Todo investigador, em qualquer que seja a área acadêmica em que milite, tem como principais motivações a busca de respostas e soluções para questões instigantes dentro de seu campo de atuação e que contenham em si mesmas possibilidades positivas para a manutenção e sobrevivência da espécie humana.
Para que os seus anseios sejam atingidos, a vinculação de suas perguntas a situações de cunho real e compreensível é fundamental. Este vínculo, favorece uma melhor compreensão dos temas abordados e se bem planejados, garante que os projetos executados tenham maiores chances de oferecer respostas úteis para a humanidade.
A Otorrinolaringologia como especialidade deve ter surgido da preocupação em responder perguntas específicas, a partir de dúvidas geradas da necessidade de pessoas dedicadas a uma área temática cujo foco provavelmente mudou nos últimos 3 séculos.
Ao considerarmos que um especialista só tem dúvidas sobre o que conhece, e que quanto mais conhecimento se acumula sobre um tema, maiores são as questões colocadas sobre ele, podemos aceitar que um especialista é o que pretende responder, sendo sua atuação definida por suas dúvidas, perguntas e principalmente, pelo seu esforço em elucidá-las. Conhecer quais são as principais inquietações intelectuais de profissionais que atuam na área e verificar se há um padrão mínimo, preservado em qualquer que seja a região geopolítica observada, pode nos ajudar a compreender quem somos como especialidade e o que pretendemos vir a ser, além de nos indicar o que falta por fazer e, talvez, o que está sendo negligenciado.
Gráfico. 1. Distribuição do número de trabalhos publicados, indexados no index medicus, por país, nos anos de 2003-2005.
Apesar de sabermos que nem tudo que se pesquisa esteja publicado e que, mesmo quando publicado, nem sempre seja acessível, entendemos que todo investigador que pretende achar respostas lúcidas para perguntas pertinentes, se esforça para que seus projetos sejam inseridos em periódicos científicos indexados e de alguma visibilidade.
Com estas idéias em mente, decidimos realizar uma investigação quanto ao produto da publicação científica mundial com questões que tenham proximidade com os temas primordiais da otorrinolaringologia, seja nos aspectos básicos, clínicos ou mesmo de analogia, realizados por profissionais de qualquer origem de formação seja com vieses para seres humanos, seja para outras espécies.
Dentro desta perspectiva de indexação, visibilidade e diversidade acadêmica, entendemos que o principal banco de dados disponível seria a Biblioteca Nacional de Medicina (NLM) que mantém o index medicus para acesso on-line, com mais de 9000 títulos de periódicos nas áreas da saúde.
Foi neste banco que desenvolvemos uma busca baseada em região anatômica e função cujas palavras chave foram: Otolaryngology [Mj], Head and Neck surgery [Mj],ear (mesh), nose (mesh), larynx (mesh), pharynx (mesh), neck (mesh), face (mesh), hearing (mesh), olfation (mesh), gustation (mesh), speech (mesh), voice (mesh), swallow (mesh), articulation (mesh), learning (mesh) and breathing (mesh).
A pesquisa foi desenhada para coletar os dados dos 5 últimos anos e teve como resultado final 24389 artigos que estão sendo examinados em seu conteúdo, autoria, instituição de origem dos autores e país onde foi realizado.
Os dados dos anos de 2003, 2004 e 2005 são o foco desta apresentação, representando 6427 artigos de 78 países identificáveis e 274 artigos.
Os dados relativos a distribuição por países se encontra na Gráfico 1.
Como era esperado, podemos observar que a produção americana representa 32,3% de toda a produção indexada no medline, vindo a seguir cerca de 20 países com produção regular, com um maior destaque para o grupo das principais potências mundiais, acrescidos de Brasil e Turquia.
Pudemos observar que os países que têm algum periódico de peso na área indexado, obviamente aumenta sua participação no contexto geral. Como a RBORL só consta nos seus três últimos números, o Brasil ficou um pouco prejudicado, visto que todos os 15 principais países arrolados na figura 1 tem pelo menos uma revista indexada. Fazendo um exercício de previsão, se somarmos aos números obtidos, todos os artigos publicados na RBORL nos anos de 2003, 2004 e 2005, teríamos um total de 423 trabalhos o que nos colocaria atrás apenas dos Estados Unidos da América, Alemanha e Japão.
Gráfico 2. Distribuição das áreas de concentração temática, nos artigos publicados, de acordo com país de autoria, 2003-2005.
Gráfico 3. Distribuição dos trabalhos com viés pediátrico dentre as áreas de concentração temática.
Atendo-nos ao objetivo do levantamento, procuramos localizar as principais áreas de concentração investigativa dos artigos coletados e identificamos as seguintes: audiologia, comunicação, otologia, rinologia, cirurgia estética facial, oncologia, infectologia, otoneurologia, laringologia e geral. Não consideramos adequado separar os focos entre pediátrico e adulto em um primeiro momento, mas o fizemos em cada uma das áreas de concentração e os resultados são apresentados nos gráficos 2 e 3.
Podemos observar que os países tem uma certa tendência própria, dando maior atenção para um ou outro tema. Isto pode ocorrer devido à especificidade das revistas disponíveis em cada país.
De maneira geral, percebemos que a rinologia tem sido predominante em todas as regiões, sendo seguida da otologia/audiologia.
A proporção de dúvidas com interesse específico na infância dentre todas as questões, mostra que há
uma distribuição pouco uniforme nas diversas áreas.
Em relação às questões específicas dentro de cada área de concentração temática, para nós foi surpreendente a quantidade de artigos cujo interesse principal foi o conhecimento de fisiologia de órgãos sensoriais. Dentre todos os sentidos os que predominaram foram a audição, o olfato e o equilíbrio.
Como podemos ver, os dados ainda estão sendo compilados e são bastante crus, mas seu potencial é imenso.
Saudações
Henrique Olival Costa