ISSN 1806-9312  
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4311 - Vol. 78 / Edição 3 / Período: Maio - Junho de 2012
Seção: Relato de Caso Páginas: 135 a 135
Metástase laríngea por adenocarcinoma de próstata: uma entidade rara
Autor(es):
José Alberto Alves Oliveira1; Roberta de Almeida Said2; Rafaella de Sousa Cartaxo3; José Alexandre Macedo dos Santos4; Ricardo Lincoln Pinto Gondim5

Palavras-chave: laringe, metástase neoplásica, neoplasias da próstata.

Keywords: neoplasm metastasis, prostatic neoplasms.

INTRODUÇÃO

O câncer de próstata é a neoplasia mais incidente entre os homens. A laringe é um sítio de metástase incomum; existe um número limitado de relatos sobre este tópico. Melanomas e carcinomas renais correspondem aos tumores primários que mais comumente dão metástase para laringe, seguidos pelas neoplasias de mama, pulmão e cólon1-4. O acometimento metastático laríngeo por câncer prostático é um evento raro na prática clínica1,2.


APRESENTAÇÃO DO CASO

Paciente de 73 anos foi diagnosticado em maio de 2008 com adenocarcinoma de próstata Gleason 7 (3+4), com PSA inicial de 78 ng/mL e acometimento ósseo comprovado por cintilografia óssea. Iniciou tratamento com gosserrelina e bisfosfonato.

Após um mês, passou a queixar-se de rouquidão. Realizou videolaringoscopia, na qual se evidenciou paralisia de prega vocal direita associada à laringite. Evoluiu com redução do nível de PSA para 9,1 ng/mL após três meses de terapia; mantinha, contudo, a queixa de rouquidão. Foi submetido à tomografia de pescoço, na qual se constatou a presença de lesão, comprometendo toda a cartilagem cricoide (Figura 1). Foi sugerida a realização de biópsia laríngea, da qual o paciente declinou.


Figura 1. Aumento volumétrico heterogêneo da cartilagem cricoide com desmineralização e erosão associada a componentes de partes moles, promovendo importante estenose da coluna aérea da laringe (setas). (a e b): visão axial sequencial sentido crânio-caudal; (c): visão coronal posterior; (d): visão sagital paramediana.



Após redução adicional do PSA para 3,8 ng/mL, em novembro de 2008, o doente optou por interromper a hormonioterapia, contra a orientação médica. Após cinco meses, passou a queixar-se de dor intensa no ombro esquerdo, aumento da rouquidão e respiração ruidosa. Evoluiu com obstrução respiratória, com necessidade de traqueostomia de urgência, e fratura patológica de úmero esquerdo, que exigiu correção cirúrgica. No mesmo tempo cirúrgico, foi submetido, enfim, à biópsia cricoide. O estudo histopatológico da peça foi compatível com infiltração por carcinoma; a imuno-histoquímica complementar evidenciou a expressão de citoqueratina de baixo peso e de PSA no material, mas não de p63 ou CK5/6. O exame foi diagnóstico de metástase de carcinoma de origem prostática. O doente foi encaminhado para radioterapia em úmero esquerdo e pescoço e encontra-se, no momento, em terapia com análogo de LHRH, antiandrogênio periférico e ácido zoledrônico.


DISCUSSÃO

Câncer metastático para a laringe é raro. No entanto, esse órgão não deve ser ignorado como alvo potencial de células metastáticas. Os tumores que mais frequentemente dão metástase para a laringe são o carcinoma renal de células claras e o melanoma; Porém, há casos relatados de câncer de cólon, pâncreas, mama e próstata1,3. A supraglote é a localização mais acometida pelas metástases, sendo a glote o local menos frequente3.

O envolvimento da laringe com o tumor pode não provocar sintomas, ou provocar rouquidão e estridor. Um exame otorrinolaringológico inicial cuidadoso pode detectar lesões iniciais ainda passíveis de cirurgia e impedir a obstrução súbita e catastrófica das vias aéreas. A tomografia computadorizada da laringe é importante para delinear o envolvimento do órgão e definir acometimento linfonodal cervical. A presença de massa tumoral visível na laringoscopia implica na realização de uma biópsia para o estudo histopatológico da peça4.

Com relação à metástase laríngea de câncer de próstata, existem somente 13 relatos na literatura. Avaliações post mortem mostram que a incidência desse evento parece ser maior do que a experiência clínica sugere; dentre seis pacientes com câncer prostático metastático examinados à autópsia com cortes anatômicos laríngeos, todos apresentavam disseminação laríngea insuspeita. A habitual ausência de crescimento local e a escassez de sintomas laríngeos, contudo, parecem ser fatores limitantes ao diagnóstico, bem como o acometimento laríngeo ser evidenciado em casos avançados da doença com os pacientes em fase terminal1.


COMENTÁRIOS FINAIS

Pacientes com história prévia de câncer de próstata, rim, mama, cólon ou melanoma maligno na presença de sintomas persistentes de rouquidão e dor de garganta devem ser investigados para possível acometimento metastático da laringe.

O presente estudo visou contribuir com a literatura vigente sobre o tema em questão em função dos poucos casos relatados acerca do assunto.


REFERÊNCIAS

1. Prescher A, Schick B, Stütz A, Brors D. Laryngeal prostatic cancer metastases: an underestimated route of metastases? Laryngoscope. 2002;112(8 Pt 1):1467-73.

2. Coakley JF, Ranson DL. Metastasis to the larynx from a prostatic carcinoma. A case report. J Laryngol Otol. 1984;98(8):839-42.

3. Grasso RF, Quattrocchi CC, Piciucchi S, Perrone G, Salvinelli F, Rabitti C, et al. Vocal cord metastasis from breast cancer. J Clin Oncol. 2007;25(13):1803-5.

4. Abemayor E, Cochran AJ, Calcaterra TC. Metastatic cancer to the larynx. Diagnosis and management. Cancer. 1983;52(10):1944-8.










1. Acadêmico de medicina (Estudante do sexto ano da Universidade Estadual do Ceará).
2. médica Radiologista (médica Radiologista do Hospital do Câncer/Instituto do Câncer do Ceará).
3. médica (Residente de Radiologia, Hospital do Câncer/Instituto do Câncer do Ceará).
4. Médico Radiologista (Médico Radiologista do Hospital do Câncer/Instituto do Câncer do Ceará).
5. Médico Cirurgião de Cabeça e Pescoço (Médico Cirurgião de Cabeça e Pescoço - Cirurgião de Cabeça e Pescoço do Hospital do Câncer/Instituto do Câncer do Ceará e do Hospital Geral de Fortaleza).

Endereço para correspondência:
José Alberto Alves Oliveira
Rua Bruno Freire, nº 600, ap. 2201-A, Parque Iracema
Fortaleza - CE. CEP: 60824-010

Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da BJORL em 11 de dezembro de 2010. cod. 7462
Artigo aceito em 3 de abril de 2011.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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