ISSN 1806-9312  
Sexta, 19 de Abril de 2024
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309 - Vol. 3 / Edição 6 / Período: Novembro - Dezembro de 1935
Seção: Notas Clínicas Páginas: 543 a 544
UM CASO DE CORPO ESTRANHO DE LARINGE (1)
Autor(es):
DR. RAPHAEL DA NOVA - Assistente da Clínica Oto-rino-laringologica da Faculdade de Medicina de S. Paulo (Serviço do Prol. Paula Santos)

No dia 2 de Setembro p. p. Hans S. com 11 meses de idade, residente no Brooklin Paulista, ás 17 horas e 45 minutos estava brincando com a chave de um cofrezinho, quando apresenta um acésso subito de sufocação. Do Hospital Santa Rita, onde procuraram socorro, foi-me enviado o doentinho, com o diagnostico de corpo estranho, sem que tivesse havido qualquer tentativa de extração. Quando chegamos ao "Instituto do Radio", estava a creança em estado preagonico, boca seca, cianóse intensa, tiragem muito acentuada, respiração laboriosa. Deante da gravidade do caso, antes de introduzir o tubo laringoscopico fizemos a creança respirar vapôres de oxigeneo para melhorar a oxigenação do sangue e aplicamos uma injeção de "coramina".

Depois de alguns minutos, logo que as condições permitiram introduzimos até o laringe um tubo de 6m 5 de diametro do Panelectroscopio de Haslinger, e verificamos que o corpo estranho achava-se encravado na região sub-glotica. Entre as cordas vocais, deixando livre apenas a quinta parte talvez da fenda glotica, percebia-se um corpo de natureza metalica, realçando bem sobre o roseo escuro da região supra-glotica do laringe.

Com a pinça de apreensão terminal, ramos excavados, de Chevalier Jackson, procuramos então fazer a extração do mesmo. As dimensões exiguas do tubo porem constituiam embaraço ao afastamento suficiente dos ramos da pinça para uma bôa pegada.

Por isso mesmo tivemos que fazer duas tentativas para conseguir uma pegada satisfatoria. Retirando pinça e tubo, verificamos com surpreza que o corpo estranho havia desaparecido. A respiração se modifica, perde aquele tipo estertoroso, e deante da inercia respiratoria da creança, fizemos alguns movimento ritmados de braços, ao mesmo tempo faziamos funcionar de novo o Salão do oxigeneo. A creança aos poucos se reanima, começa a chorar, ao mesmo tempo que reaparecem os reflexos faringeanos. Nova introducção do tubo, agora através do laringe á traquéa e depois na cavidade esofagiana em toda a sua extensão e não se consegue localisar o corpo estranho nas regiões examinadas. Ele havia caído na faringe durante a extração e em seguida deglutido para o estomago. Na impossibilidade de uma fluoroscopia áquela hora, foi retirada uma chapa radiografica (fig. ao lado), que mostra claramente o corpo estranho no fornix do estomago. Mantivemos a creança em observação durante a noite no hospital, porque temiamos o aparecimento tárdio de fenomenos espasmodicos e o edema traumatico, porque o corpo estranho havia permanecido 45 minutos no laringe. A manobra de extração durou uns dez minutos. Cogitamos em determinado momento, para garantir a respiração em introduzir na traquéa a canula-trocater de Butlin-Poirier. Fizemos duas tentativas em alturas diversas, mas o trocater ao atravessar os planos superficiais provocava hemorragia tão abundante e persistente, que julgamos melhor não ir alem, pelo perigo da aspiração de grande quantidade de sangue para o pulmão.

Acreditamos que estivessemos deante de um sistema venoso tiroideano inferior muito desenvolvido e majorado pela estáse circulatoria, devida á asfixia, ou talvez mesmo de uma arteria tiroideana ima, quê pode ser encontrada em 10 % dos casos mais ou menos. Não usamos a espatula-laringéa de Haslinger porque não se podia prever de antemão si o corpo estranho estava no laringe ou ocupava um plano infra-laringeo e, não porfiamos perder tempo em estar trocando os, tubos e depois, porque a espatula, levando o laringe para frente, distenderia as cordas vocais e fecharia a glóte, aumentando a dispnéa. Seguindo os preceitos de Chevalier Jackson, não usamos anestesia local ou geral, que por ser perigosa agrava o prognostico de intervenção. O uso de anestésicos e hipnoticos em casos de má aeração pulmonar, torna iminente a sincope respiratoria. O interesse deste caso está no quadro dramatico consequente á penetração do corpo estranho no laringe e a sua quasi obstrução completa. E' sabido que corpos estranhos dessa ordem acarretam rapidamente a morte e exigem do especialista decisões precisas, para que a manobra de extração tenha a eficacia desejada.



(1) Comunicação apresentada á Sessão de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina, em 17 de Outubro de 1935.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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