ISSN 1806-9312  
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552 - Vol. 5 / Edição 1 / Período: Janeiro - Fevereiro de 1937
Seção: Associações Científicas Páginas: 51 a 58
ASSOCIAÇÕES CIENTIFICAS SECÇÃO DE OTORRINOLARINGOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA
Autor(es):
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Sessão de 18 de Maio de 1936

Presidida pelo prof. A. Paula Santos, secretariada pelos Drs. Jayme Campos e Hugo Ribeiro de Almeida realizou-se no dia 18 de maio de 1936, uma reunião ordinária da Secção de Otorrinolaringologia da Associação Paulista de Medicina. Após a leitura e aprovação da ata da reunião anterior, no expediente o Dr. Mario O. de Rezende pede a palavra e lê um discurso, focalizando Roberto Barany, por completar o sexagésimo aniversario, destacando-lhe os principais feitos no território de sua especialidade. Pede ainda que se oficie ao aniversariante. O Sr. presidente acha que a brilhante oração deve constar da acta, e que á ilustre personalidade será oficiado em nome da Seção.
Comunica, embora tardiamente o falecimento do Dr. Antonio Pinto, que apesar de pouco conhecido, pois se tinha transferido ha pouco tempo para S. Paulo, já se impusera entre os companheiros como um caráter de primeira ordem, portanto pede que conste na ata um voto de pesar e que a família se oficie, transmitindo-se os nossos sentimentos.

Em seguida passou-se á ordem do dia, da qual constaram os seguintes trabalhos:

1º) SOBRE UM CASO DE APOPLEXIA DA UVULA OU MOLESTIA DE GARIN - Dr. Paulo Saes.
Relata o A. que o doente não podia deglutir - úvula aumentada e de coloração vermelho escura- o pilar anterior esquerdo apresentava derrame sub-mucoso. 0 doente apresentava dispnéia. Incisou a úvula indicando gargarejos e o doente melhorou no terceiro dia. Fez o diagnostico de apoplexia da úvula ou moléstia de Garin. O hematoma seria devido á ruptura de um vaso pela contração brusca dos estafilinos. Havia já preparado a comunicação, quando verificou em 2 revistas diferentes, a publicação de 2 casos semelhantes ao que apresentou. Pensa que a moléstia deva ser considerada rara.

Comentários: O Dr. Mario Ottoni de Rezende pergunta se era um hematoma, pois nesse caso podia ser conseqüência do edema de Quincke.

Dr. Paulo Saes, entretanto, atribui mais á fragilidade vascular.

Dr. Mattos Barreto pensa que a raridade da moléstia não provenha da encáustica, mas sim devido á denominação de moléstia de Garia. A estafilite foi muito bem estudado por Bernfeld, que reuniu mais de 400 casos, quer idiopáticos, com estudos desde a parte anatômica, histológica até a fisiológica.

O dr. Paulo Saes diz que não se tratava de estafilite, mas sim de um hematoma.

O dr. Mattos Barreto refere que Brown diz que a apoplexia da úvula é acompanhada de extravasação sangüínea.
Diz o sr. presidente que a propósito da denominação, acha que o A. diverge, por ter encontrado essa denominação em outra fonte de bibliografia.

Dr. Paulo Saes: A denominação de moléstia de Garin a fiz por espírito de justiça, por ter sido de Garin a primeira observação.


2º) SOBRE OS EMPIEMAS DO SEIO MAXILAR, DE ORIGEM DENTARIA - Dr. Homero Cordeiro.

O A. descreve o quadro clinico comum, pois as duas observações que traz, fogem desse quadro.
Nos dois casos foi obrigado a fazer uso da lavagem e punção. Lê as observações, apresentando as radiografias. Nos 2 casos o que chama a atenção é a extração dentaria. Destaca também a cura rápida dos pacientes, mostrando o efeito benéfico da punção.

Comentários: Dr. Mario Ottoni de Rezende: Não sendo o sintoma fetidez muito acentuada, só pela radiografia, é que se pode fazer o diagnostico de uma artrite. Com tudo a fetidez nem sempre é tão acentuada que não se possa confundir com uma sinusite antiga, pois nesse caso a lavagem é de resultado aleatório. O Dr. Roberto Oliva refere um caso de infecção apical do 2° pré-molar, e quando procedia a raspagem do antro, encontrou um fragmento de ouro dentro do seio maxilar, e o dentista assistente explicou que, para facilitar o escoamento do pus pelo antro, havia colocado um aparelho de ouro, para mantê-lo aberto.

Dr. Francisco Hartung acha que pode haver sinusite maxilar sem dor, e que uma infecção qualquer pode paulatinamente invadir o antro.

O Sr. presidente acha que do trabalho do A. ressalta um espírito arguto na interpretação clinica.

3º) SOBRE AS RADIOGRAFIAS DE CONTRASTE NO ANTRO MAXILAR - Dr. Mario Ottoni de Rezende.
Antes de iniciar a comunicação participa que no dia 15 do próximo corrente encerra-se o prazo de inscrição dos trabalhos para a Semana de Otorrinolaringologia. Diz que já recebeu diversos trabalhos versando sobre a anatomia, fisiologia, mas ainda não teve o prazer de receber trabalhos sobre observações clinicas diárias, rápidas e instrutivas.

Quanto ao seu trabalho, após uma incursão no domínio teórico, o A. descreve os seguintes casos: l° Caso - O paciente sofria de bloqueio cardíaco, com 32 pulsações por minuto. As amídalas, estavam infectadas. Feita a radiologia (o A. exibiu-a) notou-se no seio maxilar uma formação tumoral dentro do antro. Praticou a injeção para o contraste do seio. Fez o diagnostico de um pólipo gigante mucoso. A operação confirmou a existência, e não pôde ser retirado inteiro, pois se rompeu em contato com o bisturi. Esse doente ainda foi operado das amídalas e hoje está melhorando do bloqueio. 2° Caso: apresenta radiografias planas. A intervenção cirúrgica, confirmou o diagnostico de pólipo na cavidade nasal. 3.° Caso: Apresenta radiografias. A intervenção cirúrgica consistiu na abertura do antro, retirando grande quantidade de pólipo. O A. termina frisando a importância do diagnostico por meio do liquido de contraste.

Comentários: O Dr. Rubens Brito diz que a radiografia simples não se presta devido a uma questão de refringência, pois a substancia liquida que existe no pólipo, não permite que a chapa demonstre essa opacidade. Dr. Homero Cordeiro acha que nos casos com sinais clínicos de sinusite maxilar (congestão unilateral da mucosa nasal, sensação de peso, cefaléias, etc.), mas com punção e radiografia plana negativa, deve-se fazer sistematicamente a radiografia de contraste, que, muitas vezes revela a presença de uma sinusite hiper plástica.

Dr. Mattos Barreto: No método de Proetz não é preciso completo enchimento das cavidades paranasais e o próprio Proetz entende que uma gota é suficiente, dependendo do radiologista a maneira de tirar a chapa e interpreta-la. Acontece que quase sempre uma chapa não é mal interpretada e sim mal tirada, dando a impressão de cavidades boa. Não se deve dispensar o método simples, mas deve ser tirado com técnica segura. Para as sinusites frustras o A. aconselha e frisa o valor da radiografia intra-oral pois surpreende desde uma simples elevação como uma espinha, até quando disemine essa espinha formando um espessamento mais ou menos geral. Há aparelhos que automaticamente dão as diferentes posições do crânio e a radiografia da cavidade inteiramente transparente.

Sr. presidente: Acha que é de muito valor o sinal de Kaufmann. Quanto ao método de Proetz encontra dificuldades nas sinusites hiper plásticas, onde não pode penetrar a substância do contraste; acha que o método de Proetz presta grandes serviços para o tratamento das sinusites agudas.

Diz o dr. Mario Ottoni de Rezende que no diagnostico da sinusite principal é o exame clínico cuidadoso, é o pus, a congestão unilateral que é típica de uma das infecções do seio para-nasal, é a dor e sensação de peso, de desconforto, o mau cheiro, tudo idéia de uma sinusite. Seria fácil radiografia plana, apesar de ser pela radiografia permite abrir com perfeita indicação qualquer entre nós vem-se chapas com acentuada opacidade e o especialista que abre uma dessas cavidades freqüentemente encontra um seio são, mucosa translúcida, limitando-se a fechar com grande desgosto. Quanto ao método de Proetz tem sido muito empregado como tratamento, parecendo que os efeitos são bons, pois, determina uma modificação favorável no caso de um processo inflamatório agudo isso é que nos dá a e bom a transiluminação e depois a cara. Na Europa o diagnostico feito antro;

O Dr. Brito falou em um sintoma de degeneração poliposas da cabeça do corneto médio. Na maioria dos casos, trata-se de uma sinusite de proximidade

Dr. Paulo Saes pensa que se possa atribuir a uma etmoidite hiper plástica.

4º) RINOLITOS E CEFALEAS - Dr. Francisco Hartung.

Refere o A. que uma jovem portadora de rinolito sofria de intensa cefaléia. A anamnese nasal foi negativa. Essa moça veio a sofrer uma queda, resultando uma contusão na cabeça. Feita a radiografia da caixa craniana, apenas revelou um rinolito. Extraída a concreção, a cefaléia desapareceu. Num 2° caso, que já teve ocasião de relatar á Seção, em que a anamnese foi negativa, apesar da fetidez ninguém se lembrou de rinolito, tendo vindo a saber mais tarde que na história do paciente havia um objeto estranho introduzido na fossa nasal, (um feijão). Deseja também frisar a proveniência dos rinolito e que a sua existência pode passar desapercebida por uma má anamnese.

Comentários: O Dr. Mario O. Rezende sente que o A. não tenha trazido as chapas.

Sr. Presidente: A propósito de rinolito citarei um caso interessante. Encontramos num paciente um grande corpo estranho de aspeto petroso com os caracteres.

Sessão de 17 de Agosto de 1936

Presidida pelo prof. A. Paula Santos, secretariada pelos Drs. Francisco Hartung e Paulo Saes realizou-se no dia 17 de agosto de 1935, uma reunião da Seção de Otorrinolaringologia da Associação Paulista de Medicina.

Após a leitura e aprovação da ata da reunião anterior, no expediente o Dr. Mario Ottoni de Rezende recorda que o ano de 1936 foi extremamente triste, para a otorrinolaringologia, pois logo no principio do ano perdemos Arthur Duell, Charles Balance, logo em seguida morre Barany, Hartmann e ha pouco tempo, em março, vem a falecer Twied um dos mais eminentes especialistas ingleses, cujos trabalhos se iniciaram na guerra dos Boers. Lembra ainda a figura de Schottmüller, que além de um dos maiores otorrinolaringologistas alemães foi um homem que tinha uma grande quantidade de conhecimentos em bacteriologia e foi o autor que deu o maior emprego a todos os soros, sobretudo o estreptocócico. Foi ele ainda que divulgou o emprego do piramidon no tratamento do reumatismo.

O Sr. presidente acha justas as considerações do Dr. Mario Ottoni de Rezende e aproveita o ensejo para lembrar outros nomes como o de Frazier e Worms do Val de Grace, a quem se deve a notável monografia sobre a fisiologia das fossas nasais. Ainda na hora do expediente o Dr. Francisco Hartung pede a palavra para dizer o seguinte: "Sr.Presidente, queria eu propor á casa que, antes de dar inicio aos trabalhos desta noite, se manifestasse o nosso júbilo pelo desenvolver e sucesso da 2. Semana de Otorrinolaringologia, recentemente reunida nesta Capital. Como é sabido, a Semana transformou-se em um certame de grandes proporções, tanto pela abundância de matéria e teses científicas discutidas, como pelo vultuoso número de especialistas que vimos congregados, em sua maioria nomes de reputação, de diversos Estados do Brasil e mesmo estrangeiros. Alias, a imprensa carioca já teve oportunidade de se manifestar, traduzindo as ótimas impressões de um congressista do Norte do País, que ressalta a brilhante iniciativa da classe médica de S. Paulo. Este fato, para nós particularmente, é motivo de justificado orgulho e muita alegria, porque o organizador da reunião e nossos amigos mais diletos e vulto dos mais culminantes nosso" departamento. Mario Ottoni sabe muito bem do alto preço que goza entre nós todo, pelas suas qualidades de espírito como pela sua capacidade cientifica, a sua sede insaciável de saber, de estudar e de progredir, sempre em busca de uma medicina ainda melhor; mas o que pretendo homenagear neste instante com as minhas palavras, e tenho certeza de que toda a Seção me acompanhará em sua unanimidade, é o seu dom de incentivador, emprestando de coração e espírito todo o seu dinamismo toda a vez que se requer a sua colaboração em qualquer finalidade de bem coletivo. E quando para lá é elevado e os seus predicados o impelem aos postos de comando, as suas qualidades como que se hipertrofiam de modo a contagiar os que dele se aproximam com o seu exemplo de energia, otimismo e realização. Daí o sucesso a ele pois as nossas palmas e as nossas felicitações, com a proposta que se consigne em ata um voto de louvor pela orientação brilhante imprimida pelo dr. Mario Ottoni de Rezende á Semana de Otorrinolaringologia.
Sr. Presidente: Considerando ser dispensável de discussão a proposta do Dr. Hartung pois todos nós sabemos que o Dr. Ottoni foi a alma e o cérebro da 2a Semana de Otorrinolaringologia assim como também da lº, diz que a proposta será incluída na ata da reunião com a aprovação de todos.

Dr. Mario Ottoni: O que fiz foi mais devido a posição que ocupava e tenho a certeza que qualquer um de vós na mesma situação daria o mesmo que eu dei, no sentido de que S. Paulo pudesse mostrar o esforço que aqui se faz para a grandeza da Pátria. Agradeço não tanto em meu nome, mas em nome da Sociedade de Medicina e Cirurgia.
Em seguida passou-se á ordem do dia da qual constaram os seguintes trabalhos:

1º) SOBRE A CIRURGIA DO CORNETO INFERIOR (Nota prévia) - Dr. Hugo Ribeiro de Almeida.

2º) EMPREGO SIMULTANEO DA INCLUSÃO E ENXERTO NA RESTAURAÇÃO DOS RELEVOS NASAIS - Dr. J. Rebelo Neto.

O A. apresenta um doente, passando depois a contar a sua observação clinica. Esse doente sofreu uma queda, tendo lesado o nariz. Apresenta fotografias e modelagem do nariz quando o doente foi examinado. O nariz apresentava uma depressão dorsal, com duas fossetas laterais. A parte interna era correlata com a parte exterior do nariz. Wassermann negativo. Teve a idéia de recorrer a uma baqueta de marfim para elevar o dorso e as fossetas por meio de tecido fibroso retirado da aponevrose braquial. Conclui que o principio pode ser generalizado para outras circunstancias, pois uma substância morta, o marfim, e uma autotransplantação, parecem que se adaptaram.

3º) MENINGISMO, PARACENTESE E CURA - Dr. Francisco Hartung.

Esta observação diz respeito a um caso de otite media de fundo gripal que se tornou digna de registro devido a extrema violência sob a qual se apresentou: logo de inicio, dores fortíssimas no ouvido, dores de cabeça generalizadas e temperatura de 38,5. Foi imediatamente procedida a parassíntese do tímpano: aparentemente a criança doente estava completamente curada. Entretanto no fim de três dias, reaparece a mesma doente com o mesmo sintoma, acrescida mais de rigidez de nuca e sinal de trousseau, demonstrando que havia iminência da meninge ser comprometida no processo. Nesta ocasião a otite já contava com 9 a 10 dias, de modo que poderia ser de toda urgência trepanar a mastóide, para evitar a tempo a complicação intracraniana. Preliminarmente, porém, foi feita nova parassíntese do tímpano, na tentativa de novo tratamento conservador. Esta parassíntese, contrariamente á primeira, promoveu uma drenagem perfeita, a ponto de, em 10 horas, desaparecerem, todos os sintomas, tanto óticos como meningêos. O interesse, do caso reside no ótimo resultado da drenagem pelo tímpano em uma ocasião na qual era de se presumir já ser demasiado tarde para um tratamento conservador.

Comentários: Dr. Nova: E sabido que na meningite, quanto mais cedo se faz a intervenção, tanto maior probabilidade de sucesso se terá. Mesmo nos casos de deficiência óssea e mesmo nos recém-nascidos é admitida a propagação vascular. A parassíntese que o autor fez pela 2.° vez, devia ter operado incontinenti com sucesso comprovador, pois teria a consciência mais tranqüila e teria feito uma drenagem completa.

Dr. Roberto Oliva: A indicação operatória não se deve fazer sem uma punção occipital e dessa forma teria uma indicação segura para a cirurgia. Só pelos sintomas clínicos não poderíamos ter afirmação categórica.

Dr. Mario Ottoni: A maior curiosidade do caso está na idade os fenômenos mais encontrados o são na l ª infância. Quanto a parassíntese é sabido que todos os meningismo são curados pela parassíntese. E de lamentar a falta da punção suboccipital.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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