ISSN 1806-9312  
Domingo, 28 de Abril de 2024
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4393 - Vol. 79 / Edição 1 / Período: Janeiro - Fevereiro de 2013
Seção: Editorial Páginas: 4 a 4
O gargalo da pós-graduação em Otorrinolaringologia no Brasil
Autor(es):
Regina Martins; Ubirajara Sennes

DOI: 10.5935/1808-8694.20130002

Como todos sabem, a CAPES rege a pós-graduação no Brasil. Ela credencia e avalia os programas, classificando-os com relação a sua excelência em nível nacional e sua inserção internacional. O principal objetivo da pós-graduação senso estrito (mestrado acadêmico e doutorado) é a formação de pesquisadores e a geração de conhecimentos de impacto na ciência. Por isso, o principal parâmetro de avaliação, além do fluxo de titulação de alunos, é o impacto das publicações resultante das dissertações e teses do Programa.

Em um primeiro momento, esse critério gerou muito desconforto entre os orientadores e alunos, além de muitos questionamentos: seria mais importante gerar uma publicação em revista de circulação nacional, em português, que atingisse a maioria dos otorrinolaringologistas do Brasil ou publicar em periódicos de circulação internacional, em inglês, e que poucos brasileiros os leriam? Acreditamos que ambas as publicações são importantes, contemplando o otorrinolaringologista que atua na sua profissão e o que atua também em pesquisa. Para representar essa segunda vertente, duas de nossas principais publicações se estruturaram e hoje a Brazilian Journal of Otorhinolaryngology está indexada no Medline e JCR (aguardando o índice do fator de impacto) e a International Archives of Otorhinolaryngology está indexada na Scielo.

Não existe dúvida de que essa pressão da CAPES gerou resultados e merece elogios. O Brasil melhorou substancialmente a quantidade e a qualidade de suas publicações, ocupando hoje a 13º colocação em publicações no mundo, com uma curva de crescimento muito superior a dos demais países. Os responsáveis por esse salto são os programas de pós-graduação, regidos e fomentados pela CAPES. A Otorrinolaringologia também aumentou, em muito, a quantidade e a qualidade de suas publicações, haja vista o número elevado e crescente de trabalhos apresentados em congressos e publicados em periódicos, muitos deles produto de dissertações e teses, ganhando merecido respeito e reconhecimento da Otorrinolaringologia mundial.

Por outro lado, a Otorrinolaringologia tem sido muito prejudicada pelo sistema utilizado para classificar as publicações. A CAPES adotou o chamado sistema Qualis, que as classifica de acordo com seu índice de impacto (número de citações do periódico) dentro das várias áreas do conhecimento. A Otorrinolaringologia pertence à Medicina III - área cirúrgica, na qual o Qualis atualmente está estratificado em: A1: impacto > 3,30, A2 > 2,63, B1 > 1,51, B2 > 0,90, B3 > 0,01, B4: indexados no MedLine, Scielo, LILACS, B5 e C. Embora seja um sistema muito transparente e honesto, não contempla as particularidades da área cirúrgica, que é muito heterogênea. Os periódicos da Otorrinolaringologia têm impacto médio de 1,20, sendo o menor da Medicina III (Oftalmologia 2,73, Anestesiologia 2,61, Gastrocirurgia 2,24, Cirurgia 2,18, Urologia 2,14, Cirurgia cardiotorácica 2,06, Ortopedia 1,94, Tocoginecologia 1,76 e Cirurgia plástica 1,42).

Somente um periódico da ORL é Qualis A2 (12 são B1, 14 B2 e 13 B3). Nossas melhores e mais reconhecidas revistas, nas quais os mais renomados pesquisadores da ORL internacional publicam, são B1 e B2. Como são considerados de segunda linha pela CAPES, prejudica o conceito dos nossos programas de pós-graduação. Porém, não deveríamos ser comparados com os pesquisadores da oftalmo ou urologia, mas sim com nossos pares otorrinolaringologistas. Não temos dúvida que publicamos nos principais periódicos da especialidade, mas um único Qualis para toda Medicina III não é sensível a esse fato. É um método que não cumpre seu objetivo. Compara o pesquisador da Otorrinolaringologia com todos da área cirúrgica e não com seus pares. A amostra é heterogênea e as conclusões equivocadas.

A persistência e o idealismo nos impulsionam para continuarmos publicando e crescendo na nossa especialidade, mas é importante que registremos as limitações dos coordenadores dos programas de pós-graduação, frente ao critério adotado pela CAPES.

Regina Martins,
Professora Livre Docente da Disciplina de Otorrinolaringologia da
Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp) e Coordenadora do
curso de Pós-Graduação em Cirurgia.

Ubirajara Sennes,
Professor Associado da Faculdade de Medicina da USP e Coordenador
do Programa de Pós-Graduação em Otorrinolaringologia da USP.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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