ISSN 1806-9312  
Sexta, 26 de Abril de 2024
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2839 - Vol. 38 / Edição 1 / Período: Janeiro - Abril de 1972
Seção: Trabalhos Originais Páginas: 49 a 55
POLUIÇÃO SONORA - Estudo da zona central de Porto Alegre
Autor(es):
Nicanor Letti,
Moacyr Saffer,
Rudolf Lang,
Valdomiro J. Zanette*,
Edgar Arruda Filho,
Sérgio Moussalle,
Luiz Carlos Faleiro,
Alcione Souto*

Introdução

A aglomeração populacional nas zonas centrais das grandes cidades, e o excesso de veículos, as obras civis e outros fatores aumentaram enormemente o ruído nestas áreas. Inúmeras pessoas e entidades governamentais tem se preocupado e protestado com tal incomodo que tem gerado conflitos e novas legislações começam a aparecer. Os legisladores não tem tido o assessoramento técnico adequado, pois raramente encontram trabalhos quantitativos sobre o ruído. A finalidade deste trabalho é estudar o ruído em seus aspectos quantitativos na área central de Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul. O centro da cidade localiza-se em uma península banhada pelo rio Guaíba (Foto n.° 1). A cidade segundo o último censo apresenta 915 mil habitantes. Existe 1 veículo para cada 5 habitantes. A maioria das ruas centrais são estreitas e com grande concentração de construções elevadas. O centro da cidade recebe 400 ônibus por hora e mais 110 mil veículos. Em cada hora, centenas de táxis, de uma frota de mais de 2 000, entram e saem do centro da cidade. Uma população de mais de 100 mil pessoas trajetam pela zona central onde trabalham ou realizam as mais diversas atividades. Isto tudo ocasiona aumento de ruido. Não vamos neste trabalho analisar os tipos de escapamento de automóveis ou o uso abusivo da buzina. Registraremos e discutiremos o aspecto quantitativo do ruido que está aumentando dia a dia.



FOTO 1 - Vista área da zona central de Porto Alegre.



Método do trabalho

O ruido urbano foi medido nas horas de mais movimento (pique), segundo a Secretaria dos Transportes Municipais, isto é, às 8-9,30 horas, 11 às 12 hs., 13 hs., e às 14,30 e 17,00 hs. às 18,00 hs. O local de medição foi na calçada das esquinas onde circula a população. Foi usado o Sound Level Meter (decibelimetro) da General Radio, tipo 1565. A que mede valores de até 140 decibeis na escala B. Ao mesmo tempo foram anotados se nos locais haviam escolas, hospitais, clubes, repartições públicas e se no tráfego predominavam os automóveis, ônibus ou caminhões. A ficha de cada local era feita de tal maneira que se poderia transportar seus dados para um cartão perfurado afim de serem computados adequadamente. A permanência no local da medição era de aproximadamente 8 à 10 minutos afim de ser observada uma média de medição. Uma vez que o tráfego é muito irregular, procurávamos buscar os momentos de maior homogeneidade do mesmo e então realizávamos a medição.
Os resultados quantitativo nas horas de "pique", como foram classificadas pela Secretaria de Transportes do Município foram os seguintes:





MÉDIA DOS VALORES MÁXIMOS OBSERVADOS EM DIFERENTES HORÁRIOS EM PONTOS ESCOLHIDOS DO PERIMETRO CENTRAL DE PORTO ALEGRE




A média de ruido como vemos é de 81 dBs em toda a cidade, havendo locais em que aumenta ou diminui.

Discussão

É crença comum que o ruído urbano é traumático para o ouvido humano, uma vez que este orgão foi construído pela natureza para suportar até 85 dBs. A verdade é que isto não acontece. Por estudos audiométricos e citológicos pós mortem, foi demonstrado que indivíduos que permanecem por muito tempo em ruido acima desta cifra podem ser acometidos de lesão neurosensorial definitiva. O ruido urbano não incide na população com efeito de poluição da massa como a das águas e do ar. Grande parte da população não está sujeita a ruidos intensos durante todo o dia ou a noite. Eventualmente circula por zonas mais ruidosas da cidade, sofrendo então os efeitos de tal problema. O ruido que incide sobre uma determinada área urbana é traumático para aquelas pessoas que permanecem durante muito tempo no local que tenha ruido acima de 85 dBs. A média de ruido na zona central de Porto Alegre não é traumática para o ouvido, mas não podemos provar que esteja causando outras alterações orgânicas na população. O ruido intenso impede a concentração mental, é causa de irritação coletiva mas não é suficiente para produzir trauma sonoro. As causas do aumento do ruido são conhecidas de todos, principalmente das autoridades. O uso de veículos com descargas avariadas ou preparadas especialmente para produzirem maior intensidade e variedade sonora, os alto falantes em locais públicos e outros, são casos de providências policiais. Existem ruas que eram silenciosas e de repente tornaram-se ruidosas, face a mudança do trânsito de veículos. A responsabilidade destes fenômenos cabem as autoridades, que muitas vezes não tem outra solução senão poluir áreas antes silenciosas. A intensidade do ruido, em determinadas áreas, varia na razão direta da quantidade de trânsito pelo local. Diferente é o problema do ruído industrial. Na indústria os indivíduos permanecem geralmente durante oito horas por dia em ruido intenso o que causa após algum tempo trauma sonoro, isto é lesão do ouvido interno. Aqui o problema é do Serviço de Higiene e Segurança do Trabalho e das CIPAS, exigindo, educando e explicando ao operário utilizar os protetores ou abafadores de ruido nos ouvidos. Impossível realizar tal tipo de proteção no ruído urbano e também desnecessária, pois a permanência da maioria da população não é tão grande em locais onde o ruído está acima de 85 dBs. Uma cidade como Porto Alegre, que apresenta em sua área central uma média de 81 dBs é muita ruidosa e para tanto necessita de medidas rigorosas no sentido policial em relação ao trânsito. Esta média entretanto nunca será suficiente para os indivíduos expostos sofrerem trauma, sonoro. Outras alterações poderão surgir, mas para provar tal fato serão necessário investigações sérias sobre o assunto. A avaliação, de ruido em determinada área requer também alguns cuidados importantes. Em primeiro lugar não é válida a tomada da intensidade em um momento em que circula pelo local, um ônibus com descarga aberta ou que uma buzina funciona. Deve ser tomada quando passe pelo local fluxo de tráfego comum diário e não o excepcional.

Resumo e conclusões

Estudamos o ruido na área central de Porto Alegre e verificamos a existência de uma média de 81 dBs. O acentuado número de veículos é a principal causa do ruido, pois o aumento da frota está diretamente relacionado com o aumento da intensidade do ruido em determinados locais.

Summary and conclusions

We have studied noise at the downtown arca of P. Alegre and we have found an average of 81 dBs. The increased number of the cars is the overwhelming cause of the noise, and their increased number is proporcional to the increase of noise loudness in some places.

Bibliografia

Andrés, J. Martinez, - Ruido y sordera - Salamanca, 1969 - Espanha.
Satalloff, J. - Industrial Deafness - Mc. Grow Hill, 1968.
Glorig Jr. Aram, - Noise and Your Ear - Modern Monograghs in industrial Medicina 1-1954.




* Médicos otologistas.
** Médicos residentes do Instituto de Otologia de Porto Alegre.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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