ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
Listagem dos arquivos selecionados para impressão:
Imprimir:
2920 - Vol. 40 / Edição 2 / Período: Maio - Dezembro de 1974
Seção: Artigos Originais Páginas: 176 a 179
Sobre Dois Casos de Cisto Odontogênico
Autor(es):
Luiza Hayashi Endo*

1 - Introdução

O cisto odontogênico é proveniente do epitélio que participa na formação do dente. São lesões benignas que crescem por expansão, que destroem estruturas ósseas, que podem dar origem à ameloblastomas e, que, em raros casos podem apresentar transformação maligna. A finalidade deste é relatar dois casos de cisto odontogênico em localizações diferentes com algumas características anátomo-patológicas interessantes.

2 - Relato dos casos

Caso A - V.G., 5 anos, feminino, branco, atendida em 19 de setembro de 1973 na Clínica Otorrinolaringológica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, com queixa de edema e dor de toda hemiface esquerda, acompanhada de febre e odontalgia da hemiarcada superior esquerda; drenagem de material purulento da região paraodontal, assim como, secreção nasal purulenta. O exame da cavidade bucal revelou presença de massa tumoral ocupando hemipalato E, de consistência cística, com os dentes desta região mergulhados na mesma; processo inflamatório paraodontal (Fig. 1). À rinoscopia anterior nota-se elevação do assoalho nasal e com secreção serosangüinolenta e irritação de toda mucosa. O exame radiográfico mostrou cisto invadindo o seio maxilar esquerdo, com velamento do mesmo. O exame do fragmento retirado por biópsia permitiu o diagnóstico de cisto disontogenético. Foi operada segundo a técnica de Caldwell-Luc, tendo-se o cuidado de se curetar toda a cavidade. O exame anátomo-patológico da peça operatória revelou cisto constituído por parede fina, revestido por epitélio pavimentoso monoestratificado. Pequeno foco de infiltrado inflamatório crônico na parede.



FIG. 1



Caso B - O.M.J., 50 anos, feminino, branco, natural de Minas Gerais, atendida em 12 de junho de 1974, com queixa de crescimento rápido e progressivo de massa tumoral no hemicorpo da mandíbula esquerda há 9 anos. Após um ano de evolução, reação inflamatória local, seguida de drenagem de material sangüinolento para o interior da cavidade bucal. Ao exame verificamos grande massa tumoral de consistência cística ocupando hemicorpo esquerdo da mandíbula, poupando o ângulo da mesma (Fig. 2). Ausência total de dentes; cavidade bucal na sua metade esquerda ocupada pela massa tumoral, envolvida por mucosa que apresentava alguns sinais inflamatórios. (Fig. 3). O exame das radiografias mostrou tumoração lítica com bordas nítidas, expansiva, situado no hemicorpo esquerdo da mandíbula (Fig. 4).



FIG. 2



Foi realizada a extirpação deste enorme cisto, liberando-o das estruturas adjacentes e seccionando as duas extremidades da mandíbula, quais sejam: a primeira na linha média do corpo da mandíbula e a segunda no ângulo esquerdo da mesma. O exame anátomo-patológico revelou cisto constituído por parede fibrosa, em certas áreas hialinizada, revestida por epitélio pavimentoso estratificado com algumas células mucosas. Em certa área, proliferação de células prismáticas com pouco citoplasma, em arranjo ora sólido, ora folicular compatível com ameloblastoma. Leve a moderado infiltrado inflamatório crônico na parede do cisto.



FIG. 3



FIG. 4



3 - Discussão do caso

Em se tratando de dois casos de cisto dos maxilares, devemos inicialmente classificá-los entre os odontogênicos e os não odontogênicos. Através do exame radiológico e anátomo-patológico sabemos tratar-se de dois cistos odontógenos, entretanto, necessário se faz classificá-los entre os diferentes tipos de cisto odontogênico, quais sejam: o cisto folicular e o cisto radicular. O cisto folicular tem sua origem a partir do epitélio do dente em desenvolvimento (lâmina dentária). Este, por sua vez, poderá ser de tipo folicular simples ou primordial que se origina antes do período da formação do dente. Aparentemente se forma como resultado de líquido acumulado entre o epitélio de esmalte externo e interno do folículo dentário. Existe ainda o tipo dentígero, que é o mais freqüente, que guarda relação com um dente que não brotou parcialmente. No mínimo na cavidade do cisto aparecerá a coroa do dente a que está aderido. Ambos os tipos podem formar ameloblastoma.

O primeiro caso revela um cisto folicular primordial e o segundo caso cisto folicular que poderá ser dentígero ou primordial, com formação de ameloblastoma na parede do cisto. Poderá ser folicular primordial ou dentígero em conseqüência da retirada de um dente incluso daquela região; portanto à imagem radiológica não se encontraria coroa de dente patognomônica do cisto. Entre 88 casos de ameloblastomas encontrados no Instituto de Patologia das Forças Armadas, 33% estavam associados a cistos foliculares. Os cistos odontogênicos são em geral assintomáticos, apresentam crescimento lento, deformam os maxilares ou a cavidade nasale os volumosos podem abrir-se para a cavidade nasal ou para o seio maxilar (1.° caso). A extirpação cirúrgica leva à cura, entretanto necessário é não deixar nenhum resíduo do cisto, pois recidiva na maioria dos casos.

4 - Resumo

O autor apresenta dois casos de cisto odontogênico; sendo um deles associado com ameloblastoma; faz uma revisão e classificação dos mesmos para elucidação da sua origem. Apresenta fotos e radiografias de ambos os casos.

Summary

The author of this paper presents two cases of odontogenic cists, one of them associated with ameloblastoma; makes a review and classification of them to explain its origin. Presents pictures and X-Ray both of cases.

Bibliografia

1. Bernier, loseph L. Tumors of the odontogenic apparatus and jaws. Edited by Armed Forces Institute of Pathology, Washington, 1960.
2. Langman, Jan Embriologia Médica - Livraria Atheneu - Editora S. A., São Paulo, 1966.
3. Pindborg, J. J. Kramer, I. R. - Types histologiques des tumeurs odontbgenes, Kystes et lésions apparentées des maxillaires, Edited by O. M. S. Gèneve, 1972.
4. Robbins Stanley L. - Tratado de Patologia con aplicación clinica Editorial Interamericana S. A. - Mexico 1963.
5. Ward, Grant E. and Hendrick, James W. Diagnosis and Treatment of Tumors of the Head and Neck. The Williams and Wilkins Company, Baltimore, 1950.




* Médica assistente da Clínica Otorrinolaringológica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


Imprimir:
Todos os direitos reservados 1933 / 2024 © Revista Brasileira de Otorrinolaringologia