ISSN 1806-9312  
Quarta, 24 de Abril de 2024
Listagem dos arquivos selecionados para impressão:
Imprimir:
290 - Vol. 3 / Edição 4 / Período: Julho - Agosto de 1935
Seção: Notas Clínicas Páginas: 364 a 365
EPITELIOMA ESPIRO-CELULAR DO VAU DO PALADAR (1)
Autor(es):
DR. GABRIEL PORTO (Oto-rino-laringologista do Instituto Penido Burnier - Campinas).

A presente observação confirma velho conceito sôbre a curabilidade do câncer. O sucesso da cirurgia reside na precocidade da intervenção; em inicio o câncer é molestia curavel. Tal facto necessita ser confirmado e repetido constantemente, para que com sua vulgarização possamos evitar, mais vezes, a ação nefasta deste flagélo social.

No caso que hoje vos relatamos um neoplasma, essencialmente maligno - epitelioma espino celular -, e localizado em departamento do organismo - oro-faringe -, onde os tumores evoluem com malignidade insólita, graças a uma intervenção cirurgica relativamente precoce mostra-se curado com sobrevida post-operatoria de um ano e meio, não apresentando indicio de recidiva.

OBSERVAÇÃO

Epitelioma capino-celular do véu do paladar e pilar anterior. Ressecção cirurgica. Diatermo-coagulação. Cura observada um ano e meio após intervenção.

A. V. - brasileiro, masculino, casado, branco, mensageiro e residente em Muzambinho. Data: 6 de Junho de 1933. Ficha n.° 19.758.

Compareceu ao nosso consultorio, queixando-se de ferida na boca, que o incomodava ha um mês.

Exame: No paladar mole á esquerda, e invadindo o pilar anterior do mesmo lado, nota-se ulceração circular de bordas elevadas, do tamanho de um niquel de 100 rs. dos pequenos, coberta de enluto amarelado. O aspecto da lesão faz o diagnóstico clínico oscilar entre neoplasma e sífilis.

Gânglios cervicais impalpaveis. O laboratorio esclarece o diagnóstico: Pesquiza do treponema pallidum negativa.

Reações de Wassermann, Kahn e Meinicke no sangue negativas.

Feita a biopsia remetemos o material ao Dr. Penna de Azevedo que nos enviou o seguinte resultado:

"Ao exame microscópico, verifica-se proliferação de celulas epiteliais escamosas atípicas, com evidentes deformidades nucleares. Ha grande formação de eleidina. Diagnóstico: Epitelioma espino-celular".

Tratamento: anestesia local com soluto de clorhidrato de cocaina a 10 % e Scurocaine a
1 % foi praticada em 22 de Junho 1933, com grande facilidade a exerese larga do neoplasma; o pilar anterior e bôa parte do véu do paladar foram ressecados conjuntamente com a massa tumoral. Aplicamos, em seguida a diatermo-coagulação na ferida operatoria.

As sequências foram boas; grande odinfagia nos dois primeiros dias e o paciente poude deixar o hospital seis dias depois de operado, cicatrizando-se rapidamente a ferida operatória.

Tem sido revisto periódicamente apresentando-se sempre em magnificas condições; ferida cicatrizada, ausência de manifestações gânglionares e excelente estado geral.

O presente caso leva-nos a abordar a questão da indicação da exerese gânglionar cervical. Seguindo a orientação aconselhada pelos autores modernos, e bem sintetizada no magnifico trabalho do Dr. Bernardes de Oliveira, impunha-se em nosso caso o esvasiamento gânglionar do pescoço. Nosso doente, entretanto, julgando-se curado, não quiz submeter-se a tal intervenção. E parece que andou bem inspirado pois, o seu caso, tudo indica, constituirá exceção a regra geral - "todo neoplasma maligno intra oral propaga-se aos gânglios mesmo depois de extirpado".


(1) Comunicação apresentada á Secção de Oto-rino-laringologia da Associação Paulista de Medicina, em 18 de Março de 1935.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


Imprimir:
Todos os direitos reservados 1933 / 2024 © Revista Brasileira de Otorrinolaringologia