ISSN 1806-9312  
Quinta, 25 de Abril de 2024
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2718 - Vol. 58 / Edição 4 / Período: Outubro - Dezembro de 1992
Seção: Como eu trato Páginas: 298 a 298
Otites médias agudas.
Autor(es):
Dr. Ciríaco Cristóvão Tavares Atherino*

As otites médias agudas são processos inflamatórios agudos da Orelha Média, surgindo geralmente em decorrência de infecções nasais e dos seios paranasais propagadas através da tuba auditiva (otite média aguda simples) ou no curso de moléstias eruptivas, como o sarampo e a varicela (otite média aguda necrosante).

A otite média aguda simples pode se apresentar de 2 formas: a não supurada, em que existe ao exame congestão dos vasos timpânicos, e a supurada, na qual o processo infeccioso é tão intenso na Orelha Média que a membrana timpânica não resiste e se rompe. A otite média aguda simples se caracteriza por dor, hipoacusia e febre. Ao se tornar supurativa, geralmente a dor diminui ou desaparece, devido ao alívio da pressão dentro da Orelha Média.

Já a otite média aguda necrosante constituí-se num problema mais sério, pois sempre deixa seqüelas, evoluindo para uma otite média crônica. Caracteriza-se por perfuração ampla da membrana timpânica e pela rebeldia ao tratamento usual das otites médias agudas simples.

No caso de uma otite média aguda simples não supurativa, a queixa predominante é a dor intensa. Para o combate desta, administramos analgésicos e calor úmido local. Nas crianças, preferimos a dipirona e nos adultos, o diclofenaco sódico por via retal, até, no máximo, 3 supositórios ao dia. Sabemos que o origem do problema está no nariz (rinites, sinusites, adenoidites) e, portanto, provocamos uma boa permeabilização nasal através da utilização de vasoconstritores nasais tópicos e de lavagens freqüentes com soro fisiológico. Os vasoconstritores nasais devem ser usados por um período curto de tempo e, nas crianças pequenas, com muita cautela, dado o grande número de efeitos colaterais observados com os derivados nafazolínicos (hipotermia, etc.). No adulto, utilizamos também substâncias inalantes a base de eucalipto) e mentol (Penetro inalante, Yatropan), sempre após a instilação do vasoconstritor nasal. Com o intuito de reduzir a viscosidade das secreções, facilitando a drenagem do sistema tubo-timpânico, lançamos mão do ambroxol (crianças: 1/2 a 1 medida/ 3 vezes ao dia; adultos: 1 medida ou 1 comp. / 3 vezes ao dia) em dosagens compatíveis com a idade dos pacientes. Procuramos não utilizar descongestionantes nasais sistêmicos, visto que os mesmos tendem a espessar as secreções, dificultando a drenagem e aeração da Caixa. Em conjunto com estas medidas é necessária a utilização de antibioticoterapia. Sob o ponto de vista acadêmico, dever-se-ia realizar cultura e antibiograma das secreções, tanto nasais quanto auriculares, se estas existirem. Mas, na maioria das vezes, não há possibilidade de se adiar o início do tratamento na espera dos resultados. Se o paciente é virgem de tratamento, optamos pela amoxacilina (crianças: 125 a 250 mg 8/8 lis; adultos: 500 a 1000 mg 8/8 lis) ou pela associação sulfametoxazol + trimetoprim (crianças: 2,5 a 10 ml 12/12 lis; adultos: 2 comp. 12/12 lis) por um período que varia entra 10 a 15 dias, de acordo com a evolução do quadro clínico. Entretanto, cada vez mais os pacientes que nos procuram já foram tratados com alguma forma de medicação antibiótica e, nestes casos, e naqueles casos em que a resposta às drogas citadas acima não for satisfatória, utilizamos o clavulanato de amoxacilina (crianças: 2,5 a 5 ml 8/8 lis; adultos: 1 comp. 8/8 lis) ou a ofloxacina (1 comp. 12/12 lis) via oral, esta última somente indicada para adultos. Nos casos em que se verificam vômitos, preferimos a lincomicina por via intramuscular (crianças: 300 mg 12/12 lis; adultos: 600 mg 12/12 hs).

Nos pacientes portadores de otite média aguda simples supurativa podemos utilizar gotas auriculares a base de antibióticos até que ceda a supuração. Esta não é uma medida por nós utilizada em todos os casos.

Após 5 a 7 dias de antibioticoterapia, com o paciente livre da dor, com imagem otoscópiea mostrando um tímpano ainda congesto e urna melhor função nasal, podemos suspender o uso do vasoconstritor nasal e do inalante e introduzir a associação betametasona + maleato de dextroclorofeniraunina, que potencializa a ação antibacteriana do agente antiinfeccioso pela sua grande ação antiinflamatória.
Nos casos em que a dor persiste intensamente, em que haja abaulamento da membrana timpânica, ou nas crianças com grande comprometimento do estado geral, com diarréia e/ou vômitos (otoantrite latente), considera-se a realização de piracentese (miringotomia). Esta deve ser realizada em boas condições, sob microscopia e com assepsia adequadas. Após anestesia geral (crianças) ou local (adultos) faz-se uma incisão no quadrante póstero-inferior do tímpano, ensejando a drenagem da secreção presente na Caixa e a ventilação de sua mucosa. Nos dias subseqüentes, controla-se a boa permeabilidade da abertura, de forma a que só ocorra seu fechamento após o desaparecimento das secreções. Nas crianças com otoantrite latente verifica-se melhoria quase imediata da sintomatologia após a paracentese.

No que concerne às otites média agudas necrosantes, ao primeiro sinal de comprometimento otológico em doenças eruptivas (sarampo, varicela) deve-se iniciar antibioticoterapia intensiva por período prolongado, além das medidas gerais e referentes à doença original. Mesmo assim, a tendência à cronicidade destas otites é bastante grande.

Em resumo, estas são as medidas que tomamos em vigência de otite média aguda. Queremos ressaltar que o controle adequado dos pacientes sob tratamento é indispensável para que não ocorrem seqüelas e complicações.




* Mestre em Otorrinolaringologia, PUC-RJ; Prof. Assistente Curso Mestrado PUC-RJ; Médico Otorrinolaringologista do Hospital de Ipanema, INAMPS-RJ, e do CEASP-Rio (Banco do Brasil).

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