INTRODUÇÃOO pseudotumor miofibroblástico inflamatório (PTMI) foi descrito inicialmente em no pulmão, sendo depois descrito em várias localizações extrapulmonares1. Na cabeça e pescoço, a enfermidade é mais freqüente nos seios paranasais, e já foi descrita em órbita, tonsilas palatinas, ouvido, gengiva, espaço pterigomaxilar e tecidos periodontais, sendo extremamente rara na laringe. Vinte e dois casos de PTMI na laringe foram descritos até agora em literatura indexada2-5.
O presente trabalho tem o objetivo de descrever um raro caso de PTMI da laringe e discutir seus aspectos diagnósticos e terapêuticos.
RELATO DO CASOJ.G., masculino, 22 anos, queixava-se de disfonia persistente há 2 meses. Negava tabagismo, uso abusivo da voz, uso de medicamentos, queixas gastroesofágicas ou alérgicas. Videolaringoscopia evidenciou hiperemia e edema de prega vocal direita com lesão de aspecto polipóide (Figura 1A). Foi submetido então à microcirurgia da laringe para exérese da lesão. O exame anatomopatológico revelou lesão polipóide recoberta por mucosa com epitélio escamoso não-ceratinizante, exibindo no córion proliferação bastante celular e fascicular, constituída por células fusiformes ou estrelares com características de fibroblastos ou miofibroblastos, raramente com aspecto histiocitóide, e com proeminente infiltrado inflamatório crônico rico em plasmócitos e polimorfonucleares (Figura 1B). O estudo imunohistoquímico demonstrou positividade difusa para vimentina e focal para actina de músculo liso 1A4, sendo negativo para citoqueratinas (AE1AE3) e desmina. O diagnóstico final foi de PTMI.
Figura 1. (A) Videolaringoscopia apresentando hiperemia e edema de prega vocal direita; (B) Lesão polipóide recoberta por mucosa com epitélio escamoso não-ceratinizante exibindo no córion proliferação de células fusiformes com características de fibroblastos ou miofibroblastos (hematoxilina-eosina, 200X).
Relatou melhora importante da qualidade vocal, com videolaringoscopia normal após 30 dias de pós-operatório. Retornou com 6 meses de pós-operatório relatando piora vocal. À videolaringoscopia, evidenciou-se lesão polipóide, compatível com recidiva da lesão inicial. Realizou-se nova cirurgia por laringoscopia, com exérese do pólipo, sem ampliação das margens cirúrgicas. Exame anatomopatológico confirmou a presença de PTMI. Paciente permanece há 12 meses sem queixas vocais, com exame videolaringoestroboscópico normal.
DISCUSSÃOO PTMI da laringe é uma entidade rara, recém-descrita em 1992 e pode apresentar um importante problema diagnóstico2. Clinicamente, a lesão é suspeita e, histologicamente, simula um carcinoma de células escamosas3. A natureza precisa desta doença ainda é incerta.
Inicialmente considerava-se que o PTMI seria uma lesão não-neoplásica, representando uma resposta inflamatória anormal2. Atualmente, o PTMI é considerado uma neoplasia devido às seguintes características: potencial de recorrência local, desenvolvimento de tumores multifocais e não-contíguos, crescimento local infiltrativo, invasão vascular, e mesmo, metástases à distância. Histologicamente, o aspecto das lesões é semelhante às patologias malignas (carcinoma espinocelular, leiomiossarcomas, histiocitoma maligno), sendo necessário estudo imunohistoquímico complementar4,6.
A ocorrência do PTMI na laringe é extremamente rara, sendo descritos apenas 22 casos na literatura2-5. A doença laríngea é localizada nas pregas vocais em 80% dos casos. Os sintomas mais comuns parecem ser rouquidão e disfonia. À videolaringoscopia, a lesão apresenta-se mais freqüentemente pedunculada, de aspecto polipóide, mas também pode apresentar-se como uma elevação nodular. O tamanho delas variou entre 0,4 e 3,5cm. O prognóstico ainda indeterminado parece favorável, com poucos casos de recidiva local sem complicações regionais4,5.
CONCLUSÃOO PTMI deve ser incluído no diagnóstico diferencial de lesões malignas da laringe, tanto pelo seu comportamento menos agressivo, quanto pela aparente possibilidade de tratamento cirúrgico conservador, ao contrário das neoplasias. Estudos subseqüentes são necessários para determinar a verdadeira natureza e evolução desta enfermidade na laringe.
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4. Guilemany JM, Alós L, Alobid I, Bernal-Sprekelsen M, Cardesa A. Inflammatory myofibroblastic tumor in the larynx: clinicopathologic features and histogenesis. Acta Otolaryngol 2005;125(2):215-9.
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1 Médico, Residente do Serviço de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia.
2 Médico, Residente do Serviço de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia.
3 Otorrinolaringologista, Médico do Serviço de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia.
4 Mestre, Chefe da Divisão de Laringologia e Voz do Serviço de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia.
5 Professor Titular, Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia. Departamento de Otorrinolaringologia, Hospital Santa Genoveva, Uberlândia, Minas Gerais, Brasil.
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Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 7 de dezembro de 2006. cod. 3548.
Artigo aceito em 18 de janeiro de 2007.