INTRODUÇÃOA lesão central de células gigantes (LCCG) consiste em um processo proliferativo benigno não-neoplásico, o qual corresponde a cerca de 7% das lesões de maxila. Apresenta maior acometimento em adultos jovens e crianças, com predileção pelo gênero feminino, na proporção de 2:1 em relação ao masculino1-3.
A LCCG é normalmente assintomática, seu comportamento clínico pode ser ou não agressivo. Na maxila, essa lesão pode invadir o assoalho do seio maxilar, a órbita e/ou as fossas nasais. Destaca-se ainda que pode se observar assimetria facial, desvio nasal e mobilidade dos elementos dentais associados1,4.
Tais lesões apresentam etiopatogenia obscura, diferentes apresentações clínicas e diversas modalidades de tratamento2. Radiograficamente apresenta aspecto radiolúcido uni ou multilocular, com bordas definidas, podendo ou não apresentar expansão cortical e deslocamento dental3.
As hipóteses diagnósticas a serem consideradas dependem do grau de agressividade, rapidez de desenvolvimento, presença de características inflamatórias, dor, mobilidade dental e outras manifestações. Como diagnósticos diferenciais destacam-se a Lesão Periférica de Células Gigantes, o Cisto Ósseo Aneurismático e o Tumor Marrom do Hiperparatireoidismo4.
A LCCG dos maxilares apresenta histologicamente células gigantes multinucleadas bem como células mononucleadas arredondadas, ovaladas e fusiformes, dispersas em tecido conjuntivo fibroso com focos hemorrágicos e vascularização abundante2.
Os principais meios de tratamento são: a biopsia excisional, a curetagem com margem de segurança e a ressecção parcial ou total do osso afetado; o uso de corticosteroides injetáveis na região acometida vem sendo utilizado com êxito1,5.
É necessário tratamento suporte a base de antibióticos, analgésicos e corticosteroides por um período médio de 10 dias após cirurgia, assim como a necessidade de acompanhamento pós-operatório e exames radiográficos para avaliar a evolução do caso1.
Portanto, pondo em relevância os aspectos abordados, destaca-se o objetivo de descrever um caso clínico de LCCG, enfatizando seus procedimentos clínicos, radiográficos e laboratoriais para diagnóstico, e tratamento cirúrgico eleito.
RELATO DO CASO CLÍNICOA paciente de 33 anos, gênero feminino, leucoderma, procurou o Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-maxilo-facial do Hospital Pedro I, em Campina Grande-PB, afirmando que a prótese total perdera estabilidade, e relatando aumento de volume no lado esquerdo da maxila. Na história clínica, a paciente acreditava que o aumento na região estaria associado à remoção recente de elemento dentário, que a mesma complementou ter sido bastante traumática.
Ao realizar o exame físico extrabucal, não se observaram alterações do padrão de normalidade. No exame físico intrabucal verificou-se aumento de volume na região de maxila esquerda, com expansão das corticais ósseas. À palpação a lesão apresentou consistência dura com crescimento intra-ósseo.
Na radiografia panorâmica e tomografia computadorizada, foi observada uma massa radiopaca com imagens radiolúcidas. Foi realizada a excisão cirúrgica da lesão com curetagem meticulosa, optou-se em delinear uma margem de segurança para melhor prognóstico, destacando-se que todo procedimento foi realizado em ambiente hospitalar (Figura 1), e que o mesmo se deu posteriormente à biópsia incisional em ambulatório. A peça foi enviada para exame histopatológico onde se observou diagnóstico conclusivo de LCCG. A conduta terapêutica consistiu na utilização de Amoxicilina 500mg (antibiótico) administrando 1 cápsula via oral (VO) de 8/8 horas (h), Dipirona 500mg (analgésico) - 1 comprimido (comp.) VO de 6/6h e Dexametasona 0,75ml (corticosteroide) - 1 comp. VO de 12/12h.
Figura 1. Tratamento Cirúrgico de Lesão Central de Células Gigantes na Maxila: Relato de Caso - Aspecto cirúrgico da lesão.
Os cortes histológicos revelaram fragmentos de tecido conjuntivo exibindo duas populações celulares (mononucleadas e multinucleadas). As células mononucleares exibiam morfologia fusiforme com núcleos alongados e citoplasma claro. As células gigantes multinucleadas destacavam-se por apresentar uma quantidade variável de núcleos e amplo citoplasma de coloração eosinofílica.
A paciente foi acompanhada por um período de um mês, sendo remarcada para consultas rotineiras de proservação durante 6 meses, apresentando evolução satisfatória do pós-operatório.
DISCUSSÃOAhmed et al.2 e Ciorba et al.6 afirmaram que a LCCG é mais comum em pacientes do gênero feminino com idade inferior a 30 anos, fato reforçado pelo relato aqui descrito. Apesar de a principal localização da LCCG, ser na mandíbula1,3, no caso clínico a lesão apresentou-se na maxila, localização esta destacada por Uzbek; Mushtaq5. Güngörmüs; Akgül3 afirmaram que 22% dos pacientes com LCCG eram edêntulos totais, característica também observada na paciente objeto do presente relato.
Ainda não se sabe ao certo a etiologia das LCCG, porém alguns fatores, como o trauma e exodontias múltiplas, podem estar ligados a essa patologia1,5, o que foi possível ser observado na anamnese do caso ora descrito.
A paciente apresentava quadro assintomático, ausência de sangramento, presença de abaulamento das corticais, ligeira assimetria facial, sendo a lesão palpável ao exame intrabucal, características observadas em relatos como os de Neville et al.4 e Ciorba et al.6.
As características histopatológicas da LCCG geralmente são representadas por populações de células mononucleadas e multinucleadas que podem estar acompanhadas por infiltrado inflamatório2-4, estando de acordo com as observadas no estudo histopatológico da peça removida do caso.
A cirurgia é o método mais tradicional e aceito para o tratamento da LCCG5,6, sendo utilizado para o caso através da excisão cirúrgica da lesão, com curetagem meticulosa para diminuir o risco de recidiva, conduta realizada também por Tasar et al.1 Uzbek e Mushtaq5. Foi associado ao tratamento o uso de corticosteroides, analgésicos e antibióticos, com intuito de atenuar os efeitos pós-operatórios e otimizar o prognóstico.
CONCLUSÃOA LCCG é uma patologia pouco frequente e de etiologia obscura que, apesar de benigna, pode ser altamente destrutiva. Seu diagnóstico conclusivo depende do exame histopatológico, e o tratamento de eleição deve ser criteriosamente elaborado de acordo com as peculiaridades de cada caso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Tasar F, Bayik S, Eratalay K. Unusual localization and etiology of giant cell granuloma. J Islam Acad Scienc .1991;4:190-2.
2. Ahmed S, Babu I, Priya SP. Central giant cell granuloma - a case report. J Oral Maxillofac Pathol.2003;7:111-4.
3. Güngörmüs M, Akgül HM. Central Giant Cell Granuloma of the Jaws: A Clinical and Radiologic Study. J Contemp Dent Pract.2003;4:387-97.
4. Neville BW, Damm DD, Allen CM, Bouquot JE. Patologia oral e maxilofacial. 3.ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2009.
5. Uzbek UH, Mushtaq I. Giant cell granuloma of the maxilla. J Ayub Med Coll Abbottabad.2007;19:393-5.
6. Ciorba A, Altissimi G, Giansanti M. Giant cell granuloma of the maxilla: case report. Acta Otorhinolaryngol Ital. 2004;24:26-9.
1. Mestrando em Patologia Oral pela UFRN.
2. Mestrando em Odontologia pela UEPB.
3. Doutorando em ciências e engenharia de materiais, Professora Titular da UEPB.
4. Doutorando em ciências e engenharia de materiais, Professor Titular da UEPB.
5. Doutor em Patologia Oral pela UFRN, Professor Titular de Patologia Oral da UEPB.
Endereço para correspondência:
Dmitry José de Santana Sarmento
Rua José Jesuino de Brito 415
Quarenta Campina Grande PB 58.416-270
Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da BJORL em 13 de dezembro de 2009. cod. 6838
Artigo aceito em 23 de março de 2010.