ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
Listagem dos arquivos selecionados para impressão:
Imprimir:
4354 - Vol. 78 / Edição 5 / Período: Setembro - Outubro de 2012
Seção: Artigo Original Páginas: 69 a 77
Satisfação de pacientes protetizados em um serviço de alta complexidade
Autor(es):
Fernanda Soares Aurélio1; Simone Pereira da Silva2; Liliane Barbosa Rodrigues3; Isabel Cristiane Kuniyoshi4; Marília Silva e Nunes Botelho5

DOI: 10.5935/1808-8694.20120011

Palavras-chave: audição, perda auditiva, qualidade de vida, reabilitação, satisfação do paciente.

Keywords: hearing, hearing loss, patient satisfaction, quality of life, rehabilitation.

Resumo: O processo de seleção e adaptação de próteses auditivas só será eficaz e terá bons resultados se o indivíduo fizer uso efetivo deste dispositivo. Para isto, é necessário que o mesmo esteja satisfeito com os resultados sentidos.
OBJETIVO: Verificar a satisfação auditiva de pacientes adultos e idosos protetizados em um serviço de alta complexidade, credenciado ao Sistema Único de Saúde, e relacionar este achado com as variáveis idade, gênero, tempo de adaptação, tempo de uso diário e tipo de aparelho de amplificação sonora.
MÉTODO: Estudo transversal de caráter descritivo no qual foram avaliados 60 sujeitos com utilização do questionário Satisfaction with Amplification in Daily Life, aplicado por meio de apresentação oral, em entrevista individual, pelas pesquisadoras. Este instrumento é dividido nas subescalas efeitos positivos, serviços e custos, fatores negativos e imagem pessoal.
RESULTADOS: Foi evidenciado que os sujeitos encontram-se muito satisfeitos com a utilização do aparelho auditivo. Verificou-se diferença significativa ao relacionar o tempo de uso diário dos aparelhos com a satisfação global e o escore da subescala imagem pessoal.
CONCLUSÃO: Constatou-se que os participantes do estudo estão muito satisfeitos com a utilização dos aparelhos auditivos, porém, satisfação não tem relação com as variáveis idade, gênero, tempo de adaptação e tipo de dispositivo. De maneira geral, os participantes com maior tempo de uso diário estão mais satisfeitos.

Abstract: The process of selecting and fitting hearing aid devices is only effective and only bring about good outcomes if the individual makes effective use of the device. Therefore, the individuals need to be happy with the outcome.
AIM: To check the satisfaction of adults and elderly patients concerning their hearing aid in a high complex care clinic accredited by the Unified Health System, and to correlate this outcome with the variables related to age, gender, fitting period, daily use, as well as the type of sound amplifying device.
METHODS: This is a descriptive cross-sectional study in which 60 subjects were evaluated using the questionnaire: Satisfaction with Amplification in Daily Life, applied by means of oral presentation, in individual interviews by the researcher. This instrument is divided into subscales: positive effects, service and costs, negative factors and personal image.
RESULTS: It was shown that the subjects of this study were very happy with the use of hearing aid devices. There was significant difference in relating the daily use of the devices with the overall satisfaction score and subscale of personal image.
CONCLUSION: It was found that the subjects of the study were very happy with the use of hearing aids, although satisfaction was not related to the variables: age, gender, time of use and device type. In general, participants with higher daily use are happier.

INTRODUÇÃO

A audição é um sentido fundamental à vida, pois é a base do desenvolvimento da comunicação humana. A deficiência auditiva causa no indivíduo, além da limitação na capacidade de percepção dos sons, comprometimentos psicossociais, causando afastamento do convívio social e do seu papel na sociedade, interferindo na qualidade de vida do mesmo1.

Durante muito tempo, a deficiência auditiva foi considerada uma doença incapacitante. Nos últimos anos, muito tem sido feito para amenizar esse estigma e proporcionar a melhora da qualidade de vida dos indivíduos deficientes auditivos2.

As dificuldades ocasionadas pela privação sensorial podem ser minimizadas com o uso do Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI), o qual permite o resgate da percepção dos sons da fala, além dos sons ambientais, promovendo a melhora da habilidade de comunicação3, sendo que o prognóstico dependerá do local da lesão, do grau da perda auditiva e, principalmente, das expectativas existentes com relação à amplificação4.

O objetivo do fonoaudiólogo que atua na adaptação de AASI é proporcionar a satisfação do usuário, garantindo melhores condições de comunicação, e contribuir para a sua qualidade de vida5. Porém, uma das maiores dificuldades enfrentadas por estes profissionais é como validar o sucesso obtido com o uso deste dispositivo6.

Apesar de todas as vantagens que os avanços tecnológicos podem proporcionar, é imprescindível conhecer as reais dificuldades auditivas dos usuários e a expectativa dos mesmos quanto ao uso da amplificação, para que se possa direcionar e individualizar cada vez mais o atendimento clínico2.

O desempenho com a prótese auditiva relatada pelo usuário propõe um direcionamento aos profissionais quanto às medidas cabíveis a serem tomadas, possibilitando proporcionar o reconhecimento das vantagens oferecidas por estes dispositivos em relação às dificuldades auditivas, evitando o abandono dos mesmos e aumentando o tempo de uso diário e, consequentemente, a satisfação do usuário.

Portanto, para o propósito de adaptação do AASI com a obtenção de uma maior satisfação, a opinião do usuário é certamente um dos fatores mais importantes.

Atualmente, têm sido utilizados questionários com a finalidade de avaliar a satisfação e as desvantagens do usuário com relação ao uso do AASI e saber se a adaptação está sendo efetiva, suprindo as necessidades auditivas, sociais e emocionais desses indivíduos.

Um dos questionários elaborados para avaliar a satisfação que o AASI proporciona ao usuário, bem como a efetividade do mesmo é o Satisfaction with Amplification in Daily Life (SADL), proposto por Cox & Alexander7.

Para a elaboração deste instrumento, foram realizadas entrevistas estruturadas com usuários de AASI, visando obter, primeiramente, os elementos mais importantes relacionados à satisfação. Após, itens experimentais de satisfação foram criados para cada área de importância e um questionário contendo 25 itens foi originado e distribuído para outro grupo usuário de AASI. Foram obtidos e analisados os resultados de 257 indivíduos, gerando, assim, um questionário final que apresentou alta confiabilidade na correlação teste-reteste.

O SADL foi validado8 em uma amostra de 196 sujeitos, de 13 clínicas privadas de audiologia, e sua capacidade de quantificar a satisfação foi confirmada.

Além disso, estudos comprovam que este instrumento de autoavaliação é de grande valia, de fácil aplicação, eficaz e preciso na avaliação da satisfação do sujeito com o uso da amplificação, abrangendo vários âmbitos9-11.

Grande parte da população da capital do estado e região realiza o processo de seleção e adaptação de próteses auditivas na Clínica de Avaliação e Reabilitação da Audição - Limiar, um serviço de alta complexidade, privado e conveniado ao Sistema Único de Saúde (SUS) pela portaria 589 de 8 de outubro de 2004 12. Este serviço é referência no estado na atenção à saúde auditiva e atende à população da capital, bem como pacientes advindos de outras cidades do interior e de estados vizinhos e realiza cerca de 35 adaptações por mês.

A partir do exposto, o presente trabalho objetivou verificar a satisfação auditiva de pacientes adultos e idosos protetizados no serviço supracitado e relacionar a satisfação com as variáveis idade, gênero, tempo de adaptação, tempo de uso diário e tipo de AASI.


MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal de caráter descritivo, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade São Lucas sob o número 634/11. O mesmo foi desenvolvido na Clínica de Avaliação e Reabilitação da Audição - Limiar, um serviço de alta complexidade credenciado ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Os critérios de inclusão para a participação neste estudo foram: indivíduos de ambos os gêneros, com idade superior a 18 anos, com perda auditiva de qualquer grau e tipo, adaptados com AASI concedidos pelo SUS, atendidos na clínica onde foi realizado o estudo e que consentiram em participar do mesmo assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Foram excluídos os indivíduos que não receberam a indicação ao uso do AASI, que se recusaram a participar da pesquisa, indivíduos menores de 18 anos e com limitação da capacidade de compreensão e expressão para responder ao questionário.

Para a realização do cálculo amostral, tomou-se como base a média do número de revisões de aparelhos concedidos pelo SUS a adultos e idosos realizadas por mês no local da pesquisa, que é em torno de 155. Adotando um erro de 10% e um nível de confiança de 95% chegou-se a um tamanho amostral de 60 pacientes, número de sujeitos que compôs a amostra.

Destes 60, 33 eram gênero feminino e 27 do gênero masculino, com idades entre 18 e 91 anos e média de idade de 61 anos, que compareceram à clínica referida entre os dias 22 de setembro e 25 de outubro de 2011.

Dos sujeitos da amostra, 49 (80%) utilizavam AASI do tipo retroauricular e 11 (20%) do tipo intracanal. Todos os indivíduos eram portadores de perda auditiva dos tipos neurossensorial ou mista, bilateral e usuários de AASI de tecnologia digital com um tempo mínimo de duas semanas de adaptação, período no qual os indivíduos comparecem à clínica para a primeira revisão.

A satisfação dos usuários com a utilização do AASI foi avaliada por meio da aplicação da versão em Português Brasileiro do questionário Satisfaction with Amplification in Daily Life (SADL) disponibilizada pelos próprios autores13, por ser este instrumento considerado eficaz e preciso na avaliação da satisfação do sujeito com o uso da amplificação10,11.

O questionário é dividido em quatro subescalas, a saber: efeitos positivos, serviços e custos, fatores negativos e imagem pessoal. A média dos escores das quatro subescalas resulta no escore de satisfação global.

O questionário apresenta 15 questões fechadas, com sete opções de respostas: nada, um pouco, de alguma forma, mediamente, consideravelmente, muito e muitíssimo. As respostas equivalem a uma escala de sete pontos, na qual a pontuação de menor valor é 1, correspondente à resposta "nada", e a de maior valor é 7, correspondente à resposta "muitíssimo", indicando, respectivamente, o menor e o maior grau de satisfação. As questões de número 2, 4, 7 e 13 correspondem aos itens denominados reversos, nos quais a pontuação de valor 7 corresponde à resposta "nada" e a pontuação de valor 1 corresponde à resposta "muitíssimo".

Os participantes foram orientados a atribuir uma nota de um a sete para cada questão.

Além das 15 perguntas os sujeitos foram questionados quanto ao tempo de uso diário dos AASI, tendo como opção as alternativas: nenhum, menos que uma hora por dia, de 1 a 4 horas por dia, de 4 a 8 horas por dia e de 8 a 16 horas por dia.

O tipo e o grau da perda auditiva, bem como o tempo de experiência com AASI, foram obtidos por meio de pesquisa realizada no prontuário do paciente.

A aplicação do questionário foi realizada pela pesquisadora, de maneira imparcial, por meio de apresentação oral, em entrevistas individuais, a fim de garantir a compreensão das questões por parte dos indivíduos da amostra e, consequentemente, a qualidade dos dados obtidos.

Os dados compilados foram analisados com utilização dos testes estatísticos Analysis of Variance (ANOVA) e Correlação de Pearson, ambos com nível de significância de 5% (p < 0,05). As variáveis avaliadas foram idade, gênero, tempo de adaptação, tempo de uso diário e tipo de AASI utilizado.

Para a análise do grau de satisfação, utilizaram-se os padrões propostos pelos autores do questionário7. Os escores que ficaram abaixo do 20º percentil indicaram insatisfação por parte dos usuários, escores entre o 20º e o 80º percentil sugeriram que os usuários estão satisfeitos e, por fim, escores acima do valor do 80º percentil indicaram que os sujeitos estão muito satisfeitos com o uso da amplificação (Quadro 1).




RESULTADOS

Ao comparar as médias dos escores global e por subescala encontradas nesta pesquisa com os valores obtidos no estudo desenvolvido pelos autores do questionário7, foi possível verificar satisfação dos usuários nas questões referentes às subescalas fatores negativos e imagem pessoal, pois as médias obtidas encontram-se entre os valores do 20º e do 80º percentil. Já nas questões relativas às subescalas efeitos positivos e serviços, bem como no escore global, obteve-se elevado grau de satisfação, pois as médias encontram-se superiores aos valores do 80º percentil (Quadro 2). Porém, a satisfação obtida não mostrou correlação com a idade do sujeito (Tabela 1).






Não houve diferença significativa também ao comparar o gênero e a satisfação global e por subescala (Tabela 2).




Ao relacionar o tempo de uso diário dos aparelhos com a satisfação global e por subescala, foi revelada diferença significativa no escore global e na subescala imagem pessoal (Tabela 3).




Ao confrontar os achados referentes à satisfação global e da subescala imagem pessoal de acordo com o tempo de uso diário aos pares, constatou-se diferença significativa ao comparar os achados dos sujeitos que referiram utilizar o AASI de oito a 16 horas por dia e os achados dos que mencionaram utilizar de quatro a oito horas por dia (p = 0,009 e p = 0,023), sendo encontrada maior média nos indivíduos que referiram usar o aparelho de oito a 16 horas por dia.

Com relação à comparação do grau de satisfação global e por subescala com a variável tempo de adaptação, na qual os sujeitos foram distribuídos em quatro grupos (menos de seis semanas, de seis semanas a 11 meses, de um a dez anos e mais de dez anos), também não se verificou diferença significativa (global: p = 0,996; efeitos positivos: p = 0,982; serviços e custos: p = 0,393; fatores negativos: p = 0,815; imagem pessoal: p = 0,924).

Não foi encontrada diferença estatisticamente significante ao comparar a satisfação global e por subescala entre os usuários de AASI retroauricular e intracanal (Tabela 4).




DISCUSSÃO

A partir da aplicação do SADL pode-se constatar que, de uma maneira geral, os participantes desta pesquisa apresentam-se muito satisfeitos com o uso de seus AASI, obtendo média global de 5,9, valor que se encontra acima do 80º percentil do estudo original, ratificando o encontrado em outras pesquisas1,14. Além disso, pode-se observar que este achado foi superior a outros estudos compulsados na literatura15,16.

No que se refere à pontuação dos indivíduos na subescala efeito positivo, encontrou-se, neste estudo, valor superior ao preconizado pelos autores do questionário7, bem como quando comparando com outros estudos brasileiros15,16, o que demonstra que os participantes estão muito satisfeitos com o seu AASI nesta subescala que verifica a qualidade sonora e a melhora na comunicação.

Na subescala serviços e custos, na qual estão compreendidos itens relacionados ao serviço de reabilitação e ao custo da protetização, o presente estudo obteve média de 6,1, resultado superior ao 80º percentil, sugerindo muita satisfação e que, se comparada a média encontrada pelos autores do SADL7 (4,7) e outras pesquisas que utilizaram o mesmo instrumento1,15, as quais obtiveram médias de 6,0 e 5,6, resulta em maior pontuação. Os indivíduos deste estudo foram beneficiados com o AASI pela concessão de próteses auditivas pelo SUS, o que possivelmente, em conjunto ao contentamento com o atendimento recebido, ajudou na elevação desta média, refletindo no elevado grau de satisfação nos itens relacionados à subescala serviços e custos.

A subescala fatores negativos obteve média 4,9, resultado menor que o observado em outros estudos compulsados1,16, que encontraram média de 5,0 e 5,2, porém maior do que o verificado em pesquisa realizada com usuários de AASI no estado do Tocantins, que encontrou média de 4,1815 e do que o obtido pelos autores do questionário7, que obtiveram média de 3,6. Esta foi a subescala com o menor escore, já que avalia aspectos considerados problemáticos na adaptação, como desempenho em ambiente ruidoso, microfonia e uso do telefone. Ainda assim, os sujeitos avaliados no presente estudo obtiveram média entre o 20º e o 80º percentil7, indicativo de satisfação por parte dos mesmos.

A subescala que avalia a imagem pessoal obteve média de 6,2, maior que em outros estudos1,15-17, ao apresentarem média 5,5, 5,3, 5,6 e 5,7. Este valor é, também, superior à média do estudo original7, indicando satisfação relacionada à autoimagem e ao estigma do aparelho de amplificação.

Pode-se constatar que na amostra estudada não houve relação entre idade e satisfação, indo de encontro ao achado de outro estudo9, que concluiu que os indivíduos mais jovens mostram-se mais satisfeitos. Esta diferença pode dar-se pelo fato do estudo referido ter sido desenvolvido apenas com usuários de AASI modelo intracanal, o que agrada esteticamente os usuários adultos e dificulta fatores, como manuseio, dos usuários idosos.

O presente estudo não evidenciou diferença no grau de satisfação entre os gêneros, corroborando o mencionado na literatura9, que relata igual satisfação entre homens e mulheres. Até há pouco tempo, os homens eram mais resistentes ao uso da prótese auditiva e menos satisfeitos, talvez pelo fator estético. Além disso, as mulheres, em sua maioria, realizam atividades diárias que exigem mais funções comunicativas do que os homens, gerando resistência maior nos usuários do gênero masculino18, ao contrário do presente estudo, em que é evidenciada a preocupação de ambos os gêneros com seu bem-estar e desempenho na sociedade.

A maioria dos indivíduos referiu usar o aparelho auditivo por tempo superior a 8 horas, concordando com o encontrado em outras pesquisas1,19 que mostram que os usuários utilizam a amplificação sonora mais que oito horas por dia, tempo considerável já que das 24 horas diárias, aproximadamente 8 horas os sujeitos dormem, restando, então, 16 horas, das quais, no mínimo em 8 está sendo feito o uso do AASI pela maioria, o que demonstra que as próteses auditivas fazem parte integrante do dia-a-dia destes indivíduos1. O presente estudo evidenciou ainda que os sujeitos que utilizaram os AASI por mais tempo apresentam-se mais satisfeitos o que era o esperado, pois quanto maior o tempo de uso melhor será sua adaptação frente a esta tecnologia.

Ao relacionar o tempo de uso diário dos aparelhos com a satisfação por subescala, não foi revelada diferença significativa entre a variável mencionada e as subescalas efeitos positivos e serviços e custos, porém, os resultados tendem à significância (p = 0,051; p = 0,056), sugerindo que se a amostra deste estudo fosse maior os resultados poderiam ser significativos.

Constatou-se que não há relação entre satisfação e tempo de adaptação. Estudos compilados da literatura referem que o AASI reintroduz a estimulação auditiva a partir da amplificação, promovendo uma plasticidade neural que permite que as vias centrais se reorganizem e passem a produzir efeitos positivos nas habilidades auditivas20. A melhora nas habilidades auditivas em decorrência da presença de estimulação é conhecida como fenômeno da aclimatização e pode ocorrer no período de três meses após a adaptação das próteses auditivas21, de seis a 12 semanas após o uso da amplificação22 e, segundo alguns autores, a partir do primeiro mês de adaptação23. Neste estudo, tanto os sujeitos com menos de seis semanas de adaptação como os com mais de dez anos mostraram-se satisfeitos, o que se leva a acreditar que a aclimatização possa ocorrer em período menor de três meses e é inversamente proporcional ao tempo de uso diário, ou seja, quanto maior o tempo de uso diário, menor é o tempo necessário para o sujeito aclimatizar-se ao aparelho.

Os dois últimos achados comentados complementam-se visto que, em virtude dos participantes da pesquisa utilizarem seus aparelhos por mais de 8 horas por dia, atingiu-se uma adaptação em menor tempo.

Não foi verificada diferença no grau de satisfação entre os usuários de AASI retroauricular e intracanal, achado este que não concorda com o constatado em outro estudo14, que encontrou maior satisfação nos usuários de AASI intra-aural. Outra pesquisa realizada em uma instituição, no estado do Tocantins, também encontrou alto índice de insatisfação por parte de sujeitos usuários de AASI retroauricular em relação à imagem pessoal15. O presente estudo não constatou insatisfação relacionada ao modelo do aparelho, achado que indica que os usuários estão mais preocupados com seu bem-estar, valorizando mais a qualidade de vida e a sua participação na sociedade do que os fatores estéticos.

Por fim, pode-se verificar que o questionário SADL mostrou-se um instrumento eficaz e preciso para avaliar o nível de satisfação dos usuários de próteses auditivas, bem como exposto na literatura10,11.




CONCLUSÃO

Constatou-se que os participantes do estudo estão muito satisfeitos com a utilização do AASI, porém, satisfação não tem relação com as variáveis idade, gênero, tempo de adaptação e tipo de aparelho de amplificação sonora individual. De maneira geral, os participantes com maior tempo de uso diário estão mais satisfeitos.


REFERÊNCIAS

1. Lessa AH, Costa MJ, Becker KT, Voucher AVA. Satisfação de usuários de próteses auditivas, com perda auditiva de graus severo e profundo. Arq Int Otorrinolaringol. 2010;14(3):338-45.

2. Andrade CF, Blasca QW. A satisfação do usuário de aparelho de amplificação sonora individual com a tecnologia digital. Rev Salusvita. 2005;24(2):257-65.

3. Magni C, Freiberger F, Tonn K. Evaluation of satisfaction measures of analogical and digital hearing aid users. Braz J Otorhinolaryngol. 2005;71(5):650-7.

4. Almeida K. Seleção e adaptação de próteses auditivas em adultos. In: Ferreira LP, Befi-Lopes DM, Limongi SCO (orgs.). Tratado de Fonoaudiologia. 2ª ed. São Paulo: Roca; 2004. p.669-79.

5. Assayag FHM, Russo ICP. Avaliação subjetiva do benefício e dos efeitos proporcionados pelo uso de amplificação sonora em indivíduos idosos. Rev Dist Comum. 2006;18(3):383-90.

6. Almeida K. Avaliação dos resultados da intervenção. In: Almeida K, Iório MCM. Próteses auditivas: Fundamentos teóricos e aplicações clínicas. 2a ed. São Paulo: Lovise; 2003. p.335-55.

7. Cox RM, Alexander GC. Measuring satisfaction with amplification in daily life: the SADL scale. Ear Hear. 1999;20(4):306-20.

8. Cox RM, Alexander GC. Validation of the SADL questionnaire. Ear Hear. 2001;22(2):151-60.

9. Brollezzi D, Vilharba JM. Avaliação do Grau de Satisfação de Usuário de AASI Modelo intra-aural, 2009. Disponível em: http://www.univag.edu.br/adm_univag/Modulos/Producoes_Academicas/arquivos/DAI.pdf Acesso em: 10.11.2011.

10. Magalhães FF, Mondelli MFCG. Avaliação da satisfação dos usuários de aparelho de amplificação sonora individual - revisão sistemática. Rev CEFAC. 2011;13(3):552-8.

11. Danieli F, Castiquini EAT, Zambonatto TCF, Bevilacqua MC. Avaliação do nível de satisfação de usuários de aparelhos de amplificação sonora individuais dispensados pelo Sistema Único de Saúde. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2011;16(2):152-9.

12. Brasil SUS, 2004. Disponível em: http://brasilsus.com.br/legislacoes/sas/4500-589?q= Acesso em: 22.12.2011.

13. Cox RM, Alexander GC. Satisfação com o aparelho auditivo em sua vida diária. Disponível em: http://www.memphis.edu/ausp/harl/sadl.htm. Acesso em: 18.12.2011.

14. Farias RB, Russo ICP. Saúde auditiva: estudo do grau de satisfação de usuários de aparelho de amplificação sonora individual. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2010;15(1):26-31.

15. Carvalho JSA. Satisfação de Idosos com Aparelhos Auditivos Concedidos no Estado do Tocantins. Arq Int Otorrinolaringol. 2007;11(4):416-26.

16. Soares DO, Tavares RA, Ferreira RT, Guglielmino G, Dinato C, Franchi VM. Satisfação dos usuários de prótese auditiva em seu dia-a-dia. Acta ORL. 2007;25(4):290-2.

17. Veiga LR, Merlo ARC, Mengue SS. Satisfaction with hearing aid in daily life in users of the Army health system. Braz J Otorhinolaryngol. 2005;71(1):67-73.

18. Bavaresco A. Estudo da expectativa de idosos quanto ao uso de prótese auditiva [monografia]. Canoas: Universidade Luterana do Brasil; 2006.

19. José MR, Campos PD, Mondelli MFCG. Unilateral hearing loss: benefits and satisfaction from the use of hearing aids. Braz J Otorhinolaryngol. 2011;77(2):221-8.

20. Arlinger S, Gatehouse S, Bentler RA, Byrne D, Cox RM, Dirks DD, et al. Report of the Eriksholm Workshop on auditory deprivation and acclimatization. Ear Hear.1996;17(3Suppl):87S-98S.

21. Gatehouse S. The time course and magnitude of perceptual acclimatization to frequency responses: evidence from monaural fitting of hearing aids. J Acoust Soc Am. 2002;92(3):1258-68.

22. Prates LPCS, Iório MCM. Aclimatização: Estudo do reconhecimento de fala em usuários de próteses auditivas. Pró-Fono. 2006;18(3):345-51.

23. Humes LE, Wilson DL, Barlow NN, Garner C. Changes in hearing-aid benefit following 1 or 2 years of hearing-aid use by older adults. J Speech Lang Hear Res. 2002;45(4):772-82.










1. Mestre em Disturbios da Comunicação Humana pela UFSM. (Fonoaudióloga da Clínica de Avaliação e reabilitação da audição Limiar; Docente da Faculdade São Lucas, Porto Velho (RO).
2. Bacharel (Fonoaudióloga).
3. Especialista (Fonoaudióloga da Policlínica Osvaldo Cruz; Docente da Faculdade São Lucas, Porto Velho (RO).
4. Mestre (Fonoaudióloga e docente da Faculdade São Lucas, Porto Velho (RO).
5. Especialista (Fonoaudióloga).

Faculdade São Lucas.

Endereço para correspondência:
Fernanda Soares Aurélio
Rua dos Festejos, nº 3513. Condomínio Gardem Village, Prédio Azaléia, apto. 302, Costa e Silva
Porto Velho - RO. CEP: 78903-843
Tel.: (69) 9989-3535
E-mail: faurelio@saolucas.edu.br

Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da BJORL em 4 de março de 2012 . cod. 9070.
Artigo aceito em 8 de julho de 2012.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


Imprimir:
Todos os direitos reservados 1933 / 2024 © Revista Brasileira de Otorrinolaringologia