ISSN 1806-9312  
Domingo, 28 de Abril de 2024
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2392 - Vol. 59 / Edição 2 / Período: Abril - Junho de 1993
Seção: Artigos Originais Páginas: 132 a 134
AVALIAÇÃO AUDITIVA E PREVENÇÃO DA SURDEZ.
Autor(es):
Francisco Sales de Almeida*

Palavras-chave: surdez, audiometria

Keywords: deafness, audiometry

Resumo: O presente trabalho consiste na realização de Audiometria Tonal Liminar em um total de 246 funcionários de uma Indústria. Previamente, foi medido a ruído ambiental o qual atingiu uma intensidade sonora máxima de 112 dB. Enfatizamos a necessidade da realização do exame Audiométrico Periódico e o uso de protetores auriculares. Mencionamos os mecanismos reflexos protetores do aparelho auditivo, os sintomas apresentados quando em exposição a estímulos sonoros intensos e os fatores de ordem pessoal ambiental que contribuem para danificar o aparelho auditivo.

Abstract: This work consists of a realization of limiar Tonal Audiometry in an amount of 246 employees of an industry. Previously, the ambient noise was measured and it reached the highest sonorous intensity of 112 dB. We emphasize the necessity of the realization of a Periodic Audiometrical exam and the use of the auricular protectors. We mention the reflexive mechanism, which protect the auditory organ, the sympton presented when is exposition lo the intense sonorous stimulus and facts of personal order and atmosphere ambient order that contribute to harm the auditory organ.

INTRODUÇÃO E CONSIDERAÇÔES GERAIS

Fizemos a Audiometria Tonal Liminar em um total de 246 funcionários de uma indústria, em que a intensidade sonora atinge até 112 dB.

Os resultados obtidos nos exames Audiométricos obedeceram aos critérios da classificação da ISO 1964 para os graus de perdas auditivas, que assim estabelecem (vide quadro 1):

A exposição a uma determinada intensidade sonora superior a 60 dB pode trazer sérios envolvimentos e comprometimentos no aparelho auditivo, assim como os outros aparelhos do organismo, tais como: distúrbios psiquiátricos, nos aparelhos cardiovascular, digestivo, urinário e neurológico.

Para o aparelho auditivo podem aparecer sintomas como: hipoacusia, acúfenos, tontura, ruptura de ligamento e tendões, etc. Neste trabalho, damos ênfase aos comprometimentos que ocorrem no aparelho auditivo e, especificamente, no labirinto anterior, onde se encontra a cóclea com seu elemento nobre - o órgão de Corti.


QUADRO 1 - Classificação audiométrica com as variações em dB e seus respectivos graus.



É sabido que as exposições às altas intensidades sonoras podem danificar o aparelho auditivo, que dependem naturalmente de:

- Tempo de exposição ao estímulo sonoro.
- A variação do estímulo sonoro contínuo ou interrompido.
- Susceptividade do funcionário.

Este comprometimento é mais comumente encontrado na freqüência de 4 quilohertz em escotoma, que chamamos de Trauma-Acústico. Observamos também afecção, em menor proporção, nas freqüências de 3 a 5 quilohertz e, ainda, raro, nas freqüências de 2 a 6 quilohertz. Classificamos o trauma - acústico em graus que variam de 0 a IV. O grau 0 evidenciamos escotoma em 4 quilohertz em uma intensidade de 25 dB, o grau 1 com escotoma de 35 dB, o grau II com escotoma de até 45 dB, abrangendo as freqüência as próximas de 2, 3 e 6 quilohertz, o grau II com escotoma de até 65 dB, abrangendo as freqüências próximas em maior intensidade que o grau anteriores, finalmente, o grau IV com perdas maiores que 65 dB.

METODOLOGIA


QUADRO 2 - Número de funcionário em suas correspondentes faixas etárias.



Pesquisamos as seguintes alterações: Trauma-Acústico, Para-Trauma, Hipoacusia Condutiva, Hipoacusia SensórioNeural e Hipoacusia Mista.

Sobre um total de 246 funcionários fizemos inicialmente uma divisão em faixa etária de dez em dez anos (vide quadro 2): Foi feita esta divisão, pelas respectivas faixas etárias, para afastarmos possíveis patologias associadas e que nelas aparecem.


QUADRO 3 - Número de ouvidos comprometidos, apresentando trauma acústico em seus respectivos graus.



QUADRO 4 - Número de ouvidos comprometidos, cora hipoacusia condutiva distribuída em seus respectivos graus.



RESULTADOS

O Trauma-acústico foi encontrado em um total de 25 funcionários, correspondendo a 10, 16°10, perfazendo um total de 34 ouvidos comprometidos (vide quadro 3):


QUADRO 5 - Número de ouvidos comprometidos, com hipoacusia sensório-neural, distribuído em seus respectivos graus.



O Para-Trauma encontramos em um total de 16 funcionários, correspondendo a 6,50%.

A hipocausia condutiva foi encontrada em um total de 63 funcionários, perfazendo um total de 25,60% (vide quadro 4):



FIGURA 1



A Hipoacusia Sensório-Neural encontramos em uni total de 58 funcionários correspondendo a 80 ouvidos comprometidos (vide quadro 5):

A Hipoacusia Mista foi encontrada esta apenas 1 funcionário com grau grave.

O total de funcionários apresentado Audiogramas dentro dos padrões de normalidade foi 99, representando 40,24% do total (vide figura 1):

O comprometimento unilateral por uma das patologias anteriormente citada foi um total de 77 casos 31,34%, enquanto o comprometimento bilateral foi de 70 casos, perfazendo 28,45% em relação ao total.

ANÁLISE E CONSIDERAÇÕES ESPECÍFICAS

Abalizando os resultados obtidos, os valores estatisticamente encontrados, enfatizamos a necessidade do uso de um sistema de proteção do aparelho auditivo. Este sistema de proteção pode ser único ou duplo. Os protetores atualmente disponíveis são: o intra-auricular ou interno e o extra-auricular ou externo ou de concha. É sabido que o protetor intra-auricular oferece uma proteção máxima de 20 dB, ou seja, ameniza a energia sonora incidente sobre o aparelho auditivo em 20dB. O protetor extra-auricular oferece diminuição de 30 dB de toda energia sonora incidente no ouvido. Se o funcionário usar o protetor intra-auricular que ameniza em 20 dB e outra extra-auricular que ameniza em 30dB, temos unia média de 50 dB a menos cota referência àquela energia sonora a que o paciente é exposto. Como exemplo: se a intensidade sonora do ruído ambiental equivale a 120dB, uma vez usando o protetor intra e extra-auricular se reduz a intensidade, que chega ao ouvido intento a 70 dB.

Existem mecanismos de defesa para o aparelho auditivo que são involuntários, reflexos e conscientes.

Quando o funcionário está exposto por um determinado tempo a uni ruído ambiental, o organismo usa os seguintes mecanismos de defesa, do aparelho auditivo. o reflexo estapediano, o cócleo-cefalógeno e o cócleo-muscular.

O reflexo estapediano atua como mecanismo protetor do ouvido interno, que não pode ficar exposto por longo tempo e altas intensidades sonoras. Este reflexo é realizado pelo músculo estapédico, que por sua vez é inervado por um ramo de nervo facial (VII par craniano). Há unia tração do tendão do estapédico, impedindo a penetração (compressão) ou movimento de rotação do estribo na janela oval. Outra atividade reflexa que pode atuar conjuntamente é a ação do músculo tensor do tímpano como mecanismo protetor.

O reflexo cócleo-cefalógeno refere-se à movimentação da cabeça inicialmente em direção à fonte sonora, porém persistindo o está nulo sonoro em limiares de desconforto ou doloroso, vai atuar um mecanismo de proteção no sentido de fazer movimentação da cabeça em rotação, lateralização, flexão e extensão, na tentativa de cobrir os ouvidos.

O reflexo cócleo-muscular atuaria no sentido de ocluir o conduto auditivo externo através de um trabalho sincrônico dos músculos da cabeça, pescoço, tórax e membros superiores.

Todos estes reflexos e mecanismos naturais conseguem proteger e aliviar o ouvido interno mesmo com um atraso de 1/16 segundos, por um tempo imunológicas quando o estímulo sonoro é de longa duração ou altíssimas intensidades, aqueles reflexos e mecanismos naturais podem ser inibidos ou se persistirem atuando sem efeito benéfico protetor necessário, logo o ouvido entra em uma segunda fase - a fadiga.

O aparelho auditivo, como é sabido, tem a função primordial e nobre, a audição a que, certamente e comprovadamente só damos o real e próprio valor quando observamos: unta diminuição (Hipoacusia) ou perda total (cofose).

CONCLUSÃO

Salientamos, finalmente, a necessidade imperativa do uso dos protetores auriculares, o repouso auditivo nas férias pessoais ou coletivas, a necessidade da realização de Audiometrias Periódicas comparativas e a realização dos testes da fadiga em todo funcionário que inicia o trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. PAPARELA, M.M. ET AL.: Otolaryngology. Second edition Philadelphia, N.B. Sauders. Company. Vol II The Ear, 1980.
2. KATZ, J.: Handbook of clinical audiology. 2° edição Baltimore, Williams & Wilkins, 1978.
3. LOPES, F.O.C.: Temas de Otorrinolaringologia. 1ª edição, São Paulo, Editora Manole, vol. IV, 1977.




* Otorrinolaringologista e chefe do serviço de cirurgia de cabeça e pescoço da Odontomed e da Santa Casa de Misericórdia de Itajubá. Mestre pela PUC/RJ.

Trabalho realizado na Odontomed-Itajubá Centro de prevenção e Tratamento em Odontologia e Medicina. Rua Major Belo Lisboa - 88, Itajubá-MG.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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