ISSN 1806-9312  
Terça, 15 de Outubro de 2024
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2705 - Vol. 58 / Edição 3 / Período: Julho - Setembro de 1992
Seção: Como eu trato Páginas: 224 a 224
Rinite alérgica.
Autor(es):
João Ferreira de Mello Junior

Com a chegada do inverno observamos uma significativa piora na sintomatologia dos pacientes portadores de rinite alérgica. Isto ocorre como conseqüência de uma série de fatores, entre eles, o aumento da quantidade de poluentes na atmosfera e o frio característicos da época. Para podermos controlar adequadamente seus sintomas, é fundamental conhecermos os mecanismos fisiopatológicos envolvidos nesta doença, não devendo nos esquecer que patologias cirúrgicas podem estar associadas à ela, dificultando seu controle sintomatológico. Entre elas temos os desvios de septo, polipose nasal, etc. Nos pacientes que entrarem em contato com um antígeno, ao qual tinham sido previamente sensibilizados haverá a liberação de várias substâncias, que serão responsáveis pelo aparecimento da sintomatologia. Além deste mecanismo, existem ainda reflexos nervosos que possuem papel importante na manifestação dos sintomas. Finalmente devemos lembrar que estes pacientes apresentam uma hiperreatividade aos irritantes e agentes inespecíficos. O conhecimento de todos esses fatores assume importância relevante, pois nos permite atuar em diferentes níveis do processo fisiopatológico.

O ponto principal do tratamento, tem por objetivo afastar, ou ao menos, diminuir o contato dos pacientes com os alérgenos e fatores irritantes. Em alguns casos apenas isto é já suficiente para controlarmos os sintomas. Em casos mais graves irá nos auxiliar, reduzindo a necessidade de medicamentos.

Uma vez realizada esta higiene ambiental, e mesmo assim não conseguindo o controle adequado da doença, iniciaremos o tratamento medicamentoso. O primeiro medicamento a ser utilizado é o anti-histamínico, que compete com a histamina pelos seus receptores (H1 no caso da rinite). Eles são divididos em vários grupos, os clássicos que podem atuar sobre o sistema nervoso central, causando sonolência, e os não sedantes. Podem, ainda, estar ou não associados a descongestionantes. Os vasoconstritores tópicos não devem ser usados por muitos dias, uma vez que causam efeito rebote, e podem levar a uma rinite medicamentosa. Quando o grau de bloqueio nasal não é um sintoma muito grave, os anti-histamínicos puros apresentam bons resultados. Este grupo de medicamentos age como sintomático, e é usado para o controle das crises. Os anti-histaminicos podem ser utilizados por tempo prolongado, porém quando isto se faz necessário, devemos introduzir outros medicamentos.

O cromoglicato dissódico (estabilizante da membrana dos mastócitos), age como um medicamento preventivo, diminuindo a liberação de mediadores químicos. É usado na dose de 40 mg ao dia, divididos em 4 vezes, devendo ser mantido por um longo tempo, sendo que seu efeito demora algumas semanas para surgir. Este é um medicamento praticamente desprovido de efeitos adversos, portanto muito seguro para ser utilizado, principalmente em crianças.

Em casos mais graves, quando todo este tratamento falhar, será necessário introduzirmos os corticosteróides, que possuem uma ação antialérgica e antinflamatória importante. Nos pacientes com sintomatologia muito intensa, podemos usá-los por via sistêmica (predinisona 0,14 a 2,0 mg/kg por dia), por um curto período de tempo, associadamente aos tópicos, que por sua vez serão usados por tempo mais prolongado. No Brasil existe apenas a beclometazona para uso tópico, e se usada na dose de 400 mg ao dia não apresenta efeitos colaterais importantes, podendo ser mantida por longos períodos.

Quando todo este tratamento (higiene ambiental e medicamentos) não obtiver resultados satisfatórios, e o paciente apresentar um quadro grave de rinite alérgica, com fase tardia de sintomatologia, indicamos a imunoterapia. Nos casos de alergia aos ácaros, tal terapêutica apresenta bons resultados, o mesmo não ocorrendo para outros antígenos. Não devemos esquecer que este tratamento é específico para o antígeno ao qual o paciente é sensível, devendo ser realizado por um período mínimo de 2 anos, e que a via subcutânea é a única que apresenta resultados satisfatórios comprovados através de estudos clínicos.

Por fim é importante mencionar o brometo de ipatropium (anticolinérgico), que parece apresentar bons resultados no controle da rinorréia, porém ainda não está disponível no Brasil para uso tópico no nariz. Da mesma forma, o levocabastine aplicado na mucosa nasal, tem se mostrado eficaz no controle sintomatológico da rinite alérgica.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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