ISSN 1806-9312  
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2512 - Vol. 30 / Edição 2 / Período: Janeiro - Junho de 1962
Seção: Associações Científicas Páginas: 61 a 70
DEPARTAMENTO DE OTORRINOLARNIGOLOGIA DA ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA
Autor(es):
Resumos por D. Baptista - 2.° Secret.

SESSÃO ORDINÁRIA DO DIA 19-2-1962.

SIMPÓSIO: TRAUMA ACÚSTICO

1 - COMENTÁRIOS SÔBRE PATOLOGIA E DIAGNÓSTICO DO TRAUMA ACÚSTICO - Pedro Luiz Mangabeira Albernaz.

O Autor assinala a importância dêsse estudo não apenas do ponto de vista médico-social e legal, mas principalmente do ponto de vista da medicina preventiva. Duas grandezas são definidas: o desvio transitório do limiar (DTL) e o desvio permanente do limiar (DPL); ambos podem ser eficientemente estudados em animais de laboratório, principalmente na cobaia. As técnicas do DTL e DPL na espécie humana são analisadas, estabelecendo-se as relações entre ambos. Através dêssa relação estabelecemos as normas de proteção para a conservação da audição. O maior DTL permissível nas frequências de 500, 1000 e 2000 c.p.s., ao fim de um período de trabalho é de 12 db. Um DTL acima de 12 db resultará em DPL. O autor tece comentários sôbre a presbiacusia e outras afecções cocleares que acentuam a complexidade do problema. Em conclusão ressalta-se a necessidade do estabelecimento de medidas de proteção e normas adequadas para a orientação na indústria.

2 - ASPÉCTOS CLÍNICOS DA SURDÊS OCUPACIONAL Hugo Ribeiro de Almeida.

O Autor baseando-se em dois trabalhos anteriores já apresentados na secção de ORL da APM e numa casuística de 250 casos clínico-otológicos caracterizados como surdês ocupacional, comentou 3 aspéctos clínicos desta entidade.

1) Raridade da queixa de surdês déstes doentes em desproporção com a incidência de casos. O A. procurou explicar pela lentidão de processo que atinge inicialmente a zona 4096 pouco interessante para a vida de relação; lembrou também a confusão que pode haver por parte do paciente com a presbiacusia.

2) A surdês ocupacional deve ser detectada clinicamente através de uma anamnese bem orientada e exame otológico-audiométrico. O A. chama a atenção das repercussões neuropsíquicas e acentua a frequência e a importância dêstes fenômenos, sugerindo uma solução que deva ser conseguida associando ao otologista um neuropsiquiatra.

3) Gravidade dos casos de hipersensibilidade ao ruído e cuja causa não tem explicação satisfatória o que exige soluções radicais: o afastamento imediato do paciente, do seu ambiente de trabalho.

3 - ASPÉCTOS MÉDICO-LEGAIS DO TRAUMA-SONORO - Prof. Silvio Marone.

Começou o Autor afirmando das alterações provocadas pelo som no aparelho auditivo e sua importância médico-legal.

Acentuou o A. que para o bom fundamento dos estudos médico legais do trauma sonoro devem ser distintas as lesões transitórias e permanentes.

Nessas condições deve o otologista fornecer ao legista os elementos para a avaliação da invalidez.

Assim, o otologista deverá:

a) Diagnosticar a natureza da lesão.

b) Conhecer sua origem.

c) Ulteriormente, apresentar os meios para eliminar ou reduzir as lesões. Não devemos, todavia, deixar de assinalar que fatôres pessoais existem que podem favorecer a ação ruidosa no paciente, a idade e tempo de trabalho do operário.

De acôrdo com o grão de surdês, poderemos agrupar os doentes em:

a) 1.° gráu - surdês ligeira, com deficit de 37,5 em db.

b) 2.° gráu - pode ser débil e forte; de 37,5 a 60 db.

c) 3.° gráu - com perda de 60 a 67,5 em db.

d) surdês completa - com a perda de 67,5 em db.

A seguir, teceu comentários sôbre a indenização, de acôrdo com o gráu a que a pessoa (operário) foi atingida.

Além désses casos de hipoacusias temos a considerar os tinidos, distúrbios- incomodativos que podem vir a provocar alterações psíquicas condicionando insônia, irritabilidade. Fenômeno êsse, encontrado com certa freqüência, que pode agravar as conseqüências pessoais cio traumatismo, deverá ser considerado no cálculo da indenização.

A seguir, expôs de que maneira se comporta a medicina legal a êsse respeito na Itália, França e Bélgica.

SESSÃO ORDINÁRIA DO DIA 19-3-1962

Conferência do Prof. Dr. Georges Guillen da Faculdade de Medicina de Bordeaux, (França).

ESTUDO RADIOLÓGICO NA OTOESCLEROSE

Inicialmente chamou a atenção sôbre estudos recentes -e a possibilidade de se visualizar lesões otoescleróticas através de radiografias de precisão do temporal, contestando alguns Autôres que têm afirmado que essas lesões não são suficientemente visíveis para que tenham valor clínico.

Um aspécto de velamento difuso da chapa radiográfica é frequentemente visível, mas, o que é importante sobretudo é a imagem radiológica de otoesclerose do conduto interno que bode ser apanhado num clichê radiográfico, ou de uma maneira particular, dado o intérêsse clínico e cirúrgico dêsses casos as imagens de condensação óssea ao nível da janela oval que são vistas no posição de Chaussé III e em particular na posição transorbitária do próprio Autor. Esta última põe em especial destaque a .região da janela oval e vê-sé nessa posição com freqüência as lesões otoescleróticas dêsse nível. O Dr. Guillen projetou radiografias mostrando os aspéctos otoescleróticos, com o que deu por encerrada sua aula.

SESSÃO EXTRAORDINÁRIA DO DIA 27-3-1962

PARTE DIDÁTICA - MOLÉSTIA DE MENIÈRE

Prof. Dr. Raphael da Nova

O A. explicou inicialmente a origem do nome da doença descrita primeiramente por Menière. Logo depois fez a diferenciação entre moléstia de Menière e o falso Menière, aparecendo nêste último os mesmos sintomas: zoadas, hipoacusias, vômitos.

O falso Menière é dividido em neurite vestibular e vertigem postural.

Outra classificação adotada por Riesco e colaboradores:

1) Vertigem de Menière.

2) Pseudo Menière.

3) Neurite vestibular.

4) Vertigem postural.

5) Paresia ou paralisia vestibular.

Teceu considerações sôbre a vascularização e inervação que agem sôbre a região vestibular. A seguir abordou a origem da crido e peri-linfa, salientando a importância do mecanismo elétro-lítico nos fenômenos vestibulares.

Após essas considerações descreveu os sintomas da moléstia de Menière e seu desenvolvimento. Exames necessários ao diagnóstico da doença de Menière através do audiograma (provas de recrutamento de Fowler, Luscher e SISI) e otoneurológico (prova de Hallpike e Jongkees).

Etiopatogenia: 1) Perturbações no metabolismo eletrolítico.

2) Angioespasmos.

3) Alergia.

4) Fenômenos tóxico-infecciosos.

5) Avitaminoses.

TERAPÊUTICA: 1) - Fase aguda - Repouso, dieta, simpaticolíticos e neuroplégicos (clorpromazina), antihistamínicos, gardenal.

2) - Fase de recuperação - a) Repouso, administração de potássio, diuréticos e antihistamínicos. b) Nesta 2ª fase, usaríamos vaso dilatadores e anti-histamínicos.

3) - Reativação - Pesquisa de fócos, alergias e administração de vitaminas principalmente do complexo B.

ATUALIZAÇÃO CIRÚRGICA DA IMPERFURAÇÃO COANAL - Mauro Candido S. Dias

O A. descreveu inicialmente as diferentes vias utilizadas pelos cirurgiões para corrigir essa imperfeição. Reportou-se após, a descrever mais pormenorizadamente a técnica de Wilson através do palato, para corrigir a imperfuração coanal. Sugeriu a etiologia hereditária dêsse problema.

PRÓTESE DE PLATINA EM CIRURGIA DA SURDÉS - Olavo Emke

O A. deixou de descrever a técnica da cirurgia e demonstrou apenas os resultados obtidos em seus casos cirúrgicos.

SESSÃO ORDINÁRIA DO DIA 17-4-1962

EMPRÊGO DO DERMA NA CIRURGIA OTOLÓGICA - Sergio de Paula Santos

O A. falou inicialmente a respeito da finalidade, modo e natureza do enxêrto na timpanoplastia. O uso da pele tem seus inconvenientes apresentando a doença do enxêrto no 10.° dia ou mesmo no 1.° ou 2.° ano. Apresenta-se o problema da descamação.

Outros meios usados na timpanoplastia são: veia; mucosa e perióstio. O apresentador em 5 casos com perióstio teve 3 perfurações. Com a finalidade de nutrir o enxêrto por embebição têm usado gelatina em meio de cultura líquido, no post-operatório imediato, com antibiótico. A pele é despitelizada desde o início, retirando-se a camada epidérmica. Mantém-se desde o 1.° dia a nutrição do enxêrto por embebição pela maneira acima descrita.

A perfuração ocorreria mais nos tipos I e II e menos nos III e IV de Wullstein.

DIAGNÓSTICO TOPOGRÁFICO E TRATAMENTO DA PARALISIA FACIAL - J. E. Rezende Barbosa

Primeiramente o A. descreveu o trajeto do facial, afirmando que êle carrega consigo 4 funções: a) motora; b) sensitiva; c) secretora e d) sensorial.

O facial apresenta 2 elementos eferentes (centrífugos) e 2 aferentes (centrípetos). Os 2 eferentes constituídos pelos ramos motor e salivar, e os 2 aferentes pelos ramos sensitivos e gustativo.

O ramo motor dá uma colateral, que segue o grande petroso superficial e entra em conexão com o gânglio esfeno-palatino e otfálmico do trigêmio, que inerva a glândula lacrimal. Outras colaterais do motor são: o tensor do estribo e o nervo auricular posterior.

O ramo sensitivo tramita por 2 colaterais, uma para o meato externo e outra, mais importante, para região retro aurilar.

As fibras gustativas espalham-se pelos 2/3 anteriores da língua. A semiologia nos dá o sofrimento do facial, através as diferentes funções.

Do ponto de vista prático podemos nos basear na secreção lacrimar e no paladar. A paralisia de um dêles nos dá mais ou menos a altura da lesão, se bem que de maneira grosseira.

O facial, isto é suas fibras, se cruzam na linha mediana da protuberância e, devido a êsse cruzamento, nas paralisias faciais podemos ter 2 tipos de paralisia: a) paralisia facial periférica e b) paralisia facial central ou supra-nuclear.

Na paralisia facial periférica o ramo superior e o inferior se encontrara acometidos e na central sómente o inferior.

A seguir discorreu o orador sôbre a patologia do facial intra-temporal.

As causas podem ser: a) inflamatórias; b) traumas cirúrgicos; c) tumores; d) herper zorster; e) "a frigore".

A seguir falou particularmente sôbre cada uma das causas.

TERAPEUTICA: Nos casos de paralisia do facial o exame completo e a evolução nos garante ou indica, qual seria a melhor atitude; se a cirurgia ou tratamento clínico. Quando a paralisia surge com dôr intensa, alguns autores recomendam a cirurgia. Podemos lançar mão da reação elétrica que poderá nos dar a presença ou não de reação do nervo, e nos ajuda na orientação terapêutica e no prognóstico.

Terapêutica Geral
"A frigore"

a) Estimular a musculatura: - Eletroterapia e Massagem.

b) Vaso-dilatadores - Papaverina - Acido nicotínico - Histamina.

c) Vitaminas do complexo B.

d) Dinitrila succínica.

e) Corticoides.

Tratamento Cirúrgico:

Aqui o apresentador classificou os tratamentos cirúrgicos e discorreu sôbre cada um de maneira particular, com que o encerrou sua exposição.

SIMPÓSIO -, DIFTERIA: PATOLOGIA E DIAGNÓSTICO - Jair Guimarães
É a difteria uma doença típica, toxêmica, alcançando pela via sanguínea e linfática outros órgãos como o aparêlho circulatório, sistema nervoso, supra-renais, rins, fígado.

A toxina é produzida continuamente no foco de infecção. A difteria se assesta na faringe, nariz e laringe. Na faringe há maior absorção toxêmica, é a mais comum e mais grave. A laringite diftérica é a mais benigna.

Na patologia própriamente dita da lesão, há o exsudato pseudo-membranoso, formado por bacilos diftéricos, necrose epitelial, lesão de vasos linfáticos e sanguíneos com formação de fibrina, leucócitos e hemácias. O exsudato é aderente, branco e amarelado, sendo menos aderente na laringe.

Posteriormente discorreu sôbre a ação da toxina à distância, afirmando que seu aparecimento é tardia, na 24 semana.

O diagnóstico precoce é fundamental. O dignóstico laboratorial é posterior ao clínico e ao terapêutico.

Aparece a moléstia insidiosamente: dôr de garganta, febre baixa, taquicardia e pontos brancos unidos por um véu.

O exame basterioscópico não tem valor, o de segurança é a cultura. O apresentador fez a diferenciação da difteria com moléstias com as quais podemos confundi-la e encerrou sua exposição.

TERAPÊUTICA - Prof. Pereira Barreto

Para as formas não laríngicas o tratamento é feito com sôro anti-diftérico com doses mais ou menos maciças e precoces, aproximadamente 80.000 unidades, dadas em uma única vez.

Nas formas benignas pode-se usar 60.000 unidades, nunca usar dose inferior a esta, pois poderíamos ter perigo de paralisias das cordas vocais ou coisas piores.

Condicionar a dosagem ao pêso é êrro grave, pois a produção de toxinas numa criança pode ser maior que no adulto.

A sede nasal e laringeanas não são muito tóxicas devido a pouca vascularização e pequena absorção da toxina.

Nos casos mais graves, ou malignos, devemos usar doses maiores podendo ser até 100.000 unidades.

Nas formas laringeanas graves a terapêutica é a traqueotomia.

SESSAO ORDINÁRIA - DIA 17-5-1962

1 - CONCEITO ATUAL DA FISIOLOGIA DA AMÍGDALA PALATINA - Prof. P. Mangabeira Albernaz.

O A. começou a expor seu assunto enumerando as cinco funções atribuidas à amígdala:

1) - Linfonodal - não pode esta teoria resistir a crítica, pois não tem a amígdala linfáticos aferentes, nem comparável a substância medular.

2) - Endocrínica - Seria uma glândula de secreção interna. Quando massageada aparecia uma leucopenia, teria a amígdala uma substância hormônica que determinaria a leucopenia.

3) - Defesa mecânica - Seria a mesma defesa dos tegumentos. Esta resistência não é total, na amígdala seu valor é relativo.

4) - Imunitária - Basear-se-ia na ação das infecções repetidas e na possibilidade de uma absorção lenta e dosada de toxinas dos germes contidos nas amígdalas. Daí se conclui que, para a amígdala possuir ação imunitária seria preciso não ser normal e sim patológica. Como o principal agente dos processos inflamatórios das amígdalas são os vários tipos de estréptococos que, sabidamente, só conferem imunidade fugaz, pouco estável.

Linfocítica - Fabricaria linfócitos e êste é agente de defesa, seria portanto a amígdala uma função de defesa orgânica. Nêste caso, todo sistema linfático é que é o órgão de defesa pois a amígdala dêle faz parte.

Conclusão - A amígdala é órgão de defesa porque tôdas as hipóteses a dão como tal, com excessão da endócrina.

A amígdala é formada por nódulos linfáticos. Um esférico formado por condensação de linfócitos pequenos ou médios é o folículo primário; outro maior formado por linfócitos condensados, células grandes histiocitarias, é o folículo secundário.

Este último folículo é curioso, só aparece após o nascimento do invíduo. Os primários aparecem na vida intra uterina; a cripta amigdaliana no 4.°, 5.° mês de vida uterina; as glândulas entretanto não se abrem nas criptas.

Os folículos secundários constituem o ponto importante da amígdala. O Criptolinfônio constitue a unidade funcional da amígdala.

O folículo secundário forma uma série de elementos que geram anticorpos.
Teoria anti-carpo-genética

Esta teoria está provada experimentalmente, não é porém maior que no resto do aparêlho linfático; a amígdala séria um elo deste aparelho.

2 - INFLUÊNCIA DA MEDICAÇAO HEMOSTATICA NO PRÉOPERATÓRIO E NAS HEMMORRAGIAS - IMPORTANCIA DOS TESTES DE HEMOSTASIA NA CIRURGIA O.R.L.

T. Verrasto.

Inicialmente a Dra. Therezinha apresentou os mecanismos da coagulação. Se qualquer fator dêsse mecanismo estiver alterado ocorrerá a hemorragia.

Recomendou a A. fazer-se sempre a história clínica do doente quando vamos submetê-lo a uma cirurgia, e verificar se há antecedentes hemorrágicos, porque há casos de hemofilicos com TC e TS normais.

Posteriormente submeter o paciente a exame laboratorial.

O TS nos dá o setor vascular e plaquetário e o TC nos dá todos os fatôres de coagulação e a prova do laço nos dá o estudo dos vasos. Apesar de todos êsses dados serem normais, ainda assim, poderemos ter hemorragias. Entretanto, nos casos em que TS e TC são normais, assim como' a prova do laço, não há necessidade de darmos coagulantes.

Casos êsses exames sejam anormais ou o paciente tiver antecedente hemorrágico, submetê-lo a outros exames.

1) Contagem de plaquetas.

2) Plaquetas funcionalmente anormais - aparecem em doenças congênitas, como fundo hemorrágico.

3) Dosagem de protrombina - êsse exame interessa quando TC estiver alterados. Quando o TS estiver alterado, fazer contagem de plaquetas e a prova do laço.

SESSAO EXTRAORDINARIA EM CONJUNTO COM O DEP. DE PEDIATRIA - DIA 12-6-1962

SIMPÓSIO: - OTITE MÉDIA DO LACTENTE

PONTO DE VISTA DO PEDIATRA - Jacques Crespin

Inicialmente o A. historiou a relação que existiria entre a otite média do lactente e a dispepsia. Discorrendo a seguir sôbre as teorias que explicam a relação entre as 2 entidades, lembra que os 2 processos são associados, um levando ao outro, ou, apareceriam juntos por coincidência. Criticou o sinal de Vacher e seu significado. O orador é contrário às paracenteses indiscriminadas.

PONTO DE VISTA DO ORL - Antonio P. Corrêa

A otite média da primeira infância pode ser bacteriana, virótica, alérgica ou irritativa (corpos estranhos alimentares).

A otite média bacteriana do lactente é tanto mais grave quanto mais jovem a criança. Pode-se apresentar nas seguintes formas clínicas: 1) f. manifesta com sinais evidentes; f. lactente com sinais otológicos atípicos ou duvidosos, e sinais gerais predominantes; 3) f. ocultas, em que não tendo sinais semiológicos, a paracentese ou a antrotomia não mostram sinais macroscópicos da inflamação e a criança melhora. Esta última forma clínica, deverá ser esclarecida, ou melhor, a etiologia dos sintomas gerais não será afirmada categoricamente que seja uma otite média bacteriana.

A forma clínica latente, é a mais freqüênte, e mais discutida entre os especialistas. A orientação será fazer paracentese em toda membrana patológica ou duvidosa, e verificar os sinais e evolução fornecidas pela miringotomia; se a paracentese for "branca" pode-se pensar em antrite bloqueada latente, ou noutra etiologia para o quadro de toxicose da criança. O paciente será acompanhado pelo otologista até a normalização da membrana timpânica.

Se após 10 a 15 dias o estado geral não melhorar e ainda houver otorréia, teve-se suspeitar de antrite.

Há casos de antrite latente em que a obstrução do ádito pode reter exsudato infectado no antro e dar sintomatologia geral sem otorreia.

MODERADOR - Prof. Paulo M. Albernaz

Não podemos dizer se o tímpano é normal ou não na otite do lactente. O mecanismo da relação otite-dispepsia é desconhecido, não sabe-se qual o fenômeno primário.

A paracentese deve ser feita sempre; no tratamento conservador com antibiótico resta a otite serosa.

Dizem que, quando, ao fazer a paracentese ouve-se um estalido, sinal de que não há otite, deve-se entretanto esperar 24-48 horas. Quando sair sangue deve-se esperar porque posteriormente pode sair pús. A paracentese deve sempre ser feita, quando orientada pelo pediatra, é a conclusão do A.

SESSÃO ORDINÁRIA - DIA 21-6-1962

SIMPÓSIO: OTOTOXICIDADE POR ANTIBIÓTICOS (ESTREP-TOMICINA E KANAMICINA)

1 - ASPÉCTOS FARMACOLÓGICOS - Prof. Carles Colbert.

Teceu o A. considerações sôbre a relação farmaco-clínica.

Comentou as vias de administração dêsses medicamentos, afirmando que a di-hidro-estreptomicina não deve ser administrada pela via sub-arac nóidea por ter ação intensa no S.N.C. e inclusive VIII par. A estreptomicina tem efeitos de intolerância e outros próprios. Quanto aos de intolerância, não sabe-se bem qual sua relação com o VIII par. Quanto aos seus efeitos próprios: 1) Efeito sôbre função neuro-muscular; 2) Efeitos circulatórios; 3) Efeitos renais; e 4) Efeitos sôbre S.N.C.

Tem efeito ou ação de bloqueio na junção neuro-muscular, tipo curarizante e ação ganglioplégica. As substâncias com êsse 2 efeitos acima, comumente agem sôbre o SNC e principalmente VIII par.

A estreptomicina, di-hidro-estreptomicina, neomicina, viomicina atuam para ó lado do VIII par, com coincidência de efeitos.

O caráter irreversível é maior com a di-hidro-estreptomicina, kamacina, neomicina, de que a estreptomicina.

Qualquer das drogas citadas podem provocar alterações renais, a maioria das vêzes reversíveis. Entretanto, já havendo alteração da função renal tia menos eliminação da droga, e êsse acúmulo favorece alterações gerais pela droga, principalmente no VIII par, ocorrendo então maior lesão do VIII para nas deficiências renais. Devemos ajustar o esquema terapêutico às condições do paciente.

2 - ASPÉCTOS FISIOPATOLóGICOS - P. Luiz Mangabeira Albernaz.

Ao abordar a utilização destas drogas em condições experimentais, o A. considera errôneas as atitudes freqüêntemente adotadas pelo clínico em relação ao pesquisador, e por êste em relação ao primeiro, de considerar estanques os seus campos de ação e de acreditar ser de pouca valia a contribuição que possa surgir do campo oposto e que venha a lhe ser útil. Principalmente em um campo complexo como a otologia é absolutamente necessário que ambos os grupos mantenham estreito contácto.

A experimentação com drogas ototóxicas deve ser abordada sob dois aspéctos: 1) Contribuição ao conhecimento clínico do que sucede na cóclea intoxicada com a substância em estudo e estabelecimento de normas de proteção, ou pesquisa de substâncias que funcionem como protetoras da cóclea;

2) Utilização da destruição assim induzida na obtenção de novos fatos experimentais.

A anatomia e fisiologia da cóclea são discutidas, demonstrando-se as localizações das lesões. Tanto a estreptomicina como a di-hidroestréptomicina produzem lesões nas células chiadas e células de sustentação, tanto na cóclea como no vestíbulo. O grave inconveniente da di-hidroestreptomicma reside na ação cumulativa da droga, que produz lesão mesmo depois de cessada a sua administração por longos períodos. Justifica-se, pois, o total abandono da di-hidroestréptomicina, a não ser em medicamentos não absorvíveis.

A kanamicina destrói principalmente as células chiadas externas do órgão de Corti, e as células internas semente sendo atingidas por doses maciças durante longo período de tempo. A ação sôbre o vestíbulo é mínima.

A seguir foram discutidos os fenômenos elétricos da cóclea, bem como as alterações nela produzidas (notadamente no microfonismo coclear e i:os potenciais de ação do nervo acústico) pelas drogas em estudo. A ação protetora da heparina é discutida. A administração simultânea da estreptomicna e heparina em gatos protege as células cocleares que não são destruídas. A mesma ação protetora não se verifica em relação às células vestibulares.

3 - ASPECTOS CLÍNICOS - Nelson Alvarez Cruz

Sabe-se:

1 - da predominância do efeito tóxico da estreptomicina sôbre o aparelho vestibular; que a dihidroestreptomicina determina antes efeito sôbre a coclea; 2 - que a associação ácido pantotêmico dihidroestreptomicina não diminui a ação ototóxica; 3 - que a kanamicina lesa com freqüência o VIII.

Esta otoxicidade depende de vários fatores:

1 - Maiores doses; 2 - Duração do tratamento; 3 - Via de administração (a via intraraquidiana com medicamentos do grupo da estreptomicina determina surdêses mais graves); 4 - a susceptibilidade individual; 5 - a permeabilidade da barreira hemo-labiríntica (representada pela estria vascular).

Clinicamente:

- O zumbido é considerado um sinal de alarme.

- A audição costuma cair dos agudos para os graves. Nos primórdios, a hipoacusia pode ser reversível, mas, após, se torna irreversível. Trata-se de surdês geralmente bilateral e simetrica com distorsões.

- Quanto aos distúrbios vestibulares, raramente apresentam a forma de vertigem giratória típica. Trata-se, antes, de sensação de instabilidade, de sensação de oscilação do corpo ou de objetos vizinhos, ou simples atordoamento. Quando o paciente vai andar, se sente desequilibrado. O papel de muleta da visão é aqui evidente; com o fechamento dos olhos, o desequilíbrio aumenta.

Podemos encontrar hipoexcitabilidade ou inexcitabilidade uni ou bilateral, no exame vestibular.

13 casos de surdês por medicamento do grupo de estreptomicina e 2 por kanamicina foram estudados.

CONCLUSÕES

- Considerando que estas surdêses se iniciam, via de regra, nos tons agudos, passando subjetivamente desapercebida pelo paciente, assim como pelo clínico, e nem sempre há o aparecimento de zumbidos, como sinal de alarme do acometimento auditivo;

- Considerando que, como ocorre com a estreptomicina, nem sempre surgem sinais vestibulares espontâneos prévios que podem sugerir a possibilidade do acometimento auditivo, se o tratamento prosseguir;

- Considerando a gravidade de que se reveste a surdês em muitos dêstes casos,

- seria aconselhável:

- Que se submetesse sistemática e regularmente a exame audiológico, os casos submetidos a tratamento prolongado ou com dosagens altas.

- Que se procurasse evitar dosagem ou via de administração que tenham maior probabilidade de determinar surdês, dentro do critério, é evidente, das necessidades reais de cada caso particular.

- Que entre a dihidroestreptomicina e à estreptomicina, que parecem se comportar, sob o ponto de vista terapêutico, de modo semelhante, a preferência deve caber à estreptomicina.

- Que, em virtude da experiência que colhemos com a kanamicina não permitir que formemos juízo exato do risco para o VIII representado pela droga, é mister que redobremos de precaução diante do seu emprêgo, se a indicação de seu uso se tornar imperiosa.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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