As neoplasias originárias nas glândulas salivares localizadas na língua são chamadas Neoplasias de Pequenas Glândulas Salivares. As Pequenas Glândulas Salivares podem ainda ocorrer no palato, lábios, gengivas, soalho bucal, rebordo alveolar, faringe, laringe, traquéia, brônquios, nariz e seios paranasais, apesar de Evans(1) e Fine(2) afirmarem que para a Cabeça e Pescoço, as localizações mais freqüentes serem palato, bochecha e lábio superior. Tais tumores tem histopatologia semelhante à das Glândulas Salivares, embora estas segundo autores como Luna(3), Micheau(4), Reynolds(5) e Vellies(6), ocorram de 80 a 90% de todas as neoplasias de glândulas salivares, enquanto que as primeiras em somente 10 a 20%.
Para a maioria dos autores, a localização lingual destas neoplasias é uma raridade. Fine e col.(2) em 1960, fazendo uma revisão da literatura, encontram 52 casos de tumores de pequenas glândulas salivares da língua. Na ocasião apresentam 4 casos de sua experiência no Henry Ford Hospital, encontrados entre os anos de 1916 a 1959.
Em vista do exposto, apresentamos 4 casos de tumores de glândulas salivares da língua, atendidos no Serviço de Cabeça e Pescoço da Associação Paulista de Combate ao Câncer no período de 1953 a 1969.
Material e Métodos
O nosso material é constituído por 4 casos de pacientes portadores de tumores de pequena glândula salivar de língua, encontrados entre 1.300 casos de neoplasias de língua atendidos no Serviço de Cabeça e Pescoço da Associação Paulista de Combate ao Câncer no período de 1953 a 1969. Dois de nossos casos eram de Adenoma Pleomórfico enquanto que os demais são de Carcinoma Pseudo-Adenocístico (Cilindroma) de língua.
Com relação ao sexo, não há diferença entre o sexo masculino e o feminino nos tumores benignos; no que se refere aos malignos, Buranks e co1.(7) admitem uma maior freqüência no feminino. Nos nossos casos, os 4 pacientes eram do sexo feminino.
Quanto à idade, Buranks e col.(7) admitem o intervalo entre a 6ª e a 7ª década como a mais comum. Em nossos pacientes, este fato ocorreu em 2 casos, enquanto que nos outros 2 estavam na 4ª e 7ª décadas respectivamente.
Sintomas
Os sintomas das neoplasias de pequenas glândulas salivares da língua não tem características clínicas próprias. A maioria das lesões se localizam na base da língua, daí a sintomatologia mais freqüente ser a dor, seguida de ferida na boca e odinofagia. O tempo médio de queixa é de dois anos nas neoplasias benignas enquanto que nas malignas é de 6 a 12 meses. Podem estar situadas num lado ou pelas suas dimensões ultrapassarem a linha média. Quanto às dimensões, podem ser de milímetros até 3 ou 4 cm. Quando o tumor é maligno, pelo seu caráter infiltrativo a língua vai perdendo a sua mobilidade. Ao exame da lesão, esta se apresenta inicialmente situada na camada submucosa da língua, e pelo seu crescimento acaba por ulcerar a mucosa de início luzidia, podendo eventualmente caracterizar episódios hemorrágicos. Quando o tumor é benigno, a sua sintomatologia é causada pelo crescimento do tumor, causando o aparecimento de abaulamento na luz da cavidade oral; a compressão de estruturas sensitivas leva às queixas de caráter doloroso como dor e odinofagia.
Histologia
Embora os tumores de pequenas glândulas salivares tenham uma histologia semelhante às demais glândulas salivares, apresentam características próprias. Entre os benignos, Fine e cols.(2) afirmam que o Adenoma Pleomórfico é o mais comum; quanto aos malignos, Burbank(7), Fine(2) e Micheau(4) foram unânimes no que se refere à maior incidência dos cilindromas. Fine e Horn(2) nos 66 casos citados em seu trabalho, referem 14 benignos e 52 malignos, sendo que os benignos eram todos Adenomas Pleomórficos. Dos 52 malignos, 21 eram Cilindromas; Burbank(7) em seus 43 casos, teve 21 Cilindromas (49%). Chaudry(8) também é da mesma opinião quanto à prevalência destas neopíasias em relação às demais.
De um modo geral, os autores admitem que as neoplasias malignas são mais comuns que as benignas nas pequenas glândulas salivares, fato este que não ocorre nas demais glândulas salivares. Bardwil(9) afirma que este fato ocorre também para a língua.
Quanto à descrição do quadro histopatológico destas neoplasias, apresentam às mesmas características daquelas classicamente descritas nas glândulas salivares em geral. Daí, incluiremos a descrição histopatológica das tesões quando da apresentação dos casos por nós estudados.
Evolução e Prognóstico
Os Adenomas Pleomórficos pela sua natureza benigna, tem boa evolução. Local- mente, quando ressecados com boa margem de segurança, evoluem sem recidiva. Esta ocorre quando as ressecções são econômicas. O tratamento preconizado é a retirada cirúrgica do tumor com ampla margem, evitando assim a possibilidade da recidiva.
Os tumores malignos evoluem através de metástases à distância e para as principais cadeias de drenagem. A distância, evoluem por metástases pulmonares preferentemente, podendo no entanto dar comprometimento ósseo. Quanto às metástases regionais, pelo seu caráter infiltrativo, invadem o soalho bucal dando metástases para os gânglios cervicais júgulo-carotídeos, e submandibulares. Mas como regra; a disseminação hematogênica é mais comum. 0 seu prognóstico é mais sombrio pois via de regra o paciente já se apresenta com a neoplasia em estado avançado local e à distância. Quanto à sobrevida, Evans(1) apresenta resultados a 5 anos de 72% e para 20 anos de 13%.
Em nossos casos, os 2 pacientes com Adenoma Pleomórfico tiveram evolução diversa. Enquanto que o 1º faleceu 2 anos após a retirada cirúrgica da lesão, motivado por moléstia intercorrente. Quanto aos pacientes portadores de carcinoma pseudoAdenocístico, os 2 já compareceram fora de possibilidades cirúrgicas, sendo que em somente 1 dos casos foi feito Radioterapia palativa sem no entanto conferir qualquer resultado.
Tratamento
O tratamento dos Adenomas Pleomórficos da língua é essencialmente cirúrgico, através da ressecção cirúrgica com ampla margem, evitando a ocorrência de recidivas que segundo os autores ocorrem de 5 a 45% nos casos descritos. Em nossos 2 casos, ambos foram submetidos à ressecção do tumor sem no entanto apresentar recidiva imediata ou tardia.
O tratamento dos cilindromas é cirúrgico através da ressecção ampla da lesão. A presença de gânglios cervicais clinicamente metastáticos leva-nos à indicação do esvaziamento cervical de necessidade em monobloco com a lesão primária. Como comumente a disseminação desta neoplasia é mais hematogênica que linfática, o esvaziamento cervical será de indicação pouco freqüente. Os nossos pacientes já compareceram com extensas lesões comprometendo praticamente toda a língua não sendo possível a instalação da terapêutica cirúrgica.
Quanto à Radioterapia, esta deverá ser indicada no pré-operatório visando a redução da neoplasia, levando a uma cirurgia mais econômica e mais segura da lesão primária. A Radioterapia pós-operatória deverá ser feita no sentido de evitar as recidivas locais. Tais fatos foram observados por Evans(1) e Burbank(7) que obtiveram sensíveis reduções das dimensões de tumores após a Rxt no pré-operatório e menor n.° de recidivas nos casos irradiados no pós-operatório que naqueles que a terapêutica irradiante não foi utilizada.
Summary
The autores present 4 cases of minor salivary gland tumors of the tongue at The Head and Neck Service of Associação Paulista de Combate ao Câncer among 1963 and 1969. Seen
Bibliografia
1. Evans, R. W. e Cruickshank, A. H. - Epithelial Tumors of Salivary Glands. W. B. Sounders Co. Philadelphya, 9, 1970. 2. Fine, G.: Marshall, R. B.; Horn, B. C. - Tumors of the minor salivary glands. Cancer 13:653-659, 1960. 3. Luna, M. A.; Stimpson, P. G.; Bardwill, J. M. - Minor Salivary Glands Tumors of the oral cavity. Oral Surg. 25:71-86, 1968. 4. Micheau, C.; Gerard-Marchand, R.; Cachin, Y. - Les tumours raros de la langue. Étude anatono-pathologique (a prropos de 178 cas). Arch. Anat. Path. 16:119-128, 1968. 5. Reynolds, C. T.; McAuley, R. L. - Experiente with tumors of minor salivary glands. Rogers, Inr, W. P., A. J. Surg. III:168-174, 1966. 6. Vellios, F.; Shalfer, W. G. - Tumors of the intra-oral acessory salivary glands. Surg. Gynec. Obst. 108:450-456, 1969. 7. Burbank, P. M.; Dockerty, M. B.; Devine, K. D. - Clinicopathologic study of 43 casos of glandular tumors of lhe tongue. Surg. Gynec. Obst. 109:572-582, 1959. 8. Chaudry, A. P.; Gorlin, R. G.; Vickers, R. A. Intra-Oral minor salivary gland tumors. Oral Med. Surg. Path. 14:1194-1226, 1961. 9. Bardwill, J. M.; Reynolds, C. T.; Ibanez, M. L.; Luna, M. A. - Am. J. Surg. 112:493-497, 1966.
* Titular adjunto do Serviço de Cabeça e Pescoço da Associação Paulista de Combate ao Câncer.
** Residente Médico da Associação Paulista de Combate ao Câncer.
*** Chefe do Serviço de Cabeça e Pescoço da Associação Paulista de Combate ao Câncer.
**** Patologista da Associação Paulista de Combate ao Câncer.
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