ISSN 1806-9312  
Domingo, 28 de Abril de 2024
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3657 - Vol. 74 / Edição 2 / Período: Março - Abril de 2008
Seção: Relato de Caso Páginas: 317 a
Neurofibroma extra-ósseo solitário do palato duro
Autor(es):
Aline Cristina Batista Rodrigues Johann 1, Patrícia Carlos Caldeira 2, Giovanna Ribeiro Souto 3, João Batista de Freitas 4, Ricardo Alves Mesquita 5

Palavras-chave: mucosa bucal, neurofibroma, neurofibromatose 1, palato duro

Keywords: hard palate, mouth mucosa, neurofibroma, neurofibromatosis 1

INTRODUÇÃO

Neurofibroma (NF) é um tumor benigno da bainha do nervo periférico que raramente acomete região de cabeça e pescoço. Entretanto, dentre as lesões neurais é a mais freqüente nesta região1,2. O NF pode ser intra ou extra-ósseo, solitário ou múltiplo (associado à neurofibromatose tipo I)2,3. As localizações extra-ósseas mais comuns do NF de boca são língua, mucosa bucal e lábios2. Na literatura são descritos dois casos bem documentados de NF extra-ósseo solitário do palato duro1,4.


APRESENTAÇÃO DO CASO

Paciente do sexo feminino, 39 anos, foi avaliada para diagnóstico de lesão no palato. A paciente era edêntula e apresentava nódulo único, assintomático, séssil, fibroso, coloração rósea, superfície lisa, medindo 30 x 30 x 05mm, no lado direito da região posterior do palato duro, próximo ao rebordo alveolar, com evolução de três anos (Figura 1A). A história médica não foi contribuitória. Radiografias não demonstraram quaisquer alterações. O diagnóstico clínico foi adenoma pleomórfico ou neoplasia mesenquimal benigna. Biópsia incisional foi realizada e o espécime enviado para análise. Na histologia verificou-se proliferação de células fusiformes com núcleo ondulado distribuídas desorganizadamente em tecido conjuntivo fibroso (Figura 1B). Todas as células neoplásicas foram imunopositivas para proteína S-100 (Técnica da estreptoavidina-biotina, Dako Corporation®, clone: Z0311, diluição 1:100, sem recuperação antigênica, incubação por 18 horas em temperatura de 4ºC) (Figura 1C). O diagnóstico foi de NF. A paciente foi reavaliada e não se verificou evidências de neurofibromatose tipo I. A lesão foi excisada, sendo bem circunscrita e conectada ao nervo palatino maior (Figura 1D). A ressecção desta porção do nervo foi realizada (Figura 1E). Não houve recorrência durante 12 meses de acompanhamento (Figura 1F).


Figura 1. A- Ao exame clínico observou-se nódulo único, assintomático, séssil, fibroso, coloração rósea, superfície lisa, medindo 30 x 30 x 05mm, no lado direito da região posterior do palato duro. B- Ao exame histopatológico verificou-se proliferação de células fusiformes com núcleo ondulado distribuídas desorganizadamente em tecido conjuntivo fibroso (Coloração de hematoxilina-eosina; aumento de 100X). Em detalhe células fusiformes com núcleo ondulado (Coloração de hematoxilina-eosina; aumento de 200X). C- Células neoplásicas apresentaram imunopositividade para proteína S-100 (Técnica da estreptoavidina-biotina, aumento de 400X). D- Durante a excisão cirúrgica pode-se observar que a lesão era bem circunscrita. E- A lesão apresentava conexão com o nervo palatino maior (seta), sendo realizada a ressecção de uma porção do nervo. F- Nenhuma recorrência foi observada durante os 12 meses de acompanhamento.



DISCUSSÃO

Dois casos de NF extra-ósseo solitário do palato duro foram relatados por Pollack1 e Shimoyama et al4. NF extra-ósseo de boca é um nódulo pequeno, séssil, com superfície lisa, crescimento lento, bem circunscrito, mas não encapsulado1,2. Cherrick e Eversole2 observaram predileção pelo sexo feminino. Chen e Miller5 relataram que os NF de boca acometem pessoas de 9 a 72 anos de idade. Estas características clínicas foram observadas neste caso. NF apresenta imunopositividade para proteína S-100 em 85 a 100% dos casos, indicando origem neural3,6. O tratamento do NF solitário é a excisão cirúrgica e recorrência é rara2,4. O caso descrito foi facilmente removido, pois era bem circunscrito. Além disso, uma porção do nervo palatino maior foi removida.


COMENTÁRIOS FINAIS

O acompanhamento do paciente com NF é fundamental, uma vez que o NF solitário pode ser a primeira manifestação da neurofibromatose tipo I. Esta paciente está sob acompanhamento e até este relato não foi observada recorrência.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Shimoyama T, Kato T, Nasu D, Kaneko T, Horie N, Ide F. Solitary neurofibroma of the oral mucosa: a previously undescribed variant of neurofibroma. J Oral Sci 2002;44(1):59-63.

2. Cherrick HM, Eversole LR. Benign neural sheath neoplasm of the oral cavity. Report of thirty-seven cases. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1971;32(6):900-9.

3. Souza LB, Oliveira JMB, Freitas TMC, Carvalho RA. Neurofibroma paciniano: relato de um caso raro de localização intra-oral. Rev Bras Otorrinolaringol 2003;69(6):851-4.

4. Pollack RP. Neurofibroma of the palatal mucosa. A case report. J Periodontol 1990;61(7):456-8.

5. Chen SY, Miller AS. Neurofibroma and schwannoma of the oral cavity. A clinical and ultrastructural study. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1979;47(6):522-8.

6. Johnson MD, Glick AD, Davis BW. Immunohistochemical evaluation of Leu-7, myelin basic-protein, S100-protein, glial-fibrillary acidic-protein, and LN3 immunoreactivity in nerve sheath tumors and sarcomas. Arch Pathol Lab Med 1988;112(2):155-60.





1 Mestre, Aluna de Doutorado da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais.
2 Aluna de graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais.
3 Aluna de graduação da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais.
4 Mestre, Professor da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais.
5 Doutor, Professor da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais.
Endereço para correspondência: Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais - Av. Antônio Carlos 6667 sala 3204 Pampulha Belo Horizonte MG 31270-901.
Este estudo foi desenvolvido com apoio de CNPq (301736/2004-9; 502978/2004-0) e FAPEMIG (CDS 895/05).
Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 14 de setembro de 2006. cod. 3394.
Artigo aceito em 21 de outubro de 2006.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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