O agradável convite e, consequentemente, a tarefa de escrever um editorial sobre a campanha Caminhos da Otorrinolaringologia para uma revista científica pareceu-me uma atribuição incongruente, ilógica. Entretanto, ao analisar o que está em curso, pude perceber analogias de forma e conteúdo que certamente enquadram esta iniciativa no âmbito científico. O convite não foi aleatório; afinal de contas, tudo isto pode ser comparado a um grande projeto científico!
O "background" certamente originou-se da minha participação em inúmeras iniciativas das supraespecialidades (Semana da Voz, Saúde Auditiva, Respire pelo Nariz e Viva Melhor), seja em nível de coordenação local ou regional, além da coordenação estadual, em Minas Gerais, da Semana da Voz, em 2003. A abrangência nacional desta "formação" cristalizou-se na Coordenação Nacional da Campanha da Saúde Auditiva em 2007. Com este embasamento, vislumbrei uma iniciativa com dois principais e essenciais objetivos: educação anatomofisiológica e preventiva na Otorrinolaringologia e a divulgação da nossa especialidade.
Idealizado este projeto prospectivo e de coorte contemporâneo longitudinal, parti, então, para a elaboração do mesmo. Após discussão em âmbito Departamental (Diretoria Executiva) e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (Presidentes das supraespecialidades), obteve-se financiamento do Órgão de Fomento (Conselho Administrativo e Fiscal) da ABORL-CCF. Com tudo delineado, porém com uma forte necessidade de atingirmos o público e ainda, oficializar o caráter nacional da iniciativa, conseguimos importantes apoios da mídia e do Ministério da Saúde!
Partimos, então, para as atividades de campo, que abrangerão 17 cidades em 12 estados brasileiros e o Distrito Federal. Tendo à frente uma carreta de 17 metros, totalmente estilizada para a campanha e compartimentalizada em 3 espaços (sala de polissonografia, auditório com sistema audiovisual e sala de imprensa/convívio), contamos, ainda, com modelos anatômicos infláveis gigantes, representando o ouvido, o nariz e a boca/laringe (Figuras 1 e 2). Estes modelos permitem que o público possa literalmente "passear dentro", conhecendo detalhes da anatomia e da fisiologia, além de receberem orientações preventivas de doenças.
Figura 1. Unidade móvel aberta com miniauditório.
Figura 2. Visão panorâmica dos modelos anatômicos infláveis do ouvido, nariz e garganta.
A análise e "discussão" preliminar dos nossos resultados demonstra que o delineamento prospectivo longitudinal tem mostrado ricas características de transversalidade, com fatos e momentos marcantes em cada uma das etapas/cidades por onde passamos com a campanha, deixando, ainda, uma forte saudade em todos e, por analogia, emprestando, assim, uma visão de coorte retrospectiva histórica. As conclusões desta caminhada devem obrigatoriamente "casar" com os objetivos propostos, adicionando responsabilidade social e retorno de divulgação para a nossa associação e para a nossa especialidade. Espero que este projeto possa se tornar uma "linha de pesquisa" para os "futuros pesquisadores" à frente da ABORL-CCF.
Um grande abraço!
Prof. Dr. Marcelo Hueb
Presidente da ABORL-CCF