INTRODUÇÃO
O carcinoma espinocelular (CEC) de cabeça e pescoço com acometimento de sítios anatômicos do trato aerodigestivo superior representa a terceira causa mais comum de óbito por câncer no mundo. Em 2009, estima-se que houve cerca de 47.000 casos de CEC de cabeça e pescoço e 11.000 óbitos pela doença eram esperados1.
A ampla maioria (mais de 90%) é composta por carcinomas espinocelulares. A doença normalmente aparece na orofaringe, cavidade oral, hipofaringe ou laringe. O desenvolvimento de CEC de cabeça e pescoço resulta da interação de fatores ambientais e herança genética, tratando-se, portanto, de uma doença multifatorial. Tabagismo e alcoolismo são importantes fatores de risco para o desenvolvimento da doença2.
O papilomavírus humano (HPV) também é considerado fator de risco em 25% dos casos da doença. Infecção por HPV tem conhecido papel na carcinogênese orofaríngea, particularmente nos casos de câncer amigdaliano, com prognóstico forte e independente, provavelmente por determinar o perfil molecular do câncer e, assim, a resposta ao tratamento. Ao mesmo tempo, nem todos os fumantes e etilistas têm CEC de cabeça e pescoço, indicando que a variação individual da suscetibilidade genética desempenha um papel crítico3. Resultados preliminares indicam que as infecções por HPV de alto risco parecem ser biologicamente relevantes na carcinogênese laríngea. Contudo, a significância clínica de tais infecções e suas implicações sobre prevenção e tratamento da doença não foram totalmente esclarecidas, clamando por mais estudos4.
A expectativa de vida por cinco anos é de cerca de 50% quando metástases linfonodais estão presentes5. Foi demonstrado que pacientes com doença avançada com resposta tumoral à quimioterapia neoadjuvante têm boa taxa de cura. Isto é importante por conta da intensidade do tratamento nos protocolos futuros, de modo a oferecer as melhores taxas de cura com os menores níveis de toxicidade6. Atualmente, há novas técnicas cirúrgicas, como a cirurgia robótica, que reduzem a taxa de traqueostomia e permitem recuperação mais rápida da função de deglutição oral e internações mais curtas7. Radioterapia com quimioterapia concomitante também demonstra taxas de sobrevida melhores para preservação da laringe e controle locorregional8. Mortalidade e morbidade associadas à doença maligna permanecem elevadas, causando impacto sobre a qualidade de vida e o custo de tratamento dos pacientes9. O CEC de cabeça e pescoço pode afetar a saúde geral e mental, a aparência, emprego, vida social e vida em família. Também podem ocorrer sérias mudanças no funcionamento do trato aerodigestivo superior com consequentes impactos sobre a qualidade de vida dos pacientes. Além disso, o entendimento do desenvolvimento da doença e sua aparência podem ajudar na escolha do tratamento, assim como a análise dos sintomas e/ou reabilitação necessária, melhor organização e qualidade do cuidado médico, identificando aspectos de impacto sobre a sobrevida do paciente para ajudar na decisão da eficácia do tratamento por meio do esclarecimento dos efeitos colaterais do mesmo. Com base nos dados acima, a presente revisão se concentrou nos progressos recentes relacionados às causas, prevenção, tratamento, aspectos clínicos e desfechos de CEC de cabeça e pescoço.
OBJETIVO
Determinar fatores de risco, causas, tratamentos e prevenção do câncer de cabeça e pescoço por meio de pesquisas em bancos de dados (PUBMED, SciELO, MEDLINE).
MÉTODO
Foram pesquisados todos os artigos publicados na literatura, independente do ano de publicação, com as seguintes palavras-chave: "Head and neck cancer", "Head and neck cancer and prevention", "Head and neck cancer and causes", "Head and neck cancer and treatment", "Head and neck cancer and survival life", "Head and neck cancer and tobacco", "Head and neck cancer and alcohol". No presente estudo, apenas artigos que avaliaram tumores localizados no trato aerodigestivo superior (cavidade oral, faringe e laringe) foram pesquisados.
Causas do câncer de cabeça e pescoço
O tabagismo é o principal fator de risco para CEC de cabeça e pescoço. Tal risco é correlacionado com a intensidade e duração do hábito de fumar4,10. O cigarro contém nitrosaminas e hidrocarbonetos policíclicos carcinogênicos genotóxicos que podem aumentar o risco de doença. Tais elementos podem alterar o perfil molecular dos indivíduos e causar mutações.
Kumar et al.11 demonstraram que a cessação do tabagismo reduz, mas não elimina o risco de desenvolvimento de câncer. Contudo, Marron et al.12 confirmaram que a cessação do tabagismo protege contra o desenvolvimento de CEC de cabeça e pescoço. O maior fator de risco para câncer oral entre não etilistas é o fumo, enquanto o consumo de álcool é o principal fator entre fumantes13,14. O risco pode aumentar diretamente com a concentração de álcool (ex.: consumo de bebidas destiladas em comparação a cerveja ou vinho), mesmo após ajuste para total de álcool consumido. Não está claro se o tipo de álcool consumido afeta o risco para câncer oral após ajuste para total consumido e concentração de álcool14,15.
O álcool age como solvente para aumentar a exposição da mucosa a agentes carcinogênicos, elevando a absorção celular dos mesmos. O acetaldeído, um metabólito do álcool, pode formar adutos de DNA que interferem na síntese e no reparo do DNA16. Segundo Marur & Forastiere17, o fumo associado ao consumo de álcool eleva em 40 vezes o risco de CEC de cabeça e pescoço. Ao mesmo tempo, nem todos os tabagistas e consumidores de álcool desenvolvem CEC de cabeça e pescoço, o que indica que a variação individual da suscetibilidade genética desempenha um papel crítico3. Há ainda uma forte relação entre uso de fumo e álcool. Seu uso combinado eleva o risco ainda mais14.
Dados recentes confirmam que a infecção por HPV-16 é fator de risco independente para CEC de cabeça e pescoço, principalmente para CEC da orofaringe18. Além disso, tipos de HPV de alto risco representam fator de risco em 25% dos casos de CEC de cabeça e pescoço, independente de outros fatores de risco conhecidos como consumo de álcool e tabagismo10. Apesar do modo de transmissão do HPV no câncer de cabeça e pescoço não ter sido determinado, o comportamento sexual foi associado a risco aumentado19. A presença de DNA viral em tumores, o elo etiológico entre HPV e câncer de cabeça e pescoço, foi corroborado pela detecção de DNA de HPV em lavados orais e anticorpos HPV específicos em casos de câncer de cabeça e pescoço19.
A alimentação pode estar associada à redução do risco de doença. Fortes evidências indicam que há redução do risco de câncer de cabeça e pescoço em dietas com frutas, alimentos que contêm carotenoides e vegetais pobres em amido. Um estudo recente confirmou que escores mais elevados no padrão alimentar com alto consumo de frutas e vegetais e baixa ingestão de carne vermelha foram associados a risco reduzido de CEC de cabeça e pescoço20.
Exposição a agentes carcinogênicos, higiene oral, formação de placas dentárias, irritação crônica do revestimento da boca, histórico familiar, baixo índice de massa corporal e exposição a luz ultravioleta também têm seu papel, individualmente ou em combinação, no desenvolvimento do CEC de cabeça e pescoço, pois podem modular o metabolismo de toxinas e agentes carcinogênicos21-23. A exposição a agentes carcinogênicos aumenta o risco de CEC de cabeça e pescoço por conta dos efeitos genotóxicos do fumo. Cigarros têm aproximadamente 4.700 substâncias, pelo menos 50 das quais carcinogênicas, incluindo nitrosaminas e hidrocarbonetos policíclicos24. Considerando higiene oral, a placa supragengival polimicrobiana pode também ser considerada como um possível fator independente por sua relevante interação mutagênica com a saliva, podendo a higiene oral ser um fator contribuinte no desenvolvimento dos carcinomas da cavidade oral. Doenças periodontais resultantes de má higiene oral podem levar a infecções com consequente liberação de mediadores inflamatórios tais como citocinas. As reações contra a inflamação, por sua vez, podem promover o desenvolvimento de câncer. A perda de dentes pode também contribuir para o desenvolvimento de câncer oral, já que leva à alteração da flora oral e favorece a redução de nitritos e nitratos e a produção de acetaldeído, que leva à formação de adutos de DNA21-24.
A influência do histórico familiar no desenvolvimento do carcinoma de cabeça e pescoço pode se dever a agregações familiares que podem indicar um papel para os fatores genéticos herdados no risco de CEC de cabeça e pescoço22. Vários polimorfismos genéticos nos genes envolvidos no metabolismo de agentes carcinogênicos, reparo do DNA ou em vários outros processos foram associados a risco de CEC de cabeça e pescoço, apesar dos resultados nem sempre serem consistentes. Já que a capacidade diferencial de metabolizar agentes carcinogênicos ocorre apenas no momento da exposição, também é possível que o risco familiar reflita tanto uma suscetibilidade genética aumentada para CEC de cabeça e pescoço como uma agregação de exposições22.
Uma análise agregada de 17 estudos internacionais identificou que sujeitos esguios tinham risco mais elevado para CEC de cabeça e pescoço e que sujeitos pesados tinham risco menor quando comparados a indivíduos de tamanho corporal normal, após ajuste para os principais fatores de risco de CEC de cabeça e pescoço (tabagismo e etilismo). Uma possível explicação é que, logo antes do diagnóstico, lesões não diagnosticadas de câncer de cabeça e pescoço tenham causado disfagia ou odinofagia, ou talvez alterado o paladar e o apetite, levando à redução na ingestão calórica e perda de peso. O risco reduzido entre indivíduos em sobrepeso pode indicar que massa corporal modifica o risco associado a fumo e alcoolismo. Maiores esclarecimentos deverão ser fornecidos pelas análises de coortes prospectivas23.
A atividade profissional também parece estar associada ao desenvolvimento de câncer de cabeça e pescoço. Conway et al.25 demonstraram que atividades ocupacionais manuais, renda baixa, classe social-ocupacional baixa, baixa escolaridade e desemprego estão correlacionados com maior risco de desenvolvimento da doença. Indivíduos que trabalham em atividades rurais estão em constante exposição à luz solar e em contato com substâncias carcinogênicas que contribuem para o desenvolvimento de câncer da cavidade oral26.
Tratamento do câncer de cabeça e pescoço
O uso de cirurgia, radiação e/ou quimioterapia depende da ressecabilidade e localização do tumor e da viabilidade de abordagens que visem à preservação de órgãos27. A principal opção de tratamento para doença primária, secundária e recorrente é cirurgia28. O uso de cirurgia assistida por laser transoral seguida de radioterapia é comum no tratamento de carcinomas orofaríngeos, hipofaríngeos e supraglóticos em estágio precoce29. Por outro lado, carcinomas glóticos precoces exibem excelentes resultados oncológicos após tratamento em modalidade isolada. A cirurgia com laser transoral é o tratamento de escolha, mas radioterapia também aparece como uma boa alternativa30.
Apesar da obtenção de margens negativas ser o objetivo primário da cirurgia de cabeça e pescoço, a realização de tal meta pode ser impossível em alguns casos por conta da infiltração de estruturas vitais como artéria carótida ou fáscias pré-vertebrais. Margens cirúrgicas positivas são associadas a redução da sobrevida. Pacientes nessa situação devem ser reoperados para a remoção completa do tumor31. Contudo, a obtenção de margens negativas pode levar a importantes disfunções em áreas como mastigação, deglutição e fala, afetando adversamente a qualidade de vida do paciente32. Assim, radioterapia e quimioterapia surgem como alternativas para os pacientes com carcinomas avançados de cabeça e pescoço.
A recomendação de esvaziamento cervical planejado independente de resposta clínica é corroborada pelas altas taxas de doença residual observadas nas peças cirúrgicas do procedimento em questão e pela sobrevida dos pacientes ao mesmo submetidos33. Os progressos das técnicas de imagem podem ajudar a identificar os pacientes com resposta clínica parcial que devem se submeter ao esvaziamento cervical. Até então, recomendamos que pacientes com resposta clínica menos que parcial após quimiorradioterapia sejam submetidos a esvaziamento cervical planejado34.
De forma geral, há três abordagens principais ao tratamento inicial de doença localmente avançada: (1) quimiorradioterapia concomitante baseada em platina, com cirurgia reservada para doença residual; (2) cirurgia com esvaziamento cervical e reconstrução, seguida de radioterapia ou quimiorradioterapia adjuvante, dependendo da presença de fatores de risco adversos; ou (3) quimioterapia de indução seguida de quimiorradioterapia definitiva e/ou cirurgia. Cerca de 60% dos pacientes com CEC de cabeça e pescoço têm doença localmente avançada, para a qual a modalidade de tratamento combinado com intenção curativa é recomendada27,35.
Cisplatina ainda é a base para o tratamento de CEC de cabeça e pescoço recorrente e metastático. Além disso, a administração de cisplatina em alta dose no pós-operatório concomitante à radioterapia é mais eficaz do que radioterapia isolada em pacientes com carcinoma de cabeça e pescoço localmente avançado, além de não causar um grande número de complicações tardias36. Os dados demonstram que a radioterapia combinada com 5-fluorouracila (5-FU), cisplatina, carboplatina e mitomicina C simultâneas como um único medicamento ou em combinações de 5-FU com um dos outros medicamentos resulta em grande vantagem de sobrevida, independentemente do programa de radiação empregado. Quando radioterapia é utilizada isoladamente, hiperfracionamento leva a melhoras significativas na sobrevida geral. A radioterapia acelerada sozinha, especialmente quando ministrada em cronograma fracionado ou tratamentos extremamente acelerados com dose total reduzida, não aumenta a sobrevida geral37.
Cetuximabe em combinação com platina/5-FU surgiu como um novo regime alternativo para pacientes não tratados baseado nos resultados do ensaio clínico First-line Treatment of Recurrent or Metastatic Head and Neck Cancer. Cetuximabe pode ser usado com quimioterapia em tratamento de primeira linha de doença recorrente ou metastática e em tratamento de segunda linha de doença refratária a platina35. Os dados de um ensaio clínico fase III corroboram o papel do cetuximabe com radioterapia como um tratamento eficaz para pacientes com CEC de cabeça e pescoço locorregionalmente avançado. Além disso, cetuximabe com radioterapia levou a significativas melhoras no controle locorregional e na sobrevida. Tais melhoras de sobrevida puderam ser mantidas no longo prazo, com uma vantagem de nove pontos percentuais para cetuximabe e radioterapia na taxa de sobrevida geral com cinco anos em comparação à radioterapia isolada. A combinação de cetuximabe e quimiorradioterapia concomitante está sendo investigada atualmente em ensaios clínicos fase III. A incorporação de cetuximabe na quimioterapia sequencial e em regimes de radioterapia/quimiorradioterapia tem gerado resultados interessantes. Após quimioterapia de indução, a combinação de cetuximabe e radioterapia foi mais bem tolerada do que o tratamento com platina concomitante à quimiorradioterapia com uma taxa semelhante de preservação da laringe no curto prazo38.
Os taxanos docetaxel e paclitaxel (Taxol®) são ativos para CEC de cabeça e pescoço. Vários estudos em fase II indicam que a adição de um taxano melhora a resposta à quimioterapia de indução baseada em 5-FU. Resultados de um ensaio clínico randomizado fase III que comparou quimioterapia de indução com docetaxel e 5-FU em combinação e 5-FU apenas indicaram que a incorporação de um taxano melhora substancialmente a resposta clínica e a sobrevida de pacientes com câncer localmente avançado de cabeça e pescoço. Contudo, paclitaxel pode levar à neurotoxicidade e apresentar problemas, particularmente quando usado em combinação com agentes neurotóxicos como cisplatina39.
A radioterapia de intensidade modulada (IMRT) tem sido vista como vantajosa em comparação às técnicas tradicionais como radioterapia convencional (2D) e radioterapia conformada (3D), por oferecer uma cobertura mais homogênea da dosagem em relação ao volume alvo e uma redução da exposição dos tecidos adjacentes ao tratamento. A dose mais elevada está correlacionada com melhor controle do tumor e melhores taxas de sobrevida40.
Radioterapia hiperfracionada também tem sido utilizada em pacientes com CEC de cabeça e pescoço. Entretanto, esta opção terapêutica pode produzir reações de diferentes graus de intensidade na mucosa como mucosite oral, que causa dor significativa, dificuldades de mastigação e deglutição, representando a mais debilitante reação aguda associada ao tratamento do câncer de cabeça e pescoço41. O uso de braquiterapia em pacientes com CEC de cabeça e pescoço, em que se usa fontes de radiação em contato direto com os tecidos a serem irradiados, aumenta o risco de desenvolvimento de necrose de partes moles, que pode ser definida como úlcera localizada no tecido irradiado, sem a presença de doença maligna residual42.
Atualmente, os novos tratamentos direcionados para atuar sobre componentes moleculares específicos poderão ajudar a ampliar a compreensão da genética molecular do CEC de cabeça e pescoço. Por exemplo, o EGFR (receptor do fator de crescimento epidérmico), que tem sobre-expressão em mais de 90% dos CEC de cabeça e pescoço, é um transdutor central de várias vias de sinalização relacionado a crescimento tumoral, crescimento celular, angiogênese e invasão. Há diferentes pontos ao longo desta sequência transdutora de sinais e o tratamento pode ser utilizado para bloquear a função do EGFR. A eficácia do bloqueio em combinação com outras modalidades de tratamento, como a inibição de outras vias de sinalização, pode ser aprimorada11.
A disponibilidade de terapias biológicas direcionadas a mecanismos importantes do crescimento tumoral e metastático tem levado à proposição de tratamentos personalizados baseados nas características específicas dos pacientes e seus tumores. Alguns estudos incluíram subgrupos ou análises correlacionando tais características e o desfecho35,43. Colaboração interdisciplinar e discussões de casos devem ser estimuladas no âmbito de comitês clínicos sobre tumores. São esperados avanços à medida que novas informações sejam obtidas sobre os mecanismos chave e os fatores prognósticos relacionados ao CEC de cabeça e pescoço.
Prevenção do câncer de cabeça e pescoço
Novas abordagens têm ajudado a elucidar conceitos biológicos conhecidos de longa data, porém mal compreendidos, como cancerização de campo, e a explicar padrões clínicos intrigantes como recidiva local após ressecção aparentemente completa44. A análise das mudanças genéticas moleculares em CEC de cabeça e pescoço revela não apenas diferenças individuais entre tumores, mas também diferenças consistentes de larga escala que permitem o reconhecimento de importantes subtipos da doença. As novas estratégias de tratamento podem melhor abordar tais diferenças de modo a aprimorar a resposta imunológica a antígenos tumor-específicos e a direcionar o tratamento a componentes individuais do aparato genético molecular45.
Vários fatores de risco definidos como tabagismo, infecção por HPV e alterações genéticas incluindo EGFR, TP53, p16, p14 foram identificados e muitos serão descobertos nos próximos anos. No atual contexto, cessar o tabagismo, limitar o consumo de álcool, evitar mascar fumo, evitar a exposição a fumo passivo e agentes carcinogênicos ambientais, fazer triagem para HPV, manter boa saúde oral e bons hábitos alimentares, além de controlar o estresse, podem ser boas medidas primárias para prevenir ou retardar o desenvolvimento de CEC de cabeça e pescoço46. Contudo, os dados demonstram que a manutenção de tabagismo e etilismo e/ou taxas de recidiva são elevadas em pacientes tratados por CEC de cabeça e pescoço, significando que apenas o aconselhamento não basta enquanto estratégia de cessação de tais hábitos47.
O prognóstico ruim do CEC de cabeça e pescoço deve-se primariamente à detecção da doença em estágio avançado. Assim, o entendimento da cancerização de campo e da genética molecular da doença são essenciais para proporcionar melhores intervenções e abordagens terapêuticas, juntamente com a introdução de vários biomarcadores com possível aplicação no diagnóstico, estadiamento, acompanhamento e prognóstico dos pacientes2.
Os alimentos também pode influenciar o desenvolvimento de neoplasias devido ao modo como são preparados e aditivos usados. Certos alimentos têm propriedades antitumorais, como as plantas crucíferas (couve-flor, brócolis e repolho), e bloqueiam enzimas responsáveis pela ativação tumoral ou quelação (sequestro) de radicais livres, um aprimorado processo de detoxificação que altera a atividade de tais enzimas ou a modulação de certos processos de reparo do DNA48. Portanto, uma dieta equilibrada pode prevenir ou retardar o desenvolvimento de CEC de cabeça e pescoço.
Apesar de haver dados que demonstram o uso de instrumentos para prevenir o câncer de cabeça e pescoço, mais estudos sobre novos indicadores prognósticos são necessários para melhor esclarecer a questão.
RESULTADOS
Etilismo e tabagismo têm fator aditivo e permanecem como os principais fatores de risco. Contudo, outros fatores também influenciam o desenvolvimento de CEC de cabeça e pescoço, tais como infecção por HPV, alimentação, exposição a agentes carcinogênicos, higiene oral, agentes infecciosos, histórico familiar, baixo índice de massa corporal, exposição a luz ultravioleta, irritação crônica do revestimento da boca e formação de placa dentária, patologias pré-existentes e atividade profissional.
A principal opção para doença maligna primária, secundária e recorrente é cirurgia. Cirurgia seguida de radioterapia é prática comum no tratamento do CEC de cabeça e pescoço nos estágios precoces da doença (I ou II), apresentando elevado percentual de cura. Há também novos tratamentos direcionados a componentes específicos do aparato molecular genético que suporta o desenvolvimento e crescimento tumoral.
Cessar o tabagismo, limitar o consumo de álcool, evitar mascar fumo, evitar a exposição a fumo passivo e agentes carcinogênicos ambientais, fazer triagem para HPV, manter boa saúde oral e bons hábitos alimentares, além de controlar o estresse, podem ser boas medidas primárias para prevenir ou retardar o desenvolvimento de CEC de cabeça e pescoço.
DISCUSSÃO
CEC de cabeça e pescoço é a quinta causa de óbito na população mundial, com 500.000 novos casos por ano. Recentemente, o manejo do câncer de cabeça e pescoço ganhou novos níveis de complexidade com programas de modalidade combinada, além da integração de novas tecnologias diagnósticas e terapêuticas20.
Atualmente, sabemos que as vítimas de CEC de cabeça e pescoço não são apenas tabagistas e etilistas, ainda que ambos os grupos sejam preferencialmente afetados. Há muitos outros fatores de risco envolvidos no aparecimento do câncer de cabeça e pescoço. Assim, é necessário investigar a origem da doença em cada paciente, de modo a tornar mais específica a escolha do tratamento. A complexidade dos sítios acometidos em casos de CEC de cabeça e pescoço requer a adoção de um modelo em que sejam consideradas as melhores práticas e uma abordagem multidisciplinar de atendimento. Cirurgia é frequentemente necessária, seguida de radioterapia ou quimioterapia.
A cirurgia pode ser desfigurante e psicologicamente traumática, mas há métodos que preconizam a preservação de órgãos como a mandíbula, por conta de seus papéis funcionais, estéticos e psicológicos para o paciente. As técnicas conservadoras de mandibulectomia apresentam resultados favoráveis49. Há outros métodos de reabilitação, como os de reconstrução de todos os defeitos cérvico-faciais pós-excisionais e a reconstrução utilizando enxerto osteomiocutâneo e microanastomose50. As opções cirúrgicas com preservação de órgãos, contudo, ainda apresentam limitações e exigem maiores estudos.
Quimioterapia, seja de indução ou concomitante à quimiorradioterapia, é rotineiramente integrada ao tratamento de pacientes com câncer de cabeça e pescoço localmente avançado. O tratamento sequencial incorporando quimioterapia de indução e quimiorradioterapia é uma abordagem viável e oferece o potencial de melhorar os desfechos de sobrevida39. Contudo, altas doses de quimioterapia ou radioterapia podem levar a muitos efeitos colaterais prejudiciais à qualidade de vida do paciente.
Atualmente, as medidas mais eficazes para melhorar o prognóstico de tumores malignos são prevenção e diagnóstico precoce. A detecção precoce e o tratamento inicial podem levar à resolução bem-sucedida do CEC de cabeça e pescoço. A detecção tardia pode requerer tratamentos que variam de cirurgia excisional a radioterapia ou quimioterapia. As principais causas do diagnóstico tardio são desinformação, desconsideração dos sintomas por parte dos pacientes e falta de exames de rotina feitos por profissionais da saúde. Tal contexto leva à oferta de tratamentos mais fortes que podem reduzir a qualidade de vida dos pacientes por ser o CEC de cabeça e pescoço um tumor agressivo e desfigurante.
CONCLUSÃO
Apesar dos fatores de risco estabelecidos, sabemos que há muitos outros fatores que contribuem para o desenvolvimento de CEC de cabeça e pescoço. Há vários tratamentos para câncer de cabeça e pescoço, dependendo do estágio da doença. Alguns aumentam a sobrevida dos pacientes, mas todos os tratamentos (cirurgia, quimioterapia, radioterapia e quimiorradioterapia) trazem consigo efeitos colaterais que podem reduzir a qualidade de vida do paciente e mutilar certos órgãos. Novas intervenções e abordagens terapêuticas são necessárias de modo a mais completamente entendermos o desenvolvimento do CEC de cabeça e pescoço.
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1. Mestrado em Ciências da Saúde - FAMERP - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. Unidade de Pesquisa em Genética e Biologia Molecular (UPGEM) (Bióloga e Farmacêutica; Estudante de doutorado). 2. Médico, Doutorado (Professor Adjunto - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP). 3. Médico, Livre Docente (Professor Adjunto - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP). 4. Enfermeira, Doutorado (Professora Adjunta - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP). 5. Bióloga, Livre Docente em Genética Humana e Médica (Professora Adjunta - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP). Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP).
Endereço para correspondência: Eny Maria Goloni-Bertollo Av. Brigadeiro Faria Lima, nº 5416. Vila São José São José do Rio Preto - SP. Brasil. CEP: 15090-000 Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da BJORL em 15 de maio de 2012. cod. 9204. Artigo aceito em 10 de agosto de 2012.
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