ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
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2578 - Vol. 60 / Edição 3 / Período: Julho - Setembro de 1994
Seção: Artigos Originais Páginas: 172 a 173
Paralisia Facial Periférica Recorrente: Análise Retrospectiva de 63 Casos.
Autor(es):
Priscila Bogar*,
Richard Louis Voegels*,
Tanit Ganz Sanchez*,
Rogério Leão Bensadon*,
Aroldo Minit**,
Ricardo Ferreira Bento***.

Palavras-chave: Nervo facial, paralisia facial

Keywords: Facial nerve, facial paralysis

Resumo: Foram estudados retrospectivamente 63 pacientes que se apresentaram com paralisia facial periférica recorrente (PFPR) no Ambulatório de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, no período de 1987a 1993. Foram excluídos os pacientes portadores de PFPR de origem tumoral. Observamos um predomínio do sexo feminino (64%). A idade média de aparecimento do primeiro surto foi de 25,3 anos, sendo que o segundo episódio ocorreu, em média, 07 anos depois. A recorrência ipsilateral ocorreu em 46% dos pacientes e a alternada nos restantes 54%. A hipertensão arterial sistêmica foi observada em 15,8% e a diabetes mellitus em 6,3%. Em 10% dos pacientes havia história familiar de PFPR.

Abstract: We retrospectively studied 63patients with recurrent peripheral facial palsy (RPFP). All these patients were evaluated in the ENT Department of the Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo during the period of 1,987 to 1993. The patients with tumors were excluded of this study. There was a prevalence of females (64%). The average age of the first on set of peripheric facial palsy was 25,3 years. Seven years was the mean time forthe first recurrence. The recorrente occurred in the same side in 46% and alternated sides in 54%. Hypertension $elas observed in 15,8% and diabetes mellitus was present in 6,3%. In 10% of the paceents there was a positive family history of RPFP.

INTRODUÇÃO

A paralisia facial periférica recorrente (PFPR) ocorre em 4 a 12% dos casos de paralisia facial 1,2,3,4. Essa recorrência pode ser ipsi ou contralateral 5. Segundo May 6, cerca de 34% das recorrências são ipsilaterais e 66% contralaterais. Ela pode ser secundária a tumores, Síndrome de Melkersson - Rosenthal e paralisia idiopática (Bell). Quando a recorrência é ipsilateral, em até 20% dos pacientes a etiologia é tumoral 7.

O intervalo entre os episódios de paralisia é geralmente maior que 1 ano 2 Há uma discreta predominância no sexo feminino 2,8, O diabetes é encontrado entre 4 a 39% dos pacientes 1,5.

O prognóstico em uma segunda paralisia ainda é controverso. Alguns autores relatam pior prognóstico, indicando com maior freqüência cirurgia descompressiva, 5,9. Porém, a grande maioria dos autores não achou diferença no prognóstico entre os episódios, mesmo quando a recorrência é ipsilaterais, 5,11. A típica Síndrome de Melkersson - Rosenthal é bem mais rara, sendo caracterizada por edema de face, língua plicata, PFPR, granuloma labial inespecífico e história familiar positiva. Outros achados nesta síndrome incluem: edema de mãos e tórax, enxaqueca, anormalidades oftalmológicas (queratites, neurite retrobulbar e anormalidades nos vasos da retina) 7.

Segundo Minor 12 esta síndrome pode ser diagnosticada mesmo quando o paciente apresenta somente o edema facial. A sua etiologia ainda não é conhecida.
O objetivo deste estudo foi analisar os fatores epidemiológicos e possíveis fatores predisponentes da PFPR.

CASUÍSTICA E METODOLOGIA

Foram estudados 63 pacientes, que se apresentaram ao grupo de paralisia facial no ambulatório de ORL da HCFMUSP com história de PFPR de 1987 a 1993. Os pacientes foram submetidos ao protocolo de rotina do grupo, para o diagnóstico etiológico, topodiagnóstico da paralisia e tratamento. O diagnóstico de PFPR tipo Bell foi de exclusão; para isso foram realizados em todos os pacientes, além de história e exame físico, exames complementares, como: audiometria tonal, impedanciometria, hemograma, glicemia de jejum e sorologia para Lues. A tomografia computadorizada foi requisitada nos casos de PFPR ipsilaterais com suspeita de tumor. Os doentes com PFPR de origem tumoral foram excluídos deste estudo.


Entre os 63 pacientes estudados observamos predominância no sexo feminino (40 doentes), representando 64% dos casos. A idade média de aparecimento do primeiro surto de PFP foi de 25,3 anos, variando de 2 a 75 anos (Gráfico 1). O tempo entre o primeiro e o segundo episódio de paralisia foi de 7 anos, variando de 6 meses a 43 anos.

Entre os pacientes estudados, 29 (46%) apresentavam PFP sempre do mesmo lado (ipsilateral). Trinta e quatro pacientes (54%) manifestavam PFP acometendo lados alternados. Dez pacientes (14%) apresentavam história familiar positiva.

Em relação ao topodiagnóstico da paralisia facial, observou - se que 39% dos casos apresentavam lesão suprageniculada, e 61% lesão infrageniculada. Das patologias freqüentemente associadas com a PFP, observou-se que 15,8% apresentavam hipertensão sistêmica e 6,3% apresentavam diabetes mellitus.

DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

A PFPR constitui menos que 12% das paralisias faciais idiopáticas agudas. Destas, Melkersson - Rosenthal e paralisias bilaterais alternantes são ainda mais raras 2.

Segundo a maioria dos autores, não há predominância significativa de sexo 11,13. Contudo, alguns autores relatam uma discreta predominância no sexo feminino 2,8. Nos pacientes estudados houve um predomínio do sexo feminino (2:1).

A média da idade do primeiro episódio de paralisia varia de 30 a 39 anos, de acordo com a literatura 11,13; em nossa observação a média foi de 25,2 anos. O intervalo entre o primeiro e o segundo episódio foi em média de 7 anos, o que coincide com a literatura 11,13.

Adour 1, em série de 132 pacientes com PFPR, encontrou história familiar positiva em 22,8%, enquanto nós encontramos 14%. Quanto ao topodiagnóstico não encontramos dados na literatura para comparação.

Nestes pacientes é encontrada uma incidência variável de diabetes, sendo descritas taxas desde 4 a 39% dos pacientes 1,5 enquanto que encontramos 6,3%.



GRÁFICO I - Idade no primeiro surto de PFP




REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA

1 - ADOUR, K. K. et al. - The true nature of Bell's palsy: Analysis of 1000 consecutives patients, Laryngoscope, 88: 787, 1978.
2 -YANAGIHARA, N. et al. - Bell's Palsy Nonrecurrent versus recurrent and unilateral versus bilateral, Arch Otolaryngol, 110: 374, 1984.
3 - STAHL, N.; FERIT, T. - Recurrent bilateral peripheral facial palsy. J. LatyngolOtol, 10.? (1): 117 - 9, 1989.
4 - WERNECK, L. C.; PAOLA, D.; BARRIONUEVO, C. E. - Paralisia facial recorrente: estudo de um caso com 4 recorrências. Rev. Bras. Otorrinolaringologia, 41: 168 - 171, 1975.
5 - HALLMO, P.; HELVERLAND, H. H.; MAIR I. W. S. - Recurrent facial palsy, Arch Otorhinolaryngol, 237: 97, 1983.
6 - MAY, M.; and HUGHES, G. B. - Facial nerve disorders: Update 1987. Am. J. Otol, 8 (2): 167 - 180, 1987.
7 - MAY, M.; KLEIN, S. R.; TAYLOR, F. H. - Indications for surgery for Bell's palsy, Am. J. Otol, 5: 503, 1984.
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9 - AUERBACH, S. H.; DEPIERO, T. J.; MEJLSZENKIER, J. - Familial recurrent peripheral facial palsy. Observations of the pediatric population. Arch Neurol., 38: 463, 1981.
10 - CASTILLO LAITA, J. A.; BUUEL ALVAREZ, J. C.; CASTELLOTE OLIVITO, J. M.; DOMINGHEZ FENOLLE, M. P.; CENARRO GUERRERO, T.; CALVO FERRER, C.; JIMNEZ TORRECILLA, A.; VERGARA UGARRIZA, J. M.; VALDI USON, J. R. - Prognosis in recurrent peripheral idiopathic facial paralysis in childhood. An Esp Pediatr, 36: 451 - 4, 1992.
11 - GRAHAM, M. D.; KARTUSH, J. M. - Total facial nerve decompression for recurrent facial paralysis: an update. Otolaryngol Head and Neck Surg., 101: 442 - 4, 1989.
12 - MINOR, M. W.; FOX, R. W.; LOCKEY, R. S.; and BUKANTZ, S. C. -Melkersson-Rosenthal syndrome.J. Allergy Clin. Immunol, 80: 64-67, 1987.
13 - POWERS, W. H. - Recurrent Bell's palsy. Otolaryngo Clinics of North Am, 2: 407 - 409, 1974.




* Pós - graduandos (doutorado) da Disciplina de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

** Professor Titular Disciplina de Clinica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

*** Professor Associado Disciplina de Clínica Otorrinolaringológica do

Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.

Trabalho realizado na Disciplina de Clínica Otorrinolaringológica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, e LIM 32.

Av. Dr. Eneas de Carvalho Aguiar, 255 - 6° andar - s/ 6021 - São Paulo - SP - Brasil - CEP 05403-000.
Artigo recebido em 11 de fevereiro de 1994. Artigo aceito em 18 de março de 1994.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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