INTRODUÇÃOO granuloma piogênico é uma lesão relativamente comum da pele, de caráter benigno, incorretamente nomeada, pois não é infecciosa e tampouco granulomatosa. Também conhecida como hemangioma capilar lobular, é freqüentemente constituída por um nódulo cutâneo avermelhado, séssil ou poliplóide, em geral menor que 1 centímetro de diâmetro'-. Pode apresentar-se como forma nodular única ou múltipla ou ainda produzir acometimento subcutâneo e intravenoso3. Como lesão cutânea, acomete mais freqüentemente cabeça e pescoço (62,5%), tórax (19,7%) e extremidades (17,9%), sobretudo dedos e mãos2.4.
Compromete majoritariamente crianças nos primeiros cinco anos de vida, tendo freqüência decrescente linearmente com a idade 2. A forma de lesão nodular solitária do granuloma piogênico é bastante comum em crianças, representando 0,5% das lesões cutâneas nessa idade2.
O processo etiopatogênico permanece desconhecido. Observa-se que há íntima relação com traumatismos repetidos e o aparecimento de granuloma piogênico, mas isto não explica todos os casos da lesão. Especula-se também a participação de fatores hormonais, pois tal lesão é freqüentemente associada com gestação. Foram ainda descritos casos de granuloma piogênico associado com lesões virais da pele.
Histopatologicamente, caracteriza-se por lesão altamente vascularizada e sangrante ao toque, edematosa e freqüentemente ulcerada, contendo infiltrado inflamatório misto de permeio a um estroma fibroso, envolvendo vasos sangüíneos neoformados5.
Objetiva-se com este trabalho relatar um caso de granuloma piogênico de meato acústico e pavilhão auricular em uma paciente de 28 anos, por se tratar de localização atípica em idade de pouca freqüência do aparecimento da lesão.
Figura 1. Aspecto externo da lesão em pavilhão auricular.
Figura 2. Proliferação capilar envolvida por infiltrado inflamatório misto compatível com granuloma piogênico. (Coloração HE, tamanho original x 100).
APRESENTAÇÃO DO CASO CLÍNICOJ. F. R., com 28 anos de idade, do sexo feminino, branca, professora primária, natural e procedente de Rio Branco do Sul /PR, há dois anos do atendimento neste Serviço iniciou com prurido em conduto auditivo externo esquerdo. Para alívio do sintoma, a paciente introduzia no ouvido uma haste flexível, com a qual traumatizava o conduto. Com cerca de seis meses de permanência da queixa, a paciente procurou pela primeira vez atendimento médico, na cidade de origem, no qual foi diagnosticada como sendo portadora de eczema e medicada com anti-alérgicos tópicos. Sem que houvesse melhora da sintomatologia, a paciente procurou outro Serviço, onde foi constatada a presença de várias lesões vegetantes de tamanho variando entre 1 e 3 milímetros, de coloração vinhosa em conduto auditivo externo e pavilhão auditivo esquerdo (Figura 1). Foi então estabelecida a hipótese de molusco contagioso; e a paciente, manejada com antiinflamatório e antialérgico. Neste atendimento foram realizadas biópsias da lesão e a paciente foi encaminhada para acompanhamento. O exame anátomo-patológico revelou que os quatro fragmentos enviados apresentavam proliferação capilar envolvida por infiltrado inflamatório misto compatível com granuloma piogênico (Figura 2). A paciente foi submetida a seis sessões de cauterização das lesões em conduto auditivo externo e pavilhão auditivo com nitrato de prata a 30%. Houve melhora total da sintomatologia e regressão praticamente completa das lesões.
COMENTÁRIOSOptou-se pela descrição deste caso em função da peculiaridade da lesão nesta idade e localização, e pela aparente dificuldade diagnóstica.
O granuloma piogênico é uma lesão freqüente na criança, com incidência decrescente com a idade, tornandose pouco comum no adulto'. Além disso, é pouco comum a localização em conduto auditivo externo, sendo mais freqüente em face e extremidades superiores'.'. Inicialmente, a paciente foi considerada como sendo portadora de eczema - provavelmente pela sintomatologia de prurido e a ausência, na época, das lesões vegetantes. Quando estão presentes as lesões vinhosas características do granuloma piogênico, o diagnóstico diferencial com eczema é facilmente estabelecido. Porém, ã instalação dessas lesões ocorre com a continuidade do trauma, seu provável fator causal', muito embora a sintomatologia já esteja presente. A segunda hipótese diagnóstica foi a de molusco contagioso. Também este ocasiona lesões características facilmente diferenciáveis das lesões do granuloma piogênico. No molusco contagioso as lesões são vegetantes, de coloração mais clara, com umbilicação central, e, em geral, não produzem prurido; e não há relação alguma com trauma, pois a etiologia desta lesão é viral.
Embora a olhos experimentados a lesão do granuloma piogênico seja facilmente identificada e diferenciada, permanece um desafio: o diagnóstico desta lesão, principalmente quando não há uma história característica de trauma repetido no local.
O diagnóstico diferencial deve ser feito principalmente com eczema, na fase inicial, onde não estão ainda presentes as lesões e predomina o prurido; e com hemangioma na fase das lesões estabelecidas.
O tratamento pode ser realizado preferentemente com quimiocauterização ou eletrocauterização, sendo bom o prognóstico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. PARK, I. H., HOUH, D., HOUH, W. - Subcutaneous and superficial granulorna pyogenicum. Int. J. of Dermatology, 35(3): 205-206, 1996.
2. MOONEY, M. A., JANNIGER, C. K. - Pyogenic granuloma. Cútis, 55 133-6, 1995.
3. MOMENI, A. Z., ENSHAIEH, S. - Multiple giant disseminated pyogenic granuloma in three patients burned by boiling milk. Int. J. of Dermatology, 34(10): 707-9, 1995.
4. PRICE, M. A., BRUCE, S., WAIDHOFER, W., WEAVER, S. M. - Beau's lines and pyogenic granulomas following hand trauma. Cútis, 54: 246-9, 1994.
5. STROHAL, R., GILLITZER, R., ZONZITS, E., STINGL, G. - Localized vs generalized pyogenic granuloma. Arch Dermatol, 127 856-61, 1991.
* Professor Titular da Disciplina de Otorrinolaringologia e Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia da Universidade Federal do parará - 1JFPR.
** Residentes do Serviço de Otorrinolaringologia da Universidade Federal do Paraná - UFPR.
*** Acadêmicos do sexto Ano de Medicina da Universidade Federal do Paraná - UFPR.
Trabalho realizado no Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Clínicas, da Universidade Federal do Paraná - UFPR. Endereço para correspondência: Professor Marcos Mocellin. Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Parana - UFPR. Rua General Carneiro, 181 - CEP 80060-900 - Curitiba /PR - Brasil - Telefone: (041) 362-2028 - Ramal 336. Artigo recebido em 9 de junho de 1997. Artigo aceito em 27 de agosto de 1997.