strong>INTRODUÇÃO
Massas cervicais congênitas, císticas e mediastinais incluem linfangioma, teratoma, cisto neuroentérico, cisto do ducto tireoglosso, cisto da fenda branquial, malformações vasculares ou hérnia pulmonar1. Elas podem ser encontradas em algum nível do descenso tímico normal, desde o ângulo da mandíbula ate o mediastino superior2. O cisto tímico, devido a sua raridade, geralmente não é incluído no diagnóstico diferencial das massas cervicais, raramente tem diagnóstico feito no pré-operatório. Sua grande maioria é assintomática, entretanto, aproximadamente 6% podem provocar disfagia, dispneia, dor cervical, estridor ou ronco, os quais estão relacionados com uma extensão mediastinal.
APRESENTAÇÃO DO CASOMenino de 9 anos, encaminhado para avaliação de massa cervical à esquerda, assintomática, evoluiu com aumento de tamanho, sem sinais flogísticos e sem demais sintomas por um período de aproximadamente 1 ano. O exame físico mostrou tumoração em região cervical à esquerda, anteriormente, de difícil palpação, consistência fibroelástica, móvel. A massa não impedia a movimentação da criança. Ultrassonografia evidenciou massa cística compatível com cisto branquial em cadeia júgulo-carotídea esquerda de aspecto inflamatório enquanto que em tomografia computadorizada foi visualizada lesão sólida em região cervical esquerda de etiologia a esclarecer sugestiva de adenomegalia, linfoma. A massa apresentava extensão em direção ao mediastino. Foi realizada cervicotomia à esquerda com exérese de tumoração cérvico-torácica com características benignas, de consistência glandular e sem áreas de necrose, mergulhando em tórax anterior, Figura 1). O histopatológico revelou timo dentro dos parâmetros da normalidade com alterações involutivas e áreas císticas revestidas por granulomas de corpo estranho (lembrando cristais de colesterol ou ceratina) e glândula paratireoide sem alterações. O pós-operatório transcorreu sem intercorrências, sem deficits neurológicos ou injúrias.
Figura 1. US demonstrando massa cística em região cervical esquerda, compatível com cisto branquial; - TC mostrando lesão sólida em região paratireoidiana, desviando a traqueia para a direita, compatível com linfoma; na cervicotomia, foi encontrada a massa mergulhando em mediastino, ressecável, sem sequelas; - Peça cirúrgica, tumoração encaminhada ao estudo histopatológico: cisto tímico.
DISCUSSÃOO pico de incidência de cisto tímico, nessa faixa etária da primeira década de vida, pode ser explicado pelo fato de o resquício tímico ter o seu maior tamanho nos anos que antecedem a puberdade. Embora cisto tímico não seja um diagnóstico frequente, o paciente relatado acima, sexo masculino, de tumoração cervical à esquerda e na primeira década de vida, assume as características comuns dos relatos da literatura. Possui massa cística revestidas por granulomas de corpo estranho com aspecto semelhante a cristais de colesterol ou ceratina, que são patognomônicos de cisto tímico3, sem sintomas assim como a maioria dos pacientes relatados por Chiba4. Os exames de ultrassonografia que puseram em dúvida o diagnóstico são examinadores-dependentes e por isso deve-se ter cuidado na indicação da conduta em casos raros. Por se tratar de imagem de lesão cística foi levantada a hipótese de cisto branquial. A TC demonstrou massa sólida e levantou-se a suspeita de linfoma. Massas cervicais supraclaviculares à esquerda nos lembram a drenagem linfática do abdome, que foi revisto sem qualquer anormalidade, concluindo então pela exérese cirúrgica da lesão em Centro Cirúrgico, sob anestesia geral e com todos os cuidados trans-operatórios de exérese da lesão tumoral total.
COMENTÁRIOS FINAISCisto tímico é uma rara causa de massa cervical. Entretanto, ele deve estar incluído no diagnóstico diferencial durante a pesquisa de massas cervicais especialmente em crianças5. Essa lesão raramente é diagnosticada no pré-operatório e pode facilmente ser confundida com outras lesões cervicais6. A imagem dessa lesão e de suas relações anatômicas é bem visualizada usando tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética. Uma vez diagnosticada, a cirurgia é o tratamento definitivo, sendo a massa sintomática e esteticamente desfavorável, ou para a confirmação histopatológica que tem como diagnóstico diferencial as neoplasias. Durante o pré-operatório deve-se incluir a confirmação de um timo mediastinal para prevenir o risco de uma timectomia total. O prognóstico após a retirada total da lesão é excelente, e nenhum caso de recorrência tem sido relatado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Takeda S, Miyoshi S, Minami M, Ohta M, Masaoka A, Matsuda H. Clinical spectrum of mediastinal cysts. Chest. 2003;124:125-32.
2. Petropoulos I, Konstantinidis I, Noussios G, Karagiannidis K, Kontzoglou G. Thymic cyst in differential diagnosis of paediatric cervical masses. B-ENT. 2006;2:35-7.
3. Özbey H, Ratschek M, Höllwarth M. Cervicomediastinal Thymic Cyst: Report of a case. Surg Today. 2005;35:1070-2.
4. Chiba T, Kisugi T, Igura H, Mineta T, Takebe K, Yaoita S. Persistent cervical thymus with a small cyst in a newborn infant. Z Kinderchir. 1984;39:265-6.
5. Hendrickson M, Azarow K, Ein S, Shandling B, Thorner P, Danemen A. Congenital thymic cysts in children - mostly misdiagnosed. J Pediatr Surg. 1998;33:821-5.
6. Baek C, Ryu J, Yun J, Chu K. Aberrant cervical thymus: a case report and review of literature. J. Pedriatr Otorhinolaryngol. 1997;41:215-22.
1. Doutorado, médica e professora.
2. Médica.
3. Médico.
4. Doutorado, médico e professor.
5. Doutorado, médica e professora.
Universidade Federal do Triângulo Mineiro - Uberaba - M.G
Endereço para correspondência:
Luciane Carneiro de Carvalho
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Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da BJORL em 21 de julho de 2007. cod. 4676
Artigo aceito em 14 de dezembro de 2007