INTRODUÇÃOAs emissões otoacústicas têm sido, desde a sua descoberta por Kemp (1978), bastante estudadas, com a finalidade de se delinear seu uso e sua efetividade na prática clínica 2,3,4,5,6,7,8.
Sabemos que as emissões otoacústicas mais utilizadas para o diagnóstico são as emissões otoacústicas evocadas transientes e as emissões otoacústicas evocadas por produto de distorção.
Muitos autores têm se ocupado em estudar a ocorrência e a efetividade das emissões otoacústicas transientes, principalmente em neonatos em que a utilização já se encontra consagrada. Os estudos acerca da análise das emissões otoacústicas por produto de distorção é, no entanto, mais atual e vêm despertando grande interesse científico, 2,14,15,16,17,18.
O objetivo do presente estudo é analisar as emissões otoacústicas por produto de distorção em 202 orelhas de neonatos, possibilitando a padronização de respostas para esta faixa etária.
MATERIAL E MÉTODOForam selecionadas 101 crianças normais de 7 a 696 horas de vida, nascidas na Maternidade de Campinas, sendo 50 crianças do sexo masculino e 51 crianças do sexo feminino.
Utilizamos como critérios de inclusão dos sujeitos na amostra:
- Crianças nascidas a termo, sem intercorrências pré ou perinatais.
- Ausência de risco para deficiência auditiva, de acordo com os indicadores de risco proposto por Azevedo (1996)'9 adaptados do Joint Committee Infant of Hearing (1994)2°. - Presença de emissões otoacústicas evocadas transientes, de acordo com os critérios utilizados por Soares e Azevedo (1997)21.
As crianças foram submetidas a triagem por emissões otoacústicas evocadas transientes e por produto de distorção, através do aparelho ILO 292 - Otodynamics LTD. Todos os testes foram realizados dentro de cabine acústica.
As respostas foram analisadas quanto à presença e ausência, e quanto à amplitude média de resposta em dB NPS nas freqüências 1 Khz, 1,2 Khz, 1,5 Khz, 2 Khz, 2,5 Khz, 3 Khz, 4 Khz, 5 Khz e 6,3 Khz.
Realizamos estudo estatístico para analisar as diferenças de ocorrência e de intensidades de resposta e ruído, obtidos para cada freqüência, por orelha, sexo e faixa etária, através do teste de qui quadrado e da diferença de médias (a=0,05). Estabelecemos a padronização das respostas e do ruído, mediante o cálculo das médias e desvios padrões dessas intensidades.
Utilizamos o programa EPI-INFO para o processamento dos dados (software fornecido pelo Center for Disease Control, de Atlanta, e patrocinado pela OMS).
RESULTADOSPara facilitar a visualização subdividida em:
a) Análise das respostas por freqüência em relação às variáveis sexo, lado da orelha e idade:
Foram analisadas as médias das amplitudes de resposta para as emissões otoacústicas por produto de distorção, em relação às variáveis sexo, lado da orelha e idade. Não observamos diferenças estatisticamente significativas entre as respostas, em relação às variáveis (p>0,05) e, portanto,. agrupamos a amostra.
b) Análise da ocorrência de respostas por freqüência: Optamos por analisar a ocorrência de respostas por freqüência (Tabela I e Gráfico 1), pois não observamos, nas 202 orelhas analisadas, qualquer teste com respostas ausentes em todas as freqüências. Foi observada 18,8 % de presenças em todas as freqüências, e 81,2 % de respostas parciais.
c) Análise da amplitudes médias de resposta e do nível de ruído por freqüência:
A análise das amplitudes médias de resposta e de ruído por freqüência encontra-se descrita na Tabela 11 e no Gráfico 2.
COMENTÁRIOSAnálise das respostas por freqüência variáveis sexo, lado da orelha e idade.
Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas na amplitude média de resposta para o produto de distorção em relação às variáveis sexo, lado da orelha e idade.
b) Análise da ocorrência de respostas por freqüência: Pudemos observar menor ocorrência de respostas nas freqüências de 1 Khz e de 1,2 Khz, concordando com os achados da literatura 22,23. Como não houve variação desta ocorrência em relação às variáveis estudadas, acreditamos que tal fato tenha ocorrido em razão da dificuldade para a obtenção de perfeita vedação em neonatos, pois foram o diâmetro do conduto e a espessura de suas paredes e das estruturas do crânio, em relação aos adultos 12, que ocasionaram o aumento do ruído e a conseqüente ausência da resposta. Acreditamos que a ausência de resposta em 1 Khz e 1,2 Khz, em neonatos, deva ser bem analisada, para que não seja erroneamente considerada perda auditiva nesta freqüência,
No Gráfico 2, podemos observar o padrão de respostas encontrados nestas 202 orelhas, assemelhando-se nossa curva com a curva do estudo de Marco e cols.11, em trabalho similar.
CONCLUSÕESPodemos observar também que a ocorrência de respostas aumenta nas freqüências mais agudas, sendo mais prevalente na freqüência de 5 Khz (como pode ser observado na Tabela I e no Gráfico 1).
c) Análise da amplitude média de resposta e do nível de ruído por freqüência:
Na análise da amplitude média de resposta por freqüência, pudemos observar menor amplitude na freqüência de 1 Khz (7,48 dB NPS) e maior amplitude na freqüência de 2 Khz (14,37 dB NPS) (Tabela I1).
Na análise do nível de ruído por freqüência, constatamos maior nível de ruído na freqüência de 1 Khz (11,48 dB NPS) e menor na freqüência de 6,3 Khz (-0,28 dB NPS).
Podemos concluir, através deste estudo, que a presença de produto de distorção em neonatos normais varia de acordo com a freqüência (30,2% a 88,1%), sendo mais prevalente nas freqüências mais agudas e menos prevalente nas freqüências mais graves. Nos 101 neonatos avaliados, não observamos qualquer teste com ausência em todas as freqüências, sendo que as respostas parciais foram mais prevalentes do que as respostas presentes em todas as freqüências.
A maior amplitude de resposta encontra-se na freqüência de 2 Khz e a menor amplitude de resposta encontrase na freqüência de 1 Khz. O maior nível de ruído encontrase na freqüência de 1 Khz; e o menor, na freqüência de 6,3 Khz.
Isto evidência certa limitação das Emissões Otoacústicas por Produtos de Distorção, na avaliação das regiões da membrana basilar que codificam as baixas freqüências.
AGRADECIMENTOFazemos presente nossa gratidão aos profissionais da Maternidade de Campinas, que reconhecem a importância de nosso trabalho.
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* Médico Estagiário do Setor de Emissões Otoacústicas da Maternidade de Campinas.
** Fonoaudióloga, Especialista em Distúrbios da Comunicação Humana, Responsável pelo setor de Emissões Otoacústicas da Maternidade de Campinas.
*** Médico Otorrinolaringologista responsável pelo setor de Emissões Otoacústicas da Maternidade de Campinas.
Trabalho realizado no Setor de Emissões Otoacústicas da Maternidade de Campinas /SP. Endereço para correspondência: Luís Miguel Chiriboga Arteta - Rua Álvaro Muller, 743 - Guanabara - CEP 13023-181 - Campinas /SP - Telefone: (019) 232-6708. Artigo recebido em 8 de janeiro de 1998. Artigo aceito em 16 de março de 1998.