INTRODUÇÃO
A otite externa crônica estenosante (OECE) é uma forma extrema de reação hipertrófica a uma otite externa rebelde. Nesta afecção observa-se proliferação de tecido fibroso nas capas subcutâneas combinadas com hiperqueratose. Estas lesões são irreversíveis e são responsáveis pelas infecções crônicas devidas a retenção da umidade e a restos epiteliais encontrados nos condutos estreitados1.
Em algumas situações pode-se encontrar hiperplasia fibrosa da para média da membrana timpânica, resultando em espessamento da mesma com conseqüente redução da sua funcionalidades2
Os sintomas e sinais presentes em todos os pacientes portadores de OECE são: estenose da pele do CAE, hipoacusia condutiva e otites externas recorrentes. As estenoses podem ser da pele da porção óssea do CAE, da porção cartilaginosa do CAE ou de ambas as porções.
Os tratamentos propostos na literatura visão a facilitação da aeração do conduto auditivo externo através do aumento do diâmetro do mesmo. Estes procedimentos terapêuticos podem ser clínicos ou cirúrgicos, sendo Que os cirúrgicos são executados pela maioria dos autores2, 3, 4, 5, 6, 7, 8.
Fazem parte do tratamento clínico, o aumento de calibre do conduto auditivo externo através da introdução de tubos cilíndricos de poli vinil de diâmetros progressivamente maiores, e eletro cauterização da parte central do diafragma cicatricial.
O objetivo deste trabalho é apresentar um novo procedimento clínico através do uso de três agentes, um cáustico (ácido tricloracético - ATA), outro queratoplástico (ácido salicílico-AAS), e outro queratolítico (propilenoglicol).
CASUÍSTICA E METODOLOGIA
O ATA a 80% tópico é um agente cáustico que visa a destruição dos tecidos hiperplásicos no local de sua aplicação, ele atua dissolvendo as proteínas por hidrólise.
O ATA foi aplicado semanalmente na porção central do diafragma cicatricial da estenose por cinco semanas.
O ácido salicílico na concentração de 0,5% é querato plástico, esta droga destina-se a normalizar o processo alterado de queratinização. O propilenoglicol, usado como veículo, atua amolecendo a queratina retendo água das camadas inferiores tornando assim, frouxo o epitélio corneificado. A epiderme se descama facilmente tornando as camadas subjacentes mais acessíveis a drogas.
O ácido salicílico 0,5% dissolvido em propilenoglicol usado em dias alternados como gotas locais, tem ação ceratolítica e ceratoplásica normalizando o processo de epitelização do tecido acometido.
Portanto este tratamento proposto não só oferece o aumento do calibre do conduto auditivo externo mas também normaliza o processo alterado de corneificação.
Foram estudados três pacientes com história de otites externas recidivantes que evoluíram para OECE.
CASO 1
PC, sexo feminino, branca, 7 anos, procedente de Praia Grande (SP), queixa de otites externas recidivantes a quatro anos, referia contato quase diário com água do mar. Apresentava à otoscopia estenose bilateral total da pele do CAE na sua porção cartilaginosa. A audiometria tonal apresentava-se com hipoacusia condutiva com GAP médio de 20dB bilateral.
CASO 2
GS, sexo masculino, branco, 25 anos, procedente de São Paulo, profissão salva-vidas, queixa de otites externas recidivantes e hipoacusia há 15 anos. Apresentava à otoscopia estenose bilateral de aproximadamente 90% do diâmetro da pele do CAE. A audiometria tonal apresentava-se com hipoacusia condutiva com GAP médio de 15dB bilateral.
CASO 3
SB, sexo masculino, branco, 63 anos, procedente de Santo André, queixa de prurido auricular intenso seguido de otorreia bilateral há 30 anos, as otites externas vinham piorando em freqüência e acompanhadas de hipoacusia direita. Apresentava à otoscopia descarnação e hiperemia do CAE bilateral e à direita estenose de pele na sua porção óssea de cerca de 70% do diâmetro. Apresentava à audiometria tonal hipoacusia condutiva com GAP médio de 15dB à direita.
RESULTADOS
QUANTO AO DIÂMETRO (APÓS 5 SEMANAS)
caso 1: aumento de 30% à direita e 20% à esquerda.
caso 2: aumento de 100% à direita e 40%n à esquerda.
caso 3: aumento de 90% à direita.
QUANTO À AUDIÇÃO
Todos os pacientes obtiveram melhora de 100% na I audiometria, portanto fechamento da GÁP após cinco semanas.
QUANTO AS OTITES EXTERNAS RECORRENTES
Os pacientes 1 e 3 não apresentaram mais otites externas recorrentes em nove meses de segmento. O paciente 2 apresentou dois episódios de otite externa somente à esquerda em doze meses.
DISCUSSÃO
A estemose de CAEé uma patologia de condução difícil, muitas vezes o tratamento cirúrgico é frustrante, devido a reestenose pós cirúrgica.
Na literatura pesquisada, o tratamento cirúrgico é agressivo, com bloqueamento ósseo, remoção do conduto cartilaginoso, conchomeatoplastia e por vezes a remoção da camada ectodérnica da membrana timpânica.
Os autores baseados nas propriedades farmacológicas do ATA, ácido salicílico e propileno glicol, procuraram um novo tratamento clínico. Obtiveram sucesso com relação ao aumento dodiâmetro do CAE conseqüente diminuição do GAP e das otites externas recorrentes.
Os pacientes começaram a referir melhora na audição logo após a primeira aplicação do ATA. Isso nos leva a pensar que a ação cáustica do fármaco começa a aumentar o pertuito imedialnente.
O uso dos queratoplásticos normaliza o processo de queratinização assim permitindo que a pele adquira as suas características normais.
CONCLUSÃO
O método usado é de fácil realização, baixo custo, e apresentou bons resultados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. PAPARELLA, M.: Otolaryngology, vol. 1, 3rd edn. Philadelphia: WB Saunders Company, 1261-1262, 1991. 2. SENTURIA B.H., MARCUS M.D., LUCENTE F.E.: Diseases due to infection, in Senturia B.H. (ed): Diseases of the External Ear. Nem,York, grune & Stratton, 1980, pp 31-76. 3. MCDONALD ET AL.: Surgical Treatment of Stenosis of the External Canal. Laryngoscope, 96, 830-833, 1986. 4. PAPARELLA, M.M. AND KURKJIAN, J.M.: Surgical Treatment for Chronic Stenosing External Otitis. Laryngoscope, 76: 232-234, 1966. 5. PAPARELLA, M.M.: Surgical Treatment of Intractable External Otitis. Laryngoscope, 76:1136-47,1966. 6. MOORE, G.F. ET AL.: Use of full thickness skin grafts in canaloplasly. Laryngoscope 1984; 94: 117-8. 7. TODD N.W.: Transposition postauricular flap mealoplasty. Laryngoscope 1980; 90: 1393-4. 8. HUNSAKER, D.H.: Conchomeatoplasty for Chronic Otítis Externa. Arch Otolaryngol Head Neck Surgery 114, 395-398, 1988.
* Professor Associado da Clínica ORL da Fac. de Medicina da USP. ** Médico Residente da Clínica ORL da Fac. de Medicina da USP. *** Médica Pós-Graduada da Clínica ORL da Fac. de Medicina da USP. **** Médicos Estagiários da Clínica ORL da Fac. de Medicina da USP.
Trabalho realizado no Departamento de Otorrinolaringologia do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, serviço do Professor Doutor Aroldo Mitini.
Endereço dos autores. Av. Prof Eneas de Aguiar, 255 - 6° andar, sala 6021 - São Paulo - Brasil - CEP 05403.
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