ISSN 1806-9312  
Sábado, 23 de Novembro de 2024
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2283 - Vol. 43 / Edição 3 / Período: Setembro - Dezembro de 1977
Seção: Artigos Originais Páginas: 264 a 269
UMA TÉCNICA PARA O ESTUDO DA FUNÇÃO VESTIBULAR NA COBAIA: A PROVA ROTATÓRIA SINUSOIDAL AMORTECIDA *
Autor(es):
José Antonio A. Oliveira **

INTRODUÇÃO

A estimulação mais adequada dos receptores vestibulares é a obtida por rotação. Entre os métodos rotatórios, o mais conhecido é o de Barany. Neste teste, realiza-se uma parada repentina, após uma rotação, para a observação de um nistagmo pós-rotatório que ocorre como resultado de uma inclinação da crista ampolar. De acordo com os conhecimentos sobre mecanismo cupular, a excitação da cúpula em um movimento rotatório resulta de uma aceleração ou deceleração da rotação. Por este motivo, é importante saber que reações podem aparecer durante a rotação, em uma velocidade progressiva crescente e decrescente, em outras palavras, observar o nistagmo perrotatório. Assim, necessita-se de um método mais adequado, para estimulação rotatória dos canais semicirculares, que permita a observação de uma aceleração e os efeitos da deceleração.

Mach (1.875) foi o primeiro que realizou estudos deste tipo no homem. Hennebert (1.956 e 1.961) retomou os trabalhos, aprimorou a técnica e, para definir os movimentos sinusoidais, substituiu a freqüência e amplitude das oscilações pela aceleração angular. Deste modo, o autor atraiu novamente a. atenção sobre a estimulação alternada na pesquisa de problemas vestibulares, sendo o primeiro a utilizar o método no plano clínico.

Em 1.961, Greiner e colaboradores, com uma aparelhagem simples, usaram este tipo de estimulação, avaliando as respostas com eletronistagmografia, fazendo comparações com as provas clássicas, evidenciando a vantagem do método. Concluíram que a prova é de realização simples e rápida, permite o estudo do nistagmo per-rotatório, torna possível a comparação imediata da resposta dos dois vestíbulos, coloca em evidência o limiar da excitação vestibular dos dois lados. Outros estudos no homem foram feitos mais recentemente no Brasil por Formigoni (1.974) e Grellet e Oliveira (1.9" 5).

Não existem referências da aplicação de tal método de estimulação rotatória em cobaias.

DESCRIÇÃO DA TÉCNICA

Os eletrodos foram feitos de fio de aço inoxidável esmaltado de 0,2mm de diâmetro. Para a preparação, retirava-se o isolamento das duas extremidades do fio. Uma era enrolada para formar uma espiral de 3mm de diâmetro e a outra era estanhada e soldada ao conector (Fig. 1).



Fig. 1 - Eletródios e conector para registro eletronistagmográfico na cobaia.



Após anestesia do animal com pentobarbital sódico, uma incisão era feita paralela ao eixo longitudinal da cabeça, desde o vértice até a fronte. Em seguida, era feito o deslocamento da pele dos cantos de cada olho. Neste local, a espiral era implantada sob a pele. A outra extremidade do eletrodo, passando por baixo da pele, era ligada a um conectador fixado com parafusos e resina acrílica à abobada craniana; também era colocado um eletrodo indiferente, ligado ao conector e com a extremidade livre sob a pele.

A cobaia, preparada com eletrodos permanentes, era colocada num suporte especial, construído de tal modo que limitava seus movimentos e lhe mantinha a cabeça em ângulo de 45° com o plano horizontal; assim, o canal horizontal ficava em posição vertical, com a ampola para cima (Fig. 2).

Construímos, nas ofinas de nossa faculdade, um sistema que possibilitase a realização de estimulação rotatória sinusoidal em cobaias. Este dispositivo consta de um suporte de três pés, onde se adapta uma haste metálica vertical. Presa à haste vertical, existe uma barra horizontal que pode fixar-se em alturas variáveis. Presa à barra horizontal e suspensa, temos uma mola laminar de 16 cm de comprimento e 8mm de largura. Esta mola é presa e sustenta uma haste vertical que, na sua extremidade distai, suporta uma caixa retangular, onde a caixa de contensão da cobaia é colocada. Da haste suspensa pela mola, partem quatro barras horizontais, formando entre si ângulos retos; nestas hastes, quatro pesos podem deslocar-se ao longo de seus comprimentos, possibilitando as variações nas pendulações (freqüência e velocidade angular) (Fig. 3).



Fig. 2 - Sistema de contensão da cobaia.



Fig. 3 - Sistema para estimulação rotatória sinusoidal amortecida na cobaia.



Colocava-se a cobaia, preparada com eletrodos permanentes, numa caixa metálica onde ficava com seus movimentos limitados e com a cabeya mantída em ângulos de 45° com o plano horizontal. Assim, o canal horizontal ficava em posição vertical, com a ampola para cima. A cobaia, na caixa, era colocada no suporte suspenso pela mola. O conjunto era então deslocado de sua posição de equilíbrio, ficando a mola em tensão. Uma vez libertado o conjunto, o suporte suspenso realizava angulações alternadas, estimulando alternadamente os dois sistemas vestibulares. Estas pendulações progressivamente iam-se amortecendo até a parada do conjunto. Durante as pendulações, o sistema alternante era registrado para estudo posterior com a cobaia de olhos vendados. (Figs. 4 e 5).



Fig. 4 - Técnica de aplicação do teste pendular e registro eletronistagmogréfico.



Fig. 5 - Registro nistágmico obtido com estimulação sinusoidal.



A avaliação da função vestibular tem sido feita em nossos trabalhos aplicando-se duas técnicas.

A prova calórica com registro eletronistagmográfico, para a cobaia, desenvolvida por Marseillan, Grellet e Colafêmina (1969), foi utilizada pelo autor para estudos dos efeitos do salicilato de sódio no sistema vestibular (1971). Este procedimento tem se mostrado de simples execução (Oliveira, 1977), apresentando, entretanto, alguns inconvenientes como: a possibilidade de infecção do ouvido médio, aparecendo uma otite em virtude da irritação do conduto auditivo com água fria; a movimentação da cobaia por ocasião das irrigações; a formação de rolhas de cerúmen devido a irrigações repetidas, com posterior deslocamento das mesmas e obstrução do canal auditivo, alterando assim os resultados. Apesar destes inconvenientes, é uma técnica de fácil execução e de confiança, como demonstrou Marseillan, em 1972, no trabalho. "Os efeitos vestibulotóxicos dos antibióticos".Recente mente esta técnica foi padronizada por Freitas (1975), melhorando sua aplicabilidade.

A segunda técnica tem sido a prova rotatória sinusoidal amortecida, aplicada anteriormente apenas em seres humanos para estudo da função vestibular (Grellet, Oliveira, 1975). 0 autor idealizou e utilizou uma aparelhagem bastante simples, comprovando que esta técnica é de confiança, devido aos resultados obtidos concordantes com os das provas calóricas. Pôde-se observar também que, com a aplicação desta prova, todos os inconvenientes citados com relação à prova calórica são eliminados. O método inclusive apresentou vantagens com relação às provas calóricas (Oliveira, 1977). Permitiu o registro do nistagno durante todas as pendulações até a parada da rotação, o que possibilitou o estudo da reatividade vestibular durante a seqüência de estímulos de intensidades decrescentes; deste modo, pôde-se ter uma idéia exata do comportamento da resposta labiríntica. Outra vantagem é o estudo das respostas dos dois lados ao mesmo tempo, podendo-se comparar o comportamento dos dois sistemas vestibulares normais ou sob a ação de drogas. Uma terceira vantagem é que o estímulo rotatório empregado é mais fisiológico que a irrigação dos ouvidos dos animais com água.

BIBLIOGRAFIA

Formigoni, L.G. - 1974 - Estudo do componente rápido do nistágmo por estímulo rotatório pendular decrescente. Anais do XIV Congresso Pan Americano de Otorrinolaringologia e Broncoesofagologia, 40:433.
Freitas, G.G. - Análise da resposta vestibular térmica na cobaia. Tese de Mestrado. Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da U.S.P.
Greiner, G.F., Conraux, C., Picard, P. - 1961 - La stimulation vestibulaire rotatoire de forme penidulaire et ses applications cliniques. Conf. Neurol. 21:438.
Greiiet, M., Olíveira, J.A.A. - 1975 - Nistagmograma de freqüência em indivíduos normais submetidos a Prova Rotatória Sinusoidal Amortecida. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, 41:259. Hennebert, P.E. - 1956 - Lés reactions vestibulaires aux épreuves rotatoires sinusoidales. Acta otolaryngologica, 46:221.
Hennebert, P.E. - 1961 - Aplications cliniques dos principes physiques de Ia stimulation vestibulaires.. Confin. Neurol.21:416.
Mach, E. - 1875 - F Grundlinien das Lehre von den Bewegungrempfindugen Verlag, Engelmann, Liepzig.
Marseillan, R.F. - 1972 - Ototoxicidade de antibióticos - Tese.
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. U.S.P. 160 pgs. Marseillan, R.F., Grellet, M.A., Colafêminas, J. - 1969 - Estudo' eletronistagmográfico da função vestibular na cobaia. Ciência e Cultura. 21:545.
Oliveira, J.A.A. = 1977 - Estudo morfológico e funcional do sistema coclear e vestibular da cobaia normal e sob efeito de drogas. Tese de Livre-docência. Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto




Endereço do Autor.
Dep. de Fisiologia Fac. de Medicina de Ribeirão Preto/SP
14-100 - Ribeirão Preto - SP.

* Trabalho realizado com auxílio da FAPESP e CNPQ.
** Professor Livre Docente. Disciplina Fisiologia Animal e Humana. Departamento de Biologia. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto. U.S.P. Professor Livre Docente contratado no Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. U.S.P.
Indexações: MEDLINE, Exerpta Medica, Lilacs (Index Medicus Latinoamericano), SciELO (Scientific Electronic Library Online)
Classificação CAPES: Qualis Nacional A, Qualis Internacional C


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