INTRODUÇÃOAs fístulas buco-sinusais são resultado de patologias, trauma ou cirurgias menores1, porém a causa mais comum é a extração dos molares superiores devido à proximidade anatômica entre as raízes com o seio maxilar1. Quando as fistulas superam os 3mm ou existe inflamação ou infecção no seio maxilar ou na região periodontal, é necessário o uso de alguma técnica cirúrgica para seu fechamento2.
O uso do corpo adiposo bucal (CAB) como enxerto pediculado tem conquistado seu espaço na área da cirurgia buco-maxilo-facial por ser um procedimento cirúrgico rápido, relativamente simples e com alto índice de sucesso. O primeiro relato para reconstruções bucais foi em 1977, porém só foi em 1986 que Tidemann et al.3 publicaram um trabalho detalhando a anatomia do CAB, seu suprimento sangüíneo, a técnica cirúrgica e os resultados clínicos de 12 casos de reconstrução em defeitos na cavidade bucal.
CASO CLÍNICOPaciente masculino, 51 anos, encaminhado para tratamento de comunicação buco-sinusal presente há seis meses após exodontia de segundo molar superior esquerdo, apresentando queixa de dor, gosto ruim na boca e sensação de presença de líquido no nariz após consumo de bebidas.
Ao exame intrabucal o paciente apresentava fístula de 1cm de diâmetro no fundo do sulco superior esquerdo com secreção purulenta, sendo confirmada a proporção do defeito ósseo por meio de reconstrução 3D da TC (Figura 1E,1G).
Figura 1. A) Incisão contornando-se a fístula e duas incisões horizontais de alívio uma na região anterior à fístula e outra posterior. B) Exposição do corpo adiposo bucal, estendido até o defeito sem tensão. C) Sutura do corpo adiposo bucal às bordas da mucosa palatina e vestibular. D) Sutura da mucosa sobre o corpo adiposo. E) Imagem lateral (TC 3D) do defeito ósseo pré-operatório. F) Imagem lateral (TC 3D) do defeito ósseo pós-operatória com um ano. G) Imagem oclusal (TC 3D) do defeito ósseo pré-operatório. H) Imagem oclusal (TC 3D) do defeito ósseo pós-operatória.
Foi instaurada terapia antimicrobiana pré-operatória para controle da infecção. Posterior à remissão dos sinais e sintomas, foi programada a cirurgia.
Após bloqueio anestésico dos nervos alveolar superior posterior, médio e palatino maior, foi realizada uma incisão contornando-se a fístula e duas incisões horizontais de alivio (Figura 1A). O defeito ósseo foi visualizado, e removido o tecido necrótico das bordas ósseas e irrigado abundantemente com solução fisiológica e uma ampola de Rifocina de 75mg/1,5ml. Após realizada a incisão no periósteo e divulsão do tecido, o corpo adiposo bucal foi rotacionado até a região do defeito cobrindo-o em sua totalidade sem tensão (Figura 1B), e suturando-o às bordas da mucosa palatina e vestibular com Catgut 4-0 cromado (Figura 1C). O retalho mucoso foi reposicionado sobre o tecido adiposo e suturado com o mesmo tipo de sutura (Figura 1D).
No pós-operatório foi prescrita medicação para controle e prevenção de infecção além das indicações pós-operatórias para os cuidados da ferida.
No pós-operatório com 7 dias o paciente apresentou ferida fechada, com presença de tecido adiposo em processo de cicatrização, e melhora na sintomatologia em sua totalidade. No PO de 21 dias a mucosa se apresentava bem posicionada sobre a área, totalmente cicatrizada, com pequeno excesso de tecido mucoso, que foi removido numa segunda cirurgia.
Um ano posterior à cirurgia na reconstrução 3D de TC se observou a diminuição do tamanho do defeito ósseo na parede lateral do seio maxilar. (Figura 1F, 1H)
DISCUSSÃOO CAB é um tipo de gordura especializada, denominada "sissarcose" que tem a função de preencher o espaço mastigatório, melhorar e amortecer a mobilidade muscular e contribuir na morfologia da face4.
Entre as vantagens do seu uso estão: procedimento simples e rápido, mínima incidência de falha; realizado sob anestesia local; sem cicatrizes visíveis; baixa morbidade; e sem perda de profundidade de sulco4,5.
Como desvantagens: uma única utilização; possibilidade de trismo no pós-operatório; limitação para defeitos pequenos e médios; não dá suporte rígido4,5.
Sua epitelização dura em torno de 2 a 3 semanas e o tecido adiposo serve de leito para o crescimento do epitélio, primeiramente coberto por tecido de granulação e depois por epitélio estratificado que migra da margem da gengiva. Neste caso observamos uma diminuição no tamanho do defeito ósseo um ano após o fechamento buco-sinusal, provavelmente causada pelo desgaste das bordas no defeito que ativou o processo de reparação óssea, sendo impossível uma total formação devido ao tamanho do defeito que poderia ser considerado como crítico.
CONSIDERAÇÕES FINAISO uso do corpo adiposo bucal no fechamento de fístulas buco-sinusais é um método cirúrgico estável, relativamente simples, com um alto grau de sucesso e com pós-operatório confortável para o paciente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Hanazawa Y, Itoh K, Mabashi T, Sato K. Closure of oroantral communications using a pedicle buccal fat pad graft. J Oral Maxillofac Surg 1995;53:771-5.
2. Martin-Granizo R, Naval L, Costas A, Goizueta C, Rodriguez F, Monje F et al. Use of buccal fat pad to repair intraoral defects: review of 30 cases. Br J Oral Maxillofac Surg 1997;35:81-4.
3. Tideman H, Bosanquet A, Scott J. Use of the buccal fat pad as a pedicle graft. J Oral Maxillofac Surg 1986;44:435-40.
4. Pereira FL, Farah GJ, Passeri LG, Pavan AJ. Aplicação do Corpo Adiposo Bucal para o Encerramento de fistula Bucosinusal. Relato de Caso. Rev Port Estomatol Cir Maxillofac 2004;45:221-6.
5. Rapidis AD, Alexandridis CA, Eleftheriadis E, Angelopoulos AP. The use of the buccal fat pad for reconstruction of oral defects: review of the literature and report of 15 cases. J Oral Maxillofac Surg 2000;58:158-63.
1 Mestre em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. FOP-UNICAMP, Doutoranda em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. FOP-UPE.
2 Mestre em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. FOP-UNICAMP, Doutorando em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. FOP-UPE.
3 Doutor em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. FOP-UNICAMP, Doutor em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. FOP-UNICAMP.
4 Doutor em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. FOP-UNICAMP, Professor Associado da Área de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Universidade de Pernambuco. Faculdade de Odontologia de Pernambuco. FOP-UPE. Recife - PE - Brasil.
5 Doutor em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial. UNESP, Professor Titular da Área de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial da Universidade de Piracicaba. Faculdade de Odontologia de Piracicaba. FOP-UNICAMP. Universidade de Pernambuco. Faculdade de Odontologia de Pernambuco.
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Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 17 de janeiro de 2007. cod. 3607.
Artigo aceito em 8 de abril de 2007.