INTRODUÇÃO

O melanoma maligno é uma neoplasia cutânea melanocítica que possui caráter agressivo e rápida expansão1. Apesar do diagnóstico, a mortalidade da doença ainda atinge níveis bastante elevados. Metástases para a cavidade oral de melanoma cutâneo são raras2-5: até 2001 menos de 30 casos haviam sido publicados de metástases para as tonsilas palatinas3. Este tipo de disseminação se dá por via hematogênica, e o prognóstico é ruim. As razões que motivaram a apresentação deste caso são a raridade do achado e a importância do diagnóstico precoce, visto nem sempre ser a cavidade oral examinada de rotina por clínicos e oncologistas em acompanhamento de pacientes com diagnóstico de melanoma.

CASO CLÍNICO

J.A.C., masculino, 56 anos. Diagnóstico há dois anos de melanoma em região supraclavicular direita. Há 4 meses procurou o serviço de otorrinolaringologia com queixa de faringite de repetição, que não cedia ao uso de analgésicos. Referia leve disfagia, sem febre. Ao exame físico, bom estado geral, normocorado e eutrófico; rinoscopia anterior e otoscopia sem alterações. Oroscopia: tonsilas simétricas grau II, presença de lesão hipercrômica enegrecida em toda a extensão da tonsila palatina direita, irregular, indolor e sem sinais flogísticos. Tonsila palatina esquerda e mucosa oral sem alterações. Ausência de adenomegalias cervicais. Radiografia pulmonar detectou lesões disseminadas no parênquima de ambos os pulmões. Foi submetido à biópsia excisional das tonsilas palatinas no Hospital Geral de Fortaleza em maio/2004. Achado cirúrgico: tonsila direita: tecido hipercrômico, endurecido e com aspecto infiltrativo para o palato mole, e bastante sangrante à ressecção; tonsila esquerda: aparentemente sem alterações, ressecção sem dificuldades. O histopatológico confirmou a presença de metástases de melanoma maligno nas tonsilas, bilateralmente, inclusive com acometimento macroscópico bilateral aos cortes histológicos (Figura 1). O paciente foi então encaminhado para realização de quimioterapia.



DISCUSSÃO

O melanoma é um tumor constituído por proliferação de melanócitos atípicos localizados na camada basal do epitélio. Clinicamente, caracteriza-se por lesões pigmentadas com variabilidade de cor (preta, marrom, rosa, branca), assimétricas e de bordas irregulares. Tem caráter invasivo, podendo dar metástases para linfonodos, pulmões, fígado e cérebro6.

Na orofaringe sua presença é rara. Há descrito3 que as metástases para tonsila palatina são geralmente tardias (cerca de seis anos e meio), o que não ocorreu com o caso por nós descrito, que revelou metástase dois anos após a detecção da lesão inicial.

A suspeita clínica no caso apresentado se deu pela história prévia de melanoma cutâneo, confirmado por histopatológico, e pela apresentação clínica de lesão pigmentada irregular na tonsila do paciente. Apesar da queixa do paciente ser de apenas dor e irritação faríngea, o exame físico foi essencial para diferenciar a patologia de uma faringite viral ou bacteriana de repetição.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Matthew H, Mraz-Gerhard S. Primary cutaneous malignant melanoma and its precursor lesions: Diagnostic and therapeutic overview. J Am Acad Dermatol 2001;45:260-76.

2. Wakasugi S, Kageshita T, Ono T. Metastatic melanoma to the palatine tonsil with a favourable prognosis. Br J Dermatol 2001 Aug;145(2):327-9.

3. Cauchois R, Laccourreye O, Carnot F. Metastatic tonsil melanoma. Ann Otol Rhinol Laryngol 1993 Sep;102(9):731-4.

4. Murphy D, Gillen P. Metastatic melanoma of the tonsil. Ir Med J 2001 Sep;94(8):236-7.

5. Ramamurthy L, Nassar WY, Hasleton PS. Metastatic melanoma of the tonsil and the nasopharynx. J Laryngol Otol 1995 Mar;109(3):236-7.

6. Tueche SG. Behavior of malignant melanoma with tonsil metastasis. Ann Med Interne 2002 Mar;153(2):136-8.




1 Médica residente de otorrinolaringologia do Hospital Geral de Fortaleza SESA/SUS.
2 Médica otorrinolaringologista, Preceptora da Residência de Otorrinolaringologia do Hospital Geral de Fortaleza-SESA/SUS.
3 Médica otorrinolaringologista, Preceptora da Residência de Otorrinolaringologia do Hospital Geral de Fortaleza-SESA/SUS.
4 Médica residente de otorrinolaringologia do Hospital Geral de Fortaleza-SESA/SUS.
5 Médico residente de otorrinolaringologia do Hospital Geral de Fortaleza- SESA/SUS.
Hospital Geral de Fortaleza - SESA/SUS.
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Este artigo foi submetido no SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBORL em 9 de março de 2005. cod. 62.
Artigo aceito em 29 de maio de 2006.