Passou-se a seguir á ordem do dia, da qual constaram os seguintes trabalhos:

DR. GABRIEL PORTO - Dois casos de cirurgia do laringe. (2)

O A. tratou de 2 casos interessantes de cirurgia do laringe, apresentando em seguida uma moção de campanha de combate ao cancer.

Comentarios: - Terminada a exposição do A., o ar. presidente estabeleceu que fosse discutido primeiro a parte cientifica do trabalho e depois a moção da campanha de combate ao cancer.

Discussão da parte cientifica do trabalho: - Referiu o dr. Mangabeira Albernaz que a questão do diagnostico do cancer no laringe não é facil, dado as falhas do exame clinico e dos exames de laboratorio, mesmo quando feitos por analistas competentes. Teve um doente e cujo material para exame continuou indiagnosticavel mesmo depois de ter sido enviado para Manguinhos. Numa segunda e dificil colheita do material foi firmado o diagnostico de carcinoma espino-celular. A terapeutica pela electrocoagulação, deu o melhor resultado, pois um ano depois o doente estava completamente curado. Mas o interessante é que a lamina do material obtido, foi mostrada ao dr. Moacyr de Amorim, o qual discordou do 1.° diagnostico, sendo corroborado por outro anatomo-patologista. O 1.° diagnostico ainda foi revalidado por mais um outro analista.

Dr. Plinio Barreto: A questão do cancer inicial ser tratado cirurgicamente ou por outras terapeuticas conservadoras, tem sido muito debatida e o proprio Coutard achava que os canceres curados pela cirurgia tambem eram curados com relativa facilidade pela radioterapia, e aqueles que ele não solucionava eram justamente os que a cirurgia tambem não curam. Quanto á dificuldade do diagnostico referido pelo dr. Mangabeira, se enquadra bem para certos casos, como o referido e que suscitam discussões serias. Entretanto, no cancer inicial do laringe não podemos esquecer o grande numero das biopsias positivas que sempre firmam o diagnostico.

O dr. Rezende Barbosa disse que, ás vezes, torna-se impossivel não só diagnosticar-se, clinicamente, o Ca do laringe, como obter-se fragmentos de material suficientes para um diagnostico anatomo-patologico certo, devido á sua localisação. O caso do Imperador Frederico, relatado pelo A., é um exemplo, pois nem Virchow conseguiu firmar o diagnostico de Ca do laringe, devido, certamente, á qualidade do material retirado da sua
localisação sub-glotica.

O dr. Hartung referiu que certo professor de Paris insistia muito no sintoma da rouquidão, requerendo um exame apurado todas as vezes que se tratasse de pessoas orçando pela idade dos quarenta. Lembrou um pequeno detalhe a respeito da orientação de Coutard, onde seu assistente Rayette cita 13 casos de cancer, 4 intrinsecos e 9 extrinsecos, nos quais não se fez a laringectomia, sendo que 5 atualmente se apresentam em ótimas condições.

O dr. Gabriel Porto acrescentou que o cancer, em 50% dos casos, começa nas cordas vocais, sendo que em 70% pode-se chegar ao diagnostico. Quanto á operação, baseou-se no que se faz atualmente em nosso meio e desconhece algum caso curado por outro processo. Tendo, entretanto, agora, a instalação dos drs. Barreto, vamos esperar os seus resultados. Fundamentou o seu trabalho na medicina atualisada, não na medicina que está por vir entre nós.

Discussão da moção de combate ao cancer, apresentada pelo mesmo A.: o dr. Mario Ottoni propoz que fosse levada ao conhecimento da directoria da Associação e que então na proxima reunião se discutam os seus pontos basicos.

O dr. Roberto Oliva achou que a mesa devia entrar em entendimento com a Associação para se concertar o que de mais pratico se pode fazer nessa tão louvaveI profilaxia.

DR. REZENDE BARBOSA - Ulcera de contacto do laringe (3)

Trata-se de dois casos de ulceras de contacto do laringe em seguida á febre tifóide e pneumonia. Ambos os casos foram seguidos e examinados por longo espaço de tempo, de 6 mezes a
um ano, obtendo-se uma cura completa, pelo simples regimen do silencio. O A. passou em revista toda a literatura existente sobre o assunto, desde a descrição inicial, em 1928, por Chevalier Jackson, até aos ultimos trabalhos de Zambrini e Casteran apresentados no ultimo Congresso Rio Platense, em Montevidéu.

Comentarios: - O dr. Roberto Oliva pensa que os casos de ulcera de contacto são muito bem explicaveis quando se trata de canceres, mas quando não ha formações exuberantes como nesses do A., acha que o diagnostico de ulcera de contacto seja mais dificil de se firmar. Num dos casos, tem-se a impressão de se tratar de um processo tuberculoso e admitindo-se essa hipotese a ulceração deixaria de ser de contacto. Disse ainda não pretender afirmar que seja esse caso um processo tuberculoso mas, observando-se bem a radiografia, tem-se a impressão de um caso de tuberculose benigna e que a terapeutica instituida pelo A. constituiu uma verdadeira lição.

O dr. Gabriel Porto disse que o trabalho do A. constituiu uma verdadeira lição para nós e teve a oportunidade de examinar um caso de ulceração num processo de febre tifoide, sendo que o doente ficou muito assustado com a ulceração. Deseja mesmo pedir ao A. esclarecimenttos sobre o mecanismo e papel da febre tifoide na formação dessa ulceração.

O dr. Plinio Mattos Barreto pediu licença ao A. para enviar a Chevalier Jackson o seu trabalho depois de publicado. Frisou que em seus casos as ulceras de contacto são sempre acompanhadas de laringites cronicas. A tosse tambem produz essas ulceras, e disse ter um caso de um moço que acusa nada ter tido nas vias aereas e que tendo tido uma pneumonia não tratada, determinou um abcesso pulmonar, apresentando tambem a ulcera de contacto classica, apesar de ter dentes infectados. Recentemente essa ulcera tem sangrado muito, sendo que ao tossir peora muito o seu estado. Instituiu então o tratamento da drenagem de postura e repouso vocal tendo o paciente melhorado sensivelmente.

O dr. Hartung limitou-se a felicitar o dr. Plinio Barreto pela atitude de querer enviar a Chevalier Jackson o trabalho do A., o que constitue o melhor elogio que se pode fazer ao trabalho apresentado.

O dr. Rezende Barbosa disse que não cogitou da febre tifóide na etiologia da ulceração de contacto das cordas vocais mas, poderia, no entanto, ter havido uma miopatia e isso concorrer para a ulceração. Uma de suas observações pecou pelo exame clinico mas o caso teve negatividade em exames repetidos de escarro permitindo, entretanto, a radiografia, uma sugestão de processo tuberculoso mormente tratando-se de um paciente asmatico. Referiu, ainda, que a distinção entre a ulcera tuberculosa e de contacto é muito tipica, e foi o que observou em seus casos.

Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a sessão.

Sessão de 17 de Março de 1937

Presidida pelo dr. Fracisco Hartung, secretariada pelos drs. J. E. Paula Assis e Ribeiro dos Santos, realizou-se no dia 1 7 de Março de 1937, uma reunião da Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina.

No expediente o sr. presidente comunicou que a proposta lançada pelo dr. Gabriel Porto á respeito de uma campanha de divulgação e profilaxia do cancer da laringe foi julgada inoportuna pela Directoria da Associação em reunião, dada a campanha que pretende mover a Sociedade de Medicina e Cirurgia nesse mesmo sentido. Comunicou, tambem, que já foi estabelecido o intercambio cultural com as Secções de Neuro-psiquiatria e Pediatria e solicita dos autores de trabalhos os seus resumos no menor espaço de tempo para que assim possam ser levados e divulgados pela imprensa leiga. Passou-se á seguir á ordem do dia, da qual constaram os seguintes trabalhos:

DR. REBELO NETO - Atresia nasal com apresentação de um doente. (4)

O A. dividiu em dois grupos as atresias nasais, com ou sem deformação da piramide nasal. Apresenta fotografias de um caso, referindo-se depois a outros e exibindo fotografias e preparados em gesso.

Comentarios: - O dr. Mattos Barreto indagou si nos casos referidos pelo A. ha alguma razão que justifique a contra-indicação da diatermocoagulação, e tambem se nos casos de insucesso de enxerto de Wolf foi empregado a dilatação progressiva. Considera que, nas oclusões de etiopatogenia obscura, a tendencia é sempre a progredir, e no fim de certo tempo observa-se a fossa nasal revestida de um septo fibroso.

Perguntou o dr. Plinio Barreto ao A. si tem empregado a laminaria.

O dr. Rebelo Neto respondeu que conhece a laminaria apesar de ainda não ter empregado, assim como a diatermo-coagulação. Num dos doentes não empregou esta porque a cicatrização era muito lenta tendo preferido a dilatação elastica e não a cruenta.

DR. ROXO NOBRE - A radioterapia em oto-rino-laringologia.

O A. informa serem de 30 o numero de casos passados por suas mãos no consultorio. Tece considerações em torno de diversos casos com os resultados terapeuticos. Relata ainda que todos os casos de localização labial, tiveram cura integral.


Comentarios: - O dr. Guedes de Melo F.° pediu ao A. que lhe forneça dados sobre os 3 restantes canceres da laringe, pois tendo referido em sua casuistica um numero de 4, apenas tratou de um.

O dr. Roxo Nobre disse que em um dos casos foi feito o tratamento de Coutard, não tendo o doente voltado ao tratamento. Um outro caso tratado com 7100 R, ficou apenas um nodulo que ainda não cedeu. O outro caso de espino-celular corneificado, localização extensa, veiu a falecer.

O dr. Pagliucchi deseja dar um exemplo numerico, para tornar patente o valor da técnica de Coutard e dirigindo-se á pedra, argumenta sobre a contribuição dos meios fisicos e biologicos, concluindo para os fisicos uma porcentagem de 20 e para os biologicos de 400.

O dr. Fortes perguntou se o tratamento de epiteliomas foi feito com o mesmo aparelho, pois a confecção da ampola do raio X pode variar de muito a irradiação, assim como a lampada imersa em oleo, sendo que até no proprio aparelho se pode dar uma variação no comprimento de onda da irradiação.

O dr. Plinio M. Barreto disse considerar o tratamento de Coutard exclusivamente individual, estando longe de se poder esquematizar. Acha de grande interesse os casos de epitelioma dos labios, pois no extrangeiro, são empregados agulhas de radio, permitindo assim a mediação além de ser um tratamento local. Entretanto, as tres observações do A. são deveras suficientes para demonstrar o valor real e pratico desse metodo que está empregando.

O dr. Guedes de Melo F.° informou que recentemente teve noticias dos resultados brilhantes da radioterapia, num caso de linfoma da amigdala. Tem notado que essa terapeutica está voltando novamente a despertar interesse entre nós. Felicitou o A. além de tudo, pela maneira como clamou pela necessidade dos poderes publicos, auxiliarem essa terapeutica.

O dr. Hartung disse considerar que os problemas economicos são dos mais dificeis de serem resolvidos no senttido de se ampliar essa terapeutica, dado nossas condições atuais de paiz pobre.

Referiu o dr. Roxo Nobre que estatisticas ainda não pode ter, por não dispor em seu serviço particular de grande tempo de cura. Tambem não faz, sempre, aplicações com filtro, empregando, ás vezes, os raios moles.

Quanto ás modificações de onda do proprio aparelho, devem ter sido pequenas, pois não tem trabalhado com aparelho imerso em oleo.

Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a reunião.




(1) Relatorio publicado na Revista Oto-iaringologica de S. Paulo - Vol. 5 - n.° 2 - Março-Abril, 1937.
(2) Trabalho publicado na Revista Oto-Laringologica de S. Paulo - Vol. 5 - n.4 - Julho-Agosto - 1937.
(3) Trabalho publicado na Revista Oto-laringologica de. S. Paulo - Vol V - N.o 2 - Março-Abril - 1937.
(4) Trabalho publicado na Revista Oto-Laringologica de S. Paulo - Vol. 5 - n.° 3 - Maio-Junho, 1937 - pag. 259.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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