Constitui hoje ponto pacífico e confirmado a não intervenção com curativos ou outras manobras no pós-operatório das amigdaiectomïas, respeitando-se o mais possível o repouso reparador.
No entanto, admitimos que certos medicamentos, com propriedades antissépticas e que possam corrigir o mau hálito e facilitar a cicatrização, possam ser realmente úteis, motivo pelo qual julgamos interessante submeter à experimentação um novo preparado em forma de colutório (**), contendo Nitrofurazona e Tirotricína, em associação.
A Nitrofurazona (5-nitro-2-furaldeido-semicarbazona), como sabemos, é um derivado do furano, com propriedades bactericidas frente a grande número de germes gram-positivos e gram-negativos, muitos dos quais resistentes aos antibióticos.
A mesma caracteriza-se pela sua grande potência de ação, sendo bactericida a títulos de 1:50.000 até 1:75.000, e bacteriostática a títulos de 1:100.000 até 1:200.000. Outro ponto importante é o fato da ação da Nitrofurazona não ser inibida pela presença de sangue, pús ou produtos oriundos do metabolismo bacteriano, ou tecido necrótico.
A Tirotricina é um antibiótico, composto de gramicidina e tirocidina, ativo especialmente frente a microrganismos gram-positivos, inclusive os pneumococos, estreptococos e estafilococos.
Segundo o trabalho de Castelli, associando-se a Nitrofurazona à Tirotricina, obtém-se uma potencialização muito interessante. De fato, êste Autor verificou que a ação bactericida desta associação, frente a cêpas patogênicas de estafilococos, estreptococos ß-hemolítico e de Corynebacterium diphteriae, era muito superior à atividade da nitrofurazona isoladamente e, ainda, que a atividade da Nitrofurazona frente a uma cêpa de estafilococos "Oxford" elevavase 5 vêzes, quando em conjunto com 2/5 da dose bacteriostática de Tirotricina, e 10 vêzes em relação ao Estreptococo ß-hemolítico, na presença de uma dose 5 vêzes menor que a dose mínima bacteriostática de Tirotricina; esta potencialização de ação era válida, outrossim, para outros germes patogênicos que podem proliferar na cavidade oral.
MATERIAL E MÊTODO
Êste trabalho baseia-se em 20 casos observados no ambulatório de Otorrinolaringologia do Hospital e Casas de Saúde Matarazzo.
Dos 20 pacientes em estudo, 70% eram do sexo feminino e os 30% restantes do sexo masculino, e cuja idade variava dos 13 aos 40 anos.
O material usado foi o ANGINOFUR Colutório.
POSOLOGIA
O ANGINOFUR Colutório foi empregado na dose de 1 (uma) colher das de chá para meio copo com água filtrada fria, a partir do 24 dia pós-operatório da amigdalectomia. Era aconselhado aos pacientes que fizessem gargarejos suaves, de 8 em 8 horas.
RESULTADOS
Todos os pacientes foram unânimes em afirmar que sentiram, com o emprêgo do preparado: sensação agradável na bôca, facilidade na deglutição dos alimentos líquidos e pastosos, devido á diminuição da dor.
Um dos principais fatos verificados, foi o de que o mau hálito o era tão forte como o encontrado em pacientes que não usaram o Colutório no pós-operatório da amigdalectomia.
EFEITOS COLATERAIS
Não houve referência a qualquer efeito colateral desagradável com o uso do Colutório.
BIBLIOGRAFIA
1) CASTELLI - "Sul sinergismo antibiotico dell'associazione nitrofurazonetirotricina" - Minerva Medica - 47: 2204-2208 - 1956. 2) New and Nonofficial Drugs - Edição 1964. 3) BUZARD, J. A. - "Studi sulla distribuzione, metabolismo e meccanismo d'azione dei nitrofurani". - G. Ital. Chemioter., 5-9, n.º 1, 1-12 - 1962. 4) DODD, M. C. - "Cliemotherapeutic properties of 5-nitro-2-furaldehyde semicarbazone". - J. Pharmacol. Exp. Ther., 86, 311, 1946.
São Paulo, 13 de setembro de 1965.
(*) Assistentes do serviço de O.R.L. do Hospital Matarazzo. (**) ANGINOFUR Colutório, gentilmente cedido pela PRAVAZ-RECORDATI, Laboratórios S/A, - São Paulo.
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