INTRODUÇÃOA obstrução nasal crônica é uma queixa comum na prática ambulatorial nos consultórios de otorrinolaringologia.
O diagnóstico de obstrução nasal é fundamentado na história clínica da doença nasal e no exame físico do paciente. No entanto, exames complementares se fazem necessários em alguns casos. Dentre esses, já é firmada na literatura atual a importância da endoscopia nasossinusal e da tomografia computadorizada.
A endoscopia nasossinusal é mencionada como um exame padrão para avaliação precisa da doença obstrutiva nasal e é considerada necessária em todo paciente com obstrução nasal, especialmente a partir da segunda semana de evolução.
A Tomografia Computadorizada (TC) do nariz e seios paranasais é o exame de imagem ideal (padrão-ouro) para o estudo das doenças do nariz e seios paranasais. Apresenta alta sensibilidade pois fornece informações precisas sobre as partes moles e ósseas da cavidade nasal, dos seios paranasais, das órbitas e do endocrânio. É um exame realizado em cortes axiais e coronais e com possibilidades de reconstruções sagitais com o emprego de contraste endovenoso quando necessário.
OBJETIVOO objetivo desse trabalho se baseia em um estudo comparativo entre achados da endoscopia nasossinusal e da TC dos seios da face, dentro da propedêutica da investigação etiológica da obstrução nasal crônica, individualizando a importância de cada exame para conclusão diagnóstica.
MATERIAL E MÉTODONessa pesquisa foram estudados 20 pacientes com queixa de obstrução nasal crônica, idade entre 14 e 51 anos, do Serviço Ambulatorial de Otorrinolaringologia do Hospital Nossa Senhora de Lourdes, São Paulo, capital. Trata-se de um estudo clínico retrospectivo, realizado através de revisão de prontuários de pacientes atendidos de 2002 a 2004.
RESULTADOSTodos os pacientes apresentavam queixa de obstrução nasal crônica. Dos 20 pacientes, 10 (50%) apresentavam queixas alérgicas associadas. Do total de pacientes 10 (50%) apresentavam obstrução nasal crônica como queixa única; 8 (40%) apresentavam queixa de cefaléia associada; 2 (10%) tinham queixa de bolus faríngeo associada à obstrução nasal.
Em 16 dos 20 pacientes (80%) foi encontrado hipertrofia de cornetos evidenciada pela nasofibroscopia; em apenas 9 dos 20 pacientes foi encontrada a mesma alteração à TC.
Em 2 dos pacientes (10%) foi encontrado polipose nasal à nasofibroscopia, sendo a mesma alteração não encontrada ao exame tomográfico. Em 17 pacientes (85%) foi observado Desvio Septal, sendo que em 8 destes foi encontrado na nasofibroscopia e na TC (47,1%), em 3 somente na nasofibroscopia (11%), em 6 dos pacientes o desvio septal foi encontrado apenas na TC (22%) (Gráfico 1).
Em 2 casos em que o exame tomográfico foi considerado normal, foram observadas alterações à nasofibroscopia, sendo estas desvio septal isolado em um caso e desvio septal associado à hipertrofia de cornetos no outro caso.
Ao nível das fossas nasais, as alterações anatômicas encontradas nos exames dos pacientes avaliados foram, principalmente, hipertrofia de cornetos inferiores e desvios septais. Foram encontradas também concha média bulhosa (20%), concha média com inversão de curvatura (5%) e polipose nasal (10%).
DISCUSSÃOSegundo Castagno, 1993, diversos fatores contribuem para obstruções nas cavidades nasais, desde processos virais, alérgicos, até desvios septais, hipertrofia de cornetos e outras alterações anatômicas e intranasais. Nos 20 pacientes com quadro de obstrução nasal crônica do nosso estudo foram encontradas alterações anatômicas estruturais, sendo estas apontadas como causa da queixa em questão.
Com base nos resultados apresentados, o achado de hipertrofia de cornetos foi mais evidenciado à nasofibroscopia que à TC (80%x45%). Dois casos de polipose nasal foram evidenciados à nasofibroscopia não sendo à TC, além de dois outros casos onde não foram observadas alterações à TC, sendo estas verificadas à nasofibroscopia, ou seja, TC normal com alterações à nasofibroscopia (desvio de septo e hipertrofia de cornetos).
Achados semelhantes foram mencionados em Vining, 1993, onde pacientes em que a TC fora negativa, o exame endoscópico demonstrou desvios septais, edema de mucosa envolvendo meato médio, bem como hipertrofia de adenóides e cornetos.
Pizzichetta, 1994, em trabalho semelhante, não considerou os achados tomográficos em grande parte dos casos estudados para explicar os sintomas de obstrução nasal, considerando o exame endoscópico suficiente para tal fim.
A endoscopia nasossinusal e a TC podem ser consideradas técnicas complementares entre si, para demonstração efetiva da anatomia nasal e das cavidades paranasais, segundo Morra (1998). Tal afirmação se soma à teoria de que o exame tomográfico seria mais específico para avaliação das cavidades paranasais, enquanto a endoscopia nasossinusal teria melhor resolutibilidade para avaliação das fossas nasais, segundo Tratado (2003). Assim, ratificando os achados do nosso presente estudo, embasado na literatura existente.
CONCLUSÃOAssim, diante do estudo apresentado e dos resultados obtidos pôde-se observar que, em âmbito das fossas nasais, os achados obtidos pela Endoscopia Nasossinusal foram mais conclusivos na elucidação diagnóstica do que os obtidos através da Tomografia Computadorizada dos seios paranasais, valendo a ressalva de que os aspectos técnicos da realização dos cortes tomográficos podem ter tido influência nos resultados desse estudo.
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