ISSN 1806-9312  
Terça, 16 de Abril de 2024
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4514 - Vol. 79 / Edição 6 / Período: Novembro - Dezembro de 2013
Seção: Editorial Páginas: 651 a 653
Otorrinolaringologia sem fronteiras
Autor(es):
Agrício Nubiato Crespo; Alexandre Caixeta Guimarães

DOI: 10.5935/1808-8694.20130121

Encerramos 2013 com um feito histórico na Otorrinolaringologia. A principal revista da comunidade científica nacional adquire fator de impacto, feito único em toda a América Latina.

O Brazilian Journal of Otorhinolaryngoly (BJORL) tem descrito uma rota ascendente na última década. Vencidas as etapas das sucessivas indexações, agora o desafio atinge parâmetros internacionais. Deixa de ser uma publicação de referência nacional para juntar-se aos grandes jornais do mundo. Para manter e aumentar o seu fator de impacto, será necessário atrair artigos relevantes, que gerem citações noutras publicações. Será necessário atrair o interesse de autores de outros países, como o fazem os periódicos mais conhecidos internacionalmente.

Ciência sem fronteiras

A exemplo do governo federal, que implantou um programa de envio de cerca de 100 mil estudantes bolsistas ao exterior para incentivar a produção científica nacional1, o BJORL deverá prospectar oportunidades para atrair publicações originadas também em outros países.

Esta tarefa não é simples, considerando-se o grande número de periódicos existentes e a tradição por muitos deles conquistada.

Nos próximos 12 meses, o BJORL será regularmente enviado a 100 cientistas e formadores de opinião ao redor do mundo, numa estratégia de buscar maior visibilidade internacional.

No intuito de avaliar nossas potencialidades, efetuamos uma ampla pesquisa comparativa entre as características do BJORL e os principais periódicos internacionais. Elegemos uma área de interesse: laringologia e voz.

Avaliamos, de 2009 a 2013, as publicações pertinentes no BJORL e nas cinco revistas mais tradicionais nesta área: Laryngoscope, Otolaryngology - Head and Neck Surgery, JAMA Archives of Otolaryngology - Head Neck Surgery, Journal of Voice e European Archives of Otorhinolaryngology. Estas revistas foram selecionadas por fator de impacto, obtido a partir de lista com ranking de fator de impacto fornecido pelas próprias revistas2 e por serem modelos tradicionais e destinos consagrados da publicação em laringologia.

Foram lidos 1.487 resumos publicados entre janeiro de 2009 e novembro de 2013, das seções de laringologia dos jornais ou com títulos relacionados com laringologia naquelas em que não há divisão por seções.

Os resumos foram classificados de acordo com seu conteúdo principal dentro de um dos seguintes temas: Avaliação vocal, células-tronco, cicatrização, disfagia, distonia, doenças benignas, estenose, exames diagnósticos, fator de crescimento, fisiopatologia, fonomicrocirurgia, neoplasia, papilomatose laríngea, paralisia de prega vocal e refluxo faringo-laríngeo.

A produção dos últimos cinco anos foi avaliada quanto ao tipo de estudo, nível de evidência e país de origem e também quanto à distribuição por temas. O nível de evidência científica de cada artigo foi classificado de acordo com a Classificação de Oxford Centre for Evidence-Based Medicine3. Nessa classificação, os estudos são graduados em grau de recomendação A para aqueles com nível de evidência 1A, 1B e 1C; grau de recomendação B para aqueles com nível de evidência 2A, 2B, 2C, 3A e 3B; grau de recomendação C para aqueles com nível de evidência 4; e grau de recomendação D para aqueles com nível de evidência 5 (Figura 1).


Figura 1. Classificação de Oxford Centre quanto ao grau de recomendação e nível de evidência.



Os resultados revelaram que o Brasil é o segundo país do mundo na geração de artigos científicos em Laringologia e voz, publicados nos cinco jornais selecionados, à frente de nações europeias e asiáticas, como Alemanha, Japão, Inglaterra, França e outros redutos tradicionais na produção científica. É superado apenas pelos Estados Unidos da América, responsável pela produção de 41% dos artigos publicados no período avaliado (Figura 2).


Figura 2. Distribuição do número de artigos em laringologia por país nos últimos cinco anos das cinco revistas internacionais (N total = 1.487).



Excluímos nesta afirmação os artigos publicados no BJORL, por considerar que muitos países também editam suas próprias revistas e ali publicam grande parte de suas produções científicas. As publicações originadas do Brasil, além do BJORL, estão concentradas no Journal of Voice, possivelmente por sua especificidade nos temas avaliados (Figura 3).


Figura 3. Distribuição dos artigos brasileiros em laringologia de 2009 a 2013.



O número de publicações em laringologia ao longo dos anos pesquisados variou pouco, evidenciando interesse estável da área pelo BJORL (Figura 4).


Figura 4. Distribuição do número de publicações por ano de 2009 a 2013 no BJORL. *Não foram consideradas as publicações de 2013 do último fascículo (novembro e dezembro).



Os temas mais publicados em laringologia no BJORL foram neoplasia e artigos relacionados com avaliação vocal. Não houve publicações sobre células-tronco ou fator de crescimento no período avaliado (Figura 5).


Figura 5. Distribuição por temas das publicações do BJORL em laringologia de 2009 a 2013.



O BJORL concentra publicações com nível C de recomendação. As publicações com nível B de recomendação concentram artigos com níveis 3B e 2C de evidência. Os principais tipos de estudo foram retrospectivos descritivos, prospectivos descritivos e relatos de caso. Outros tipos menos frequentes foram estudos de caso controle, estudos experimentais e estudos epidemiológicos de prevalência. Na comparação com as outras cinco revistas internacionais, nota-se maior proporção de publicações de nível de evidência 4 e ausência de publicações com nível A de recomendação no BJORL (Figura 6).


Figura 6. Distribuição das publicações de acordo com o nível de evidência e grau de recomendação entre as revistas no período de 2009 a 2013.



Embora esta pesquisa tenha sido particularizada ao âmbito da laringologia, cremos que as informações decorrentes possam ser consideradas como balizadores futuros do nosso jornal.

Concluímos que o Brasil apresenta produção científica expressiva em laringologia, é o segundo país em número de publicações nas revistas internacionais mais conceituadas. Há necessidade de melhorar qualitativamente esta volumosa produção científica, produzindo mais estudos com níveis de recomendação A e B.

Agrício Nubiato Crespo,
Livre Docente (chefe da disciplina ORL da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP).

Alexandre Caixeta Guimarães,
Médico otorrinolaringologista (pós-graduando em ciências médicas na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP).

Agradecimentos
Henrique Furlan Pauna
Fernando Laffitte Fernandes
Carlos Correa



REFERÊNCIAS

1. Brasil. Ciência sem fronteira [Internet]. [acessado 2 de dezembro de 2013]. Disponível em: http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/o-programa

2. Medica Journals Impact Factors 2013 [Internet]. [acessado 2 de dezembro de 2013]. Disponível em: http://impactfactor.weebly.com/ent.html

3. Brasil. Ministério da Saúde. Portal da Saúde [Internet]. [acessado 3 de dezembro de 2013]. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/tabela_nivel_evidencia.pdf
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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