A fala, principal meio de comunicação utilizado pelo ser humano, só foi possível, entre outros fatores, devido à evolução filogenética da laringe. Esta evolução permitiu também o controle extremamente fino da emissão vocal, fato que podemos perceber principalmente ao escutarmos as vozes de cantores talentosos. Todos esses processos são decorrentes de mecanismos complexos, mas o estágio inicial da produção vocal é um fenômeno puramente mecânico, diretamente dependente da vibração adequada das pregas vocais.
Hirano, em 1974, propôs a teoria do complexo corpo-cobertura, segundo a qual a cobertura mucosa se move sobre um corpo relativamente estacionário, constituído por ligamento e músculo vocal.
1 Esta observação foi possível através do estudo histológico da prega vocal humana, que apresenta uma estrutura em camadas com distribuição diferenciada de componentes celulares e extracelulares. Este arranjo tem uma relação direta com as propriedades biomecânicas que permitem o comportamento vibratório das pregas vocais.
2 Apesar de alguns estudos importantes sobre a ultraestrutura de pregas vocais de fetos e crianças, ainda há muito a ser compreendido sobre o seu desenvolvimento.
3,4 Em um estudo recente foi identificada uma ultraestrutura em camadas, qualitativamente semelhante à dos adultos, em pregas vocais de fetos no último trimestre gestacional,
5 o que permitiu a inferência de o ligamento vocal já existir mesmo antes do nascimento. A importância de se conhecer com detalhes a estrutura da prega vocal humana normal e as características de seu desenvolvimento pode ter uma implicação na prática clínica diária, pois norteará a tomada de decisões, tais como terapias medicamentosas, tratamentos cirúrgicos e até, talvez num futuro não tão distante, a possibilidade de terapias gênicas no tratamento das mais variadas alterações.
Graças ao brilhantismo e à perspicácia dos mestres do passado, que mesmo com poucos recursos estudaram a laringe, podemos compreender a fisiologia da fonação e nela basear as nossas condutas terapêuticas atuais, principalmente cirúrgicas. Porém, apesar de todo o aparato tecnológico que permitiu os avanços da medicina, ainda há muito o que se estudar sobre a anatomia e a ultraestrutura das pregas vocais, principalmente as infantis, ainda em desenvolvimento.
REFERÊNCIAS1. Hirano M. Morphological structure of the vocal cord as a vibrator and its variations. Folia Phoniatr Logop. 1974;26:89-94.
2. Gray SD. Cellular physiology of the vocal folds. Otolaryngol Clin North Am. 2000;33:679-97.
3. Sato K, Hirano M, Nakashima T. Fine structure of the human newborn and infant vocal fold mucosae. Ann Otol Rhinol Laryngol. 2001;110:417-24.
4. Hartnick CJ, Rehbar R, Prasad V. Development and maturation of the pediatric human vocal fold lamina propria. Laryngoscope. 2005;115:4-15.
5. Nita LM, Battlehner CN, Ferreira MA, Imamura R, Sennes LU, Caldini EG, et al. The presence of a vocal ligament in fetuses: a histochemical and ultrastructural study. J Anat. 2009;215:692-7.
1. Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brazil
2. Unidade de Broncoesofagologia, Hospital de Base do Distrito Federal, Brasília, DF, Brazil
L.M.N. Watanabe
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