ISSN 1806-9312  
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4036 - Vol. 76 / Edição 4 / Período: Julho - Agosto de 2010
Seção: Relato de Caso Páginas: 540 a 540
Carcinoma epitelial-mioepitelial em ventre de língua
Autor(es):
Felipe Rodrigues de Matos1, João Luiz de Miranda2, Ana Teresinha Marques Mesquita3, Cássio Roberto Rocha Santos4, Roseana de Almeida Freitas5

Palavras-chave: glândulas salivares, língua, neoplasias da língua.

Keywords: salivary glands, tongue, tongue neoplasms.

INTRODUÇÃO

Carcinoma epitelial-mioepitelial (CEM) é uma neoplasia epitelial de baixo grau de malignidade e que tem uma prevalência de 1% a 2% de todos os tumores primários em glândula salivar1. Possui maior incidência aos 60 anos. Cerca de 60% dos pacientes são mulheres. A glândula parótida é o sítio anatômico mais relatado; entretanto, outros sítios já foram observados a ocorrência como glândula submandibular, glândulas salivares menores, seio paranasal, traqueia, glândula lacrimal e cavidade nasal1,2,3. São raros os casos em língua1. Clinicamente, o inchaço localizado bem delimitado é o único sinal, associado ou não à dor1.

Os achados microscópicos revelam um crescimento sólido tubular que consiste normalmente em um grupo de células epiteliais internas com citoplasma eosinofílico e outro grupo de células mioepiteliais (CM) externas com citoplasma claro1,4,5.


RELATO DE CASO

A paciente de 48 anos de idade, gênero feminino, leucoderma, procurou o serviço de estomatologia em setembro de 2002 queixando-se de um "caroço na língua". Durante a anamnese, relatou que há um mês sentiu um desconforto na região. Ao exame intraoral, foi observada uma mucosa com coloração normal, sem alterações perceptíveis à inspeção. Entretanto, à palpação na mesma região, percebeu-se uma lesão nodular, endofítica e de consistência mole, medindo aproximadamente 1cm. A hipótese diagnóstica foi de lipoma. Foi realizada uma biópsia excisional. Na microscopia, em coloração HE, o espécime exibiu um parênquima com estruturas ductiformes, composta por células internas com citoplasma eosinofílico e cúbico e a camada externa composta por células claras (Figura 1A). Na imuno-histoquímica, as células internas das estruturas ductiformes mostraram positividade para citoqueratina (CK) 7 (Figura 1B) e 8 (Figura 2C), sendo assim células epiteliais. As células externas foram reativas ao anticorpo actina músculo lisa (SMA)(Figura 2D), denotando o fenótipo de células mioepiteliais. O diagnóstico histopatológico foi de CEM. A paciente foi encaminhada ao Serviço de Oncologia, sendo que o médico resolveu não realizar uma nova intervenção cirúrgica e apenas proservar. Todavia, a paciente teve recidiva em agosto de 2006, quatro anos após a primeira cirurgia, e foi submetida apenas a uma nova intervenção cirúrgica com margem de segurança. Em três anos de acompanhamento não foi observado recidiva da lesão.


Figura 1. Achados histopatológicos - (A) Parênquima com estruturas ductiformes, composta por células internas com citoplasma eosinofílico e cúbico e a camada externa composta por células claras - HE; (B) Imunopositividade para CK 7 - SABC; (C) Imunopositividade para CK 8 - SABC; (D) Imunopositividade para SMA - SABC.



DISCUSSÃO

O CEM é um tumor maligno raro de glândula salivar1,2,3. A paciente tem 48 anos, uma idade abaixo da média de ocorrência3. Clinicamente, pode ocorrer tanto em glândulas salivares maiores e menores2,3. O caso em discussão trata-se de um CEM em ventre de língua e são raros os casos nesse sítio1. O inchaço localizado é o único sinal clínico, que pode direcionar a hipótese de diagnóstico de uma lesão benigna3 ou maligna1. Não há até o momento relatos com associação de fatores de risco como fumo, álcool e radiações no desenvolvimento de CEM1,3.

O diagnóstico do CEM é baseado na microscopia de luz e confirmado pela técnica imuno-histoquímica1,4,5. No caso em discussão, os achados microscópicos foram pertinentes aos descritos na literatura.

Para o tratamento, a maioria dos autores converge para a excisão cirúrgica com boa margem de segurança, proservação e, em alguns casos, radioterapia adjuvante quando se tem dificuldade de delinear margem cirúrgica1,3,6. Em função da raridade da lesão, não se tem protocolo definido para casos recorrentes, sendo apenas realizada uma nova intervenção cirúrgica com proservação do paciente1,3. No caso apresentado, foi realizada uma biópsia excisional e a paciente, após quatro anos da realização da primeira intervenção cirúrgica, teve recidiva da lesão, sendo a segunda intervenção realizada com boa margem de segurança.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Deve-se ter o conhecimento de casos, como o apresentado, para que profissionais não subestimem lesões em língua e inclua no diagnóstico diferencial a possibilidade de neoplasia para que a abordagem cirúrgica seja a mais adequada possível. Em casos recorrentes deve-se alertar o paciente que a lesão é rara e que se faz necessário longo acompanhamento.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1. Cirurgião-dentista, Aluno de mestrado do Programa de Pós-graduação em Patologia Oral.
2. Doutor em Patologia Oral, Professor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
3. Mestre em Estomatologia, Professora da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
4. Doutor em Cirurgia Buco-Maxilo-Facial, Professor da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
5. Doutora em Patologia Oral, Professora do Programa de Pós-graduação em Patologia Oral. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Endereço para correspondência:
Dra. Roseana de Almeida Freitas - Departamento de Odontologia - Patologia Oral
Av. Sen. Salgado Filho 1787, Lagoa Nova
Natal RN 59056-000
E-mail: roseana@dod.ufrn.br

Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da BJORL em 7 de agosto de 2009. cod. 6552
Artigo aceito em 15 de dezembro de 2009
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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