INTRODUÇÃOOs traumas craniofaciais por objetos metálicos são comuns em guerras, conflitos pessoais e em acidentes diversos. Podem ser causados por armas de fogo ou branca e fragmentos metálicos, ósseos ou dentários, os quais produzem lesões que variam desde pequenas abrasões até fraturas extensas e graves.
Ocorrem, principalmente, em adultos jovens de 19 a 30 anos, do sexo masculino, pela maior exposição aos fatores desencadeantes1.
A lesão encefálica penetrante por objeto de baixa energia cinética é incomum2. A maioria desses casos envolve lesões crânio-orbitárias. Outras vezes, o sistema nervoso central pode ser acometido, porém, em extensa área, como é relatado num acidente com fibra de amianto, no qual o paciente foi submetido a uma craniotomia3. As lesões causadas por projétil de arma de fogo, de alta energia cinética, são mais extensas e têm sido mais freqüentes nos grandes centros urbanos4. Nos casos de violência pessoal, a face é região mais atingida.
No Brasil, os homicídios ocorrem em 78,31% por arma de fogo e 10,96%, por arma branca5. As causas dos traumas cranianos são acidentes automobilísticos (40,7%), agressões com ou sem armas (25,4%) e quedas (24%)6.
APRESENTAÇÃO DO CASOO paciente ECR, branco, masculino, 19 anos, apresentou lesão pérfuro-cortante na região da sutura fronto-orbital direita, com arma branca (faca), vítima de agressão. Estava consciente, estando normais os exames clinico geral, oftalmológico e neurológico.
O estudo por imagem evidenciou corpo estranho penetrando no osso etmóide, até o interior do seio esfenoidal (Figura 1).
Figura 1. Apresentação das posições anatômicas do corpo estranho nos estudos radiológico e tomográfico e a exposição na pele, o acesso cirúrgico e o paciente no período pós-operatório imediato.
Descrição CirúrgicaRealizou-se uma incisão na borda superior das órbitas, até o sulco nasogeniano direito. Três retalhos foram constituídos, um frontal, um infra-orbitário direito e um nasogeniano esquerdo, e fixados à pele.
Procedeu-se à translocação para acesso às regiões profundas, sendo removidos elementos ósseos em monoblocos. O primeiro deles constituiu-se da parte caudal do frontal e dos ossos nasais. O segundo, dos ossos lacrimal e maxilar, em seu segmento medial. Profundamente, realizou-se a ressecção de porções etmoidais e esfenoidais, preservando-se as estruturas contíguas.
Visualizou-se, então, todo o nível de penetração do corpo estranho, com o intuito de evitar o acometimento de estruturas nobres, na sua retirada. Após, reconstruiu-se a região cirúrgica, com as reposições dos blocos ósseos (Figura 1).
O pós-operatório evoluiu sem intercorrências. Atualmente o paciente se encontra no sexto ano de seguimento, sem seqüelas.
DISCUSSÃODentre as armas mais comuns que acometem o ser humano, destacam-se barra de ferro2, fibra de amianto3, arma fogo4 e faca5.
Os traumas faciais por arma branca no Brasil ocorrem, geralmente, entre indivíduos de menor nível sociocultural e associados ao uso de bebidas alcoólicas, agressão violenta e a assaltos1,5,6.
É importante a atuação de uma equipe multidisciplinar nas lesões crânio-faciais, para o melhor prognóstico do paciente.
O estudo por imagem é essencial para a avaliação dos danos causados pelo corpo estranho no crânio e na face e no estabelecimento do planejamento cirúrgico. Deve-se avaliar a extensão das lesões.
O tratamento consiste na remoção do corpo estranho através de dissecação, sem trauma das estruturas lesadas, procurando preservar a função e a estética craniofacial.
COMENTÁRIOS FINAISOs autores relatam um caso incomum de traumatismo facial, por arma branca (faca), com penetração na região da sutura fronto-orbital direita que se estendeu até o osso esfenoidal.
Nesses casos, a rápida intervenção médica, multidisciplinar, aliada à técnica cirúrgica apurada, garante o bom prognóstico do paciente e minimiza os riscos de complicações pós-operatórias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Fisch U. Facial paralysis in fractures of the petrous boné. Laryngoscope 1974;84:2141-54.
2. Stone JL. Transcanial brain injuries caused by metal rods and pipes over the past 150 years. J His Neurociency 1999;8:227-234.
3. Andrade GC, Silveira RL, Arantes Jr AA, Fonseca Filho GA, Pinheiro Jr N. Lesão cerebral penetrante por grande fragmento de fibra de amianto tratada por craniectomia descompressiva: relato de caso. Arq Neuro-Psiquiatr 2004;62(4):1104-7.
4. Harrington T, Apostolides T. Penetrating brain injury. Em: Cooper PR, Golfinhos JG, editores. Head injury. 4th ed. New York: McGraw-Hill; 2000. p. 349-60.
5. Silva JF 2000. Homicídios no Brasil: 1997 - 1998. Movimento Nacional de Direitos Humanos. Disponível em www.dtnet.org.br/mnh/bdados/btxt1.htm. Acessado em 27 de junho de 2003.
6. Melo JRT, Silva RA, Moreira Jr ED. Características dos pacientes com trauma cranioencefálico na cidade do Salvador, Bahia, Brasil. Arq Neuro-Psiquiatr 2004;62(3a):711-5.
1 Doutorado/USP/SP, Staff do Hospital Odontomed.
2 Doutorado/USP/SP, Professor Titular - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
3 Especialista em Neurocirurgia, Professor Adjunto de Neurocirurgia - Faculdade de Medicina de Itajubá.
4 Doutorado/UFMG/MG, Professor Adjunto de Anatomia Humana - Faculdade de Medicina de Itajubá.
5 Especialista em Otorrinolaringologia, Staff - Hospital Saúde Ceam de Itajubá.
6 Acadêmico, Faculdade de Medicina de Itajubá.
Hospital Odontomed.
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Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 9 de novembro de 2005. cod. 1572.
Artigo aceito em 15 de maio de 2006.