ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
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2832 - Vol. 47 / Edição 3 / Período: Setembro - Dezembro de 1981
Seção: Artigos Originais Páginas: 37 a 38
SOBRE UM CASO DE EXPOSIÇÃO NATURAL DO VENTRE MUSCULAR DO M. ESTAPÉDIO PELA AUSÊNCIA DA PAREDE OSSEA DA EMINÊNCIA PIRAMIDAL
Autor(es):
N.L. ZORZETTO *
O.J. TAMEGA *

Resumo: Os autores relatam um caso de deiscência na parede óssea da eminência piramidal, observada na cavidade timpânica direita de um cadáver, adulto do sexo masculino. São contentados os aspectos do desenvolvimento que possibilitam a formação desta variação. Registramos um caso incomum de ausência da parede óssea da eminência piramidal, observado na cavidade timpânica direita de um cadáver de indivíduo brasileiro do sexo masculino, branco, de 61 anos, causa mortis indeterminada. Na cavidade tímpâníca direita, sem patologia, observou-se que a eminência piramidal apresentava extensa área com ausência da sua parede óssea, que deixava exposto o músculo estapédio e em contato direto com a mucosa da cavidade. A área de deiscência se estendia desde próximo ao ápice da eminência até a base da mesma, numa extensão correspondente ao comprimento da porção livre do tendão do músculo estapédio. O ápice da eminência exibia um anel ósseo incompleto, unido ao pontículo do promontório (Fig. 1). Nenhuma outra variação foi observada no mesmo cadáver.

COMENTÁRIOS

São relativamente raras as deiscências da eminê-ncia piramidal, embora muito freqüentes suas variações morfológicas. A ausência congênita da eminência piramidal, do tendão e do m. estapédio, é uma das anomalias mais comuns do ouvido médio segundo informam Hough (1963), Tabor (1961), Pou (1963), Fernandez (1964) e Nakamura (1966); porém, deiscências na parede da eminência são pouco freqüentes quando comparadas ás do canal facial no segmento gire limita a fóssula da janela vestibular. A explicação desta ocorrência reside no desenvolvimento embrionário do osso da eminência piramidal, que deriva de células pré-cartilaginosas do segundo arco branquial (Cartilagem de Reichert). Possíveis falhas no crescimento do osso da camada periostal que envolve os elementos constituintes (nervo facial e músculo estapédio) durante o desenvolvimento resultam em deiscências da parede óssea. Segundo Anson et al. (1967), a divisão canalicular da cápsula ótica se desenvolve em períodos diferentes da divisão coclear, conforme se pode observar no feto de 4 -5 meses.

"Ao nível horizontal do canal facial, a ossificação não iniciou na cápsula ótica, assim a natureza esponjosa da cartilagem permite a expansão dos arcos dos canais semicirculares.



Fig. l - Vista lateral da cavidade timpânica direita. A seta indica a área de deiscência da eminência piramidal (EP), deixando exposto o m. estapédid. Asterisco = tendão do m. estapédio; ST = Seio do tímpano; CT = Nervo corda do tímpano; CF = Proeminência do canal facial; P = Promontório; M = Martelo; B = Bigorna; E = Estribo.



Na divisão coclear, ao contrário, todos os centros de ossificação já estão presentes com três camadas. Isto significa que a estrutura histológica da parte canalicular avança muito vagarosamente no estágio embrionário, enquanto que a parte coclear. possui a estratificação da cóclea adulta embora na forma histológica imatura. Envolvido nesta lenta diferenciação está o canal facial que é um mero sulco; contudo, este sulco, que é o primórdio do canal, contém um conjunto característico de estruturas que são o nervo facial, vasos sangüíneos e o m. estapédio. Imediatamente o tecido no qual estes elementos estão embebidos, diferencia-se do mesënquima para tecido fibroso adulto.

O processo de ossificação que resulta na conversão do sulco em canal será seguido em três estágios de desenvolvimento comparáveis àqueles que ocorrem com o semicanal do m. tensor do tímpano. No feto de quatro meses o canal facial, junto com numerosos vasos sangüíneos, ocupa uma rasa impressão na parede da divisão canalicular da cápsula ótica. Neste estágio pré-ósseo da cápsula ótica, a janela vestibular e o ligamento anular estão sendo formados por um processo de Um Caso de Exposição Naturaldo Ventre Muscular do M. Estapédio modificação regressiva da cartilagem para tecido conjuntivo.

No feto de seis meses, a cápsula ótica é trilaminar, um modelo de arquitetura histológica que é conservada numa forma facilmente discernível através da vida. A camada externa constitui o limite profundo do sulco. Subseqüentemente, os elementos constituintes (nervo facial, músculo estapédio e vasos sangüíneos) serão prontamente envolvidos pelo crescimento do osso da camada periostal.

No recém-nascido, o canal facial, agora um canal completo, contém o nervo, tecido conjuntivo vascular e o m. estapédio. As numerosas veias formam um plexo ao redor do nervo, estas, são tributárias das veias estilomastóidea e petrosa superficial, e as artérias correspondentes alcançam os ossículos passando pelos forames na parede do canal e acompanhando o tendão do m. estapédio até a cavidade timpânica. No canal facial os vasos venosos ocupam uma considerável porção do espaço. A média distância, no curso vertical, o canal é parcialmente dividido em duas porções, uma anterior para o m. estapédio e outra posterior para o nervo facial, ambas as partes transmitem vasos venosos.

O canal facial pode ser deiscente no feto e esta condição pré-natal pode persistir na criança e no adulto. Assim, no feto de seis meses, o futuro canal facial é ainda um sulco na parede medial ou labiríntica da cavidade timpânica em desenvolvimento. Embora todos os centros de ossificação estejam presentes, uma porção da divisão canalicular da cápsula ainda conserva-se cartilaginosa. Normalmente a camada periostal externa dá origem ao osso que completará o fechamento do canal". Em alguns casos, como resultado de falha congênita, porções do canal permanecem abertas o que ocorre mais freqüentemente na porção que limita a fóssula vestibular ou mais raramente na eminência piramidal como no caso relatado.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.. ANSON, B.J.; DONALDSON, J.A.; WARPEHA, R. L.; WINCH, T. R. -The Surgical Anatomy of the Ossicular Muscles and the Facial Nerve. Laryngoscope, 77(8):1269-1294, 1967.

2. FERNANDEZ, A.O. - Congenital Absence of the Oval Window. Laryngoscope, 74:186, 1964.

3 . HOUGH, J.V.D. - Congenital Malformations of the M iddle Ear. Arch. Otolaryngol- 78:335-343, 1963.

4. NAKAMURA, S. - Congenital Absence of the Oval Window. Arch. Otolaryngol., 84:131-136, 1966.

5. POU, J.W. - Congenital Absence of the Oval Window. Laryngoscope, 73:384-391, 1963.

6. TABOR, J.R. - Absence of the Oval Window. Arch. Otolaryngol., 74:515-521. 1961.




* Depto de Morfologia - IBBMA - Universidade Estadual Paulista "Julio de Mesquita filho"- 18.600 - Botucatu -SãoPaulo.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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