ISSN 1806-9312  
Domingo, 28 de Abril de 2024
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4086 - Vol. 76 / Edição 6 / Período: Novembro - Dezembro de 2010
Seção: Relato de Caso Páginas: 794 a 794
Síndrome de Johanson-Blizzard
Autor(es):
Sérgio Ramos1; Henrique F. Ramos2; Rosangela F. Ramos3; Carlos A. M. Peixoto4; Bernardo F. Ramos5

Palavras-chave: anormalidades congênitas, anormalidades craniofaciais, otite média serosa, perda auditiva.

Keywords: congenital abnormalities, craniofacial abnormalities, otitis media with effusion, hearing loss.

INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA

A Síndrome de Johanson-Blizzard (SJB) é hereditária autossômica recessiva. Apresenta displasia ectodérmica, insuficiência endócrina e exócrina, podendo haver deficiência mental e do crescimento. É marcada com a aparência de hipoplasia ou aplasia da asa do nariz e anormalidades dentárias1. Pode apresentar deficiência no crescimento pré-natal; surdez neurossensorial; hipotonia; microcefalia; defeito na linha média do crânio; cabelo ralo ou topete frontal; fístula nasolacrimal; calicectasia ou hidronefrose; imperfuração anal; vagina septada; criptorquidia; micropênis; hipotireoidismo primário; insuficiência pancreática com mal absorção. Descrita pela primeira vez em 1971 por Johanson & Blizzard2. A literatura identifica 51 casos até 2004.


APRESENTAÇÃO DO CASO

Paciente da raça branca, sexo feminino, três anos de idade, com atraso de desenvolvimento. Nascimento no 8º mês de gestação por cesárea, alta hospitalar em três dias. Aos quatro meses não sustentava a cabeça, quando foi submetida à cirurgia de cranioestenose. Sentou-se com apoio aos doze meses e sem apoio aos dezoito. Não pronunciava palavras e parecia não ouvir. Ficava de pé com apoio e não andava. Nenhum antecedente gestacional. EXAME FÍSICO: Hipertelorismo; nariz afilado; micrognatia; hipotonia global com frouxidão dos ligamentos; força muscular grau V nos quatro membros; hiporreflexia miotática; coordenação motora normal membros superiores e inferiores; reflexo cutâneo plantar em flexão bilateral. Tonsilas palatinas volumosas, pavilhões auriculares com hélices alteradas, atresia dos meatos acústicos externos (MAE) e hipoplasia da asa do nariz. EXAMES COMPLEMENTARES: Hormônios tireoidiamos normais. BERA: Ouvido direito - ausência de potenciais evocados auditivos com 130 dBpeSpl; Ouvido esquerdo - limiar com 100 dBpeSpl. Análise da morfologia das ondas e diferenciais de latência I-III, III-V e I-V (11PPS): Ouvido esquerdo - 130 dBpeSpl, ondas I, II e III de morfologia normal; onda V com amplitude inferior em mais de duas vezes à da I; intervalo de latências normal. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA (TC) DOS OSSOS TEMPORAIS: atresia dos MAE e até as orelhas médias interposição de material sugestivo de tecido de parte mole; orelhas médias, internas e meatos acústicos internos normais, exceção da perda da aeração das células e antro da mastoide e caixa do tímpano da orelha direita, ocupadas por material com densidade de parte mole (Figura 1).


Figura 1. Tomografia computadorizada de ossos temporais corte axial: atresia dos condutos auditivos externos que se afunilam, não chegando até o que seriam as membranas timpânicas. Perda da aeração das células e antro da mastoide e caixa do tímpano ocupadas por material com densidade de parte mole na orelha direita.



DISCUSSÃO

Os casos considerados como SJB, mostram variedades de achados clínicos e anatômicos diferindo um pouco da descrição original. Nesta paciente não há hipotireoidismo, presente em 1/3 dos casos1,3 e não se investigou insuficiência pancreática porque não apresentava sintomas que justificasse. Há vários casos em que a insuficiência pancreática não foi citada, porque o diagnóstico foi intrauterino, ou porque o enfoque foi o estudo radiológico do osso temporal4. Há casos de irmãos portadores da SJB5 e a consanguinidade é considerada como fator de risco, havendo dúvidas se a herança é mesmo autossômica recessiva. Na maioria dos casos não foi feita uma investigação genética e há casos bem definidos com cariótipo normal6.

A malformação do MAE nesta síndrome não havia sido descrita. Apenas em um caso há um estudo de TC4 onde foi encontrada dilatação cística bilateral da cóclea e do vestíbulo. Não há relato da presença de otite média secretora, que foi possível mediante a TC. A malformação não permitiu a realização da otoscopia e da timpanometria.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

O diagnóstico precoce é importante pela insuficiência pancreática e pelo hipotireoidismo, que podem ser os principais fatores do atraso do desenvolvimento mental3. Na ultrassonografia pré-natal, o sigmoide dilatado e a aplasia da asa do nariz (nariz em forma de bico) podem representar o diagnóstico mais precoce da SJB, sobretudo quando gestação de casais consanguíneos7. Em relação à surdez neurossensorial, considerar a reabilitação com aparelho individual de amplificação sonora e o implante coclear. Quanto à disacusia de condução, tentar o tratamento clínico.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. JONES KL. - Smith's recognizable patterns of human malformation, 4th edition, Philadelphia, W. B. Sauders Company; 1988.p.98-9.

2. JOHANSON A, BLIZZARD R. - A syndrome of congenital aplasia of the alae nasi, deafness, hypothyroidism, dwarfism, absent permanent teeth and malabsorption. J Pediatr. 1971; 79: 982-7.

3. MOESCHLER JB, LUBINSKY MS. - Johanson-Blizzard syndrome with normal intelligence. Am J Med Genet. 1995; 22(1): 69-73.

4. BRAUN J, LERNER A, GERSHONI-BARUCH R. - The temporal bone in the Johanson-Blizzard syndrome: a CT study. Pediatr Radiol.1991; 21(8): 580-3.

5. HELINI I, JODAL V - a syndrome of congenital hypoplasia of the alae nasi, situs inversus and severe hypoproteinemia in two sibilings. J Pediatr. 1981;99: 932-4.

6. SWANEMBURG-DE-VEYE HF, HEINEMAN DE BOER JÁ, BEEMER FA. - A child of high inteligence with the Johanson-Blizzard syndrome. Genet Couns. 1991; 2(1): 21-5.

7. AUSLANDER R, NEVO O, DIUKMAN R, MORRAD E, BARDICEF M, ABRAMOVICI H - Johanson-Blizzard syndrome: a prenatal ultrassonographic diagnosis. Ultrasound Obstet Gynecol. 1999; 13 (6): 450-2.










1. Professor Titular da Disciplina de Otorrinolaringologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Chefe do Departamento de Medicina Especializada do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (HUCAM)
2. Médico Especialista em Otorrinolaringologia pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Médico Preceptor da Divisão de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
3. Mestra em Otorrinolaringologia e Doutora em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina (EPM-UNIFESP). Médica Otorrinolaringologista em Vitória, ES
4. Médico Especialista em Neuropediatria. Neuropediatra do Hospital Universitário "Cassiano Antônio de Moraes (HUCAM)
5. Residente em Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)

Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Universitário "Cassiano Antonio de Moraes" - Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo.

Endereço para correspondência:
Prof. Dr. Sergio Ramos
Av. Saturnino de Brito 256 Enseada do Suá
Vitória ES 29050-385
Tel. (0xx27) 3345-1600 - Fax (0xx27) 3345-0195

Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da BJORL em 24 de julho de 2006. cod. 3295
Artigo aceito em 15 de maio de 2010.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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